Considerações sobre o Xadrez de Janot e o fundo do poço, por Claudio Santana Pimentel

Considerações sobre o Xadrez de Janot na estrada de Damasco e o fundo do poço, de Luis Nassif

por Claudio Santana Pimentel

Já que se trata de xadrez, e eu no máximo joguei damas, na infância, e mal, lá vai minha visão do que poderia estar por vir:

1. A direita, a esquerda e as mídias tradicionais

A inexistência de um único nome digno que pudesse liderar as forças reacionárias e reconduzi-las a um patamar de no mínimo respeito pelas regras do jogo democrático. Forças reacionárias que se esforçam para destruir os parcos avanços da Constituição Federal de 1988, e, na esteira destes, aqueles que vieram com o Plano Real (fim da hiperinflação – mas que, por outro lado, fez do Brasil o maior sustentador de rentistas internacionais do mundo, coisa que os governos do PT não conseguiram reverter e nem sequer parecem ter tentado enfrentar); os avanços do período Lula-Dilma, simbolizados na democracia de consumo, mas que foi incapaz de preparar e consolidar um modelo democrático de maior participação popular, o que teria sido a consequência mais feliz do espírito da hoje moribunda constituição;

A inviabilidade pelo lado da esquerda, de se unir em torno de um projeto nacional que tivesse por objetivo a restituição da ordem democrática e a possibilidade de avançar essa hoje pífia democracia;

O horror das mídias tradicionais, aquelas que oferecem a quase totalidade das informações a que grande parte dos brasileiros tem acesso, à ideia de eleições diretas. Já dizia um alemão famoso no século XIX que a história acontece duas vezes: a primeira como tragédia, a segunda como farsa. Aqui, é sempre como farsa.

2. O cenário das eleições, (se tivermos eleições)

Por um lado, o da direita, uma campanha violenta (em termos simbólicos e talvez mesmo práticos) em torno de um candidato que seria apresentado como um Mussolini reencarnado, “o grande líder” capaz de fazer as reformas que o Moloch-Mercado tanto anseia e que o atual ocupante da presidência não apresenta mais condições mínimas de oferecer. E trazer a Ordem e o Progresso prometidos por PMDB-PSDB. O que nada mais significa que (mais) dinheiro para os poderosos e a conta (como sempre) para o povo. Candidatos a Mussolini brasileiro há alguns, como se sabe;

O bombardeio constante das mídias tradicionais sobre Lula, como principal candidato representante de uma alternativa democrática ao desgoverno que se encontra agora no Brasil. Por outro lado, a possibilidade de um acordão, que parece já ser considerado por uma liderança conservadora e sempre ambígua como Renan Calheiros (que está no poder, em todos os governos, que eu me lembre desde quando eu cursava o ainda segundo grau, na última década do século passado). Voltaríamos ao tempo em que Lula e lideranças reacionárias como ACM e Sarney (e o próprio Renan) passaram a “dividir para governar”?

Qual o custo desse acordo para o povo?

Quem venceria as eleições nesse cenário? Retomo a imagem do Nassif da divindade lançando dados…

3. Considerando uma possível vitória de Lula

Talvez nada pudesse ser mais interessante para as forças conservadoras, melhor, reacionárias, que a vitória de Lula tendo à frente um ano de mandato, um e meio no máximo, e precisando lidar com esse Congresso que aí está.

Na presidência, cada gesto, cada encontro, seria vigiado de perto por essa mídia cão-de-guerra reacionária. Qualquer gesto seu seria usado para denunciá-lo. Os pedidos de processo de destituição talvez fossem entregues diariamente ao presidente da Câmara (a princípio, o mesmo Rodrigo Maia);

Com esse congresso que aí está, seria praticamente impossível desfazer estragos como a Emenda Constitucional 95. No máximo, refrear, por força de veto, as reformas previdenciária e trabalhista.

Como o povo passaria a ver Lula, em um breve mandato incapaz de reverter todos os estragos e ameaças à democracia que estamos enfrentando? A aura de líder nacional poderia ser desfeita rapidamente em um governo de mãos atadas.

Apenas medidas que retomassem de fato o trabalho e emprego e o crescimento econômico poderiam manter o apoio popular e de setores razoáveis (se ainda existem) do empresariado.

As mídias tradicionais e a oposição (o “governo” atual: principalmente PSDB) lutando, dia-sim e dia-também, para apresentar o breve governo provisório como um retrocesso, descompromissado das “necessárias reformas”, insistindo na retórica de que a corrupção seria o único mal do Brasil e de que somente teria começado em 2003 (!). Mídias tradicionais e oposição iriam fazer todo o possível para boicotá-lo, assim que o resultado fosse proclamado (vide 2014 e a nossa longa história farsesca).

Além do boicote já tradicional da “esquerda anti-petista”, que parece incapaz também de por o país acima de divergências ideológicas, até como condição de exigir mais de um possível novo governo petista.

Diretas-já. Sim, sem dúvida. Para a Presidência, ocupada, porém vacante. Para a Câmara Federal e o Senado, principalmente.

https://www.youtube.com/watch?v=pg4AsFHk20Q align:left

 

 

 

Redação

6 Comentários

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  1. Claudio, não entendi bem suas

    Claudio, não entendi bem suas considerações. Todas as opçoes são caóticas, venham da direita, da esquerda, da eleição de Lula, não há saída. E termina sugerindo a eleição direta já em todos os níveis, meu desejo também e da maioria dos eleitores como mostram todas as pesquisas. O não entendimento é motivado pela dúvida: Um novo congresso vai realmente garantir a governabilidade ? Se Lula for eleito juntamente com o novo congresso vai ter sustentação ? Faço essas perguntas  porque não tenho as respostas, só tenho o “achômetro”. Para mim, a única coisa que sustentará quem quer que seja eleito é o pacto prévio, que respeite o resultados das urnas, o que não ocorreu com a última eleição. Se quisermos viver numa Democracia temos, todos, que respeitar suas regras, até Bolsonaro (toc toc toc) tem de ser assimilado se essa for a vontade da maioria. E a tragédia: Meu “achômetro”, além das acacianas platitudes, é mais ou menos aquela estória do Feola transmitindo ao Garrincha a sequência das jogadas. Será que no fim do caos não vem mais caos ?

    1. Caro Eduardo,
       
      Um novo

      Caro Eduardo,

       

      Um novo congresso não é garantia de governabilidade nem mesmo de reverter a direção que o país tomou, ainda no último período Dilma, sob a batuta econômica de Joaquim Levi.

      A presença nacional do PMDB, por exemplo, que quando está em baixa tem 1/5 dos prefeitos do Brasil, mostra como é difícil mudanças profundas num país tão grande e tão desigual.

      Como ressentemente disse o Fernando Haddad, Lula criou as condições para o PSD (Kassab) surgir, achando que assim enfraqueceria PMDB, DEM (que já foi ARENA, PDS, PFL) e mesmo em parte o PSDB. Deu no que deu.

      Bom lembrar que vários analistas, quando o atual congresso resultou das eleições de 2014, o consideraram o mais reacionário desde a novo constituição.

      Pessoalmente, acredito que a única garantia da democracia se dá por meio dos avanços educacionais e de estratégias que estabeleçam regras de participação popular nas decisões em nível local, regional, estadual e nacional. Para ficar em um único exemplo, entendo que nenhuma reforma trabalhista ou previdenciária poderia ser aprovada sem referendo popular.

      Apontei no texto algumas situações que considero possíveis, principalmente numa vitória de Lula com um curtíssimo mandato (um ano e alguns meses?) e tendo que lidar com esse congresso de 2014. O congresso do Cunha, só pra lembrar.

      O cenário que considero mais viável (não necessariamente melhor) é o do acordão, capitaneado por Lula e com a participação de setores conservadores e reacionários.

       

      Grande abraço

       

       

  2. Minha sugestão é:
    – Volta

    Minha sugestão é:

    – Volta Dilma até 2018 pois está mais do que comprovado que o impeachment foi golpe de ladrões;

    – Prisão para todos os golpistas incluindo políticos, empresários, jornalistas, integrantes do judiciário, etc etc

    – Estorno de TODAS as medidas tomadas pelos golpistas, inclusive as votadas na câmara e no senado.

    –  Investigação séria sobre a globo no caso fia/cbf, offshores, ocultação de patrimônio, lavagem de dinheiro, etce tc fazendo o possível para prender os marinho e acabar com o oligopólio da mídia,, etc etc – Está provado que com a mídia que temos hoje NINGUÉM conseguirá governar o Brasil. Isto tem de ter um limite.

    – Reestruturação do judiciário em todos os níveis. Não é possível admitir que um procurador ou juiz de 1ª instância encha o saco de um presidente da república, e que se faça respeitar o teto constitucional dos salários.

    – Reforma política urgente, se possível, antes das próximas eleições.

     

    1. Caro Jossimar,
       
      Considero

      Caro Jossimar,

       

      Considero também que a opção mais decente seria o retorno da presidente eleita, embora tal opção pareça virtualmente impossível.

      Concordo também quando diz que todos os atos do ocupante atual da presidência são ilegítimos e deveriam ser revogados.

      Como se o país estivesse em coma, inerte, neste um ano e pouco do golpe.

      Sim, o Brasil precisa reestruturar suas instituições, urgentemente.

      Mas nenhuma mudança para o bem do país vai sair destes que hoje estão no poder.

       

      Grande abraço.

  3. Solução simples e imediata

    Se o STF fosse realmente um guardião da Constituição, a solução da crise política seria imediata:

    (1) STF julga o mérito do impeachment

    (2) Dilma é reconduzida à Presidência

    (3) Dilma convoca uma Constituinte

    Mas existe um pré-requisito para Dilma poder governar: destruir o poder político da Globo.

    1. Quando o Brasil voltar a ser

      Quando o Brasil voltar a ser uma democracia, será fundamental rever os critérios de constituição das cortes superiores.

      Mandatos vitalícios, como os que se têm hoje, são absurdos e antidemocráticos.

      Quanto à sua última observação, é pré-requisito para que qualquer um possa governar.

      Precisamos de uma reforma do setor de comunicações, aquela que o ministro das comunicações Paulo Bernardo achava que era desnecessária.

      Afinal, não mexeria só com a Globo, mas com o oligopólio-político da mídia em todo o Brasil.

       

      Grande abraço

       

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