O suicídio como arma política

Em São Paulo o TJSP, Tribunal que já havia legitimado o extermínio em massa de prisioneiros por policiais militares, decidiu que a tortura não é tortura quando não é usada para obter informações. Nenhuma novidade, os Tribunais nazistas também não consideravam tortura a tortura imposta aos judeus. Porque os brasileiros judiados pela polícia deveriam ser considerados mais humanos do que as vítimas da Gestapo?

Proibida pela CF/88, a tortura foi judicialmente legitimada. Ninguém deve ficar surpreso se num próximo julgamento o TJSP admitir que a tortura não é tortura quando o depoimento da vítima foi tomado por outro policial e não aquele que brutalizou a vítima. A lógica do TJSP seria a mesma se os torturados fossem Desembargadores ou Juízes? Duvido muito, pois eles não são os “outros”.

A lógica do TJSP parece informar a decisão do STF no caso do ensino religioso. É óbvio que num Estado laico as crianças de religiões diferentes devem ser doutrinadas por um pastor evangélico.

Há bem pouco tempo a proposta de criação de um Conselho de Bispos com poder de revogar decisões do STF foi rejeitada pela CCJ. Após uma década de doutrinação evangélica dos novos eleitores, a mesma proposta será aprovada. Então será muito engraçado ver os supremos mini ministros do STF decidirem algo e a decisão ser cassada pelos donos do poder religioso, ordenando-se o apedrejamento dos juízes recalcitrantes.

Sou advogado há décadas e nunca sugeri a submissão do judiciário aos evangélicos. Mas não vou chorar quando os juízes começarem a sofrer nas mãos deles. Foram eles mesmos que escolheram este caminho.

A lógica distorcida que informa a atividade judicial chegou ao Exército. Vários senadores são suspeitos de traficar cocaína em larga escala, mas os militares vão invadir as favelas cariocas. Causa e efeito.

A guerra civil faz parte estrutural da construção do Brasil. Os colonos construíram o Estado se apropriando violentamente das terras dos índios e explorando brutalmente o trabalho dos escravos (negros e índios).

Todas as instituições brasileiras (Ministério Público, Poder Judiciário, Executivo, Legislativo, Exército, polícias, etc…) foram criadas para legitimar e conduzir esta guerra civil. Nossas instituições (ou melhor, as instituições deles) sempre funcionaram unidas contra a maioria da população. Negros, índios, brancos pobres, operários, sem terra, desempregados, favelados, etc… só tem um direito: o de sofrer em silêncio.

Os conflitos entre autoridades nunca foram relevantes ao ponto de colocar em risco a dominação territorial que garante a exploração cotidiana dos trabalhadores e contribuintes que custeiam os privilégios desfrutados pelos agentes estatais e pelos empresários. O conceito de “povo brasileiro” é restrito. Ele não se aplica aos “outros”, àqueles cujos votos podem ser rasgados com tanques de guerra ou com Impedimentos fraudulentos. Isto explica racionalmente a tragédia de uma democracia que não se estende e não pode ser estendida aos 200 milhões de brasileiros.

O governo do usurpador está certo. A economia brasileira está crescendo. Os lucros dos papa-defuntos estão garantidos.

https://br.sputniknews.com/sociedade/201709229409708-brasil-suicidio-mortalidade-mulher-homem/

Se considerarmos os equívocos do STF, a começar pela legitimação do golpe contra Dilma Rousseff, não dá mais para criticar o suicídio (que proporciona o crescimento economico pela redução populacional).

Já perdemos o país e nossos recursos naturais. Não temos mais um regime constitucional, nem autonomia política e soberania popular. O Judiciário pautado pela legalidade e aferrado à isenção deixou de ser um sonho. Só nos resta ter uma sepultura.

Os mortos não votam, nem ficam frustrados quando seus votos são rasgados num golpe de estado. Além disso, cadáveres não pagam impostos para sustentar a máfia do PMDB/PSDB e dos juízes ladrões que ganham acima do teto. Quando a política laica foi interditada por pastores/bispos evangélicos e os direitos são revogados, o suicídio se torna um ato extremamente politizado.

Morramos então. Morramos antes de sermos doutrinados por pastores pilantras com as bênçãos do STF. Morramos antes que os policiais criminosos nos matem ou nos torturem com ajuda do TJSP. Morramos antes que Exército invada nossas casas para proteger os senadores que traficam toneladas de cocaína.

Fábio de Oliveira Ribeiro

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador