Críticas às Passeatas Contra a Corrupção – Estará a Intolerância Chegando aos Blogs de Esquerda?

 

Os veículos de comunicação mais à esquerda, também incluídos os blogs independentes, tem feito críticas às passeatas contra a corrupção. Neste momento, não quero entrar no mérito das passeadas em si, mas gostaria de analisar alguns outros aspectos dessas críticas.

 

Um dos aspectos é a intolerância que também está tomando força nos blogs de esquerda. Isto seria de se esperar nos blogs do Azenha, PH Amorim, Edu Guimarães que se proclamam de esquerda e, mesmo que involuntariamente, incentivam os comentaristas a se sentirem participantes de um time que vê quem não pensa igual como adversário.

 

O blog do Nassif, desde o início, se mostrou um espaço alternativo por dar voz para opiniões destoantes da grande mídia não por ideologia política pessoal, mas pelo puro e simples desejo de praticar bom jornalismo. Isso criou um ambiente propício para o debate de idéias e um conjunto de comentaristas equilibrados.

 

Quando perguntei a uma pessoa mais jovem a quem eu recomendara o blog se ela havia gostado, a resposta foi que o mais lhe chamou a atenção foi o nível pouco habitual dos comentários.

 

Isso parece estar mudando quando o assunto é o processo político. Talvez influenciado pelo baixo nível da campanha presidencial ditado por Serra e seus apoiadores na imprensa, a quem Marina Silva também vendeu a alma ou talvez pela rejeição explícita do Nassif à candidatura Serra, tenho sentido uma agressividade cada vez maior dos comentaristas do blog em relação a quem critica o governo ou elogia a oposição.

 

Experimente alguém dizer aqui que Jamil Haddad não foi o pai dos genéricos. Será , como já fui e serei novamente, apedrejado ao afirmar categoricamente que a contribuição de Haddad para os genéricos foi mínima. Ele simplesmente tomou o texto do projeto de lei de Eduardo Jorge, fez com que Itamar emitisse um decreto sem força de lei, não conseguiu que farmácias obedecessem, colecionou uma série de disputas jurídicas e saiu do governo sem que se avançasse um passo sequer.

 

Quais são os riscos deste clima de Fla-Flu nas hostes governistas? Primeiro torna-se impossível discutir em torno de idéias quando os argumentos governistas e a visão de esquerda tornam-se dogmas que não devem ser questionados, mas simplesmente apoiados. Não há troca de conhecimento, mas simplesmente discussões estéreis que não alteram o pensar de quem participa. Para que discutir se eu não estou disposto a mudar meu pensamento? Qual o sentido de discutir se martelarei minhas idéias sem abrir espaço para, quem sabe, uma troca de paradigma?

 

Segundo, pode cair-se no erro que a oposição tem cometido desde 2002 e pode render ao PT mais alguns mandatos no governo federal. Passar-se a ignorar o ponto de vista do outro lado e, principalmente, desconsidera-se o contexto que leva determinados grupos sociais a apoiarem uma causa ou corrente de pensamento. Cegar-se aos méritos das propostas e realizações concretas do outro lado.

 

A classe A, baseada na penetração de Lula nas camadas de menor renda e menor instrução, considera ignorante quem apóia o lulopetismo (não é assim que nos chamam?).  Esta postura elitista ignora, em primeiro lugar, que o apoio ao governos nas camadas médias nunca foi pequeno. Embora sem os números astronômicos das classes C,D e E, o apoio nas classes A e, principalmente, B é significativo,  bastando consultar as pesquisas de intenção de voto para presidente em 2010 para identificar esta realidade. Esta rotulação de ignorante para os governistas pode ter causado uma rejeição enorme à oposição que levará um tempo significativo para ser superada.

 

Outro consequência desta postura elitista-dogmática da oposição foi não desenvolver canais de diálogo com os extratos da sociedade considerados não-informados e permanecer com o mesmo discurso (neste caso, udenista), esperando que o povo, subitamente,  se esclareça e passe a pensar em consonância com o iluminismo político dos cardeais e seu clero. Não se desenvolveram políticas para esses extratos e nem sequer discursos eleitorais, demagógicos ou não, mas minimamente palatáveis aos segmentos sociais simpáticos ao governo.

 

Penso serem estes os erros nos quais que os governistas do executivo, dos partidos da base ou simplesmente simpatizantes não podem incorrer. Esses agentes devem entender que sim, a corrupção no Brasil é um problema sério, procurar entender suas causas e propor ações concretas para sua diminuição. Não podem menosprezar as manifestações contra a corrupção por que elas significam um extravasar de sentimentos de segmentos da sociedade. Neste momento, este sentimento pode estar sendo ofuscado pelo progresso econômico e deixado de lado pelo eleitorado, mas quando houver uma retração econômica, esta bandeira pode tornar-se diferencial eleitoral e os governistas podem a ter deixado bem plantada no campo da oposição

 

Redação

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