Comparativo econômico entre Argentina, Brasil e Venezuela, por Diogo Costa

PARA ALÉM DA RETÓRICA – Há uma eterna mania de alguns grupos em tecer comparações entre a política e a conjuntura nacionais com estes mesmos elementos presentes em países vizinhos, notadamente na Venezuela e na Argentina.

Os setores ditos de esquerda, que desde tempos imemoriais urram de prazer em fazer tais comparações, batem sempre na mesma tecla: a Argentina e a Venezuela tem “governos revolucionários” e estão muito mais avançados que o Brasil em todos os aspectos possíveis e imagináveis. Persiste sempre um tom rançoso nestas comparações, como se o Brasil fosse um padrão ruim e desprezível na comparação com nuestros hermanos.

Em primeiro lugar, esse tipo de análise desconhece, desde sempre, a questão da correlação de forças existente no Brasil e em outros países do globo terrestre.

Em segundo lugar, as análises atuais a respeito da economia política nacional, continental e mundial não levam em consideração nenhuns aspectos como os ciclos econômicos, a debacle do preço das commodities minerais e agrícolas, a iminente normalização da política econômica nos EUA, a queda na economia chinesa, etc.

Em terceiro lugar, pintam um quadro do Brasil, de forma comparada ao país de Gardel e de Bolívar, como se nossos vizinhos estivessem em situação infinitamente superior. Principalmente tratando-se de quesitos como inflação, taxa de juros e emprego, é necessário e urgente revelar a verdade factual a respeito da situação brasileira.

Façamos isso, portanto:

1) Taxa de juros

-Argentina: 22,5% ao ano;
-Venezuela: 19,6% ao ano;
-Brasil: 14,25% ao ano.

2) Inflação

-Venezuela: 68,5%;
-Argentina: 15%;
-Brasil: 9%.

3) Desemprego

-Venezuela: 7,9%;
-Argentina: 7,1%;
-Brasil: 6,9%.

Não seria de todo ruim enveredar também pela comparação do Brasil consigo mesmo, até para dissipar as teorias dos profetas do apocalipse, que trombeteiam sobre o fim dos tempos em Pindorama.

Para tanto, a régua adequada é comparar os índices do Brasil nos últimos 03 ajustes macroeconômicos (1999, 2003 e o atual de 2015).

1) Taxa de juros

-Em julho de 1999, ajuste de FHC/PSDB: 19,5% ao ano;
-Em julho de 2003, ajuste de Lula/PT: 24,5% ao ano;
-Em julho de 2015, ajuste de Dilma/PT: 14,25% ao ano.

2) Inflação

-Em 1999, inflação de FHC/PSDB: 8,9%;
-Em 2003, inflação de Lula/PT: 9,3%;
-Em 2015, inflação de Dilma/PT: 9%.

3) Desemprego

-Em 1999, desemprego de FHC/PSDB: 8%;
-Em 2003, desemprego de Lula/PT: 12%;
-Em 2015, desemprego de Dilma/PT: 6,9%.

Todos esses dados trazidos a baila servem apenas para contestar o clima de final do mundo que se instalou no Brasil atual. E servem também para evidenciar que o debate econômico, para além dos slogans, das frases de efeito ou das palavras de ordem, necessita de um mínimo de racionalidade na análise da situação concreta e objetiva dos fatos.

O Brasil vive hoje o terceiro ciclo econômico dos governos do Partido dos Trabalhadores (pró-cíclico entre 2003 e 2008 e a partir de 2015; e anticíclico entre 2009 e 2014). O fim da política econômica anticíclica trás dissabores mas é uma necessidade, até porque nenhum país da face da terra mantém políticas anticíclicas de forma indefinida. Não há orçamento que aguente.

Nos últimos 06 anos o mundo tem se mantido a partir de doses cavalares e descomunais de afrouxamento monetário, expansionismo fiscal e política agressivamente anticíclica. A reversão dessas políticas está em adiantado estágio nos EUA e no Brasil, ao passo que ainda estão sendo levadas a efeito na Zona do Euro.

Cedo ou tarde a maioria dos países terá que desembarcar do expansionismo monetário e fiscal, algo que nós estamos a fazer desde já.

Para finalizar, no que é mesmo que, em termos econômicos, a Argentina e a Venezuela estão melhor que o Brasil?

Redação

20 Comentários

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  1. Os numeros oficiais não são

    Os numeros oficiais não são confiáves na Argentina e na Venezuela, o Brasil esta indo para o mesmo buraco de falta de confiança.

    Porque não colocou o PIB?

    1. confiáveis mesmo, só os

      confiáveis mesmo, só os números apresentados por oneide.

      como diria minha mãe: “tem gente que acha bonito ser feio”.

    2. .

      São os números conhecidos e aceitos pelos órgãos internacionais. 

       

      Quanto ao PIB, o do Brasil cairá entre 1,5 e 2 por cento; o da Venezuela cairá mais de 6 por cento e a Argentina terá crescimento zero ou um pouco superior a isso. 

       

      O Brasil tem índices infinitamente superiores aos da Argentina e da Venezuela, principalmente em se tratando de orçamento e reservas internacionais. 

       

      A Venezuela terá que mudar a sua política de subsídidos diversos, principalmente o do petróleo, se não quiser implodir. É absolutamente impossível um país prosperar se mantém de forma artificial e insustentável, como é agora, o litro da gasolina incomensuravelmente mais barato do que um litro d’água. 

       

      Na Argentina estão segurando a desvalorização do peso, que virá logo depois da eleição. E terão que rever também a política de subsídios, principalmente no setor elétrico. 

      1. “tem índices infinitamente

        “tem índices infinitamente superiores” disso eu acho que ninguém duvida, não importa quanto se maquie os dados.

        A opção ideológica pelo socialismo especialmente na Venezuela não vai permitir qualquer avanço econômico e social nestes países.

        Os “regimes” estão passando de autoritário, para totalitário a passos largos, (o Brasil é intervencionista). 

        1. Felizmente

          Não há risco do Brasil passar para autoritário ou totalitário. A Mídia é atuante, a Classe Média conscientizada dos problemas na economia e o Legislativo não seria conivente com isso.

          1. Sim , felizmente.
            Mas que tem

            Sim , felizmente.

            Mas que tem uns que desejam o controle de tudo e de todos há.

            Prender o juiz Moro e melar a lava jato não falta desejo.

          2. Meu deus como esses trolls
            Meu deus como esses trolls jogam para a platéia.

            Quando Fausto de Sanctis prendeu Daniel Dantas por tentativa de suborno comprovada, foi um ataque ao Estado de Direito.

            Quando Moro prende preventivamente sem provas é democracia.

            Não entendo como esses posts passam na moderação.

      2. Diogo, não dê confiança para

        Diogo, não dê confiança para o(a) Oneide. É trolll que gasta espaço do Nassif, sem necessidade alguma

  2. Ser um pouco melhor que

    Ser um pouco melhor que Argentina e Venezuela não é mérito nenhum, pois é uma comparação com os piores.O problema é que a dinâmica da nossa ecnonomia está piorando com recessão,  aumento de desemprego, déficit primário, inflação em alta  , eminente perda da nota de investimento e empobrecimento do país.

    Estamos retrocedendo pergiosamente numa espiral que pode nos remeter aos anos 80.

     

     

     

     

    1. “Estamos retrocedendo

      “Estamos retrocedendo pergiosamente numa espiral que pode nos remeter aos anos 80.”

      Não entendi Antonio Rico.  Se esta previsão vir a se confirmar, como  seria ruim se nós ficaremos 3 décadas mais jovem?

      Orlando

  3. Se não for estorvo, poderia,

    Se não for estorvo, poderia, por obséquio, trazer as fontes desses índices, caro Diogo? São índices médios ou pontuais? Digo assim: quando e durante quanto tempo, por exemplo, a taxa de desemprego durante a gestão Lula ou FHC foram de 12% e 8%, respectivamente? E assim, se não for incômodo, com os outros números que aqui são reportados. Poderia?

    Grato.

    1. .

      Os índices são do IBGE e do Trading Economics.

       

      A diferença no índice de desemprego entre os anos de 1999 e 2003 se deve a mudança na metodologia da análise feita pelo IBGE. Em 2002, último ano de FHC, sob a égide da nova metodologia, o índice de desemprego já estava em 12 por cento.

       

      A metodologia mudou novamente em 2015 e a partir do ano que vem a série histórica de 2002 até 2015 ficará prejudicada para comparações futuras, em função da referida nova metodologia de cálculo do desemprego. 

      1. Grato novamente. E se a

        Grato novamente. E se a metodologia mudou, esses números não são confiáveis, é isso? Digo, será que a divulgação desses números – prá lá ou prá cá, tanto faz – não pode estar mesmo é a serviço de alguma ideologia? Acima até de se pretender um panorama realista e verdadeiro?

        1. .

          As correções metodológicas para o cálculo do PIB, da inflação e de outros índices diversos são normais. Normais e periódicas. 

    2. Me permita Diogo, responder

      Me permita Diogo, responder as dúvidas do Renato. Os números, corretos, estão colocados de forma que confundem.

      Na verdade para comparar os governos do FHC e Lula no quesito emprego, é preciso dizer que o primeiro entregou o país ao segundo com uma taxa de + ou – 12% de desemprego, índice de 2003, ainda sob o efeito da política economica tucana. E Lula entregou a sua sucessora, Dilma, com uma taxa de entorno de 6%, ou seja, a metade. Nesse intervalo não houve mudança de metodologia

  4. Quem disse?

    Quem foi o gênio que disse que Argentina e Venezuela estão melhores que Brasil???

    As comparações com outros países são absurdas, na maioria dos casos. Comparar Brasil a México, por exemplo. São realidades completamente diferentes, acordos comerciais etc.

    Mas então, porque não comparar com um pais bem vizinho nosso, o Chile? Com taxa básica de juros a 3% ao ano. Ou o Uruguai, a 9.25%?

    O IPC no Chile é 4,4%, no Uruguai 8,53%.

    Escolher Argentina e Venezuela para dizer que a situação econômica do Brasil não está tão ruim é o mesmo que comparar os índices de violência do Brasil com algum país em guerra civil na África e dizer que estamos até que bem.

    Se bem que se fizerem essa comparação é capaz de tomarmos um 7×1….

  5. Chega de manipulação
    Estatísticas servem para demonstrar qualquer coisa que se queira previamente.
    O primeiro ano do segundo mandato de Dilma e Fhc devem ser comparados ao primeiro ano do segundo mandato de Lula, não ao do primeiro mandato dele,
    Por coerência.
    Outra coisa, para que essa comparação com a Venezuela e Argentina, e porque a escolha desses índices, juros, inflação e desemprego, e não crescimento do PIB ou valor do salário mínimo ou outro?
    O resultado poderia ser bem diferente?
    Por exemplo, a Argentina cresceu mais que o Brasil desde 2002 em TODOS os anos, posso então usar esse dado para demonstrar outra coisa?
    Chega de mistificação, chega de manipulação.

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