Cordialidade e deselegância de Mansueto no debate público

Por Pedro Rossi

Cheguei à Unicamp tecendo elogios ao economista Mansueto de Almeida por sua cordialidade antes, durante e depois do debate na TV Câmara em Brasília, no programa Expressão Nacional. Identifiquei em sua atitude um sinal de respeito às nossas divergências políticas e teóricas. Mas agora me confesso em dúvida.  

Recebi um texto que Mansueto publicou em seu blog que mostra uma queda do investimento e contrasta com uma suposta garantia minha de que o contrário era verdadeiro: “o professor Pedro Rossi da Unicamp me garantiu que o investimento havia crescido”.

Confesso que não entendi o sentido dessa crítica que me parece deselegante porque insinua que eu sou um economista do tipo que garante inverdades. Ainda mais se tratando de um debate ao vivo, acalorado pela presença de dois deputados de campos opostos, onde erros e mal-entendidos são comuns.

Na ocasião Mansueto afirmou que “a taxa de investimento total da economia brasileira nos últimos quatro anos caiu”. Tentei ponderar afirmando que “depende do indicador”, se em dados correntes ou constantes, e ele me respondeu, cordialmente, que os indicadores do IBGE mostram queda nos dois casos.

Pois bem, os dados das contas nacionais trimestrais do IBGE (valores encadeados a preços de 1995) pode-se mostrar que a taxa de investimento (FBCF/PIB) média dos últimos quatro anos, 19,9% (que exclui o último trimestre de 2014, pois ainda não foi divulgado pelo IBGE), foi maior do que a taxa de investimento média do segundo governo Lula, 18,9%. Ou seja, a taxa de investimento média foi maior em Dilma1 do que em Lula2 e também maior do que em Lula1 (15,8%) e FHC2 (17,1%),  considerando preços constantes. Vale notar ainda que foi  no governo Dilma o maior patamar dessa taxa na historia recente, 20,7% em 2011, que caiu em 2012 (19,7%), voltou a subir em 2013 (20,2%) e novamente caiu em 2014 (18,8% de média dos três primeiros trimestres).

No decorrer do debate, quando entendi que Mansueto estava se referindo à comparação entre os anos de 2010 e 2014, últimos anos de Lula e Dilma, disse “você tem toda razão” e passei a discutir outro tema.

Esse mal entendido poderia ter sido resolvido facilmente por meio de trocas de mensagens pessoais, mas Mansueto optou pela exposição pública com insinuações inadequadas.

Entendo que a discussão de ideias deve ser feita abertamente e que dados e números devem ser esclarecidos e divulgados, mas não entendo essa necessidade de fazer insinuações sobre quem pensa diferente à posteriori de um debate presencial.

Na falta de respostas, prefiro ficar com a imagem do Mansueto que encontrei em Brasília em detrimento do Mansueto blogueiro virtual. O primeiro é extremamente cordial já o segundo, me pareceu deselegante.

O debate está disponível no link: http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/EXPRESSAO-NACIONAL/482014-QUAIS-OS-REFLEXOS-POLITICOS-E-ECONOMICOS-DO-AJUSTE-FISCAL-NO-SEGUNDO-MANDATO-DILMA.html

Redação

5 Comentários

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  1. Será o brasileiro um homem cordial?

    Será o brasileiro um homem cordial, como queria o S. Buarque de Hollanda? O recente episódio de linchamento verbal do ex-Ministro Mantega, no Hospital A. Einstein, parece demonstrar que as coisas são muito diferentes. Pelo menos, quando se trata de certas “elite$”.

    Espero que não tenhamos, em breve, episódios de linchamento físico. Durante a campanha eleitoral, já houve situações de assédio moral e agressões físicas a eleitores do PT.

    Sabemos que, em certos estados americanos do Sul, era perigoso, mesmo para um branco, demonstrar publicamente sua simpatia pela causa dos negros. Aqui, temo que as nossas KKKlan avancem em sua histeria, espancando, humilhando publicamente e assassinando “PT lovers” (ou os “vagabundo lovers”, “favelado lovers”…).

    Que se trata de ódio de classe, é claro e transparente. Só o ódio pode cegar uma pessoa razoavelmente inteligente, convencendo-a, por exemplo, de que a corrupção é um fenômeno majoritaria ou exclusivamente relacionado ao PT (como se os demais partidos fossem compostos por vestais e Catões da República; e como se exisitisse algum “corruptômetro” confiável, capaz de medir e comparar o teor de corrupção de cada partido!). A agressividade anti-petista transborda inclusive nas relações interpessoais, o que é ainda mais sintomatico.

    Se acredito que um amigo está sendo iludido por uma seita religiosa, pela grande mídia em sua hipocrisia udenista, ou mesmo por uma pirâmide tipo Telexfree, tento alertar esse amigo com carinho e delicadeza. Se não adiantar (e rarissimamente adianta), fico triste, mas JAMAIS parto para linchamentos verbais, públicos ou privados, do tipo “vocês tucanos são isso e aquilo”, “vocês teleguiados do PIG são isso e aquilo”… Porém, tenho recebido tratamento dessa espécie por parte de amigos e parentes, para minha grande surpresa; pessoas de quem eu gosto, e sei que gostam de mim.

    Com o que estão brigando? Comigo, com certeza não é. Suspeito que, na verdade, não o sabem.

     

     

    1. O homem cordial não é muito cordial

      Há um engano no seu texto. O homem cordial de Buarque de Hollanda é, em termos chulos, um filho da puta, um fura-olho, e mais todo e qualquer termo que sirva para ilustrar a situação em que as relações sociais se dão não com base em um acordo tácito considerado razoável pela maioria da sociedade, mas em relações de compadrio e amizade, na base do uma mão lava a outra e coisas do gênero. O homem cordial é o amigo da onça.

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