Preliminares no amor e na guerra

Sem preliminares o amor é pouco mais do que um ato mecânico. Sedução e carinho excitam, preparam o terreno para o prazer e constituem o mais das vezes um período de prazer mais demorado. De fato, da completa excitação ao gozo tudo é muito rápido, exceto se os amantes conhecem e praticam técnicas tântricas.

A guerra como o amor, também tem preliminares. Mas neste caso estas são mais excitantes do que o próprio ato. Antes do primeiro tiro é preciso estocar material bélico, mobilizar, motivar e treinar tropas, revisar planos de guerra, obter informações confiáveis sobre o potencial militar do inimigo, estudar o terreno onde serão realizadas as batalhas, etc. Depois que o primeiro tiro é disparado, milhões de outros tiros serão disparados e a excitação diminuirá na exata proporção dos mortos e mutilados.

O amor produz saciedade e, eventualmente, filhos. A guerra geralmente produz mortos, mutilados e neuróticos. Vence o exército de sobreviventes que ficar na área disputada. Isto no caso de uma guerra convencional. Em se tratando de uma guerra nuclear, provavelmente os mortos nos primeiros ataques terão vencido. Aqueles que sobreviverem serão os maiores derrotados, pois terão que vagar e morrer lentamente em cidades destruídas, desabastecidas de alimentos e água e, sobretudo, mortalmente contaminadas por radiação.

Ninguém quer uma guerra mundial nuclear. Quanto às preliminares desta a história é bem outra. As potências nucleares constantemente provocam umas as outras desde que as armas nucleares se tornaram uma realidade disponível nos seus arsenais. Foi o que ocorreu durante a Crise dos Mísseis em 1962. É o que está ocorrendo neste exato momento.

Norte-americanos aprovam sanções contra a Rússia e enviam tropas e tanques para a Ucrânia. A Rússia responde enviando bombardeiros nucleares para o Atlântico Norte. Eles já foram vistos próximos dos EUA http://edition.cnn.com/2014/11/13/world/europe/russia-bombers-plan/ . Hoje alguns deles foram interceptados por jatos ingleses nas proximidades da Inglaterra http://rt.com/uk/227355-british-typhoons-russian-bombers/ .

Os jornalistas parecem não saber como noticiar estas novas preliminares de uma guerra mundial nuclear. O tom que eles usam é mediano, como se as provocações entre potências nucleares fosse algo parecido com uma briga de vizinhos armados de facões. Em seguida, eles abrem um sorriso para noticiar as fofocas das celebridades e dão as principais notícias econômicas. Durante a Crise dos Mísseis em 1962 o tom usado pelos jornalistas era outro. Eles ainda mantinham uma relação de proximidade com os horrores da II Guerra Mundial, coisa que quase todos nós já não temos.

A imprensa provavelmente ajudou a moderar a ação dos líderes mundiais em 1962. O medo de um conflito nuclear foi intensificado pelos jornalistas e em razão disto a URSS e os EUA recuaram até encontrar um lugar comum que salvasse inclusive aqueles que não haviam nascido. Nada disto está ocorrendo neste momento. Isto, suponho, pode aumentar o risco de um conflito nuclear. Afinal, as potências nucleares continuarão nas preliminares e provavelmente aumentarão a intensidade das mesmas. Em algum momento tudo pode ficar fora de controle. E quanto isto ocorrer nenhum jornalista conseguirá fazer o futuro avançar para um passado em que todos estávamos vivos, saudáveis e seguros. 

O ameaçador ultimado dado por Kiev à Rússia em 30/01/2015 equivale à uma declaração informal de guerra http://itar-tass.com/en/world/774587 . Feridos em sua soberania e orgulho nacional, os russos farão exatamente aquilo que lhes foi proibido. O Kremlin enviará um novo comboio humanitário para os separatistas na Ucrânia, os nazistas de Kiev atacarão o mesmo obrigando os russos a usar a força. A consequencia será uma escalada dos combates supostamente permitindo uma justa intervenção de Washington, que enviou tropas e tanques para a Ucrânia. Estamos a alguns segundos da guerra total e a imprensa segue paralisada.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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