Os donos do poder cortaram na própria carne

Nunca antes neste país tantos executivos de alta linhagem ficaram presos preventivamente por tanto tempo pela polícia federal. Não importa por qual motivo. É inédita essa onda que está deixando de barbas de molho gente que nunca sequer imaginou a mais remota possibilidade de passar horas em uma cadeia. Ao contrário, quando se tratava desses altos executivos o comentário sempre foi “se ele cai, cai a república”. Em grande medida foi essa confiança, construída ao longo da história desta mesma república, que garantiu aos negociantes de todo tipo a tranquilidade para operarem com total desembaraço as tradicionais percentagens sobre negócios públicos concluídos. A partir daí até mesmo as condições carcerárias da Polícia Federal – verdadeiras suítes privilegiadas quando comparadas com as condições gerais das prisões brasileiras – se mostraram uma forma de pressão sob tortura para que esses presos assumissem a delação premiada. Novos tempos.

Mas o quê explica essa radical mudança de comportamento do judiciário nacional? Seriedade? Arroubo investigativo? Novos promotores imbuídos de ideais republicanos? É verdade que os governos Lula e Dilma reforçaram a PF e deram ao Ministério Público total independência para operarem na luta contra a corrupção. Mas, com certeza, nem o governo Lula, nem o Governo Dilma teriam condições de fazer com que toda a estrutura do judiciário passasse a garantir amparo total a essas ações que estão enjaulando executivos de alta estirpe sem que qualquer apelação os faça soltar. Gilmar Mendes e Daniel Dantas que o digam.

A razão para essa viragem judiciária está nas sucessivas derrotas que o PSDB, representando os donos do poder, sofreu ao longo das últimas disputas presidenciais. Para quem, como José Serra ou Geraldo Alckmin ou Aloísio, chegou a voar para Belo Horizonte no dia da apuração, esperando comemorar no apartamento de Aécio a sua vitória, a última derrota para Dilma foi a gota d’agua de uma estratégia que não deu certo. O lacerdismo que alimentou o noticiário do mensalão e de tantos outros escândalos, mostrou-se incapaz de assegurar a vitória tucana.

A partir dessa trágica derrota, os donos do poder resolveram então cortar na própria carne: o caminho foi estancar o fluxo financeiro que alimentou a aliança PT, PMDB agindo diretamente sobre a fonte, as empreiteiras que Lula levou para a África, Venezuela e tantos outros países, projetando-as fora do país e exponenciando seus lucros. A elite nacional resolveu prender e arrebentar a fração da elite nacional que aderiu ao projeto PT, PMDB. Não é necessário observar que não há qualquer interesse em investigar as fontes financeiras do PSDB, por óbvio, afinal, patrão (que não apóia o PT) não rouba nem comete ilícito. O Mensalão Tucano, Furnas e o Tremsalão que o digam.

Compreender esse processo e suas determinações é fundamental para entendermos os caminhos que a política nacional deverá tomar. A estratégia dos donos do poder, que se fazem representar precariamente via PSDB, é agora de duas pinças: de um lado, estancar o fluxo financeiro que viabiliza as campanhas eleitorais petistas, de outro destruir a imagem do PT – e, quem sabe, seu registro legal – apoiado em seus erros sucessivos. E essa estratégia só se realiza baseada no poder judiciário, parte fundamental do reacionarismo patrimonialista nacional. Por donos do poder devemos entender, por outro lado, não somente a grande mídia nacional, nossa elite industrial, agropecuária, financeira etc. É necessário colocar sobre a mesa os interesses geopolíticos mundiais, que veem o Brasil como uma coluna de apoio fundamental dos BRICS e dos governos democráticos na América Latina. Mudar os rumos da política internacional do Brasil seria de enorme valia para os interesses do ocidente “civilizado”. Sem falar, evidentemente, do pré-sal e da Petrobrás.

Se o PT tivesse, já quando do mensalão, tomado a determinação de não aceitar mais doações de empresas e, por outro lado, colocado a reforma política como meta fundamental da sua ação política, é razoável imaginar que a situação atual seria diferente, ainda que muito radicalizada como de fato está. Talvez o maior erro que o PT tenha cometido, para além de todas as questões internas relativas à militância, à estrutura partidária e sua ligação com os movimentos sociais, tenha sido imaginar que o apoio de uma fração dos donos do poder poderia sustentar a estratégia petista de hegemonia.

Redação

3 Comentários

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  1. Seu texto é muito apropriado. Por isso comentei.

    Você disse: “Talvez o maior erro que o PT tenha cometido, para além de todas as questões internas relativas à militância, à estrutura partidária e sua ligação com os movimentos sociais, tenha sido imaginar que o apoio de uma fração dos donos do poder poderia sustentar a estratégia petista de hegemonia.” 

    Faço minhas as suas palavras, mas retiro o TALVEZ. Este foi o maior erro. Com este erro e a crença de seria um acerto, a militância foi, de certa forma, menosprezada, na medida que os detentores de cargos, especialmente os parlamentares e executivos, passaram a ser o centro do partido. Sem a presença do “chefe”, se atrasasse ou não comparecesse nenhuma reunião tinha eficácia, ficando apenas no superficial. Isto continua, embora agora chacoalhado. Pela primeira vez fui chamado para participar de reunião de avaliação de mandato parlementar, mesmo sendo membro há anos do coletivo do mandato. Lamento.

    Lembro a frase do Joaquim Câmara Ferreira ao Mariguela, quando este o criticou por ter tido iniciativa sem o comunicar: “Não preciso pedir permissão para fazer a Revolução “.

    Este é o princípio. Não prego a indisciplina, mas os líderes têm que ter rédeas claras, senão eles põem tudo a perder.

  2. Parentesco

    Boa Tarde Artur

    gostaria de saber sobre seus ancestrais.

    a minha mãe era wanda paschoalina maria scavone,filha de manlio scavone,pelo que eu me lembre, meu nono tinha muitos irmãos,todos homens : Amadeu, Humberto,Miguel e mais outros que eu não lembro,talvez enzo?

    a minha mãe casou-se e veio morar em são carlos,e meu pai tinha uma fábrica de chocolate serrazul,estou te dando estes dados para você conversar com a sua família mais velha e perguntar se de fato,somos parentes.

    meu nono era socialista e ajudou a abrigar pessoas vindas da guerra civil espanhola,nos anos 30,em são paulo.

    eu tenho somente o sobrenome de meu pai,stockler campos.

    gostei de seus textos,e agora com a notícia de hoje,que o temer não poderá nomear ministros,deu-nos mais esperança.

    abraços revolucionários da internet,pois hoje não precisamos mais pegar em armas,ou melhor hoje as nossas armas são a escrita,os blogs democráticos e as ações nas ruas,

    eliana

    fone 16 34156466

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