Rolezinho: se a perferia não vai ao shopping, o xópim vai à periferia.

“Rolezinho” sempre existiu, é intrínseco ao ser adolescente se reunir em turmas, ter uma turma. Não tinha este nome. Encontros para jogar, dançar, organizar algum evento, um passeio é fato comum. Para os mais religiosos, encontros na igreja, no templo, na mesquita, na sinagoga, no terreiro, no salão e por aí vai.

Em outras épocas não tínhamos a facilidade tecnológica. As redes sociais. Era no bate-papo, no cara-a-cara.

Em outras épocas, 20 anos apenas, a periferia das grandes cidades eram guetos. Lá o jovem nascia, lá o jovem crescia, casava e morria. Marcar encontro, nestes templos do consumismo classe média, era terrível. Havia a complicada logística: distância, discriminação, passagem de ônibus, roupa e o ambiente opressor. Então restava ao garoto periférico na periferia ficar. Na praça, ou mesmo a rua, sentado na calçada, eram os locais dos encontros. Na escola, na entrada ou na saída adolescentes ficavam conversando, sonhando, futurando. De vez em quando uma festa. O assunto? Não tinha assunto, eram muitos assuntos.

As opções e espaços de lazer raríssimos. Não havia cinema, teatro, quadras, clubes, parques fora do “cinturão verde” das cidades. Nada. Para quem era jovem pobre sobrava o quase. O trabalhar (enobrece o homem, diziam) era a meta única de vida. Perspectiva de melhora? Nenhuma. Faculdade? Uma meta impossível. “Vestibular/ passei no vestibular/ mas a faculdade é particular…”. versos de Martinho da Vila.

Pais pobres, filhos pobres, netos pobres. Era assim. Os que conseguiam alguma coisa só por milagre, competência e sorte. Nunca por política de inclusão. A exceção não faz a regra. A regra faz a exceção.

Havia um certo conformismo embrutecido nas famílias. O governo não olhava para os sócios pobres da sociedade. A ditadura oprimia, matava, amedrontava. A mídia vendia o mundo encantado de Walt Disney. E as escolas ensinavam a olhar generais, doutores e donos de dinheiro como os escolhidos de Deus. Para mandar e governar. A sociedade do formigueiro. Perfeito para quem está por cima.

No entanto mesmo a miséria absoluta tem suas armas. E da periferia surgiram pessoas dispostas a brigar contra o sistema. Lutas, protestos, greves. Fim de uma das ditaduras, a militar.

Os tempos são outros. Há doze anos houve mudança no foco da política, tanto econômica quanto social. Foram criados novos centros educacionais. O acesso dos pobres às faculdades ficou mais fácil. ENEM, SISU, PROUNI. Há mais pessoas estudando. ETEC´s, FATEC´s. Cotas sociais e raciais. De repente percebe-se que mais pessoas tem mérito ( a mitológica meritocracia dos neoliberais) para conseguir o canudo. Programas habitacionais e de saúde foram implementados.

O auto-respeito, retirado dos mais pobres, está voltando. Caiu a ficha. Os protestos de junho e julho do ano passado forma uma amostra do “queremos mais”. Mais democracia, justiça e honestidade. “ A gente não quer só comida/ A gente quer comida/Diversão e arte…”. Titãs. É um caminho natural para o progresso. Uma porta aberta leva a outras portas a serem abertas.

Economicamente, vamos bem, obrigado! E tão bem que os shoppings foram aos bairros menos favorecidos. O aumento do poder aquisitivo e do maior número de pessoas nas classes “D” e “C” levaram a este tipo de investimento. Há no shopping cinema, praça de alimentação, segurança, climatização e etc.

Então pergunto: com tantos atrativos desses centros comerciais, por que os adolescentes continuariam a marca seus “rolezinhos” na praça, no campo, nas ruas? É querer demais deles.

Apesar de todo o progresso a periferia ainda esta carente de locais de lazer, de bibliotecas, de teatros, de cinemas de casas de espetáculos, de praças. Os empresários não podem “pagar o pato” pela falta de investimento governamental, municipal e estadual.

Aqui em São Paulo já houve um caso de problemas com o excesso de adolescentes num shopping, o Morumbi. Década de 80. Os lojistas reclamaram para os administradores. Eles não gastam e atrapalham com seus excessos quem vem para consumir. Após estudos trocaram o tipo de música. Resolveram o problema. Sem precisar recorrer à polícia. Evidentemente esses frequentadores eram de classe média alta.

Porém, como o preconceito contra a juventude da periferia continua forte a solução, acreditavam os comerciantes, era fazer uso da força.

Doía o coração ver a PM descer o cassetete, jogar bombas, escorraçar, humilhar adolescentes. Alguns ainda crianças. E o que eles estavam fazendo de ameaçador? Cantando? Falando alto? Sendo exagerados? Todos têm esse comportamento, rico ou pobre. Os que hoje são adultos sabem bem disso. É triste.

Proíbam o acesso à internet, bloqueiem o celular, o sms. Espionem e vigiem. Afinal, são um bando de bandidos ainda não presos, não é verdade?

Fica o aviso: “queremos mais”. É um direito. De todos.

Redação

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