Eduardo Cunha e seus convertidos

Concluiu o curso de Direito em 1989 e sou inscrito na OAB desde 1990. Isto significa que comecei a advogar na época da inflação galopante.

Ano       Inflação

1989     1.782,90%

1990     1.476,56%

1991        480,20%

1992     1.158,00%

1993     2.780,60%

1994     1.093,80%

Como ocorre nos dias de hoje, naquela época os créditos apurados nos processos judiciais também sofriam correção monetária. Desgraçadamente sou obrigado a confessar que conheci vários advogados que, para engordar seus rendimentos pessoais, recebiam alvarás e os aplicavam nas suas próprias contas-correntes por dois ou três meses e depois efetuavam o pagamento sem correção monetária aos clientes. Um deles, que se formou na minha turma, ganhou muito dinheiro fazendo isto. Sempre que o repreendia ele me pegava pelo colarinho e me dizia a mesma coisa.

– Você sabe advogar, mas vai morrer pobre porque é muito honesto! – e ria a se fartar.

Quase duas décadas depois daqueles anos loucos, reencontrei o referido advogado num Fórum Trabalhista. Ele se sentou ao meu lado, me entregou um santinho e me disse:

-Você precisa aceitar Jesus. Se fizer isto sua vida vai melhorar!

-“Quoque tuBrute…” – disse rindo.

-Você ainda é amigo do … ? Você sabia que ele é espírita e que a religião dele é coisa do demônio?  – insistiu o tal.

Enfiei o santinho no bolso e respondi sério.

– A religião dos meus amigos não me interessa. Se você precisa de uma para apaziguar sua má consciência pelo que fazia no tempo da inflação alta, tudo bem. Posso até compreender isto… –  o sujeito começou a tremer.

-Eu aceitei Jesus, fui perdoado e minha vida mudou…

– Você é advogado e sabe que no Direito Penal o arrependimento eficaz é aquele em que o agente repara o dano que causou à vítima. Você devolveu o dinheiro das pessoas que prejudicou?

O evangélico ao meu lado começou a ter um surto. Ele se levantou e passou a gesticular de maneira nervosa:

-Você está com o demônio. Você está com o demônio.

Sorri e disse ao tal que com meu demônio eu estava mais tranqüilo do que ele com o Jesus dele. Irritado ele se escafedeu do local como se eu estivesse possuído, muito embora ele mesmo ainda possuísse o que não lhe pertencia.

Sempre que vejo Eduardo Cunha fazendo desonestidades regimentais na Câmara dos Deputados lembro este episódio. E renovo meus votos de continuar honesto e nunca votar num evangélico.  

Fábio de Oliveira Ribeiro

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