Metodologia reproduz o som propagado em Stonehenge há 5.000 anos

Planeta COPPE

 

                       

 

Há cerca de 5.000 anos, sons produzidos no interior do monumento de Stonehenge geravam ecos audíveis. Em palestra realizada na Coppe, na manhã de 16 de abril, sobre Arqueo-acústica, o som de ambientes pré-históricos, o professor Bruno Fazenda, do Acoustics Research Centre da Universidade de Salford (Inglaterra), apresentou a metodologia que utilizou para estudar a acústica do lendário círculo de pedras localizado na planície de Salisbury, no sul da Inglaterra.

Fazenda iniciou o estudo como hobby e motivado pela curiosidade em relação ao que ocorria no local durante a pré-história. “Como o som ecoava, em que posição ficava a plateia?”, questionava o professor. E para responder a tantas perguntas, resolveu “trazer o som da época para os dias de hoje”, por meio de várias modelagens, simulações e gravações de áudio em Stonehenge e em dois ambientes similares: na réplica do monumento em tamanho real construída em Maryhill, nos Estados Unidos, e num círculo arquitetônico na Escócia.

 

                                                                                     

 

No círculo escocês, que possui dimensões semelhantes às de Stonehenge, Bruno bateu sequências de palmas e ficou notável a intensidade dos ecos. Já na réplica americana produziram diferentes tipos de sons como, por exemplo, música instrumental, para analisar os possíveis efeitos acústicos. “A réplica é de concreto e procura ser fiel ao monumento de Stonehenge como este seria na época em que foi completado,permitindo a verificação dos fenômenos sonoros observáveis então. Na réplica não são percebidos ecos, devido à presença de um círculo interno de pedras baixas, idêntico ao que foi adicionado ao Stonehenge há cerca de 4.000 mil anos, e que causa uma grande difusão sonora, encobrindo os ecos”, comentou o professor.

De acordo com Fazenda, até 2.500 a.C., as pedras do monumento de Stonehenge foram levadas para o meio da área envolvida pelo círculo original. O fato foi evidenciado após a descoberta de 56 buracos no local, onde ficava o círculo de pedras grandes, com 33 metros de diâmetro. Tais alterações arquitetônicas fizeram com que a energia do som propagado desaparecesse rapidamente, com boa parte se dispersando pelos vãos entre as pedras.

 

                                         Réplica de Stonehenge nos Estados Unidos

 

Uma curiosidade para a qual ainda não existe resposta é se as pessoas que projetaram Stonehenge o fizeram também com a intenção de obter resultados acústicos. “Hoje podemos modelar e até fazer medições utilizando sinais para descobrir os efeitos sonoros ocorridos naquela época. Mas tem o lado subjetivo que ainda não podemos responder como, por exemplo, de que forma as pessoas percebiam o som, como exploravam a acústica do ambientes?”, questionou Bruno.

O professor do Laboratório de Acústica & Vibrações da Coppe, Ricardo Musafir reforça que foram várias as simulações computacionais, realizada por Bruno, para verificar que efeitos sonoros poderiam ser obtidos ou não nas diferentes modificações pelas quais o monumento passou. “O Bruno realiza uma pesquisa muito séria, investigando de forma imparcial quais são plausíveis ou não dentre as inúmeras hipóteses que são levantadas sobre efeitos acústicos em monumentos pré-históricos — algumas com apelo sensacionalista”, diz o professor da Coppe.

Sobre Stonehenge

O Stonehenge é uma estrutura formada por círculos concêntricos de pedras que chegam a ter cinco metros de altura e pesam quase 50 toneladas, onde se identificam três distintos períodos construtivos: 3.100 a.C., 2.150 a.C., 2.075 a.C.. Estima-se que essas três fases da construção necessitaram de mais de trinta milhões de horas de trabalho.

As teorias atuais sobre sua finalidade sugerem que foi utilizado simultaneamente para observações astronômicas e ritos religiosos, sendo improvável que estivesse sendo utilizado após 1100 a.C.. No dia 21 de Junho, o sol nasce em perfeita exatidão sob a pedra principal.

As observações de Stonehenge eram usadas para indicar os dias apropriados no ciclo ritual anual. Portanto, a estrutura não foi usada somente para determinar o ciclo agrícola, uma vez que nesta região o solstício de verão ocorre bem após o começo da estação de crescimento; e o solstício de inverno bem depois que a colheita é terminada.

Estudiosos sugeriram que Stonehenge – especialmente os seus círculos mais antigos – pretendia ser a réplica de um santuário de pedra, sendo que os de madeira eram mais comuns em épocas Neolíticas.

Segundo dados mais recentes, obtidos por arqueólogos chefiados por Mike Parker Pearson, Stonehenge está relacionada com a existência do povoado de Durrington. Este povoado formado por algumas dezenas de casas construídas entre 2600 a.C. e 2500 a.C., situado em Durrington Walls, perto de Salisbury, é considerada a maior aldeia neolítica do Reino Unido.

Sobre o palestrante

Bruno Fazenda é professor do Acoustics Research Centre/Salford, desde 2010, com atuação nas áreas de acústica arquitetônica, arqueo-acústica e psico-acústica. Atua como pesquisador nos projetos “Percepção e avaliação automática de gravações de áudio com qualidade”, “S3A: áudio espacial futuro para uma experiência imersiva para o ouvinte em casa”, e “Canções das Cavernas: acústica e arte pré-histórica em grutas da Cantábria”, financiados pelos conselhos de apoio à pesquisa da Inglaterra.

 

http://www.planeta.coppe.ufrj.br/artigo.php?artigo=1801

Redação

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