Os jovens brasileiros provaram que Eric Hobsbawm estava errado

Um dos fenômenos mais importantes deste momento é a mobilização dos jovens. Secundaristas e universitários estão ocupando escolas e as ruas em defesa da educação e contra o golpe de estado promovido pela decrépita elite política brasileira. O conflito entre PMDB/PSDB/imprensa/STF x Dilma/Lula/PT se transformou num conflito de gerações.

Os jovens defensores do que restou da nossa democracia brasileira tem seus próprios interlocutores. Na verdade, eles são seus próprios interlocutores, pois usam celulares conectados à internet para convocar manifestações e registrar suas ações. Audaciosos, eles ocupam espaços que a esquerda nunca ousou ocupar. Há bem pouco tempo eles foram vistos protestando contra a violência policial na frente do Quartel da Tropa de Choque em São Paulo. Aturdidos os policiais não sabiam o que fazer. Nunca antes neste país eles foram desafiados onde ficam aquartelados.

A rápida decomposição do governo Temer se deve, sem dúvida alguma, à persistência dos secundaristas e dos universitários em dizer NÃO, NÃO ACEITAMOS O GOLPE E NÃO ACEITAREMOS ESTE GOVERNO GOLPISTA. A esquerda tradicional, com seus militantes experientes, envelhecidos e burocráticos, que sempre gritam as mesmas palavras de ordem ensaiadas e ouvem lideranças desgastadas que monopolizam os caminhões de som da CUT, se misturou aos estudantes em alguns momentos. Mas não dá mais para dizer quem lidera quem nesta grande frente democrática.

Em livro publicado no Brasil pela primeira vez pouco antes de Eric Hobsbawm morrer disse o grande historiador inglês:

“A despolitização dos jovens é um dos problemas mais óbvios e complexos de nossa época. Não é nada claro qual será o papel dos jovens na política do século XXI. Eu acho que serão muito importantes em pequenos grupos de vanguarda de um tipo ou de outro, mas não necessariamente como a principal força de mudança social, e certamente não em termos eleitorais. Do ponto de vista eleitoral, mais importante serão as famílias de classe média que tem uma participação econômica ativa.” (O Novo Século – Entrevista a Antonio Polito, Companhia de Bolso, 3ª impressão, 2014, São Paulo, p. 104/105)

Graças a deus os jovens brasileiros estão demonstrando, nas ruas e nas escolas ocupadas, que Eric Hobsbawm estava errado. Em nosso país a importância dos jovens tem sido vital. Inclusive e principalmente porque políticos como Romero Juca – aquele que disse ter saído do governo “para evitar manifestações babacas” – não conseguem entender o mundo do qual eles mesmos estão sendo expulsos por forças que a imprensa não pode controlar e seduzir e que o PMDB não consegue nem subornar nem reprimir.  

Democracia é um regime instável que retira sua energia do povo. E não existe povo mais energético do que a eletrificada juventude à qual a elite tradicionalista deu um inimigo envelhecido, envilecido, covarde, asqueroso e corrupto. As chances de Michel Temer sobreviver ao furacão juvenil são inexistentes. Neste exato momento ele deve estar preparando seu plano de fuga temendo ser arrastado para fora do Palácio do Planalto, que ele fez cercar de tropas (uma evidente demonstração de temor).

A queda do tirano ilegítimo que liderou um golpe de estado urdido pela Embaixada dos EUA é benéfica à Dilma Rousseff. Mas não sei se o contragolpe levará o PT ao poder em 2018. Mesmo que isto ocorra, é certo que o partido de Lula nunca mais poderá usar os mesmos métodos que foram empregados pelos seus adversários (métodos que Dilma evitou e que Lula parece ter tolerado).

De qualquer maneira, me parece evidente que nunca mais neste país será possível ignorar ou silenciar os jovens. O nascimento de um novo Brasil só pode ser abortado agora com o uso de extrema violência homicida. Não creio que Michel Temer controle suficientemente as Forças Armadas para fazer o mesmo que Reza Pahlavi fez ao ser entronizado no Irã na década de 1950 em condições semelhantes ao golpe que ocorreu no Brasil. Os norte-americanos seguem utilizando os mesmos métodos, mas os jovens já não são os mesmos.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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