“ria, palhaço, do seu amor despedaçado, ria da dor que te envenena o coração”.

TERÇA-FEIRA, 20 DE ABRIL DE 2010

Hoje tem marmelada?

 
Tem sim senhor!

Lona erguida, artistas preparados, bilheteiro a postos para receber o público. No universo circense cada um exerce um papel e todos tem como obrigação promover o encantamento… 

 

Eu era apenas a bailarina de coração partido que suspirava pelo mágico quando ele chegou. Altivo, experiente, difícil de se apegar… 

O jeito rude e meio insensível se justificava pelo ofício: era o domador, aquele responsável por encher os olhos da plateia ao dominar a fera.

Difícil explicar como tudo aconteceu. Talvez tenham sido os tantos “adeus” que demos pelo caminho. O circo está em constante transformação: muda e se adapta de acordo com os destinos que percorre.

Mas uma coisa é certa: independentemente de qualquer mudança no trajeto, o circo é mágico… nos faz rir de alegria e chorar de melancolia, exatamente como o amor…

 

E se os dois tem tanto em comum, sendo mágico o amor também tem seu quê de ilusionista… nos prega peças e nos faz ver coisas que não são verdadeiras.

Ainda assim, de um jeito totalmente inesperado caímos em sua teia… e fomos muito felizes entrelaçados a ela!

O problema é que enquanto sob o efeito do divino amor, sofremos por sermos humanos e imperfeitos… ficamos à mercê de nossos erros (e como erramos, não foi?)…

Com o passar dos meses passamos a enxergar além do que os olhos apaixonados podem ver. Percebemos nossas fragilidades, as dúvidas e incertezas que nos fazem parar no tempo, ao invés de avançar.

 

O tempo – muitas vezes cruel – me mostrou que a fera do domador nada mais era que seu próprio ego, prestes a engoli-lo ao mínimo descuido.

Assim, minhas coreografias pararam de se acertar com as suas… Estávamos sempre em tempos diferentes…

Errei, erramos…

Mas tentei! De bailarina, fui trapezista. Me esforcei bastante para me equilibrar sobre os nossos defeitos. Aprendi mágica pra tentar encantar a cada anoitecer e cada amanhecer. Engoli sapos afiados como espadas como tinha que ser – e não me arrependo das vezes que tive que ceder.

Só um papel não me coube bem…

Existe uma ária chamada Vesti la Giubba, da ópera Pagliacci, de Ruggero Leoncavallo, que diz “ria, palhaço, do seu amor despedaçado, ria da dor que te envenena o coração”.
 
Embora muitas vezes eu esteja rindo quando quero chorar, sinto muito, não tenho vocação para palhaço. E isso, você deveria saber…
 
Convenhamos… não precisava acabar assim, mas a sua vontade é sempre a que prevalece e por isso, depois dessa última parada não sigo com a trupe.
 
A lona é erguida, os personagens vão se preparar para uma nova estreia… A fera volta pra jaula e o domador – como sempre – segue seu caminho sem fazer questão, nem pedir que alguém o acompanhe.

Para o público e aqueles que viveram sua magia, o circo deixa lembranças. Marcas no coração e belas fotos que um dia vão amarelar nos monóculos.

Boa viagem! O show tem que continuar…
 
 
No final eu sou apenas mais uma. A bailarina que ficou pra trás olhando ele partir…
 

 

Redação

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