Os militares americanos têm um eufemismo para a morte de civis inocentes numa guerra: efeito colateral. Eles explicam ou justificam dando de ombros: fazer o quê, não é mesmo?
Pois bem, e não é que o ex-agente da NSA, Edward Snowden, o traidor, anda provocando seus efeitos colaterais também?
Explodiu o programa de espionagem norte-americano, Prisma, e, por tabela, escancarou a verdadeira face dos países desenvolvidos. Arrebentando a máscara de bom mocismos de europeus e yankees.
Me refiro ao episódio acontecido hoje, 3 de julho com o presidente da Bolívia, Evo Morales.
Retornando da Rússia, onde fizera uma visita oficial, a aeronave, com sua comitiva, foi proibida de sobrevoar o espaço aéreo de vários países europeus. Acabou conseguindo aterrissar em Viena, Áustria. Lá, ficaram detidos por mais de 5 horas. Qual o motivo desta detenção? Suspeita de que um dos passageiros do avião presidencial fosse Snowden, o delator.
Como é de conhecimento, Edward, o injusto, está na Rússia, preso no limbo aeroportuário de Moscou. A situação deste ex-cidadão americano é parecida com a do personagem Victor, vivido por Tom Hanks, no filme “O Terminal”. Com o passaporte cancelado não pode sair da área de desembarque e nem embarcar sem antes conseguir asilo político.
Voltando ao efeito colateral. Morales não permitiu que seu avião fosse revistado. Não sou ladrão, afirmou. Seguindo-se daí um imbróglio diplomático. Essas agências de espionagem americanas têm que tomar providências: sua incompetência é um perigo para a paz mundial. Snowden, o falso, não estava no avião.
E mais, foi espantosa a atitude europeia no episódio. Obedecendo a ordens dos EUA eles rapidamente se coordenaram na proibição de sobrevoo presidencial. Por que agiram assim, de forma tão subalterna? Eles sabem que são espionados. Será que a dignidade do velho continente desapareceu? O poder econômico/militar falou mais alto? Pode ser.
Os considerados desenvolvidos não demonstraram o mínimo respeito pelo representante número um de uma nação soberana. Democrática. Reconhecida internacionalmente. Membro da ONU.
Vamos falar escrachado. Fizeram isso, e só fizeram isso, porque Evo Morales é boliviano. Descendente de índio. O seu país é pobre. Localizado num continente secularmente discriminado. A América do Sul. Considerado o quintal dos Estados Unidos. Mas, na verdade a latrina deles. De tanto que exportaram golpes, crises, pseudo-intelectuais e governos títeres.
E que fique bem claro: a Europa não consegue tratar de igual para igual com os países que um dia foram suas colônias. “Por que não te calas?”, disse o rei da Espanha. A visão é sempre de senhor para o vassalo.
Às nações sul-americanas resta tirar lições do episódio. Só iremos conseguir respeito se nos unirmos. Culturalmente, economicamente e politicamente. Numa reunião com a participação de europeus ou americanos ter a exata noção de que ali está sentado alguém que tem aversão a nós. Um presunçoso, portanto. Rechaçar de forma veemente qualquer intromissão aos desígnios da nação.
Está ofensa ao povo boliviano não pode ficar sem resposta. Uma retratação oficial. A UNASUL tem que apresentar denúncia aos tribunais internacionais. Um pronunciamento do secretário geral da ONU condenando o episódio. É o mínimo que se espera, certo?
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