O Brasil pós-Temer, uma tragédia nacional. Parte 2: o Grande Acordo Nacional e o business as usual

Foto: Agência Brasil
Foto: Agência Brasil

Por Cesar Cardoso 

Aqui está a parte 1 da análise sobre o Brasil pós-Temer.

Todos os animais, inclusive os humanos, são dotados de instinto de sobrevivência; sem ele, rapidamente perecerão nas garras de algum predador. E é este instinto de sobrevivência que, por exemplo, torna os animais, quando acuados, ainda mais agressivos e atacantes.

Políticos são humanos, humanos são animais, e portanto políticos devem ter um aguçado instinto de sobrevivência; sem ele, não sobreviverão até a próxima eleição. No fundo, todas as suas ações de ataque – reformas de sistemas políticos, conspirações, golpes de Estado – são porque, em algum momento, o instinto de sobrevivência determinou que eles estavam acuados, sob risco de serem capturados por algum predador.

Daí começamos a entender o Grande Acordo Nacional, conforme ouvido nos áudios de Sérgio Machado e Romero Jucá.

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A Constituição de 1988, em termos políticos, foi pensada e nasceu dentro do viés parlamentarista; José Sarney, já à época das discussões sobre o capítulo, era um presidente enfraquecido, e concentrou todas as suas forças em apenas tirar a figura do primeiro-ministro da Carta. Com isso, e mais as sucessivas limitações à edição e prorrogação de medidas provisórias, gerou o presidencialismo de coalizão brasileiro, onde a única força do presidente é nomear cargos comissionados. E o presidencialismo de coalizão, aliado a um método de preenchimento de cadeiras na Câmara que inviabiliza qualquer partido ter maioria, garantiu que dependeria do Legislativo qualquer governabilidade. O sistema começou titubeante, teve seu teste de fogo quando retirou Collor e colocou Itamar e a partir daí veio mais ou menos sem percalços, passando de escândalo em escândalo, até 2015.

Em 2015, o avanço da Lava-Jato deixou claro para um grande grupo de políticos que a presidenta Dilma, por não querer barrar a investigação, havia se tornado um risco sistêmico; era necessário retirá-la, e por causa deste quase-consenso no mundo político o golpeachment foi transcorrido praticamente sem tropeços. Assumido o poder, a tentativa do núcleo duro do novo presidente foi tentar voltar ao business as usual; uma agenda ultraliberal nos primeiros meses, aproveitando a janela da Doutrina do Choque, para deixar o rentismo satisfeito e poder voltar à situação anterior bem antes de 2018. E foi assim que passou a infame PEC da Morte.

No entanto, as dificuldades para imposição da agenda e o estado débil da economia começaram a minar a aliança entre o mundo político e o rentismo+corporações estatais+mídia; quando ficou claro que a aliança ruiria, o mundo político, passou a atacar publicamente (papel de Gilmar Mendes) e a tentar colocar obstáculos intransponíveis à Lava-Jato; além disso, começou a dizer claramente à presidência que, sem a volta dos bons e velhos “carinhos” – cargos, propaganda estatal em suas rádios e TVs etc etc – não passaria o resto da agenda rentista, particularmente a privatização da previdência social.

Ao notarem que estava sendo tramado às claras um futuro sem o protagonismo deles, as corporações estatais partiram para o ataque de destruição.

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O Brasil que o Grande Acordo Nacional quer reconstruir, fica fácil de entender, não é politicamente muito diferente do Brasil que existia antes de 2015. Certamente vai incluir limites às ações das corporações estatais, certamente vai incluir algum ataque e desestímulo à organização popular para que voltemos aos tempos do clientelismo como norma na relação político-eleitor, até acredito que vão assumir o parlamentarismo. Mas o centro da ideia, do predomínio dos pequenos grupos no Legislativo, continuará… afinal, qualquer mudança piorará a situação da classe política.

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Na parte 3, “whoever wins… we lose”

Redação

4 Comentários

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  1. panela

    A indústria para. O comércio fecha. As prefeituras não pagam. O emprego mingua. A ciência e inovação continua, mas apenas no hemisfério norte. O Exército, acuado, é mero expectador da doação do patrimônio nacional. O legislativo e o judiciário mantém (e elevam!) seus gordos soldos e privilégios. Os estados da federação são listados no SPC e prensados no “dá ou desce”. Os filhos, parentes, amigos, perdem o emprego, vendem o carro, param de pagar o plano de saúde, atrasam o condomínio, passam os filhos para a escola pública, só “alegria”. Os minimamente patriotas são ameaçados pela máquina pública usurpada. ….. e tals.

    O povo a mando da globo, feliz, indignado, …..entre uma discussão a respeito do bbb e do ator velho que molesta funcionárias…..BATE PANELA, contra os petralhas que destruiram o pais!

    O PLIMPIG (mais rico do mundo), governa os patos amarelos, os midiotas, os usuários de uniforme da seleção, os bateristas frustados e aponta uma grande nação à frente, sem kurrupissaum, sem soberania, sem petróleo, importador de aço, sem filas nos aeroportos doados, emphim, uma beleza!

  2. photo

    Ao contemplar a bela foto deste post, contrito, peço desculpas a todos os paneleiros coxa do nosso querido Brasil.

    São devidas, as desculpas, pelas reiteiradas e infundadas críticas que fiz à campanha pela remoção daquele povo ladrão petralha da presidência.

    Os senhores/as, nos legaram estas duas magníficas e “onestas” figuras, dignas de nos representar perante o mundo. Até que enfim parou a sangria e acabamos “com essa poha ae”. O Brasil agora tem o governo que merece!

  3. Só lí até o “aí começamos a
    Só lí até o “aí começamos a entender o grande acordo nacional”,MAIS UM INTELECTUAL SEM NOÇÃO,eu e o povo não fizemos e não fazemos acordo nenhum,se houver da “parte de cima”,TD vai ficar igual no Brasil, quando a corda estourava para o pt,Dilma e Lula não tinha acordo né!? Sem essa de querer induzir a todos a um acordo,LEMBRAM do caso Satiagraha?Lula com dó,fez um acordo e se fud…Não tem acordo,se houver VIRO A CASACA FÁCIL FÁCIL,fora Temer e tucanos na cadeia,pronto,escreví !!

  4. Neste momento traumatico o

    Neste momento traumatico o Senado tem como seu Presidente, que tambem é o Presidente do Poder Legislativo e portanto quem deveria falar em nome de todos os politicos alvos da Lava Jato um personagem dos mais apagados, talvez o mais na historia do Senado pós Governo Militar, como o Senador Eunicio Oliveira que em momento algum disse uma unica palavra em defesa da Instituição e da classe politica. Sua unica declaração serviu para sua defesa pessoal, não da Instituição, não disse uma unica palavra pelo Senado ou pelo Poder Legislativo, parece lalheio a tudo que não se refira à acusação a ele, sua unica preocupação., o Senado e o Poder Legislativo estão sem qualquer porta voz.

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