Ion de Andrade
Médico epidemiologista e professor universitário
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Quanto vale para os governos a vida de um jovem negro? Por Ion de Andrade

Por Ion de Andrade

A cada mês somos confrontados e afrontados pelas ações policiais contra jovens negros que exprimem que revelam a permanência de uma violência racial atroz no Brasil.

O país esperava que a adoção de uma legislação mais dura de combate ao racismo e com as exitosas políticas de inclusão e de equidade tivéssemos algum declínio na ação exterminadora que o Estado promove contra os negros. Não foi assim.

Os repetidos episódios que ilustram esse massacre, dos quais só tomamos conhecimento dos casos mais extremos e extraordinários, tem produzido, por parte da sociedade sadia, sentimentos de indignação e também de impotência. Na verdade, todos se perguntam o que poderia ainda ser feito para que tal situação não se repita, ou se o problema tem solução.

Penso que o Brasil não pode deixar de buscar os meios pelos quais essa estatística macabra decline de forma rápida e definitiva.

Essa é a razão pela qual entendo como necessário a criação de um Programa Nacional de Proteção à Vida de Jovens Negros. Esse programa deveria atuar sobretudo junto aos órgãos repressivos para produzir uma maior capacidade de reflexão antes do ato de executar. Penso que deveriam ser produzidos, tal como tanto se fez com os acidentes de trânsito, spots de situações reais que se consumam com a execução de jovens que iam para o futebol, para a Igreja, para uma festa, para a universidade, etc. Peças publicitárias de situações reais, e deve haver aos montes, de injustiças cavalares perpetradas contra jovens pela única razão de serem negros.

Ao lado disto, é mais do que necessária a adoção de uma legislação que possa agravar o homicídio de jovens negros por autoridades policiais quando tratar-se de inocentes e de um processo de investigação mais duro. Quem sabe precisássemos em alguns estados da Federação de um Ministério Público especializado no extermínio de negros, talvez as polícias devessem monitorar indicadores dess violência e estabelecer metas de declínio. Alguma ação ativa deve ser adotada, ou a cada tragédia constataremos que não avançamos nada.

O Estado não pode mais se omitir. Temos que varrer essa chaga da nossa vida social.

Possa o governo federal adotar o quanto antes um Programa Nacional de Proteção à Vida de Jovens Negros. Se não o fizer estará de costas para um dos mais graves problemas da vida brasileira.

 

Ion de Andrade

Médico epidemiologista e professor universitário

10 Comentários

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  1. A vida para o governo…

    …não vale nada! Pode ser a de um jovem negro, de um idoso branco ou de uma criança indígena. A valorização na morte tem duas correntes principais no Brasil: a política e a midiática, quando a vítima pode ser utilizada como estandarte para uma causa. Seja a de um gay em suposto crime de ódio homofóbico ou a do suposto homem de bem durante um assalto.

    1. Está me parecendo um pouco

      Está me parecendo um pouco estranha essa indignação, apesar de legítima.

      Se não houver vítimas do racismo, da homofobia, do machismo, da ação planejada para exterminar a população indígena, da fome, da miséria, do analfabetismo, das doenças por falta de saneamento básico, do desemprego, etc, então significa que estamos no melhor dos mundos.

      A ação política torna-se desnecessária.

      A ação política é necessária quando existem vítimas e é legítimo, sim, utilizar-se dos fatos ocorridos para defender as causas. Se os políticos estão fazendo carreira com a causa alheia, isto não desligitima a ação política, pelo contrário, soma, subverte, provoca.

      Quanto à imprensa,, os baróes midiáticos, oligárquicos e velhacos, estão apenas querendo vender a mídia e defender seus interesses de classe, se bem que, nos casos de racismo, homofobia, etc,, eu aplaudo a espetacularização da imprensa, desde que apoiada em dados e fatos e não em fontes inventadas e nem naquela técnica velhaca de fazer uma reportagem, por exemplo, em um hospital público que está momentâneamente com problemas e extender a crítica e a denúncia para todo o universo da saúde pública.

    2. O que te aconteceu, hem?

      Aquele troll cretino que vc era até pouco tempo está fazendo bons comentários sobre a situaçao da Síria, manifestando indignaçao com a violência da polícia, até criticando o Olavo de CArvalho outro dia. A ficha caiu de repente?

    3. Alguém roubou a senha do perfil do Rebolla

      Esse não é o ultradireitista que eu estou acostumado a ler por aqui! Quem é você e o que fez com o Rebolla?

  2. E a sociedade?

     

     

    O texto é bom, mas não destaca o principal: a vida desses jovens vale para o governo o mesmo que vale para a sociedade brasileira em geral.

  3. O problema é…

    … que a lei Áurea acabou com os escravos e não recolheu os capitães do mato.

    Bem que a Dilma podia fazer como a a única mulher que governou esse país antes dela, Como Isabel ela podia com uma canetada acabar com essa excrescência chamada Polícia Militar.

  4. Revolução Negra já!27/01/2016
    Revolução Negra já!27/01/2016 – 01:53

     Mais um jovem negro assassinado nas ruas das grandes cidades do país, todos os dias: até quando ?

    Enquanto ficarmos perdendo tempo e energia em embates acadêmicos com capitães-do-mato das elites fascistas, o racismo, o machismo, a homofobia e a exterminação dos povos indígenas não cessarão.

    É preciso entender que o racismo, assim como o machismo, antes de se caracterizarem como preconceito, são, antes de tudo, métodos utilizados pelo poder econômico para diminuir, humilhar e dominar um determinado contingente de mão-de-obra, visando obter uma força de trabalho com a mesma produtividade dos trabalhadores homens e brancos a um custo bem menor.

    Por outro lado, o capitalismo precisa ter um exército de reserva de mão-de-obra (desempregados) para pressionar para baixo os salários dos trabalhadores ocupados. O racismo e o machismo servem, por um lado, para “enquadrar” a mão-dr-obra negra e feminina para que aceitem salários mais baixos e, por outro lado, para aqueles que não se “enquadrarem”, servem para extirpá-los do mercado de trabalho formando o exército de reserva de mão-de-obra., 

    Existem, portanto, duas opções para negros e mulheres: ou se “enquadram” e aceitam condições desiguais no mercado de trabalho ou não se “enquadram” e vão formar parte do exército de reserva de mão-de-obra.

    É a luta de classes, estúpido!

    Então, não resta alternativa a não ser aceitar a guerra proposta pelas elites.

    No Brasil, a única alternativa para enterrar o racismo é uma Revolução Negra..O primeiro passo  é a organização do povo negro e pardo com o objetivo de realizar  imensas manifestações de rua. Só assim o povo negro e pardo terá visibilidade e será ouvido.                                                     

    A REVOLUÇÃO NEGRA 

    Até quando negros e negras, pardos e pardas e suas lideranças vão ficar sem agir, objetiva e efetivamente, para eliminar o racismo e o holocausto de jovens de nossa raça.

    Os apartheides racial e social, aí incluindo os brancos pobres, não podem prosseguir. Precisam ser extirpados logo, antes que um tsunami social imploda o país, afetando seriamente sua economia e o seu desenvolvimento, prejudicando toda a sociedade brasileira

    Avançamos nos últimos 13 anos, mas este avanço é claramente insuficiente para evitar a explosão social que virá, inevitavelmente.

    O empoderamento do negro e do pardo não vai se realizar através do atual sistema político-eleitoral que privilegia os ricos, os brancos e os homens.

    Também, não poderá surgir em decorrência de manifestações violentas, de ações de guerrilha e similares pois se deslegitimará imediatamente perante a própria opinião pública negra e parda e a opinião pública branca esclarecida, progressista e, obviamente, antiracista.

    O que fazer, então ?

    Recentemente, tivemos em Brasília uma manifestação de mulheres negras e pardas, reunindo 20.000 pessoas, comemorando o Dia da Consciência Negra.

    A imprensa oligárquica televisiva, auditiva, escrita e digital praticamente a ignorou. Mas, foi um passo adiante, não há dúvida.

    Mas, isto não basta e, de novo, é claramente insuficiente.

    Somente imensas e repetidas manifestações pacíficas de massas, de negros e negras, pardos e pardas conseguirão dar visibilidade e empoderamento políticos a negros e pardos.

    Temos que colocar 2 milhões de negros e negras, pardos e pardas, na Av. Atlântica e descer até o Leblon, passando por Ipanema

    + 1 milhão na av. Paulista

    + 3 milhões no Farol da Barra em Salvador

    + 1 milhão nas pontes do Recife

    + 1 milhão no centro de Belo Horizonte

    + 1 milhão na av. Beira Mar em Fortaleza +++++++ e, assim, por todo o país.

    E tantas vezes quantas forem necessárias.

    A primeira manifestação Alckimin vai tentar impedir, da segunda em diante, Pezão, Alckmin, Rui, Câmara, Pimentel, Camilo, etc vão liberar as catracas dos metrôs e dos ônibus.

    Somos 54% da população brasileira: 108 milhões de habitantes negros e negras, pardos e pardas.

    Não temos toda a fôrça, mas temos um pouco mais da metade dela..

    O racismo no Brasil e o assassinato massivo de jovens negros, pardos e brancos pobres tornaram-se intoleráveis, Filhos, irmãos, tios, primos, pais, amigos são as vítimas diárias do racismo contra negros e negras, pardos e pardas.

    Essa história de preconceito é uma falácia. O racismo é um método de dominação de classe utilizado pelos que detém o poder econômico para manter os negros e negras, pardos e pardas como mão-de-obra submissa e barata.

    Assim como o machismo. Por que a mulher tem que ganhar em média 70% do que ganha um homem, quando ambos desempenham a mesma função ? E ainda mais quando a mulher tem a dupla jornada em casa e no trabalho ? E ainda tendo que aguentar assédio sexual no trabalho, nas ruas e no transporte coletivo ?.Ora, o machismo, óbvio, é um método para diminuir a mulher, dominá-la e explorar sua mão-de-obra com menores salários.

    Negros e negras, pardos e pardas: temos que sair às ruas pacíficos mas coléricos como as últimas manifestações de mulheres contra o corrupto Eduardo Cunha.

    Não adianta posarmos de vítimas do racismo, pois é exatamente isto que o poder econômico e o seu corolário político querem: a vitimização que leva à inação, à paralisação.

    Não pensem que o Congresso e o Judiciário brancos vão ceder espaço para os negros e negras, pardos e pardas sem luta, muita luta

    É preciso fazer uma Revolução Negra no Brasil. As nossas reivindicações são:

    – 50% das cadeiras em todos os parlamentos municipais, estaduais e federal para negros e negras, pardos e pardas;

    – 50% dos assentos nas Universidades Públicas;

    – 50% das vagas em concursos públicos para novos postos no serviço público, municipal, estadual e federal, no Executivo, Legislativo e Judiciário.

    Isto só para começar. Se começarmos já, temos condições de colocar um Presidente da República negro ou negra ou pardo ou parda em 2018 e empoderar, definitivamente, os negros e negras, pardos e pardas..

    Nós temos que pensar grande e alto e agir com a energia necessária para impor a vontade do povo negro e pardo.

    Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

    Antes que o pior aconteça e a História se imponha.

     

  5. Alguem tem que arrefeicer ,

    Alguem tem que arrefeicer , começaria pelos programas de mídia de desgraça, onde polícia é sempre heroi e na ponta dos canos policias esta sempre o bandido , seja ele honesto, pequeno infrator, mas preferncialmente negro.

  6. O que não consigo entender, é

    O que não consigo entender, é que  a PMRJ tem um grande contigente de PM negros oriundos de comunidades carentes e da mesma classe social ,e são esses policiais que subjungam a sua raça.

    Parece que querem dizer a si, que são diferente dos seus iguais. É a negação da raça,é a não aceitação, e uma forma de tentar ser aceito pela casa grande.

    Eles não percebem que essa violência se volta contra os próprios e os seus.

    Vira um círculo vicioso, de violência gerando violência. E todos nós somos vítimas.

    Matar pretos não vai resolver a questão da violência, até porque, isso vem sendo feito há 514 anos.

    Se fosse o caso …

  7. Um negro já nasce com meia condenação no Brasil

    Se não for à morte, é à execração e à perda da dignidade a qualquer momento, pois sempre está sujeito a ser acusado de um crime qualquer, a qualquer momento. Como aconteceu com Wellington Monteiro Cardoso, aqui no DF. Ele é dono de uma firma de segurança e no reveillon estava trabalhando em um evento aqui no DF. Uma frequentadora da festa postou em sua rede social ter sido expulsa de lá pelo Wellington, levada por ele a um “local ermo” e depois violentada pelo mesmo (http://glo.bo/1RjlpPG).

    Notem que segundo o relato da suposta vítima, ela estava com amigos na festa, o Wellington a teria expulsado, e após violentá-la ela teria retornado à festa (de onde teria sido expulsa…) e ficou lá até amanhecer.

    Wellington não se intimidou: procurou os jornais, deu entrevistas e disse que o ato fora consentido (http://bit.ly/1O8A7mT). Sempre reafirmou sua inocência. Mas aí entra em cena a máquina de moer pessoas que se montou no país – principalmente se o acusado é negro. Descobriram que Wellington já havia sido denunciado por ameaças à ex-mulher em 2008 (bit.ly/1R1JGsj). Foi mais uma situação atípica: a ex-esposa afirmava sofrer ameaças desde 2007, mas resolveu denunciar somente um ano depois. Wellington foi absolvido desse caso – mas isso não veio ao caso pra ninguém, ele já estava previamente condenado. Perdeu os contratos de sua empresa, enquanto era submetido ao linchamento contínuo.

    “Especialistas” deram entrevistas afirmando que Welington era um estuprador, que ele era culpado (bit.ly/1PTOdy6). Uma professora da UnB, doutora em Direito, afirmou que ele era estuprador, e o que é pior é que ela disse a suposta vítima passava por um “julgamentro moral”. Wellington, coitado, esse não passava pelo mesmo? Um juiz aposentado disse que era evidente que a suposta vítima fora estuprada, pois ela não denunciaria nas redes sociais a situação e nem procuraria o IML – Instituto Médico Legal, se não tivesse sido estuprada. Sem ter nenhuma prova, condenou antecipadamentoe o Wellington, mesmo como juiz sabendo que denúncia e investigação não provam nada, enquanto não concluído o inquérito.

    Falando em inquérito: ontem saiu o resultado do inquérito, conduzido pela Delegacia de Proteção à Mulher do DF. Wellington é inocente (bit.ly/20SB0wE). A apuração policial não encontrou nenhuma prova contra ele.Várias testemunhas afirmaram que o envolvimento da suposta vítima com ele começara antes, ainda dentro da festa, e que eles deixaram o local de mãos dadas (a suposta vítima afirmou ter sido expulsa do local por Wellington, lembram?). O exame de corpo de delito não atestou qualquer “incapacidade de reação” – em linguagem técnica, não foram encontrados sinais de que a vítima foi forçada a qualquer ato sexual.

    E aí, os “especialistas” se retratarão? Os que condenaram, xingaram e até ameaçaram Wellington nas redes sociais e expuseram sua foto como estuprador se retratarão? Quem vai pagar o dano sofrido por ele? Perguntas que ficarão sem respostas. Um negro já nasce meio condenado no Brasil…

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