Repressão aumenta no Chile e organizações denunciam torturas e violações

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Aumentam as denúncias de que os policiais, forças de segurança especial e militares estão praticando violações, incluindo torturas e detenções ilegais, contra os manifestantes do Chile

De Santiago, Chile

Jornal GGN – Aumentam as denúncias de que os policiais, forças de segurança especial e militares estão praticando violações, incluindo torturas e detenções ilegais, contra os manifestantes do Chile. Um ato contra crimes aos direitos humanos, planejado para ocorrer sem transtornos, pequeno e focalizado em frente a uma delegacia no bairro de Peñalolén, subúrbio de Santiago, nesta quinta-feira (24), terminou em mais truculências e ações repressivas.

A convocatória em frente à 43ª delegacia de Peñalolén buscava cobrar das autoridades a investigação de duas novas acusações de tortura que teriam sido praticadas contra manifestantes no local nos últimos dias. As únicas provas são as próprias declarações das vítimas. Mas antes mesmo que o ato pudesse trazer mais detalhes sobre as denúncias, o aparato policial iniciou a dispersão com bombas de gás lacrimogêneo, tanques de água contaminada com agentes tóxicos, e uma sequência de motocicletas preparadas para atropelar quem não saísse do caminho.

Os policiais apontavam suas armas e corriam ostensivamente contra um grupo de aproximadamente 100 pessoas que estava protestando, de maneira pacífica, a maior parte formada por jovens. Em menos de 30 minutos desde a ação policial, muitas pessoas corriam feridas, apartando o ato. A metade conseguiu permanecer em uma das ruas, resistindo, enfileiradas atrás de um grande cartaz escrito: “Aqui se tortura”.

Os jornalistas posicionavam-se no meio do confronto, todos identificados com as credenciais para alertar as forças armadas que estavam a trabalho. Ainda assim, em diversos momentos foram atingidos pelas bombas e pelo tanque de água, sendo obrigados a se afastar do local.

Quando as tropas decidiram se retirar, já com boa parte dos manifestantes afastados, alguns jovens correram em direção às forças de segurança, acusando-os de ir em direção a um supermercado próximo para supostamente iniciar algum roubo no local. Os dois jovens atiraram pedras nos policiais, que reagiram com cassetetes e espancamento em via pública, antes de levá-los detidos [as cenas foram captadas no vídeo acima].

A organização ODDH de Chile (Organizadores e Defensores de Direitos Humanos), conhecidos por andar com capacetes azuis, estava na manifestação. Pouco antes da repressão policial se tornar mais dura, a observadora Claudia Valdivia concedeu uma declaração ao GGN sobre o estado de violência vivido no país. Acompanhe:

O último balanço oficial, atualizado na noite de ontem, aponta 2.840 pessoas presas, sendo 1.084 em Santiago e 1.756; 582 pessoas feridas; 18 mortos e 67 ações judiciais, sendo 12 por violência sexual por parte das autoridades policiais. As organizações sociais e entidades afirmam que os números anunciados pelo governo de Sebastián Piñera não contabilizam todos os casos e são maiores os registros de feridos, presos e mortos.

 

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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