Socorro, roubaram meu discurso de medo!

 

Um perigo ronda o Brasil

Menos mal que sempre que aparece alguém com discurso enganosamente conciliador no Brasil são feitos os alertas devidos. Ainda bem e devemos ser gratos. Nem pensar que setores não queiram perder seu pedaço de poder ou as chances de recuperá-lo (é isso que querem que pensemos!)

Vamos ter “Bodas de Prata” (1989-2014) das eleições livres e universais para presidente e ainda necessitamos avisar as pessoas com discursos “tenho medo de radicais”, “tenho medo de planos da direita”, “tenho medo de ecoxiitas”, “tenho medo de religiosos”. Até “medo de fim da família” ainda precisamos lembrar. Decepcionante, mas vamos continuar nos esforçando (com “balas de prata”.)

Sabemos que fica até engraçado quando todos os medos juntos e misturados se dirigem a uma só pessoa. Mas como curiosamente só tem 11% de rejeição… É o jeito.

Puxa, que população desinformada a nossa. Que precisa ser avisada de como alguém é tão perigoso. Veja e Carta Capital nos ajudarão!

Só mesmo com a universalização do ensino médio, o crescimento do ensino superior, a liberdade de expressão e organização política, a existência de mídias e redes sociais sem censura e sucessivas eleições livres foi possível esconder tamanho risco. Lamentável mas foi assim que aconteceu.

Sete mandatos  (desde 1985) de presidências em torno de PMDB, PFL-DEM, PSDB e PT não nos ensinaram que o sensato e seguro é não sair desse círculo. Confrontos abertos são algo natural e que deve ser reforçado.

Quando Marina fala, é por “nós” ou por “eles”?

Que perigo. Quanta irresponsabilidade votar em alguém oportunista. Coisa de brasileiro viralata. Só pode ser voto comprado. Totalmente a-histórico, de ingênuo mesmo. (Complete com algo contundente de seu colunista da mídia ou blogueiro favorito.)

Como eu poderei aproveitar todo o investimento do passado em discursos de confronto e polarização se não puder usá-los agora?

Mas vamos ao que interessa.

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/08/1502435-marina-atrai-eleitor-jovem-escolarizado-e-mais-rico.shtml

Recentemente teve uma pesquisa Datafolha com resultados logo apontados como ‘efeito de comoção’. O fato de que tais resultados não são muito diferentes dos vistos em julho e outubro de 2013 e abril e junho de 2014 não tem importância, claro. Podemos esperar mais algumas pesquisas. Nas urnas, inclusive, para confirmar nossas verdades estabelecidas.

Uma coisa interessante é ser plano B da maioria. Por ora, só 21% gostam dela em primeiro lugar (Ufa! Vamos trabalhar pra impedir que se chegue a 25 ou 30% de alienados coxinhas e esquerdistas.)

Mas tudo indica que 70% dos demais (dos tucanos já foi pesquisado) a aceitam. Quanta indolência! Vamos dizer que ela não tem apoios e não conseguirá  governabilidade. É claro que meu partido não irá apoiá-la se eleita! Tenho certeza absoluta de que meu/minha candidato/a não fará esse absurdo de pedir/dar apoio no 2º turno, né? Afinal, não se coligou para governador em nenhum estado importante por isso mesmo.

Outra coisa ameaçadora é a configuração homogênea dos apoios em segmentos muito diferentes.

Os dados da Datafolha nos chamam a atenção também para a baixa dispersão do voto de Marina. Algo absurdamente irracional. Típico de um povo que não sabe votar e não tem conscientização política. De uma classe média preconceituosa e de pobres que votam por cabresto. De uma juventude que nem trabalha nem estuda, só quer saber de baderna.

Se Dilma não agrada na classe alta (apenas 18% versus 43% junto aos mais pobres), e Aécio é o contrário (38% versus 14%), Marina fica entre 18 e 29% em todas as faixas de renda.

Alguém que pode agradar a classes sociais diferentes mais ou menos do mesmo modo só pode ser um risco para o país.

E que surpresa alguém ser pentecostal e ter a mesma votação junto a espíritas e pessoas sem religião (de 23 a 24% nos três grupos.) O que fazer se não pudermos explorar preconceito religioso?

O mesmo para desavenças regionais… Tremo em pensar que alguém vindo do Norte tenha praticamente a mesma popularidade no Sudeste (22%) e no Nordeste (20%)… (Aécio tem o dobro no Sudeste que no Nordeste, Dilma quase o dobro ao contrário.)

Eu sei que realmente preciso ter medo. Coisa da boa política.

Terei medo de conspirações. Todo mundo sabe que a ordem natural das coisas é a nação evangélica estar com vermelhos e a massa cheirosa com azuis. Já pensaram o perigo que é quando a classe média prestigia alguém que não veio do meio? (65% das pessoas com superior completo ou incompleto – quantos agnósticos e não-praticantes?… – preferem Marina no segundo turno.) Que nem católica é? Temos que denunciar isso como uma armação elitista. Não, péra, é infiltrada.

Sei lá…

Um conhecido gayzista, mancomunado com hostes marinistas, produziu uma peça de desinformação. Uma apologia ao fim da família (que nosso companheiro Everaldo defende com tanta firmeza):

Ajudem-me! Preciso de razões para ter medo, a esperança é sempre enganosa!

https://www.youtube.com/watch?v=cVOTPL0G3Ys]

Como eu vou falar que vão abandonar programas sociais e a CLT? Como eu vou falar que desestabilizarão os mercados? 

[video:https://www.youtube.com/watch?v=Iz-efmjMKIo

Redação

5 Comentários

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  1. Concordo com você, Gunter.
    A

    Concordo com você, Gunter.

    A mim é assustador observar determinada postura, especialmente de amigos de esquerda, onde me posiciono. Não sei se você sentiu o mesmo, mas parece que de uns 5 ou 6 anos pra cá, a coisa foi ficando mais grave.

    Até por volta de 2010, eu tinha várias discussões e discordâncias com amigos governistas, mas havia sempre uma certa compreensão de que queríamos chegar ao mesmo lugar, que era preciso sim fortalecer os discursos de esquerda, que não estávamos fazendo mais pois “as condições conjunturais não permitiam” – esse era o argumento deles, que eu contestava, mas compreendia, pois eles naquele momento não atacavam com discursos ofensivos as pessoas de esquerda que insistiam ser necessário uma ampliação da agenda progressista de forma imediata, e não apenas num futuro que não parece chegar nunca.

    Mas, e confesso que isso me pegou de surpresa, a partir de 2010 o tom mudou. Nas mesas de discussão, o que eu mais ouvia era um desprezo a qualquer pessoa de esquerda que contestasse QUALQUER ação ou omissão governamental em relação a demandas históricas e importantes de esquerda que estavam sendo deixadas cada vez mais de lado. O PSOL, de repente, se tornou o diabo em pessoa. Ao defenderem bandeiras históricas que o PT antes sempre defendeu abertamente, esses outros grupos de esquerda começaram a ser acusados de fazer o tal “jogo da direita”. Um argumento tão absurdo, tão autorreferenciado numa lógica de poder distorcida e conservadora, que eu realmente fiquei sem saber o que fazer.

    Naquele momento eu comecei a perceber que havia algo de estranho no ar. Talvez fosse insegurança dos meus interlocutores, já que o programa de governo cada vez mais pendia à direita (concessões, alianças cada vez mais conservadoras, agronegócio etc). O antigo discurso do “a correlação de forças não permite” começou a paulatinamente sumir, e outro apareceu: “bom, esse modelo está gerando redução da miséria, não é preciso fazer nada diferente não…”. Ou seja: o restante da importante agenda de esquerda não estava mais apenas suspensa, mas simplesmente não seria nem motivo de lutas, pois segundo os governistas, “tudo corria bem” e, afinal, “podia ser pior”.

    Mas não podia ser melhor? Por que abandonamos as lutas na sociedade civil, o que aconteceu muito, mas muito antes de junho de 2013, que veio a reforçar o alerta sobre isso? Legitimamos, via pragmatismo “realista” (conservador, limitado), o modo de fazer política atual, a pequena política. E comemoramos pois, dentro desses limites, fazemos realmente mais que os tucanos. Mas a questão permanece: isso é suficiente? É isso que desejamos da esquerda? Um processo lento, gradual e seguro que sempre se justifica com “fiz o que era possível” e “os outros são piores que nós, então fique quieto”?

    E mais: será que realmente acreditamos que em poucos anos inventamos um capitalismo “regulado” e “blindado” e que no futuro não haverá retrocessos, como acontece hoje nos países periféricos da Europa (Espanha, Portugal, Grécia)? Lembremos que eles tiveram décadas e mais décadas de avanços sociais (via criação e ampliação do Estado do Bem-Estar Social), um processo similar ao que temos agora desde 2003. Mas, quando chegaram ao “limite” que essa lógica permite, a crise veio e os jogou para uma situação impensável há alguns anos, de retirada de direitos e deterioramento da situação social.

    Não devemos nos perguntar o que aconteceu por lá após tantos anos de ampliação de direitos? O que permitiu essa contra-ofensiva do capital de forma tão contundente, com a austeridade e o fiscalismo ganhando espaço? E lembremos que nós ainda estamos começando nossa estruturação de direitos sociais, não estamos nem perto da rede que esses países europeus têm/tinham. Isso não deveria servir como alerta para, pelo menos, repensarmos alguns pontos, estratégias e alianças? Será que acreditamos mesmo que estamos “enfraquecendo” os conservadores? Ou estamos tão presos ao poder estatal stricto sensu que abandonamos a luta pela construção de uma sociedade diferente, com outros valores?

    Há uma questão central que apareceu nos debates entre meus amigos a partir de 2009, a meu ver. Quando as agendas conservadoras começam a ganhar mais espaço e a se consolidar (dentro e fora do Estado), havia por parte da esquerda no poder, parece-me, um medo de que surgisse alguma alternativa à esquerda, mínima que fosse. Esse era o maior “medo” e daí decorria o discurso agressivo a qualquer pessoa de esquerda que não aceitasse o pragmatismo acrítico. Parecia uma reação psicanalítica: sei que tenho falhas, mas se eu PROJETAR essa falha em todos ao meu redor, não me sentirei inadequado. E assim realmente aconteceu: a resposta a todos os erros seria “ah, mas todo mundo faz isso”. E essa resposta está querendo dizer, nas entrelinhas, o seguinte: “Pra quê mudar? É todo mundo igual, e eu pelo menos estou aqui fazendo algo.”

    Um dos maiores ganhos a meu ver da esquerda até então era a nossa capacidade de lidar com as diferenças, de incentivar o debate, de receber a crítica e superá-la por meio da união entre teoria e prática. Erramos, acertamos, mas até então a crítica fazia parte do processo político. De repente, contudo, as coisas começaram a precisar ser sussurradas. A crítica aberta não podia ser mais feita. Ora, como incentivar e viabilizar um governo mais à esquerda sem elaborar e discutir as críticas? Desde quando passamos a aceitar como “realista” o discurso do “um dia o ‘progresso’ chega a todos, tem que ser aos poucos”, tão utilizado pela direita para desacreditar a esquerda no passado?

    O modelo de pequena política nunca atendeu a esse anseio de quem continuou excluído. E se incluimos parcialmente muita gente, muita gente também ficou de fora ou foi incluída precariamente, sofrendo com violência, repressão, insegurança. Para ficar em um exemplo emblemático, os índios foram massacrados na última década e deviam, segundo a lógica governista, ficar em silêncio, para não ajudar a direita (!).

    Ora, a pequena política tenta levar a crítica para os bastidores (dizendo que a crítica aberta “ajuda a direita”, mesmo que sejam por demandas claramente de esquerda!) pois sabe que, enquanto a crítica for feita somente dentro de um gabinete, ela gera apenas promessas que nunca precisarão ser cumpridas. E, depois de tantos governos (de direita e, agora, da esquerda pragmática), sabemos que isso se tornou o padrão, um movimento de autopreservação do poder e desmobilização de demandas sociais legítimas, jogando-as para o campo do institucional que é um jogo de cartas marcadas a favor dos conservadores (por mais bem intencionados que sejam tantos governistas, o que é fato). De novo, lembremos que um primeiro alerta contra isso fez-se evidente: junho de 2013.

    Enfim, estou me alongando, mas é um pouco da história a debater.

    Sobre o caso recente de “demonização” adversária e de tudo que se apresenta como possibilidade de novo, parece mesmo que não há lembrança alguma de que o discurso do medo, se tivesse dado certo lá atrás, nunca teria permitido Lula chegar ao poder. E agora, ironicamente, usamos as armas dos adversários e nem sequer sentimos vergonha. Sendo que era esse um ponto fundamental que nos diferenciava deles… Daqui a pouco vai ficar mesmo difícil diferenciar, os mais jovens não vão mais olhar pra trás e continuarão a perguntar: e pra frente? O que vai ser feito? Qual o ritmo? Qual a direção?

    Bom, a mim incomoda bastante chegarmos a tal ponto de tentar interditar debates e gerar medo do novo. Será que não conseguimos mesmo enxergar que essas são características do conservadorismo? Será que Leandro Konder estava certo ao dizer que: “Quando a esquerda evita falar sobre os seus próprios erros e se recusa a discuti-los à luz do dia, ela não está, afinal, se protegendo da direita: está protegendo o conservadorismo que conseguiu se infiltrar no interior dela mesmo.”

    A verdade é que esse tipo de postura conservadora (medo, ordem) conduz todo o debate político mais para a direita (em termos amplos/gerais). Imaginemos uma metáfora: é como se as disputas políticas (eleitorais e na sociedade civil) estivessem acontecendo em cima de uma balsa num rio, que é levada lentamente para a direita pela maré (tendência conservadora), mas em cima da balsa, nós não percebemos isso, olhamos apenas para a disputa sob um ponto de vista bem restrito. Ou seja, em cima da balsa, faz-se certamente uma diferenciação entre esquerda e direita, mas mesmo a opção mais à esquerda estará, pelo movimento tendencial da balsa, gradativamente caindo à direita…

    Não é questão de demonizar um partido ou outro, nem de ser “anti-PT”, e isso precisa ficar claro. O PT fez MUITA coisa boa pelo país. Entre Dilma e Aécio, lógico que sou Dilma, mas isso não significa deixar de lutar para a balsa pegar uma outra maré, que leve o debate como um todo para a esquerda, ao contrário do que acontece hoje. Não sei quanto a vocês, mas eu não quero que o Brasil se torne um EUA, com uma economia consumista de desperdícios e, no campo político-eleitoral, presa a opções que ficam sempre à direita do liberalismo, onde os democratas são a única opção “progressista” (que bombardeia países, tortura, defende o capital etc – pois é, “progressista”) em relação aos republicanos.

    Eu quero um país onde o PT ocupe um espaço de esquerda, mas que também existam outros partidos mais à esquerda, e que assim todos se coloquem disputando espaço em um AMBIENTE mais à esquerda, e não no atual ambiente cada vez mais à direita, conservador. Aí sim, penso, poderemos falar em um avanço estrutural e um novo paradigma de sociedade.

    Abraços a todos

    1. Achei excelente seu comentário, Tiago.

      Isto por você ser de esquerda. Uma autocrítica bem-vinda que na forma de post seria um dos melhores em muito tempo.

      Como eu não sou de esquerda, apesar de secularista e defensor de direitos e algumas ideias em comum, eu não passaria a mesma credibilidade (pelo menos não aqui.)

      Mas concordo com tudo e sinto parecido, apesar de ver por outro ponto focal.

      Em 2010 havia um esforço para se buscar a empatia dos indecisos. +/- como em 2002, quando se buscava obter o apoio dos “mudancistas” da época.

      Agora não é assim.

      Parece que quem votou de um jeito em 2010 e não o faz agora cometeu o crime da apostasia. Há inclusive rejeição social, maledicências na internet.

      O que valia para 2002 (mudar o voto), que antes era elogiado, agora não vale mais.

      Em 2002 era valorizada uma postura crítica em relação ao governo. Agora o que é valorizado socialmente é o silêncio, a omissão.

      Se alguém ousa questionar a credibilidade da narrativa governista, rufam os tambores e soltam os leões.

      Espero que 26/10 chegue logo.

      Esse clima sufocante precisa ser substituído por algo mais conciliatório, mais harmônico, mais construtivo.

      Senão qualquer que seja o presidente a partir de 2015 o Brasil viverá esse clima de cizânia.

       

       

      1. Perfeitas observações,

        Perfeitas observações, Gunter. Essa mudança ocorrida – da defesa da crítica aberta e da esperança (2002) à imposição do silêncio e do medo (2014) – realmente é algo que muito me preocupa, pois parece sinalizar um rumo triste para a sociedade. Todos perdemos com isso.

        Parabéns pelos seu posts e comentários por aqui, que sempre ajudam no debate conciliador e construtivo!

        Abraço

      2. O PSB não é de esquerda nem de centro

        Thiago, não entendi quando vc, no último parágrafo, se refere a partido à esquerda do PT? O PSOL que nunca desempaca? O PSB que, apesar de minúsco, em termos de corrupção chega perto do PMDB? O PSB não é de esquerda nem de centro e a Rede não existe

  2. O establishment tem medo é do Lula. É este o alvo.

    Lula é o verdadeiro líder de esquerda deste país. É esse o único medo da Casa Grande e do seu séquito de inocentes úteis. É contra este que o establisment***  representado por Soros, rentistas, midia e grandes especuladores( que hoje apoiam Marina) se insurgiu. Dona Neca do Itaú e cia tem medo é do Lula. Essa gente sabe que se Dilma ganhar, Lula volta em 2018. Por que eles tem medo do Lula?

    http://www.cartamaior.com.br/?/Blog/Blog-do-Emir/Por-que-eles-tem-medo-do-Lula-/2/27152

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