os Brasis: 2018, para sempre um ano longe demais

“O futuro do Brasil depende sempre de Lula”

Emir Sader – 13/07/2012 – artigo após a condenação sem provas de Lula

“Senhoras da Casa Grande, permitam que alguém da Senzala faça o que vocês não tem competência de fazer neste país. Permita que alguém cuide desse povo, porque este povo não está precisando ser governado pela elite.”

Lula – 13/07/2017 – pronunciamento após sua condenação

nenhum retorno. a Constituição de 1988 foi jogada no lixo e o pacto Getulista foi assassinado. a cleptocracia brasileira jamais se conformou nem com um, tampouco com o outro. o único pacto por ela admitido é o das costas com a chibata. com o sistema político em estado terminal, as instituições disfuncionais e os poderes Constituídos sem mais qualquer legitimidade, não há nenhuma curva no caminho com algum retono a um mítico passado dourado. além da ausência de contexto econômico internacional favorável, o Golpeahment não deixa margem para resgate da estratégia de conciliação de classes. a hegemonia às avessas não mais atende os interesses de bancos e grandes empresas, que pretendem continuar como nunca ganhando tanto dinheiro, mas agora às custas dos direitos dos trabalhadores. já não se pode dar a uma classe sem tirar de outra. o sistema de poder está morto e seu sucessor ainda não se consolidou. no vácuo deste interregno proliferam as patologias sociais: criaturas monstruosas, fenômenos bizarros e sintomas mórbidos;

nenhuma saída. pela via parlamentar e através da política institucional o Brasil chegou a um beco sem saída. o burocrático calendário eleitoral é incapaz de dar conta dos intensos momentos das lutas concretas cotidianas. as frias pesquisas de popularidade e intenção de voto jamais substituirão o calor dos laços efetivos com as comunidades. a hipocrisia do marketing político é ineficaz frente as autênticas experiências de uma vida que valha a pena ser vivida. é preciso fazer política onde se vive e com as pessoas com quem se convive. nas comunidades, inclusive as virtuais. nas ruas da rede. e na rede das ruas. ocupar os espaços públicos, para torná-los de fato públicos. construir coletivamente a única rota de fuga viável: para a frente;

o futuro é o presente. enquanto os movimentos sociais permanecerem imóveis, girando em falso numa encruzilhada, hipnotizados pela miragem de um ano longe demais, 2018, não haverá qualquer futuro. e o presente será uma perene sucessão de duras derrotas. o futuro não está em 2018, está aqui e agora. em cada luta presente para derrotar o golpe. nunca antes neste país foi tão claro quanto agora que o impeachment é o golpe da plutocracia contra todos os demais. apenas mais um episódio na longa tradição de golpes da História brasileira. está mais do que desmascarado o Pacto a la Brasil para estancar a sangria e manter incólume o sistema de poder, expurgando apenas seu sócio mais recente: o PT. com a condenação sem provas de Lula, desmoraliza-se definitivamente uma justiça venal, corporativa, seletiva e classista. já não resta pedra sobre pedra. não são apenas as pedras de nossa derrota. são também a ruína da cleptocracia brasileira. seu atestado de incompetência para gerir o país. o setor dominante é a crise;

o presente já não é mais como costumava ser. com o colapso do sistema de poder, também se tornam vencidos os velhos paradigmas. é todo um modo de se fazer política que perdeu qualquer viabilidade. a política deve mais uma vez se enraizar no tecido das comunidades, para produzir outras relações sociais e, portanto, outras subjetividades. esta crise é fundamentalmente uma guerra de mundos. um mundo moribundo se recusa a morrer para outros mundos poderem nascer. uma guerra travada também no coração e mente de cada um de nós. os monstruosos estertores do velho mundo provocam experiências bizarras e mórbidas: frustração,  raiva, impotência, depressão, anomia. tanto à Direita quanto à Esquerda, busca-se ainda tábuas de salvação: líderes redentores e estruturas hierárquicas, em vez da autonomia de um movimento vivo em constante transformação. em detrimento do impulso emancipatório, as soluções autoritárias: o stalinismo e o fascismo, o caudilhismo e a intervenção militar;

2018, para sempre um ano longe demais. o presente é o tempo do esgotamento. o momento do fim. o aniquilamento de todas as ilusões. a partir de agora o futuro do Brasil e o futuro de todos nós dependem de nossa capacidade de nos reinventarmos. não há nenhuma síntese possível entre a Casa Grande e a Senzala, entre o Bolsa Família e o Copom, entre a Selic e a redistribuição de renda. o Senhor jamais permitirá que o Escravo seja livre. a liberdade é uma conquista. e não a consequência do “cuidado” de algum capataz generoso. o futuro depende de um amplo movimento de massas e de sua capacidade de cuidar de si mesmo. a vida é agora.

vídeo: 2015 – Interregno

httpshttps://www.youtube.com/watch?v=YUwt7KSkh1s]

vídeo: 2015 – Encruzilhada Perigosa

[video: https://www.youtube.com/watch?v=c1BJCdj0NsM

Redação

1 Comentário

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  1. repito comentário postado

    repito comentário postado neste Blog do Nassif em 05/06/2015, no artigo “Como a fórmula Levy-Tombini-Rousseff não resolve” :

    2018: um ano longe demais

    já cruzamos o portal do que é, de um jeito ou de outro, a crise terminal do Lulismo e do seu modo de fazer política, unicamente focado no curto prazo. como consequência produz no longo prazo a crise econômica e a ingovernabilidade.

    2018 se tornou um ano longe demais e já não é mais possível a fuga para a frente. a única saída é aquilo que o lulismo sempre se recusou a fazer: gerir o curto-prazo a partir da perspectiva de um projeto para o Brasil.

    15/03 e 12/04 mostraram que existe um proto-fascismo à solta em busca de base social.

    p.s.: 34% (branco, nulo, não sabe, não respondeu) -> estes são os votos disponíveis para um novo projeto, demonstrando o ponto a que chegou a crise da representação.

    .

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