A arbitragem é o retrato do nosso futebol, por Scalzilli

Por Guilherme Scalzilli

Aconteceu de novo. Um gol legítimo da Ponte Preta foi anulado e o time perdeu a vaga na semifinal do Campeonato Paulista para o Corinthians. O lance não apresentava dificuldade, nem exigia interpretação. Tampouco bloqueou uma jogada com desenlace imprevisível. A bola entrou, de maneira límpida e incontroversa.

Os responsáveis pela arbitragem justificaram o prejuízo irremediável dizendo que “o erro faz parte do jogo”. Acontece que todo ano ocorrem “acidentes” parecidos. Sempre favorecendo os times poderosos, em decisões com equipes menos privilegiadas. É impossível acreditar em casualidade.

A CBF e suas representações estaduais manipulam descaradamente os campeonatos que organizam. No sistema de pontos corridos, repassando (muito) mais dinheiro da TV aos seus favoritos. Nas disputas eliminatórias, escalando juízes e auxiliares que “erram” contra adversários indefesos. Não há recursos possíveis às vítimas.

As instâncias capazes de influir nos resultados de jogos e torneios estão sob controle dos clubes das capitais, através de seu poder nas federações. É como se as disputas de certo ramo corporativo fossem fiscalizadas por funcionários das maiores empresas.

Isso parece aceitável apenas no futebol brasileiro, visto como atividade menor, folclórica, indigna de obrigações com a legalidade. Repetindo o vício usual nas relações de consumo, abandona-se o esporte num limbo jurídico, onde torcedores, atletas e agremiações não têm qualquer proteção contra o cartel em exercício.

A imprensa possui grande responsabilidade na legitimação do esquema. Porque endossa a mentira do equívoco inocente. Porque evita fazer levantamentos estatísticos das lambanças das arbitragens. E principalmente porque subestima o problema, ignorando-o nas suas bravatas moralistas.

Não faltam propostas viáveis para amenizar o problema. O recurso visual, por exemplo, corriqueiro em diversas modalidades. Mas o ideal seria quebrar o domínio da CBF e das federações sobre a arbitragem, pelo menos concedendo aos times o direito de fugir dos conchavos regionais. Ou alguém acredita que a Ponte passaria pelo São Paulo nas semifinais da Copa Sulamericana de 2013 se os árbitros fossem brasileiros?

Qualquer projeto digno de moralização do futebol precisa coibir esse absurdo ancestral e reincidente que pereniza o poder de uma elite corrupta. Chega de tratar a injustiça desportiva como algo fortuito ou natural. Antes que percamos de vez a capacidade de nos indignarmos.

Redação

5 Comentários

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  1. Não torço mais

    Desisti de torcer por qualquer time de futebol, não apenas time brasileiro, a partir do momento que a Fifa se negou a implementar opções tecnológicas para evitar erros de arbitragem.

    Do meu ponto de vista essa é a prova que os campeonatos não são sérios, pois não existe como controlar a arbitragem e a manipulação de resultados.

    Peguemos como exemplo o futebol americano, jogo muito mais interpretativo e cheio de regrinhas que o nosso futebol, lá um touch down (equivalente ao gol) só é validado após análise da jogada pelos árbitros que estão numa cabine de vídeo. Nem por isso o jogo ficou menos emocionante e nem os erros foram totalmente abolidos, mas se tornaram insignificantes, pois na dúvida é mantida a decisão tomada pelos árbitros em campo.

  2. Filhadaputagem

    A propósito, estamos exaustos de constatar canalhices sem precedentes.

    O jogo está sendo transmitido ao vivo. As imagens cada vez mais nítidas e os lances dispensam intérpretes.

    O atacante do time pequeno entra na área adversária do time grande driblando e é parado por um tiro de pistola 9 mm na cocha desferido por um beque e uma facada na outra cocha desferida pelo outro defensor. O sangue jorra que nem cachoeira.

    O juiz corre pra cima do atacante estendido no chão e lhe aplica um cartão amarelo por simulação.

    Aí entra o canalha do comentarista que só está ali para referendar a roubalheira, porque seu comentário é totalmente dispensável. O lance, fato, o detalhe, o flagrante ao vivo e a cores falam por si só.

    – Claro que houve simulação, o juiz está certo – responde o tal comentarista ao narrador.

    De casa se escuta o palavrão tomar conta do quarteirão.

    No jogo seguinte a canalhice se repete.

  3. O Flamengo sofreu um asssalto

    O Flamengo sofreu um asssalto ao um apito armado!

    Mais dia, menos dias, a gente encontra eses juizes e arbritos no meio da rua com uma mão desarmada.

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