Ao Partido dos Trabalhadores: lição dada, lição aprendida.

 

Há muito venho refletindo sobre as atuais passeatas e o estranho comportamento catatônico do PT, da Dilma e do congresso em relação às manifestações.

Comportamento igual ao do jacaré durante a caça realizada à noite. Joga-se luz em cima dos olhos do animal, ele fica paralisado, aí é só atirar. O jacaré é a tríade PT/Governo/Congresso. A luz os indignados. O tiro é a oposição.

Leio vários artigos e é recorrente a explicação dos analistas e intelectuais: os petistas foram pegos de surpresa. Estão acuados. Os militantes não sabem como defender o partido e a Dilma, num momento tão delicado como este. O medo é o pior dos conselheiros.

Acompanhei a criação do PT. Ele surgiu das bases. De associações. De sindicatos. De debates. De lutas. De reinvindicações. O partido abraçou todas as causas sociais de uma época. Muitas correntes nele se abrigaram. Tiveram guarida e segurança.

Muitos penduricalhos foram vendidos para custear reuniões. Aos excluídos, O PT deu visibilidade. Voz. A parcela alijada das decisões de repente se viu como agente atuante da história. Não podemos negar: fez um bem danado para o amadurecimento democrático do país.

O PT cresceu porque sabia ouvir. Sem discriminar.  E por isso acompanhava os movimentos sociais de perto, sem a necessidade das ABIN´s da vida. Em tempo: disse um deputado federal que até a agencia de inteligência foi pega de calças-nas-mãos. Será?

Bem, por essa forma de pensar e agir o PT se destacou no cenário político. Os movimentos sociais vinham ao partido. O partido ia ao encontro deles. Num processo simbiótico.

Então, o que tinha acontecido com o partido para ficar espantado, de boca aberta diante das manifestações?

E, numa dessas estranhas coincidências da vida, subindo uma rua me deparei  com um aglomerado de pessoas ligadas ao Partido dos Trabalhadores. Com camisetas, botons e uma tenda branca.

Intui que aquele seria o momento, talvez, uma oportunidade de obter respostas aos meus questionamentos. Me dirigi a um das pessoas sentadas em baixo da tenda. Ela explicou tratar-se de uma reunião entre “Caravana da  Macro Guarulhos/Alto Tietê” (região metropolitana de São Paulo).  Que, além dos assuntos pertinentes a cada cidade haveria, também, um debate sobre o atual cenário político. Expliquei minha situação de não filiado e me foi permitido assistir a reunião. Aproveitei assinei um abaixo-assinado para retirada da penitenciária de Guarulhos.

Me cadastrei e fui direto ao anfiteatro, onde se daria o encontra entre as delegações. Nem todos os lugares estavam ocupados.

Destaco os seguintes componentes da mesa de trabalho: o prefeito de Guarulhos, Almeida, o presidente do PT estadual, Edinho, o deputado federal Mentor, o deputado estadual Bittencourt e o senador Suplicy. Havia também vereadores das cidades do Alto Tietê e representante da juventude petista local. 

Excetuando o senador, todos falaram na abertura dos trabalhos. O deputado estadual foi o primeiro a se pronunciar e também a deixar o anfiteatro. Haveria reunião em outro local, segundo ele. O Mentor procedeu da mesma forma. Falou e foi embora.

Não anotei detalhes dos discursos, por falta de meios. Porém, de modo geral foram explanações otimistas diante do recente quadro social. Mentor foi o mais enfático no quesito transmitir ânimo. De qualquer forma nenhum deles trouxe luz aos meus questionamentos. Destaco, neste momento, uma observação feita pelo representante de juventude. As recentes manifestações não eram contra o PT, disse. Fiquei abismado com esta análise. Como não era contra o PT? Participei das passeatas e isso ficou bem claro para mim. Os petistas eram hostilizados de maneira contundente. “Povo unido, não precisa de partido”, um dos slogans, não diz nada para este representante? Qual partido que está no poder desde 2002? Qual o partido que a mídia massacre 24 horas por dia, 7 dias por semana? Pensei, se todos os representantes partissem desta premissa iria embora e só voltaria para missa de sétimo dia do PT.

Bem, voltemos. No início seriam abertas dez intervenções para os representantes das caravanas, mas, acatando uma sugestão de um dos presentes, a coordenadora da mesa aumentou o número para quinze. Bendita decisão, diga-se de passagem. Estatisticamente, quanto maior a amostragem, mais próxima do real estará.

Continuando. Cada um dos interventores teve três minutos para o pronunciamento. Todos falaram sobre os problemas da cidade de origem e expuseram  as ideias sobre os protestos.

Aí minhas dúvidas sobre a tal surpresa do PT foram sendo dirimidas. A cobrança feita pelos militantes juntos aos dirigentes foi fundamental para o esclarecimento.  Metade deles reclamou da ruptura entre altos dirigentes e a base.

Um disse que o Lula foi na sua cidade e o presidente estadual nunca tinha ido. Outro chamou a atenção para o baixo  número de pessoas no evento, sinal da falta de interesse dos dirigentes e dos militantes. Outro reclamou que o partido tinha abandonado os movimentos sociais. Os  debates eram de petista para petista, sem a participação da população. Que o Alckmin  tinha colocado no bolso o PT. E estava na frente. Pôs à baila a questão do menor. Vendeu helicóptero. Irá diminuir as secretarias. Caramba, assim não. Achar que o governador agindo desse modo sai na frente  é menosprezar os eleitores.  Outro erro crasso. O cidadão sabe que isso que o governador fez é populismo barato. Tanto que, conforme o Datafolha, Geraldo caiu nas pesquisas.

Alguns foram mais veementes nas reinvindicações. De maneira humorada ou raivosa, disseram: os dirigentes depois de eleitos se encastelavam. Não os recebiam mais. Nem os consultavam. E, triste realidade, discriminavam (??) as bases. Qualquer semelhança com  stalinismo burocrático é mera coincidência.

O discurso do senador Suplicy foi um aviso aos petistas. Treinem a humildade. Ele contou o que fez. Pegou ônibus nos jardins, foi até o Capão Redondo, de lá se dirigiu ao Jardim Ângela, e finalmente Santo Amaro. Esses locais  são bairros periféricos de São Paulo. E durante o trajeto foi conversando com as pessoas. Aconselhou que os dirigentes fizessem o mesmo. E mais, ele conversou com o delegado responsável pelo caso do assassinato do menino boliviano e combinou uma visita aos pais do garoto. O recado está dado.

Após a fala do senador me dei por satisfeito e fui embora.

Pois, por mim, estava respondida a questão: o PT e governo foram surpreendidos porque abandonaram suas raízes, seus militantes, os movimentos sociais para viver um conto de fadas.

E digo mais: se esta minha conclusão já é velha conhecida dos dirigentes, é uma pena, porque a coisa é mais séria do que imaginei. Ou é maldade ou prepotência. E, se for assim, talvez nem tenha solução, não é mesmo? Inércia, minha amada inércia.

Outro engano analítico. A Dilma não se adaptou à pauta dos manifestantes. Foi o contrário. Os manifestantes, sem querer, é que se adaptaram aos desejos da presidente. Ela luta por um país justo, sem desigualdade. Com educação, saúde de qualidade. E faz por onde. Certo? É o que eles querem também. Correto? Agora ela tem a força das ruas para aprovar vários projetos. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Sem medo. Sem se sentir acuado.

A queda  de 27% nas pesquisas não quer dizer nada. Nem a do Geraldo, também. Não há fato que justifique. Caiu porque caiu. Pesquisa feita no clamor dos fatos não vale nada. É para inglês ver.  Desculpe, inglês não, porque ele tem interesse econômico em derrubar governo da  Dilma.

Redação

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