O que é isso?!

Quando acordo, Mafalda, minha gata, costuma estar dormindo no pé da cama. Ao tocar o despertador, ela levanta a cabeça e me observa: se apenas desligo o aparelho e volto a dormir, também ela volta aos braços de Hypnos; se dou sinal de que irei acordar, ela também desperta e de pronto começa a miar seu miado reclamão – descobriu cedo que, pela manhã, é gastar ATP à toa tentar me acordar. Se Guile está com ela, já sei: falta comida no pote ou a caixa de areia está muito suja, daí o reforço do irmão para reclamar. O esquema não muda se Natália dorme na minha casa – pela manhã está ela no pé da cama, a ocupar o espaço que Natália não alcança.
Esta semana veio dormir aqui em casa também o Vinícius, seis anos, filho da Natália. Apesar de muito sociáveis, Mafalda e Guile ainda guardam reservas para com esse ser humano diminuto com muita energia que pula e grita e berra e corre atrás deles (“correr” é aqui utilizado como licença poética, aos quatro ou cinco passos que meu apartamento permite que sejam dados antes de encontrar uma parede ou um móvel) e o máximo que sossega é por dois minutos, quando tenta pescá-los com algum fio sem graça. Já foram mais ariscos, porém ainda não se entregam tranqüilamente aos seus agrados – é perceptível uma certa tensão enquanto recebem festinha, e correm ao primeiro berro do garoto, o que não costuma demorar sequer um minuto.
Enfim, dormiu o Vini aqui, em um colchão no chão, já que minha cama sequer é de casal para dar conta de comportar três corpos humanos neste calor paulistano. No outro dia, sei da manhã, Natália acorda e vai para sua aula, fecho a porta para ela e volto para a cama. É quando reparo nos dois gatos. Estão parados ao lado da cama, no chão, entre minha cama e o colchão onde Vini dorme. Tão logo notam que os observo começam a miar inconformados, como a perguntar o que significa aquele colchão atrapalhando a livre circulação da sala até o quarto e, pior, com o pequeno ser elétrico escarrapachado nele. Alternam observações ao Vini e miados para mim, que ao invés de responder ou tomar qualquer atitude, pego meu tablet e tiro uma foto da inusitada cena, antes de voltar a dormir. Os gatos, não sei o que fizeram, a partir de então. Talvez tenham voltado a seus afazeres, ou aproveitado para descansar um pouco mais, já prevendo que em breve a casa estaria tomadas por gritos e risadas altas e tentativas de pescaria de gatos e outras atividades que me cansam só de olhar, às oito da manhã.

20 de fevereiro de 2017

Redação

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