O título deste post iniciava um texto publicado há cerca de duas décadas – vinte anos! – por um dos grandes jornais de empresas familiares do centro do país. A manchete da matéria era: “Descoberto sindicato da corrupção” (o grifo não consta do original).
Caminhar de volta sobre uma linha do tempo em que se destacam, nos principais marcos da investigação a respeito da imoralidade do lobby das empreiteiras sobre o orçamento federal no início da última década do século passado, os nomes de várias empresas e grupos citados nas manchetes atuais referentes à investigação da Operação Lava Jato pode levar à descoberta de dúzias de esqueletos escondidos nos armários da chamada Era das Privatizações no Brasil.
A participação dessas organizações foi de tamanha amplitude e intensidade no processo privatista desenrolado nos anos noventa, que suas ramificações alcançaram atividades tão distintas quanto a administração de rodovias e a indústria petroquímica – esta última possibilitada pela privatização do setor mais rentável do antigo monopólio do petróleo no país – passando por um largo espectro que incluiu geração de energia elétrica, produção de alumínio e de aço, entre outras.
O fenômeno foi tão evidente para aqueles que atuavam nessas áreas de interesse da política e da economia que um ex-deputado federal oposicionista se referiu, numa apresentação pública, ao programa de privatizações do governo FHC como a “odebrechtização” do país.
Quando se integra a interpretação desses dois períodos históricos do combate à corrupção no Estado brasileiro ficam evidentes dois pontos diferenciais: o primeiro, na prática, resultou em nada – com a possível exceção do desaparecimento do cenário político de um ou outro protagonista das investigações – enquanto o atual, pelo menos, mesmo que ressalvados os vazamentos seletivos da devassa propiciada pelas delações premiadas, tem tido o mérito de revelar ao grande público um personagem que ao longo desses tempos sempre foi enquadrado a meias luzes, de sobretudo e chapéu, como pouco mais que um silhueta de perfil, na maioria das vezes: o corruptor.
Saber-se-á que esta etapa da história do país, de fato, alcançou seu ponto de transformação do futuro, sua “Praça da Apoteose”, se no final do filme o espectador descobrir que o bandoleiro que finalmente mostrou a cara e que carregava a mala preta da corrupção para lá e para cá durante o enredo é o mesmo gângster que se apropriou e, incólume e impune, durante décadas, usufruiu e multiplicou uma fortuna gigantesca obtida pelo seu know how em malfeitorias de grande escala.
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