Estado Islâmico, o novo fardo do homem branco

“Take up the White Man’s burden–
And reap his old reward:
The blame of those ye better,
The hate of those ye guard—“

 

“Assuma o fardo do Homem Branco

E receba sua recompensa de sempre:

A censura daqueles que você melhora

O ódio daqueles que você guarda-“

 

Rudyard Kipling escreveu “The White Man’s Burden” – fragmento transcrito e traduzido acima – no final do século XIX. O poema estetiza as virtudes do racismo científico e a necessidade civilizatória do imperialismo anglo-americano. A obra celebra a guerra dos EUA nas Filipinas, que entre outras coisas resultou no Massacre de Moro comandado pelo General Wood. Todas as guerras travadas pelos EUA desde então foram de alguma maneira influenciadas pelo “fardo do homem branco”.

A ideologia que inspirou Kipling, porém, foi ultrapassada. Desde que os nazistas alemães foram derrotados, o homem branco carrega seu fardo evitando abertamente valorizar o racismo e o imperialismo. As aventuras norte-americanas se tornaram anti-comunistas (Guerra da Coréia e Guerra do Vietnã), policialescas (primeira Guerra do Golfo) e até mesmo humanitárias (bombardeios a Sérvia e, mais recentemente, ao Estado Islâmico). O “ato falho”, porém, é evidente. Os nazistas alemães eram anti-comunistas convictos e invadiram os Sudetos por razões humanitárias.

Racismo e imperialismo seguem sendo o “fardo do homem branco”? Não necessariamente. Na atualidade, o homem branco lamenta o fardo econômico das guerras do Iraque, Afeganistão e dos bombardeios ao Estado Islâmico.

As invasões do Iraque e do Afeganistão custarão aos contribuintes norte-americanos entre 4 e 6 trilhões de dólares a longo prazo http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2013/03/29/interna_mundo,357484/guerras-do-iraque-e-afeganistao-vao-custar-entre-us-4-e-6-trilhoes-aos-eua.shtml . Os ataques ao Estado Islâmico custam 8,3 milhões de dólares por dia http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2014/10/27/interna_mundo,454742/ataques-aereos-contra-estado-islamico-custam-8-3-milhoes-de-dolares-ao-dia.shtml .  O que é custo para uns é, também, lucro para outros. O “fardo do homem branco” , portanto, pode ser descrito na atualidade como o encargo de embolsar as rendas elevadíssimas produzidas por guerras mais ou menos inspiradas pelo racismo e pelo imperialismo que geram contratos de fornecimentos de bens, serviços e equipamentos militares produzidos por empresas privadas.

Em algum momento da história a ideologia de Rudyard Kipling se perdeu. Mas ela tem sido preservada para mascarar os negócios que a guerra proporciona aos EUA. O homem branco trocou o fardo pela segurança do lucro. Isto explica, por exemplo, a utilização de tropas auxiliares afegãs no Afeganistão para derrotar o Talibã e a contratação de mercenários da Blackwater para fazer o serviço sujo no Iraque. Contra o Estado Islâmico, os EUA e seus aliados mandam aviões despejarem toneladas de bombas de uma altura segura em alvos militares e civis. O fardo de ser degolado por um miliciano fanático não parece agradar muito ao homem branco norte-americano e europeu.

O ódio que os norte-americanos atraíram para si mesmos nas últimas décadas é, sem dúvida alguma, o verdadeiro fardo do homem branco na atualidade. Mas este ódio não está ligado à missão dos EUA de civilizar aos povos. O próprio nascimento do Estado Islâmico comprova que as guerras norte-americanas fazem exatamente o oposto. O ódio dos milicianos islâmicos é o filho bastardo das custosas e lucrativas guerras dos EUA no Oriente Médio.

O homem branco quer obter lucro sem fardo, mas o fardo indesejado terá que ser carregado por ele, por seus filhos e netos. Quando as bombas explodirem nos EUA, eles se darão conta de que suas guerras não só não melhoram ninguém como pioraram a vida dos próprios norte-americanos?

Fábio de Oliveira Ribeiro

7 Comentários

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  1. putz!
    e eu na minha santa

    putz!

    e eu na minha santa ignorância achando, acá distante bem longe do fim dos tempos… que o novíssimo estado islâmico é um fardo renascido fênix da antiga guerra de religiões ou do moderno choque de civilizações, tanto faz tanto fez… aqui o freguês sempre tem razão!

  2. Estado Islâmico

    Fábio,

    O EI é mais uma consequência direta das interferâncias desnecessárias dos USA, interferências fake, no caso, a do Iraque.

    Com os sinais de evidente deterioração econômica, haja vista a sua fantástica dívida interna a cainho dos impagáveis U$ 30 trilhões, os USA passou a acelerar a tentativa de dominação de todos os seus “inimigos”, e os resultados têm sido melancólicos, mas como são devidamente colocados para debaixo do tapete pela grande mídia, muitos continuam percebendo o capitão do mato de Washington como “o cara” .

    O capitão do mato acaba de perder as duas maiorias no Congresso ( uma situação que coloca as diretrizes de seu mandato em extrema dificuldade para estes próximos dois anos), começa a assistir o exercício militar de bombardeiros russos no Golfo do México raspando as suas fronteiras (ou seja, assiste aos russos copiando o seu método utilizado na Ucrânia), tem receio de avançar por terra sobre a Síria e um EI que não tem quartel (manda 1.500 homens e mais nada, um peteleco de gente ) por terra, e ainda tem que sustentar $$$ diversas frentes de ataque ccompostas por mercenários de todas as origens. 

    E ainda tem o preocupante e inesperado movimento das cotações do petróleo no mercado internacional, abaixo dos U$ 75,00, cotação que já começa a provocar mal-estar entre alguns produtores de shale gas.

    Em resumo, parece que o EI nã passa de um detalhe neste momento.

  3. Similaridade

    Embora seja sempre um risco de anacronismo as comparações entre conjunturas históricas, e às vezes quase caindo numa “forçada de barra”, aqui podemos vislumbrar algumas similaridades. Há mais ou menos um século e meio, com a expansão imperialista, as potências de então (França , Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, estas duas últimas com atraso) atraíram sobre si o ódio dos colonizados, a medida em que se expandiam na África, Ásia, Caribe, Oceânia. E houve o retorno também da pregação da Jihad, contra ingleses, franceses, russos no Cáucaso, etc. O “pós-guerra fria” está muito mais complicado que o previsto por Fukuyama e cia.

  4. Que lindo!

    É que politicamente o Establishment norte-americano é mais maduro que para fazer bravatas, sabe que acabará sofrendo consequências com o crescimento de um estado terrorista.

    Mas era o caso de deixar o ISIS solto incomodando Síria, Turquia e Irã, e, por extensão a Rússia. 

    Queria ver o que eles fariam sem a ajuda do Grande Satã.

    1. Grande Satã

      Gunter,

      Sem o Grande Satã não existiria EI.

      Quanto ao IE incomodar Irã e Rússia ( ao menos como faz até agora, com ataques às populações), nem em sonho.

      Esta é a razão para BObama voltar a se comunicar com o líder iraniano, o único capaz de se comunicar com o EI neste momento, e esta aproximação é o que vem causando uma enorme dor de cabeça a Bibi assassino, tanto que já inventou matéria a respeito de Khamenei, etc…, não vale nada este Bibi.

  5. Já assiti várias vezes na

    Já assiti várias vezes na televisão essa barbaridade,

      O que nunca entendi,é se o cara vai ser decapitado mesmo, por que fazer apologia pro crimimoso?

              Com ou sem apogia ele vai morrer mesmo.

               Então morra com dignidade sem falar nada.

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