O poder de Lula e a impotência da imprensa

Em 02/09/2000 Luiz Gonzaga de Mello Beluzzo publicou na Folha de São Paulo o artigo “Democracia na América”. Entre outras coisas, ele disse que:

“Os partidos políticos, os governos e os fatos políticos só existem pela via dos meios de comunicação. O poder real há muito tempo migrou para os cérebros e para as mãos dos donos da informação, que se entregam ao trabalho de ‘orientação’ das massas desarvoradas. O eleitor pode mudar de partido, o espectador de canal, e tudo continua na mesma. Os amigos dos reis costumam contra-atacar, argumentando que é ridículo supor uma conspiração entre a mídia, os governos e os negócios. Têm toda razão: o pior é que não há mesmo nenhuma maquinação. São apenas consensos produzidos pelo andamento normal dos negócios.”  (citado na obra Imprensa e Poder, Luiz Gonzaga Mota – org., texto Imprensa e controle da opinião pública de  – Roberto Amaral, editora UnB, Brasília, 2002, pg. 81)

Durante os mandatos de Lula e Dilma Rousseff, os amigos dos reis passaram a atacar ferozmente o governo porque os consensos produzidos pelos negócios não conseguiam mais se impor. Os próprios negócios, porém, não deixaram de crescer de maneira contínua por quase uma década. Por mais que sabotassem diariamente o PT, os donos da informação não conseguiram fazer os expectadores mudar de partido. Isto ocorreu porque eles haviam conseguido comprar modernas HDTV planas de 40 e 50 polegadas em razão de terem emprego e renda.

O PT não existia pela via dos meios de comunicação. Existia como fato cotidiano dentro dos lares de dezenas de milhões de brasileiros que foram retirados da miséria e de centenas de milhares de jovens que tiveram acesso à educação superior dentro e fora do país. A queda de Dilma fez algumas pessoas supor que o PT estava destruído. Ledo engano, Lula desponta novamente nas pesquisas como o preferido dos eleitores na disputa presidencial de 2018.

As próprias sondagens de opinião, contudo, já eram vistas como um problema em 2002, quando Roberto Amaral afirmou que:

“A grande vítima das ‘sondagens’, porém, é a vida política. Elaboradas antes de desencadeados os processos políticos-eleitorais, as pesquisas condicionam a escolha dos candidatos pelos partidos e a aceitação dos candidatos pelo eleitorado, transformando o processo eleitoral  de processo político em processo que mede a aceitação ou a rejeição, induzida, dos candidatos pelo eleitorado. Com isso, a imprensa, que promove estas sondagens – e ela mesma possui institutos de pesquisas ou a eles se associa -, no que alimenta e divulga essas pesquisas, afasta do processo político as discussões em torno de programas, de plataformas, de partidos ou mesmo em torno dos candidatos, pois a cobertura da imprensa se reduz à cobertura pura e simples do resultado das sondagens. Essas também condicionam a  cobertura, pela imprensa, dos candidatos, que têm suas campanhas ‘cobertas’ (tempo e espaço) segundo a respectiva colocação nas pesquisas de intenção de voto. Em todas as hipóteses, a imprensa manipula a vontade eleitoral, exagerando a importância dessas sondagens como previsão do comportamento eleitoral.” (Imprensa e Poder, Luiz Gonzaga Mota – org., texto Imprensa e controle da opinião pública de  – Roberto Amaral, editora UnB, Brasília, pg. 78/79)

Durante o processo do Mensalão, a imprensa invadiu totalmente o campo do Judiciário para condicionar a condenação dos réus. O sucesso da imprensa pode ser medido pelos absurdos ditos durante a condenação de José Dirceu. Ele foi condenado porque esteve presente em reuniões em que crimes poderiam estar sendo planejados, sem que saiba exatamente o que foi discutido e acertado durante aqueles encontros. Luiz Fuz o condenou porque ele não provou sua inocência. Rosa Webber invocou a literatura para acompanhar o voto do relator que condenou o réu com base em presunções. Joaquim Barbosa distorceu a teoria do domínio do fato para poder sacrificar José Dirceu diante das câmeras de TV. O único fato relevante do julgamento do Mensalão, porém, foi a abjeta submissão do STF ao campo jornalístico, em cujos domínios o líder petista já vinha sendo condenado há vários anos.

As empresas de comunicação já gozavam de amplos poderes parlamentares e haviam domesticado o STF durante o Mensalão. Só faltava assaltar o poder presidencial removendo o último obstáculo ao andamento normal dos negócios dentro do Estado. Foi exatamente isto o que ocorreu em 2016, quando a imprensa ajudou Michel Temer a derrubar Dilma Rousseff mediante um processo de Impedimento fraudulento conduzido por um presidente da Câmara dos Deputados que está preso. A mídia consolidou seu poder absoluto, mas os negócios continuam a afundar.

O otimismo dos jornóialistas mal consegue esconder a realidade. A economia brasileira continua doente. E o remédio imposto aos brasileiros pelo preposto da mídia no Palácio do Planalto está apenas agravando a doença de um país que está começando a ficar impaciente.

Nesse contexto, o resultado das pesquisas que comprovam a preferência do povo por Lula certamente provocou inchaço nos cérebros “que se entregam ao trabalho de ‘orientação’ das massas desarvoradas”. O que fazer? Interromper o golpe permitindo a Lula reconstruir o que foi rapidamente destruído ou acelerar o golpe exigindo a condenação criminal do “sapo barbudo” para que ele não possa disputar a eleição presidencial?

A imprensa brasileira, porém, se esqueceu de um detalhe importante. Ela não tem poder absoluto sobre o resultado do processo iniciado por Lula na Corte de Direitos Humanos da ONU. O destino do Brasil, portanto, não mais pertence àqueles que forjam consensos eleitorais mediante pesquisas ou manipulam eleições utilizando o poder que exercem sobre o STF. O jogo agora é outro, bem menos provinciano e muito mais explosivo. A conferir.  

Fábio de Oliveira Ribeiro

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador