OXIgênio para respirar, por Gunter Zibell

Acho que as pessoas perceberam que o OXI não significa que a Grécia deixará de pagar a dívida e nem que a economia voltará a crescer a partir disso. Significa que o governo local obteve um argumento para buscar uma renegociação mais flexível que requeira menor superávit fiscal/PIB.

Não implica de modo algum em saída da UE (e nem da OTAN) e possivelmente também não da Zona do Euro. Até porque se for feito um referendo sobre isso – respeitando a mesma responsabilidade da consulta de 05.07 – a resposta será que a maioria da população não deseja nenhum desses itens. Apenas 15% dos gregos manifesta em pesquisas o interesse pelo retorno do Dracma.

Também deve ser lembrado que a maior parte da dívida é do Estado para um banco pluriestatal, o BCE, através de várias operações de resgate. Se o governo grego representa o interesse de eleitores gregos, o BCE negocia por seus próprios cotistas, que em última instância também são eleitores em seus países e os credores atuais, uma vez que a dívida com bancos privados foi comprada com 50% de desconto em 2010/2011.

Independentemente de juízos morais e de como foi estimulada e como foi usada tal dívida (hoje ao redor de US$ 30 mil para cada eleitor grego), o fato é que cabe a credores tentar obter de volta o máximo possível, não asfixiar o devedor. E a devedores inadimplentes cabe tentar obter o mínimo possível de pagamentos no curto prazo, sob o risco de não poder receber mais empréstimos. Que poderiam ser usados para financiamento de exportações ou mesmo aumento de capacidade instalada.

De qualquer modo, a função dos negociadores pela Grécia será a de imaginar e obter o melhor valor presente líquido do fluxo futuro de renda. E há várias possibilidades. Se a dívida em questão representa 180% do PIB da Grécia, representa 3% da dívida conjunta dos demais países da Zona do Euro, o que é absorvível, não representa um risco sistêmico.

É muito mais uma questão de árvore de decisão, para BCE (Eurogrupo) e governo grego, não de ideologia.

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/07/150703_grecia_entenda_crise_fn

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/07/150630_saida_grecia_euro_rb.shtml

http://brasil.elpais.com/brasil/2015/07/05/politica/1436129407_448110.html

http://brasil.elpais.com/brasil/2015/07/05/internacional/1436120240_019000.html

http://exame.abril.com.br/economia/noticias/sair-do-euro-e-como-mudar-a-carreira-aos-50-diz-autor-grego

 

Redação

7 Comentários

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  1. Para além de justificativas objetivas, me desculpe.

    A resposta da sociedade grega foi POLÍTICA, independente das entrelinhas, das objetividades  e dos detalhes objetivos do acordo. A propósito, a um país que teve queda de 25% do PIB nos últimos 07 anos sob a liderança tecnocratas, que importa a racionalidade nessas alturas do campeonato?

    Não resta aos gregos o engajamento que não seja poítico para sair dessa crise. O fato é que o fundo do poço da Grécia já foi escavado 40 mil vezes e não se chega a um limite. 

     

    1. “Política” não enche barriga …

      No final das contas, o fato é que, sem um programa agressivo de reformas e redução de gastos, a economia grega é insustentável, mesmo se ela parasse de pagar 100 % da sua dívida. O governo grego só chegou a um superávit primário por conta das poucas reformas realizadas nos últimos anos, que o Syriza reverteu em parte.

      O que o governo grego espera? Uma redução da dívida acompanhada de mais recursos? E como eles serão aplicados? Qual é o plano para o país alcançar sustentabilidade financeira de logo prazo (à parte o pagamento da dívida)? Lembrando que a União Européia já investiu 230 bilhões de Euros a fundo perdido na Grécia desde sua entrada no grupo, o que inclusive o pessoal que ressuscita o tema da dívida da Alemanha após a segunda guerra parece convenientemente esquecer …

      1. Objetivismo tecnocrata – a mesma retórica as usual

        Tecnocratas como Antônio Samaras buscou seguir consistentememte a perspectiva teconocrata. Deu n`alguma coisa? Não. O bottom line continua claro: queda de 25% do PIB grego nos último 7 anos.

        “De boa” e sejamos realistas:  a sociedade grega atual estaria disposta a se relevar como uma geração dos sacrifícios? Vai ter o senso  para suportar medidas dracônicas que afundaram mais ainda a economia, certamente toda a vida de uma geração?  Política pode não encher a barriga, mas pressiona por mudança. Planilha elettrônica excel é fria e calculista. Não mede o fator humano. 

         

         

         

         

         

  2. O oxigênio que não há

    Senhores: acompanhem o noticiário europeu LIVE (Guardian, El País, FAZ) e vejam que a grande festa democrática de ontem não significou rigorosamente nenhum ganho político. A cabeça do especialista em teoria dos jogos Varoufakis já rolou, depois de sua desastrada atuação e de suas ainda mais desastradas declarações. Ao supor ingenuamente que tinha margem de manobra, o governo grego na verdade encurtou ainda mais o suprimento de oxigênio de que dispõe. Temos ainda algumas dramáticas horas pela frente…

  3. é hora de acordar

    imaginemos um pesadelo em que estejamos sujeitos a um “empréstimo” sob as seguintes condições:

    1. o depósito é feito em nossa conta após os mercados fecharem ;

    2. o pagamento é debitado de nossa conta na manhã seguinte antes dos mercados abrirem;

    3. a taxa de juros cobrada será a mais alta do mundo, em valores reais.

    pois bem. agora é hora acordar!. porque este pesadelo tem nome e ocorre todos os dias no Brasil. são as “operações compromissadas” realizadas pelos “investidores” com o BC. um recurso que o tomador não pode utilizar e que não fica indisponível para quem empresta, já que é over-night. e ainda é remunerado regiamente. (http://www.bcb.gov.br/glossario.asp?Definicao=153&idioma=P&idpai=GLOSSARIO)

    em marços de 2015, “as operações overnight corresponderam a 98,7% do total das operações compromissadas, com médias diárias de R$987,0 bilhões e de 6.161 operações” (cfe. http://www.bcb.gov.br/htms/infecon/demab/ma201503/index.asp).

    o que o sistema financeiro, e seus economistas de banco, denominam de “dívida pública”, nada mais é que um mecanismo para drenar recursos do setor produtivo da  economia, seja na ponta do empresário ou na do trabalhador, para o setor rentista.

    extorsão, chantagem, terrorismo. são os bancos quem nos devem.

    .

  4. Casa onde falta pão…

    Em casa onde falta pão, todos choram e ninguém tem razão! 

    Este texto e os dois comentários feitos até agora, suscitou em mim uma rara concordância com tudo escrito, embora pareçam intervenções opostas…

    Claro que neste mundo globalizado nenhum país é uma ilha, e até mesmo uma “expulsão” da UE não desconectaria a Grécia do mundo financeiro. Trata-se de uma tentativa de trocar pressões político econômicas para ganhar tempo e tentar formar um novo pacto sócio econômico. E ele é uma óbvia decisão política.

    Embora boa parte dessa dívida (e de boa parte das dívidas bancárias atuais) não tenha sido feita pelo cidadão grego comum, foram as instituições gregas e deficiências do jogo político de lá que fizeram a situação chegar onde chegou. Também é verdade que muito dinheiro já foi enviado para lá, e aparentemente várias decisões sobre cortes de gastos e principalmente de retomada do poder sobre o setor financeiro malograram, inclusive por falta de poder político sobre os ricos. Aliás, diante da crise, os ricos como sempre já tiraram sua “graninha” da Grécia… Agora todos terão que se virar com a massa falida…

    A única coisa que considero real no momento, para o bem ou para o mal, é o fato de o grego médio diante da merda que fizeram, foi ligar o “FODA-SE”… Onde isso tudo vai dar só o futuro dirá. 

    Um abraço

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