Manifestação contra o cancelamento do FIT na Praça da Estação

 Em 2004 houve a extinção da Secretaria Municipal de Cultura, e surgiu a Fundação Cultural em Belo Horizonte. Programas como o Arena Cultural e BH Cidadania foram suspensos. Cortes no orçamento para a  cultura também ocorreram a partir daí. Este ano, a 10a. edição do Festival Internacional de Teatro (FIT) foi cancelada há apenas 5 meses de sua realização. A gota d’água veio quando o então prefeito recém eleito, Márcio Lacerda, sancionou uma lei que proibia manifestações artísticas nas praças da capital mineira. Essas informações compõem um dos inúmeros panfletos distribuidos pelos organizadores da manifestação que ocorreu nessa tarde, 27 de março, na Praça da Estação, uma das muitas que tem se dado por lá nos últimos sábados.

     Vários jovens de bikini e bermuda, munidos de cerveja, instrumentos musical e voz ativa participaram do evento, que teve início numa concentração na Praça, sob a sombra rala de uma árvore, e continuou numa passeata que percorreu a rua da Bahia e a Av. Afonso Pena até a sede da Prefeitura de Belo Horizonte. Arrisco dizer que haviam entre 150 e 200 pessoas.
     Alguns dos integrantes da banda Graveola também participaram, com muita música e samba para animar a galera. O show prometido para as 13h, divulgado pelo próprio twitter da banda, não havia saído até as 16h. Mas tudo bem, os manifestantes se contentavam com o sambinha sem vergonha que alguns alunos da música faziam. Aliás, membros da elite acadêmica não faltaram. Muitos universitários compunham a aglomeração, grande parte da música e da ciências socias, mas espécies da comunicação não faltaram, como eu, da turma Belas Artes, e Bruna e Hanna, elementos Soviets. Bruna, no entanto, se mantinha a parte da manifestação, demonstrando sutilmente que não estava de acordo com o que se passava ali.
     Uma kombi com um sistema de som singelo falava sobre os problemas da prefeitura em relação à cena cultural belorizontina enquanto abria caminho pelas ruas. Uma das pistas era reservada a passagem de carros. Até as 16h não havia tido nenhum conflito entre manifestantes e polícia militar ou municipal. 
     Me exarcebo dizendo que a atitude dos presentes lembrava as diretas já (das quais não participei hehehe). Caras pintadas, muito grito, gesticulação e frases feitas entoadas com paixão. “Abaixo a baixaria, Cultura não é mercadoria!” e “Ei, Lacerda, seu decreto é uma merda!” foram berrados pelos manifestantes a plenos pulmões. A defesa da Cultura de BH era aplaudida por onde passávamos, e na Rua da Bahia fomos recebidos com muito confete improvisado pelos moradores dos edifícios. Alguns meliantes que vagabundeavam pelas ruas também ajudaram a engrossar o caldo da manifestação, que foi parar em frente à prefeitura. Mesmo vazia, estava munida de dois de paus, quero dizer, guardas municipais. 
     Belo foi ver tantos jovens tão engajados com a causa cultural. O fato de hoje ser dia Internacional do Teatro explicava porque tanta revolta trazia essa gente toda num sábado de sol desses a se manifestar. O que colocava lenha na fogueira era a forma que a prefeitura escolheu para comemorar esse dia, com um desfile na pampulha das figuras da Disney. Manifestantes espumaram a boca enquanto falavam à multidão (termo utilizado também hiperbolicamente) que o argumento de Lacerda era que eventos em praças acabavam por alterar o espaço físico, o que foi feito em demasia para a passagens da turma do Mickey na pampulha. Árvores foram retiradas de lugar para tal evento. Berravam: “uma rotatória foi removida para o Mickey passar! PARA O MICKEY PASSAR!”.
     Logo antes de eu me retirar, os manifestantes desenhavam seus corpos a giz no asfalto em frente a prefeitura, e dentro escreviam recados mal educados ao prefeito Márcio Lacerda. Talvez estejam lá mesmo até agora, talvez até ao som de Graveola, para minha tristeza. Mas um sábado bem utilizado, sim, esse foi. Parabéns, jovens! Orgulho de ser mineira tive hoje.
TEXTO PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BLOG http://oquemeinquieta.blogspot.com
Esse jacaré inflável é um grande símbolo da Praia da Estação

A farofa era completa, até cachorro tinha

Meninas de bikini não faltaram
E som pra animar os manifestantes

Bruna e Hanna, Soviets da Comunicação

Elemento da Música, UFMG
Rua da Bahia
Cruzamento Bahia com Afonso Pena
Afonso Pena
Prefeitura

Corpos falantes

Criancinha fofa

Criancinha fofa de novo

Ela escrevendo no corpo, fooofa

A praça é do povo? e o fit é de quem?

A taça do mundo é nossa, alusão ao argumento torto da prefeitura para cancelar o fit

..rda

Gabriel
Principais animadores

ERRATA: a banda Graveola não divulgou show! eles divulgaram a própria manifestação, mas eu e algumas outras pessoas confundimos. foi mal aê!

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meu texto foi publicado também no blog da praça http://pracalivrebh.wordpress.com/2010/03/28/manifestacao-contra-o-cancelamento-do-fit-na-praca-da-estacao/

Redação

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