Versos inscritos numa taça feita de um crânio, de Lorde Byron

 

TRADUÇÃO: Emmanuel Santiago

 

Não, eu não exauri minha mente:
Em mim tens a primeira cabeça
Que, ao contrário de quando vivente,
Pensamento não traz que aborreça.

Eu já amei, na bebida fui firme,
E estou morto: que a terra me cuspa;
Serve o vinho, não podes ferir-me
Mais que os lábios de um verme sem culpa.

É melhor ter do vinho a graça
Que dos vermes a prole aviltante,
E do néctar dos deuses ser taça
Que do pasto de um ser rastejante.

Permita-me brilhar outra vez,
Onde, outrora, o intelecto fez ninho;
Pois se o cérebro já se desfez,
Pr’a se pôr no lugar, bom é o vinho.

Bebe! E quando não haja um amigo
Vivo mais, e nem tu, que um estranho
Venha te profanar o jazigo
E rimar e fartar-se em teu crânio.

Por que não? Se esta vida é fugaz
E a cabeça remói e angustia?
Redimida por vermes letais,
Tenha agora, oxalá, serventia.

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por Emmanuel Santiago

Minha tradução de “Lines inscribed upon a cup formed from a skull”, do Lorde Byron. Tomei algumas liberdades em relação ao original, mas acho que a ideia e, sobretudo, o espírito do poema não se perderam.

Talvez, hoje, eu adotasse outras soluções nesta tradução. Ainda assim, gosto muito dela.

P. S.: Fiz esta tradução para usá-la numa aula sobre Romantismo.

É possível confrontar várias traduções do poema num ensaio de Adriano Scandolara, no site da Escamadro: https://escamandro.wordpress.com/2012/10/22/uma-certa-taca-de-cranio-de-byron-em-varias-bocas/

Redação

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