Crise das finanças públicas gaúchas e as propostas de superação à direita e à esquerda

O artigo abaixo, do Tarso Genro, que pesquei na página do meu amigo Flávio Bettanin, reflete com propriedade a profunda crise das finanças públicas do Estado do Rio Grande do Sul, as soluções cogitadas pelo Grupo RBS (entre elas, acabar com a Universidade Pública) e pelo atual gestão, todas corte liberal e neoliberal, e como a esquerda deve se debruçar sobre o tema.

CABEÇA FRIA

Tarso Genro

Examinar de cabeça fria o que efetivamente está acontecendo no Rio Grande, neste momento, recomenda deixar de lado, para a análise, as questões mais imediatas das disputas políticas entre partidos e facções, que caracterizam de forma salutar o processo democrático. Como questões imediatas quero me referir, por exemplo, ao pagamento, ou não, dos aumentos salariais deferidos por lei e aprovados por unanimidade, na Assembleia, ou se é incompetência ou “crise financeira”, não pagar contas de telefone. Esses debates ocorrerão, naturalmente, sem a nossa ajuda.

O “examinar de cabeça fria” significa, na minha opinião, responder as seguintes perguntas: “quais as propostas concretas, para governar dentro da crise -que é global e nacional- defendendo-se dela e, ao mesmo tempo, preparando o futuro do nosso Estado?” “Existem saídas milagrosas de curto prazo?”

Quero, sumariamente, apresentar a minha contribuição ao debate, para tentar demonstrar que, o que está em jogo, não é uma maior ou menor “competência” técnica e política dos governantes, que deve ser examinada de forma vinculada aos fins do seu Governo. Mas visões e modos diferentes de sair da situação atual, que, de resto não me cansei de informar durante o meu Governo: sem a reestruturação da dívida pública o Rio Grande poderia parar, sem impulsionar o crescimento, não tem saída.

Na crônica política tradicional do nosso Estado, nenhum texto foi tão completo e tão claro -traduzindo o que se presume possa chegar a ser a orientação do Governo atual- como o assinado por Rosane de Oliveira, na Zero Hora de hoje (05.04). Digo isso, porque levo o seu texto a sério, como levo a sério as manifestações públicas que estão sendo feitas pelo Governo atual, que promete, em breve, apresentar seus projetos à Assembleia Legislativa do Estado.

Depois de considerar três anos de crescimento com “vôo de galinha” e alegar que o Estado não mexeu com as suas “vacas sagradas”, Rosane apresenta duas medidas de ajuste (extinção da Uergs e do Tribunal Militar do Estado) que, somadas, chegam a 140 milhões de reais. Nenhuma palavra sobre quem seriam os “sacrificados”, com as medidas que um bom Governo, para o Estado, deveria adotar, além dessas, que qualquer pessoa medianamente informada sabe que não teriam qualquer efeito para resolver as finanças estaduais.

Ou seja, as medidas “duras”, com efeitos rápidos, como todos gostariam de ver, não são mencionadas. Como não são mencionados os que sofreriam, principalmente, os seus efeitos. os efeitos do “sacrifício”, como gostam de dizer alguns empresários mais ricos e menos sensíveis a sorte dos outros.

Não concordo com a extinção da Uergs e creio que a Rosane de Oliveira, como crítica de boa fé -presumo eu- não tem a mínima ideia o que é a Uergs, hoje, e quais as funções que ela cumpre no desenvolvimento regional. Mas, supondo -apenas supondo- que, no mérito, as duas medidas estivessem corretas, quais as outras medidas que, combinadas com estas, tirariam o Rio Grande da Crise? Isso não é dito.

E não é dito, porque as mesmas tentativas foram feitas, de maneira aberta e politizada, pelos Governos Britto e Yeda, e não tiveram nenhum resultado. Deixaram apenas um passivo social brutal, decorrente de um arrocho salarial sem precedentes sobre os servidores públicos e um passivo social ainda maior, nas políticas de proteção social e de desenvolvimento, voltadas para a produção agrícola e industrial do Estado.

Nenhum destes Governos apresentou um programa de desenvolvimento industrial para o Estado e um programa de desenvolvimento do campo gaúcho. E não o fizeram, não porque sejam “contra” desenvolvimento do Estado, mas porque entendiam que as medidas corretas passavam pelo “enxugamento” do serviço público. Passavam pela contenção dos salários dos servidores e pelo estímulo a concessões e privatizações, pedágios, e zero de políticas sociais e estímulos à agricultura familiar e às cooperativas.

Trata-se de uma visão de desenvolvimento, defendida em todo o mundo pelos partidos de direita e de centro direita, de corte liberal e neoliberal. Eles entendem que a ingerência do Estado, com políticas públicas estratégicas de caráter regulatório, para estimular e orientar a economia para o emprego, de um lado, e políticas de proteção social para os mais débeis, de outro -que exigem recursos públicos-, esta visão de desenvolvimento,está errada. Na verdade são escolas de pensamento sobre o desenvolvimento que estão em disputa,neste momento, e que Rosane, sem nenhuma timidez se posiciona como “abre o jogo”, pelo Governo atual, que ainda está estudando por onde sair.

Mas, porque o Governo atual está relutando? Não se trata de incompetência do Governo, mas sim de falta de clareza política. O Governo não sabe, ainda, se terá base, na Assembleia Legislativa e mesmo acolhimento, na sociedade, fora da RBS, para aplicar o ajuste que a RBS vem recomendando, inclusive nos seus editoriais, sem se dar conta -ou quem sabe até se dando conta- que ajustes desta natureza são inaplicáveis dentro do regime democrático.

Ou quem sabe são aplicáveis, com a ajuda de medidas de “exceção,não declaradas”, semelhantes aquelas desatadas pelo Governo Richa, no Paraná? O Governo Sartori, que, como disse candidamente a Rosane de Oliveira ainda “não mostrou suas cartas”, num misto de admiração e cumplicidade, pagará para ver? Aplicará o “ajuste RBS” e terá apoio da sua base parlamentar? E depois, quando vier a reação dos servidores e da população, irá reprimir com o mesmo “desembaraço” de Richa? Esse é debate, A hora é a hora das escolhas. Boa sorte para o Rio Grande!

 

Redação

16 Comentários

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  1. Tremendo cara-de-pau

    Entregou o estado quebrado, faz de conta que não é com ele, critica governos anteriores ao dele e ainda tripudia em cima do sucessor.

    Só faltou dizer que a culpa é do FHC.

    1. Sr.Brandes!

      O Sr. mora aqui no RS? Conhece a nossa realidade? Acompanhou por quatro anos o governo do Tarso? Conhece o Sartori? Sabe o que Sartoria está fazendo agora? Sabe que os hospitais filantrópicos estão paralisando por falta de repasses do governo do RS? Sabe que nem conta de telefone estão pagando? Sabe que prometeram mundo s e fundos numa campanha política ridícula? Sabe que votaram no Sartoria apenas para itrar o PT do poder? E sobre os governos anteriores de Britto, Yeda e Rigotto, não fala nada? Ah! Sr. Brandes, vai falar besteira noutro blog!

  2. Tremendo cara-de-pau

    Entregou o estado quebrado, faz de conta que não é com ele, critica governos anteriores ao dele e ainda tripudia em cima do sucessor.

    Só faltou dizer que a culpa é do FHC.

  3. Sobre o endividamento do Rio Grande

    Para os fracos de memória: qualquer gaúcho sabe onde começou o Calvário do Endividamento Gaucho.  Explodiu quando o estado resolveu “pagar para ter a montadora da GM” sem que as condições de suas finanças públicas o permitissem.

    Aquilo que ocorreu depois foi apenas consequência.

  4. O povo gaúcho sabia…

    …que ia ser assim. Mas aderiram em massa à propaganda anti-PT da mídia de sempre e se deram mal.

    Durante a campanha, questionado se pagaria o piso dos professores, Sartorão da Massa (como o atual governador se apresentou durante toda a campanha) mandou os professores buscarem seu piso lá no Tumelero (conhecida loja de materiais de construção). Lá é que tinha piso bom.

    Essa semana, em reunião com 46 entidades do funcionalismo público, Sartori contou uma piada sobre um tal navio que naufragou, tendo como sobrevivente somente um italiano. “É que o italiano fala tanto com as mãos que conseguiu nadar e se salvar”, disse ele rindo sozinho. Enquanto isso, os comandos da Polícia Rodoviária do RS estavam sem telefone. 

    Vou  dar uma de Cartomante, anotem aí: depois de acabar com a UERGS, arrochar salário e precarizar ainda mais o Estado, em breve a única saída para a crise será vender a CORSAN (a SABESP do RS, a Cia. Riograndense de Saneamento Básico é 100 pública e encerrou 2014 com R$ 2 bilhões no caixa) e o Banrisul (a jóia da coroa gaúcha, lucrativo e assediado por grandes bancos privados).

    É só uma questão de tempo.

  5. Texto do Tarso

      Não sei onde vive o senhor José Carlos Brandes. O Estado do Rio Grande do Sul está quebrado há muito tempo e o principal causador do problema foi o ex-governador Antonio Britto ao assinar acordo com o governo federal que retirou muitos recursos do estado através da Lei Kandir. O que iria acontecer com aquele acordo foi dito há época e não deu outra.

      O governador Tarso, com apoio de toda a bancada gaúcha e de alguns ex-governadores (Germano Rigotto) entre eles, conseguiu melhorar a dívida do RS reduzindo-a em muitos milhões de reais. A luta tem que continuar, com todos, para que o índice de correção seja modificado porque é exorbitante.

      Não há nenhuma dúvida de que a situação do estado é muito crítica, mas o Tarso a deixou um pouco “menos ruim” por assim dizer.

      Mas, a sua agressividade sem qualquer discussão de idéia não me surpreende. O ódio é o único sentimento que dirige algumas pessoas que não apresentam proposta nenhuma.

    1. Se isto resolver o problema, ele topa

      mas naturalmente, como nos casos apontados, nao resolve.  O Tarso Genro desde o inicio de seu governo propos uma renegociaçao da divida para todos os estados, o que vc pode comprovar procurando no google.  Isto afeta todos os estados que estao com a corda no pescoço, nao importa a coloraçao partidaria.  Topa tratar do assunto com mais cerebro e menos figado? Saudaçoes..

  6. Quem quebrou o Estado foi ele
    Quem quebrou o Estado foi ele ou foi a Yeda e sua máfia que estava enraizada do Detran à secretaria da educação. Se a RBS parasse de sonegar já seria um bom começo.

  7. Excelente artigo. As medidas

    Excelente artigo. As medidas “salvadoras” propostas pela oposição não podem ser aplicadas sem brutal repressão contra a maioria da população, que não as aceita nem pode aceitá-las, pois equivalem a um ataque em profundidade contra o seu padrão de vida.

    Falta, entretanto, discutir a outra metade do problema: se a população não pode aceitar a política do PSDB e do PIG, que é uma facada no ventre, o capital parece não mais ser capaz de aceitar a política do PT e do governo.

    Moloch mais uma vez exige sacrifícios humanos. Rosane de Oliveira, os Sirotski, os Marinho, Beto Richa, Aécio Neves, estão ansiosos para que a carnificina comece; parecem na verdade ter prazer na perspectiva. Querem ver sangue, e quanto mais e quanto mais rápido, melhor. Mas são adoradores do deus dinheiro, nada mais se pode esperar deles. A questão, porém, é: como evitar os sacrifícios e ao mesmo tempo evitar a vingança – que também pode ser terrível – do deus mercado?

    Para isso, infelizmente, ainda não parece haver propostas, nem à direita, nem à esquerda, nem ao centro.

  8. Comentários como os dos

    Comentários como os dos senhores Pereira L.F. e José Carlos Brandes, deveriam ser deixados para conversas de Botequim, pois estes dois senhores desconhecem a realidade econômica do Rio Grande do Sul e dizem qualquer besteira pensando que ninguém irá comentar.

    A dívida pública do Rio Grande do Sul é histórica e através de um levantamento do RBS (afiliada da Globo) podemos ver quem são os responsáveis da dívida.

    O quadro feito a partir dos relatórios anuais do Tesouro do Estado do Rio Grande do Sul mostra a evolução da dívida durante os governos a partir de 1971. 

    O quadro coloca a dívida no início do governo e o aumento relativo da dívida, em função da dívida do fim do governo anterior. O governo Tarso só é elvantada a dívida até 2012.

    Nota-se que os campeões de aumento de dívida são 1º) Euclides Triches (ARENA), 2º) Alceu Collares (PDT) , 3º) Jair Soares (PDS) , 4º) Antônio Brito (PMDB), 5º) Amaral de Souza (ARENA/PDS), 6º) Sinval Guazelli (ARENA).

    Os que vieram após Antonio Brito, só conseguiram administrar a dívida deixada por Antônio Brito (PMDB), que produziu a façanha de além de privatizar a CRT (telefonia) e CEEE (energia elétrica) e passar a dívida de 29,27% para 44,19%, atingindo quase o limite de endividamento possíivel.

    De Olívio Dutra para frente todos estão empurando com a barriga.

    Isto são valores relativos, pois em valores absolutos Brito e colares estão pau a pau.

    1. Bem, meu amigo

      Então explica para o seu adorado ex-governador que não se trata de uma CRISE, como ele diz literalmente, inclusive remetendo a ( e já se esquivando ) a uma suposta crise global e nacional que aportou no Porto ( que já foi ) Alegre subindo o Guaíba.

      Se ele não sabe nem fazer o diagnóstico correto e está tentando resolver doença crônica com tratamento de crise, não vai chegar a lugar algum. 

  9. E a solução é? Não disse a

    E a solução é? Não disse a que veio o texto.

    O RS não tem divida com a união coisa nenhuma, porque ele é sustentáculo da federação. O RS não tem que pagar divida nehuma tem é crédito para receber, se devolver metade do que é confiscado pela troika federal já resolvia todos os seus problemas.

    Não pagar os funcionários publicos já um problema , mas os hospitais agora vão deixar de atender pelo SUS, este sim é o fim da federação. Existe algum beneficio em o RS pertencer a federação brasileira?

    O RS só tem contribuido com a federação e nada lhe dão de retorno , é um tipo de neocolonialismo em nivel federativo. 

    Separar não , mas conversar sobre a injusta divisão de recursos , pedir mais autonomia, ou melhor sejamos uma federação de fato.

     

  10. Que engraçado

    O sábio petista diz que se trata de uma crise, os seus discípulos tentam me convencer que é um problema histórico de insustentabilidade financeira do estado.

    Vocês são petistas que se entendam. 

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