CEO, o padecer no paraíso; por Caiubi Miranda

do blog Direitos Humanos no Trabalho

Imagine que você é um executivo até agora bem sucedido na sua carreira e que, de repente, acaba de almoçar com um head hunter que lhe ofereceu a oportunidade de ser o presidente de uma grande corporação multinacional.

É o cargo de seus sonhos, salário mensal de seis dígitos depois da vírgula, bônus milionários, mordomias que não dão nem prá imaginar – para si e para sua família – uma sala de trabalho enorme, com mesa de mármore, sofás sofisticados, duas lindas secretárias, bajulação, muita bajulação… Meu Deus, será que eu mereço tudo isso? Será que sou tão bom assim para receber uma oferta dessas? Ora, claro que sou.

Mais encantador que tudo isso, o poder! Você será o grande poderoso, tomará as decisões, terá a palavra final em todas as grandes questões.  E você confia na sua própria capacidade de analisar as situações adequadamente e tomar as decisões corretas. Além disso, existem consultores, especialistas, gente que entende profundamente de cada assunto e que certamente o ajudarão a tomar a decisão certa.

Antes de tomar a decisão, o bom senso recomenda que você conheça os depoimentos de executivos que já passaram por experiências semelhantes. Eles relatam:

1.   O presidente é o cargo mais instável da organização, o que corre mais risco de ser demitido. O Conselho de Acionistas ou o Conselho de Administração, dependendo da empresa aceita qualquer coisa, exceto: prejuízo, em primeiro lugar, e justificativas para o prejuízo, em segundo lugar. Talvez uma tolerância mínima, mas a demissão é sempre o caminho mais comum.

2.   Para ser presidente, o executivo tem que abandonar de vez sua família e não participar mais da solução dos problemas familiares. Ninguém tem estrutura para cuidar dos muitos e complexos problemas da corporação e as questões da empregada doméstica, do filho roqueiro e indisciplinado, das notas escolares e das insatisfações de sua mulher.

3.   O presidente é o cargo mais solitário da organização. Não poderá compartilhar seus grandes problemas – novas estratégias, crises de mercado – com a sua equipe de diretores porque sempre algum deles será a causa do problema. Logo também perceberá que os consultores e especialistas não ajudam muito, pois não estão efetivamente comprometidos com os resultados da organização.  Levar os problemas aos conselhos ou à matriz no exterior, nem pensar. Eles verão isso como uma fraqueza e perderão a confiança em você.  Assim, a decisão será só sua e, sozinho, você nunca terá certeza de que está tomando a decisão certa.

Convivi, durante muitos anos, com o Alain Belda, então presidente da sucursal brasileira da norte-americana Alcoa Aluminum. O Alain nos dizia que, para sermos livres da orientação e controle da matriz americana, nós tínhamos que ter lucro nas operações brasileiras da companhia. O lucro era o preço da nossa liberdade, do nosso direito de fazermos o que achávamos melhor sem a interferência dos nossos “patrões” americanos. “Se tivermos lucro”, argumentava ele, “os americanos virão aqui dois ou três dias por ano, para tomar caipirinha e comer boa carne no Fogo de Chão. Mas se não tivermos lucro, eles ficarão aqui vários meses por ano, ocuparão cargos na nossa diretoria e teremos de pedir benção a eles para tudo que quisermos fazer na Alcoa Brasil. E isso não será nada divertido. O lucro é o preço da nossa liberdade para fazermos o que acharmos melhor e tornar divertido o nosso trabalho”, concluía ele.

Provavelmente o Alain Belda estava certo no que dizia, pois acabou tornando-se o presidente mundial da Alcoa Alumínio. Sempre admirei a sua corajem e o seu arrojo. Tenho comigo, até hoje, a carta que ele mandou aos diretores para introduzir o Plano de Negócios de 1992 – 20 anos atrás – e que hoje ainda pareceria ousado para a maioria das empresas. Iniciava literalmente dizendo “que os planos daquele ano traziam conceitos que já haviam sido apresentados à organização em 1983 e que as variações de no ambiente externo nos serviram convenientemente para explicar as nossas variações de desempenho em relação aos compromissos assumidos. E era taxativo a respeito de 1992: “a despeito do que possa acontecer no ambiente externo, as regras do jogo interno aqui definidas serão mantidas. O meu compromisso é esse.”

Nesse mesmo documento, Alain demonstrava uma visão inovadora em vários assuntos até então pouco claros para a maioria das organizações. No que se refere à comunicação e transparência dentro da organização, por exemplo, determinava aos diretores e gerentes que “cada um será responsável pela comunicação imediata e pontual, pela transparência, pela verdade e pela difusão da informação vertical e horizontal no tempo certo. Informações tardias, meias verdades e retenção de informações não têm valor.” Isso era revolucionário no capitalismo da época.

Alain Belda foi certamente alguém que não hesitou em correr os riscos da presidência e que foi muito bem sucedido. Mas eu conheço pelo menos mais cinco presidentes que não se deram tão bem assim. Portanto, se você receber um convite como esse, sugiro que pense bastante antes de aceitá-lo.

Caiubi Miranda 

Redação

6 Comentários

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  1. Vida de CEO é dificil

    Pois é, tomar decisões nesta posição é dificil, o cara que faliu a Aracruz Celulose alguns anos atrás que o diga!

  2. Interpretação dos sonhos de freud

    Olá Caro Caubi, 

    aqui no blog do Nassif temos a oportunidade de debater diversos temas de conteúdo social e o seu texto foi  interessante por que nos fornece mais informações para um debate. Então, vamos a ele.

    No geral eu acho que lhe compreendi bem. Parece-me que v. tentou nos dizer alguma coisa  sobre os bastidores de um presidente de uma sucursal brasileira, ou seja, não pense que a vida é fácil. Vai ganhar dinheiro mas terá de pagar o preço deste dinheiro que ganha. Este preço você bem demonstrou acima. 

    Por outro lado, esse seu relato nos ajuda ou nos dá boas pistas para que possamos  compreender o mercado  globalizado.

    Notemos bem, um head hunter  não vai procurar qualquer pessoa para ocupar um cargo desses. Precisamos levar em conta  que há pessoas que não é que não sonham com isso. Elas nem têm a condição de sonhar com isso. Uma questão de herança, sabe como?  Há ainda pessoas que mesmo tendo a condição de sonhar com um cargo desses,  procuram  acordar imediatamente antes de entrar neste sonho, ( ou pesadelo) a fim de se ver livre dessa situação.  Há ainda pessoas que mesmo tendo condições sociais e culturais para ocupar um cargo desses, não gostam de caipirinha  e  não gostam de se entupir num rodízio de carnes em busca de um formato  barril abdominal à moda rei momo.( Aliás, pode ser que nem gostam muito do carnaval de mulatas “para inglês ver a festa do baco).

    Tenho também  muitas dúvidas do que seria um “executivo bem sucedido”. Isto porque eu também já presenciei um certo tipo de sucesso que , a meu juízo, está mais para a total e irrestrita falta de escrupulos do que para sucesso mesmo. Ou talvez, pela minha ignorancia, não compreendi ainda que vem a ser o tal  sucesso. De qualquer forma,  suponho que se seguirmos na linha do: os fins justificam os meios, a meu caro, talvez nem mesmo o código penal dê conta das prováveis condutas em busca Dele! Sim, estamos falando Dele! o deus, o criador do universo atemporal, natural, que veio num meteoro para o planeta terra. Ele se chama Lucro da mão boba e visível em busca da divisão internacional do trabalho.  O nome completo seria: Lucro líquido livre de impostos e taxas no bolso daquele que JÁ TEM o CAPITAL e espera uma taxa de retorno maior do que qualquer outra no planeta ( a um certo custo de oportunidade!). Uma derivação dos “abutres” Argentinos!

    Portanto, numa primeira conclusão, a premissa do cargo “dos sonhos” em terras ” indígenas” pode não  ser tão atrativa assim. Evidentemente, será bastante atrativa se o candidato – um mameluco bandeirante,  mouro e judeu, estiver em busca de semoventes do eito, a fim de alcançar um margem de contribuição para ” a poupança que é sempre externa”.

    Ah, antes que eu me esqueça: eu não tenho nada contra o lucro ok? Nem a favor. Lucro é lucro e existe. Não se trata de debater o FIM. Trata-se de se debater os MEIOS. 

    Voltando…

    E neste ponto, podemos perceber claramente porque nosso produto interno bruto a preço de mercado JAMAIS será maior que o produto nacional bruto. Jamais!

    Você usou o termo “demitido” ao sugerir que potenciais candidatos “ao cargo dos sonhos” ( para eles, é claro) leiam as opiniões dos “executivos”, antes de sonharem.   Ora, o termo foi infeliz.  Candidato que se preze e que tenha o tal gabarito para tão elevada e ilibada reputação , não se preocuparia com a CLT.  Pelo contrário. Ele, certamente, deve desejar o fim da consolidação das leis do trabalho. ( tenho quase certeza disso). Afinal, este canditado precisaria de “segurança jurídica” para tocar seus projetos. E para isso, é melhor tratar de questões trabalhistas autonomamente,  ( de direitos humanos, portanto!), isto é,  com os trilhões de sindicatos espalhados brasil afora, em busca de terceirizações, bem como da pacta sunt servanda, certo?  Nesse sentido, esse candidato  não seria ele. Explico-me. Ele seria uma ficção jurídica impessoal. Uma espécie de pessoa jurídica que presta serviço para quem, efetivamente, manda, não apenas nele. Manda nele, no Brasil, e quiça, no mundo, repleto de “pibinhos” menores  que o  capital social integralizado que ele manejará. Aliás, um capital sem nome que pode vir de paraísos ou não, ou quem sabe de  um off muito  shore. Ou talvez, uma espécie ser alienígena que vem de andrômeda! Logo, melhor esquercer o termo demitido que , diga-se de passagem – é recorrentemente usado de maneira equivocada.( é o empregado que se demite. O patrão dispensa!)

    Portanto, o “CEO” à brasileira, sem dúvida muito rico ( talvez o mais rico deles em torno do planeta) não vai se preocupar com “demissão”. Isso dai é para o “chão de fábrica” não para ele. Ademais, esse caçador de cabeça estará atuando num modelo estrutural  de Fayol, isto é, o “deus” manda e os outros, hireraquicamente, seguirão suas ordens e ponto final. O resto, suponho com muita ênfase,  é balela que fayol tentou propagar para “amenizar” o mercantilismo:  estabilidade, prevalência dos interesses gerais, equidade,  espírito de corpo, remuneração, autoridade e responsabilidade. O que vale mesmo, ainda com base nas balelas de Fayol seria: Hierarquia, Unidade de comando, centralização, Ordem, Unidade de direção, divisão de trabalho, disciplina. Portanto, descabe falar em “direitos humanos”!

    Para finalizar, encurtando muito a análise, lembremos da famigerada  reengenharia tão adorada exatamente no período de seu presidente exemplar. Um modelo perfeito a ser aplicado aqui, na terra dos tupi guaranis.

    Hoje, com derivações, os pajés, ops, os gurus da administração, já trataram de propagar outros modelos inovadores. Tudo em busca da responsabilidade social, do respeito ao meio ambiente, ( aos recursos naturais para as “gerações futuras”, mesmo sem kyoto),  da gestão moderna, de  um dupont de “produtividade” etc etc etc. Uma espécie de cenário balanceado, no qual , curiosamente  a família, exatamente ela, cerne do sistemão, não fará parte da vida do ocupador do “cargo dos sonhos”.

    Seria um paradoxo tautológico?

    Boa sorte 

     

     

     

     

  3. Eu  realmente ficaria  

    Eu  realmente ficaria   decepcionado com um salário  de seis dígitos  depois da virgula.Depois do ponto ,seria a glória.

    Mas  há executivos realmente que se   vendem por centavos,pois o que importa   são as “receitas não operacionais não declaradas”

  4. Lucro fácil

    Essa ilusao do lucro fácil e constante é o motivo para que tantos cargos de chefia escondam, joguem para debaixo do tapete, coisas erradas, pois com a rotatividade provavelmente a bola irá cair no colo de outro.

  5. Essa é real/ uma decisao importante q muitos d nós terao q tomar

    É um tema tao relevante para a maioria de nós que nao sei como nao há meia dúzia de tópicos como esse por dia… (modo ironia on, claro). 

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