Tinha uma época que me interessava nos prédios no estilo art-decó, principalmente as fachadas e as entradas, talvez por causa dos filmes dos 20 e 30 que assistia. Pensava em fotografar esses prédios e fazer um arquivo; tudo isso ficou só no pensamento.
As férias de verão eram para visitar parentes, a avó materna em São Paulo, os avós paternos em Belo Horizonte e se sobrava um tempo íamos para Guaratiba mas antes parada em Campo Grande. A saída para todos esses lugares era a Central do Brasil.
Conforme fui crescendo, as ferrovias foram diminuindo, e só restou as viagens de ônibus. Só mais tarde morando no exterior, voltei a viajar de trem.
Antes disso, fui morar em São Paulo onde comecei a aprender e a trabalhar com maquetes. Certa vez, indo passar a semana santa em Águas de Sta.Bárbara, como não conseguí ônibus direto, tive que fazer o trajeto picado. Fui para Avaré, depois Cerqueira César e aí sim Sta.Bárbara. Não me lembro se em alguma parte desse trajeto foi feito de trem, mas sei que estava na Estação de Cerqueira Cesar para pegar um meio de transporte para chegar em Sta.Bárbara; mas enquanto isso rodei toda a estação e aí veio um lampejo de uma maquete, nada ainda definido.
Muitos anos depois, vi uma matéria na revista Domingo de JB, sobre estações ferroviárias e então caiu a ficha. Foram muitas viagens, fotografias, consultas a livros e acervos de tudo quanto era lugar e que resultou em uma exposição.
Selecionei quatro por algum tipo de importância. Começa pela Estação da Côrte, onde atualmente está a Central do Brasil. Não foi a primeira a ser inaugurada, mas de importancia economica sim, para o tranporte mais rápido do café do Vale do Paraíba. A seguir, Guia de Pacobaíba, realmente a primeira, mas só conseguiu chegar em Petrópolis décadas depois. Frequentemente as imagens desta estação mostram apenas um andar, mas existe algumas evidencias de um segundo andar, preferí ir nessa viagem. A terceira é a linda estação de Japeri, antigamente chamada de Belém, veio da Inglaterra para ser montada aqui. O empreiteiro do primeiro trecho da E.F. D.Pedro II, Charles E. Austin deu nome a quarta estação.
1) Estação da Côrte (atual Central do Brasil)
Litogravura de Carlos Linde – Brasil: Estrada de Ferro D. Pedro II (1873)
2) Guia de Pacobaíba
Revista Domingo do JB
3) Estação de Japeri
Revista Domigo do JB
Álbum de Fotografias da E. F. D. Pedro II (1881)
4) Estação de Austin
Foto: alfeu ( a estação atualmente está bem mais cuidada do que na época dessa foto)
Com esse trabalho, tentei imaginar a forma mais original dessas estações. Foram mais baseadas em observações do que em pesquisas com metodologias. Como disse antes optei pela viagem da imaginação. E não é isso que as Estações Ferroviárias nos proporcionam?
alfeu.
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Trens e bondes de nossas vidas
Profundamente
Manuel Bandeira
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
*
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
Maquetes -Estações Ferroviárias
Ao morar no interior do RJ, voltei a ter oportunidade de usar o trem a partir da estação de Japeri, cuja arquitetura muito me encanta a cada vez que ali transito. Quem dera pudesse aos olhos do Estado ou da Supervia ser restaurada. Lamento cotidianamente terem destruido a malha ferroviária. Fiz belos passeios com meus pais e irmãos através da Maria Fumaça que ligava Japeri á Miguel Pereira. No interior do RJ temos várias lindas estações em processo decadente, mas de pé. O trem me fascina e me traz a lembrança de meu pai que me ensinou a andar sem medo junto e fazendo parte do povo.
“Hoje eu tenho saudade desse
“Hoje eu tenho saudade desse trem que me levou. Hoje não existe trem na cidade, mas existe o meu amor.” Benito de Paula, IN Homem da montanha.
Magnífico trabalho, Alfeu!
Eu nunca vivi isso, porque a minha cidade, para onde foi projetado a primeira ferrovia no estado, a partir de Salvador, em 1872, nunca viu chegar nada disso (Dec. Imperial 4.916, de 30 de março de 1872*). Porém, talvez pela carência, ou pela consciência da importância desta importantíssima invenção humana seja eu tão apsixonado pelo tema Ferrovias.
(*) RELATÓRIO apresentado à Assembleia Geral Legislativa na Quarta Sessão da Décima Quinta Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negócios, da Agricultura, Commercio e Obras Públicas, José Fernandes da Costa Pereira Junior em 02 de maio de 1875. Rio de Janeiro. Typographia Americana. Rua dos ourives, n° 9. 1875. p.99. Colleção das Leis do Império do Brasil. Biblioteca da Câmara de Deputados. Brasília.
Estações Feroviárias
Como ferroviário aposentado, terceiro e último da geração que começou pelo meu avô, mãe e tios, indico o site; http://www.estacoesferroviarias.com.br/index.html