Alma de Côrno, inédito de Fernando Pessoa

Este é um dos cinco sonetos inéditos de Fernando Pessoa, publicados somente em 2013 no número de estréia da Revista Granta de Portugal. Segundo Jerónimo Pizarro, um dos pesquisadores pessoanos responsável pela publicação dos inéditos (o outro é Carlos Pitella-Leite), “Possivelmente, estes são os últimos sonetos de Pessoa escritos em português que ainda estavam por ser descobertos”.

“Há 25 mil documentos do autor guardados na Biblioteca Nacional de Portugal, mas nossa pesquisa leva a crer que não há mais sonetos inéditos em português entre eles. Há, sim, sonetos em inglês, em francês…”, diz o pesquisador.

 

Fernando Pessoa

Alma de Côrno

 

Alma de côrno – isto é, dura como isso;
Cara que nem servia para rabo;
Idéas e intenções taes que o diabo
As recusou a ter a seu serviço –

Ó lama feita vida! ó trampa em viço!
Se é p’ra ti todo o insulto cheira a gabo
– Ó do Hindustão da sordidez nababo!
Universal e essencial enguiço!

De ti se suja a imaginação
Ao querer descrever-te em verso. Tu
Fazes dôr de barriga á inspiração.

Quér faças bem ou mal, hyper-sabujo,
Tu fazes sempre mal. És como um cú,

Que ainda que esteja limpo é sempre sujo.

 

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Revista “Granta”, n.º 1; transcrição e notas de Jerónimo Pizarro e Carlos Pitella-Leite; Lisboa: Editora Tinta da China, Maio 2013.

Redação

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