Eduardo Cunha e o “Requiescat In Pace” da Câmara dos Deputados

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Sou um defensor da Democracia, mas não cometo mais o erro de identificar este regime político ao Congresso Nacional. O poder legislativo brasileiro não representa o povo brasileiro. Os escândalos que garantem a venda dos jornais provam que a maioria dos Deputados e Senadores representa apenas seus próprios interesses e os dos seus financiadores de campanha.

Onde erramos? Erramos em criar um abismo entre os cidadãos representados e seus representantes, permitindo aos últimos que cuidem mais de seus interesses privados que do interesse público. Também erramos ao impedir a revogação popular dos mandatos parlamentares em virtude do político ter traído as promessas eleitorais que fez aos seus eleitores. A irresponsabilidade política do parlamentar diante da comunidade que o elegeu tem sido a fonte de todos os desmandos estampados nos portais de internet.

Como não tem obrigação de representar o interesse público dos cidadãos que os elegem, os parlamentares fazem o que querem. E geralmente eles só querem uma coisa: juntar muito dinheiro para continuar na vida parlamentar e poder levar uma vida plena de luxo e fartura custeada pelo público. Isto explica a existência de parlamentares que nunca apresentam um só Projeto de Lei relevante (caso do Jair Bolsonaro) e de deputados que enriquecem traficando influência (caso do Eduardo Cunha) e até cocaína (o helicóptero de Gustavo Perella transportava 450 quilos da droga, mas ele não foi denunciado).

Não é de hoje que o Congresso Nacional funciona como um pardieiro. O escândalo envolvendo Eduardo Cunha é uma reedição piorada do episódio conhecido como Anões do Orçamento, O próprio Eduardo Cunha pode ser considerado um gigante entre os anões que assaltaram os cofres públicos empregando suas prerrogativas parlamentares. Rodamos, rodamos e voltamos sempre ao princípio.

As prerrogativas parlamentares, sempre usadas de maneira tão inadequada pelos Cunhas, Bolsonaros e Perellas, não foram originalmente concebidas para que deputados e senadores enriquecessem prejudicando os cidadãos. Elas foram criadas e existem para que os parlamentares pudessem representar os cidadãos sem temer represálias dos poderosos (milionários e empresas privadas). Nossa democracia deveria funcionar de uma forma e funciona de outra em razão de uma perversão política: a degeneração do regime. Sem extinguir esta perversão é impossível recuperar a natureza democrática do sistema representativo.

Aqueles que se beneficiam da perversão política que dominou o Congresso Nacional não querem mudar absolutamente nada. Que reforma política podemos esperar destes parlamentares que desejam se perpetuar no poder e que tudo fazem para preservar as fortunas que juntaram dentro e fora do país? É triste admitir a verdade, mas somente a verdade pode nos libertar: se o parlamento brasileiro fosse fechado os únicos a serem prejudicados neste momento seriam os parlamentares.

As denúncias que pesam sobre o comportamento de Eduardo Cunha são gravíssimas e justificam que ele deixe o cargo. Todavia, a resistência dele a renunciar à presidência da Câmara dos Deputados é apenas um sintoma. A doença é a perversão política que dominou totalmente o parlamento brasileiro. Estamos chegando ao ponto de não retorno: em algum momento o destino do Pardieiro dos Deputados não poderá ser diferente do destino do seu presidente corrupto. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

6 Comentários

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  1. Ministério Público da Suíça

    Caso seja revelado too os que tem contas bancária na Suíça vai sobrar pouca gente para votar qualquer coisa no congresso.

    Os suplentes de deputados e senadores que se preparem, desde que é claro , também não tenham contas bancárias reveladas pelo Ministério Público da Suíça.

  2. Sinceros agradecimentos à Suíça

    Parece incrível mas novamente temos de agradecer à justiça Suíça, pois se dependêssemos da brasileira correríamos o risco de ter o Cunha como presidente.

    Quando falaremos sério com nossa justiça?

  3. Fábio: nem todos os

    Fábio: nem todos os parlamentares são corruptos e bandidos. Estes, na grande maioria (totalidade?) são os grandes beneficiários do financiamento privado de campanhas. Mas há parlamentares que representam seus legítimos eleitores – nós, do povo. Neste e em outros blogs “sujos” deve-se politizar o debate e colocar todos no mesmo saco contribui para a despolitização. Nós, que não somos analfabetos políticos, temos o dever patriótico (patriotismo ainda existe!) de contribuir para que as pessoas se transformem em cidadãs e cidadãos, capazes de distinguir o joio do trigo.

  4. A sensação é exatamente essa,

    A sensação é exatamente essa, mas precisamos respirar fundo e pensar em soluções que estimulem a democracia e não que a impeçam. O problema é que democracia não pode ser apenas um conceito ou um modelo político. Democracia tem que ser parte da cultura, coisa que nós ficamos devendo com nossa cultura escravocrata e patrimonialista. Por isso é tão difícil a vida democrática aqui, pois ninguém vive isso no seu dia-a-dia. É tudo centralizado em figuras de poder e status; não há decisões coletivas para nada e, facilmente, os brasileiros delegam seu poder para qualquer um, vide as reuniões de condomínio. Agora passaram a delegar até para o Judiciário quais os horários em que podem estar com os próprios filhos. Quanto mais delegamos, menos poder temos e mais poder concentramos em mãos indevidas. E as mãos não são indevidas por serem corruptas, é porque são indevidas mesmo, inadequadas para tomar as decisões que nós deveríamos tomar, mas não desenvolvemos o habitus para isso. Somos uma sociedade de dependentes; preferimos depender da decisão alheia, assim podemos culpá-la pelo que for errado. Preferimos depender dos pais, mesmo depois de adultos. Democracia não rima com dependência, nem mesmo na poesia mais pós-moderna que possamos encontrar.

    Além disso, temos a questão da desigualdade ainda brutal desse país. Democracia deveria ser o regime da igualdade e qusndo você se encontra em situação desigual, não pode exercer plenamente seu poder. Hannah Arendt era muito clara e antipática quanto a isso: enquanto as necessidades sociais dominarem o público, não há espaço para a política. Isso é duro de concordar, mas há que se observar a pensadora. Uma sociedade de desiguais gera milhões de demandas, sendo que poucas são coletivas ou de interesse comum. As pessoas não estão nas ruas lutando pela democracia, mas pela própria sobrevivência. Por vezes, essa luta é encampada por tal ou qual partido, por vezes não. Isso explica, em parte, o estranhamento da classe C com o governo. Por enquanto, o Brasil ainda está na fase de tirar seus filhos dessa condição que não lhes permite agir em pé de igualdade. Apesar de citar Arendt, não acho que podemos nos dar ao luxo de esperar a igualdade; as coisas terão que acontecer ao mesmo tempo, aos trancos e barrancos porque o tempo é hoje. Mas a gente tem que te consciência que, apesar de ser a forma possível, é a mais difícil. E também não esquecer que democracia em tempo de oligopólios mundiais (será redundância?) é um conceito completamente diferente do que conhecíamos. Jamais haverá igualdade dos povos perante os oligopólios, logo, os poderes de decisão serão permamentente desiguais e nós temos que descobrir o que fazer com isso.

  5. FILHOS INGRATOS!!!

    Ô DÓ!!!

    Não é que vão tirar a MÂE JOANA de sua própria casa!!!

    Depois de serem amamentados por ela, alimentados por ela, sustentados por ela, educados por ela, resolvem agora de ultima hora expulsa-la  da câmara.

    FILHOS INGRATOS!!!

    1. Pelo visto você tem um
      Pelo visto você tem um compromisso histórico e histérico com a corrupção na Câmara dos Deputados. Qual é a sua parte na grana suja do Eduardo Cunha?

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