Uma jam session depois de horas

Uma deliciosa jam session de 1958, com Cozy Cole, Coleman Hawkins, Roy Eldridge e a cantora Carol Stevens (fotos acima) & Banda, realizados num desses pequenos clubes que deixavam os músicos de jazz à vontade, em sessões conhecidas como “after hours” ou “after midnight”, isto é, o jazz  tocado de improviso depois da meia-noite, ou quando o público pagante já tinha ido embora.

https://www.youtube.com/watch?v=THKo3nYZfkM align:center
 

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Jota Botelho

5 Comentários

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  1. Bravo!

    Deliciosa geléia. Nos bons tempos do jazz, não é. “Na Estrada”, de Kerouac, ela fala dessas sessões de jazz pelas madrugadas novaiorquinas. Acho que trocaria de décadas para ter vivido um pouco dessas transformações e evoluçoes. 

    1. É verdade, Maria Luisa

      Eu até fiz um post tempos atrás sobre a Geração Beats e o Jazz, mas como não coleciono os meus posts, foi-se… (risos). Mas tem essa matéria aqui que é muito interessante: 

      KEROUAC, OS BEATS E O BOP

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      Mestre Muggiati aproveita a badalação em torno do filme “On the Road” de Walter Salles, baseado na obra do beat Jack Kerouac e faz um mergulho na cultura americana, sempre tendo no fundo, a trilha sonora do bebop.

      Não falta jazz nas páginas de On the Road. Charlie Parker, Lester Young, Dizzy Gillespie e Stan Getz são amplamente citados. O jazz é uma espécie de código secreto: “Sentado ali ouvindo aquele som da noite que o bop veio representar para todos nós, pensei em todos os meus amigos de uma extremidade à outra do país…” Kerouac insere até uma mini-história do jazz em seu romance: “Era uma vez Louis Armstrong soprando bonito como ninguém no lodaçal de Nova Orleans; antes dele, os músicos doidos que nas paradas festivas entortavam as marchas marciais e as transformavam em ragtimes…” Um fetiche particular de Kerouac é o pianista cego inglês George Shearing, apelidado de “Deus”. Dean e Sal ouvem um show dele no Birdland de Nova York; 100 páginas depois, voltam a ouvi-lo em Chicago. Dean anuncia:” ‘Sal, Deus acaba de chegar’. Olhei. George Shearing. E,como sempre, estava com a cabeça cega apoiada na mão pálida, ouvidos bem abertos como orelhas de elefante, ouvindo os sons americanos e traduzindo-os para seu uso de uma noite de verão inglesa”.

      Mas o jazz não é ummero tema. Para Kerouac,ele oferece uma técnica narrativa a ser transposta para sua própria prosa, que o poeta Allen Ginsberg chamou de “prosódia espontânea do bop”. Segundo ele, “os músicos do bop estavam se adaptando à cadência da fala dos negros, que conversavam entre si através dos seus instrumentos. Kerouac levou isso para a linguagem falada, usando ritmos mais interessantes do que a poesia e a prosa impressas, para injetar as mesmas emoções da língua falada na língua escrita”. O próprio Ginsberg menciona o jazz logo no início do seu poema mais famoso, Howl/Uivo (1956): “… pobres esfarrapados olheiras fundas e drogados fumavam sentados na escuridão sobrenatural de apartamentos miseráveis sem água quente flutuando sobre os telhados das cidades contemplando o jazz…”

      Kerouac foi bem mais explícito. Na abertura de seu livro de poesias México City Blues (242 Choruses), de 1959, escreveu: “Quero ser considerado um jazzpoeta improvisando um longo blues em uma jam session numa tarde de domingo”. Um ano antes, num artigo intitulado Essência da Prosa Espontânea, ele descreveu seu método: “… linguagem é o fluxo mental tranquilo de ideias palavras pessoais secretas, improvisado (como o músico de jazz) sobre o tema da imagem,nenhuma pontuação, mas o vigoroso traço separando a respiração retórica (como o músico de jazz tomando fôlego entre duas frases), pausas marcadas que são a essência danossa fala. Improvise tão fundo quanto quiser, escreva tão fundo, procure tão longe quanto quiser, satisfaça primeiro a si mesmo e o leitor também receberá o choque telepático e o significado-excitação pelas mesmas leis que operam na sua mente”.

      É bom deixar claro o tipo de jazz que marcou Kerouac. Aos18 anos, ele publicou no jornal da universidade um artigo sobre Glenn Miller. Tentou entrevistar o bandleader e surpreendeu-se ao vê-lo berrando palavrões como qualquer mortal. O jovem Jack gostava do som convencional das big bands do Swing. Foi através do amigo Jerry Newman, dono de uma pequena gravadora, que conheceu o bebop e despertou para a revolução cultural dos jovens músicos negros que criavam o jazz moderno. O culto da espontaneidade insinuava-se na nova estética do pós-guerra: na action painting de Jackson Pollock, no Actor’s Studio de Brando e James Dean, na concepção cênica do Living Theatre, no cabaré satírico de Lenny Bruce, no jornalismo do Village Voice, nos cartuns de Jules Feiffer, na improvisaçãodo bop e na literatura beat.

      Jack foi até homenageado com o título de uma das primeiras músicas gravadas do bebop, uma improvisação assinada pelo guitarrista Charlie Christian e pelo trompetista Dizzy Gillespie. Jerry Newman gravou-a ao vivo em 1941 no Minton’s, uma boate do Harlem. Baseado na grade de acordes do standard Exactly Like You, o tema precisava de um título, para não pagar direitos autorais. Jerry sugeriu Kerouac. Mesmo desconhecendo Jack, Dizzy gostou do som e topou.

      Outras afinidades: Kerouac escreveu o texto original de On the Road num rolo de papel de 36 metros de comprimento, datilografando direto em 20 dias (de 2 a 22 de abril de 1950)– algo parecido a um longo solo de jazz, sem nenhuma interrupção no fluxo criativo. O beat que batizou o movimento vem igualmente de beat (beatífico) e beat (batida do jazz). A própria expressão “on the road” já era usada nos anos 1930 no jargão dos músicos de bandas, que viviam “na estrada”, tocando cada noite numa cidade diferente.

      Kerouac não só foi o grande artífice da fusão jazz + literatura. Teve a sorte – graças à notoriedade de On the Road – de gravar vários discos, recitando acompanhado pelo piano de Steve Allen ou até dizendo haicais e cantando blues apoiado por seus dois saxofonistas favoritos, All Cohn e Zoot Sims. Comsua voz clara e envolvente, Jack transmite todo o seu fascínio pela palavra oral, pode-se até falar numa verbalidade orgástica. O movimento beat desembocou inexoravelmente na grande revolução mochileira dos hippies, no jazz&poetry e nos road movies, no rock de Lou Reed, Tom Waits, Rickie Lee Honese Patti Smith e – porque não? – do velho Dylan, até hoje na estrada com sua Never Ending Tour, que completou 24 anos na quinta-feira, 7 de junho. A turnê interminável, que contou com a participação entusiástica de Allen Ginsberg. Na comemoração dos 25 anos de “On the Road”, Ginsberg disse: “Queríamos falar em público como fazíamos na intimidade, queríamos provocar um terremoto cultural”. Quem sabe – sem se darem conta disso – os beats provocaram um tsunami na arte e na literatura do nosso tempo.

      Roberto Muggiati, O Estado de São Paulo, 09/06/2012

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      [video:https://www.youtube.com/watch?v=it5SqN3aMuE align:center]
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      1. O ‘começo’ da jam session


        Hammond numa jam session com Buck Clayton, Lester Young, Charlie Christian, Benny Goodman e Count Basie. Obs.: são famosíssimas as jam session de John Hammond, que muitos acreditam existem/existiam fitas gravadas por ele (fora do estúdio) em suas reuniões com os músicos de jazz.  

        Tudo começou com o pioneirismo de John Hammond, que era mais do que um observador de talentos, mas um produtor experiente. Ele também tinha a capacidade de reunir músicos em colaborações que resultaram em algumas das gravações mais aclamadas da história do jazz. Ele dizia que queria “ver as faíscas musicais pegarem fogo”. Em julho de 1935, ele organizou uma sessão de gravação que foi um marco no jazz, com Teddy Wilson no piano, Gene Krupa na bateria, e Benny Goodman na clarinete, se tornando a primeira gravação do The Benny Goodman Trio.

        Benny Goodman Trio – Body And Soul – 1935

        [video:https://www.youtube.com/watch?v=Ko2c5yJp8G8 align:center]

        Benny Goodman Trio – China Boy & Sheik Of Araby (com imagens do trio em 1961)

        [video:https://www.youtube.com/watch?v=O_h-saU6gNA align:center]


        Billie Holiday ainda principiante

        Poucos dias após esta sessão, John Hammond trouxe pela primeira vez Billie Holiday, que se juntou a Teddy Wilson e Benny Goodman, para o estúdio de gravação, e que acabou sendo considerada uma das formações mais “inspiradas na história do jazz”.

        Billie Holiday – Miss Brown To You – 1935 (sobre esta lendária gravação AQUI

        [video:https://www.youtube.com/watch?v=jTnoIDRxEbc align:center]


        John Hammond e Count Basie

        Ele ainda ouviu uma transmissão ao vivo, pelo rádio de seu carro, num fim de noite, de Count Basie e sua Orquestra tocando no Reno Club, em Kansas City, que lhe chamou muita a atenção, razão pela qual resultou em contratá-lo para vir tocar na Costa Leste, fazendo da banda de Count Basie um sucesso nacional. (Como ele conheceu e ajudou a lançar a carreira de Count Basie AQUI)


        From Spirituals to Swing, 1938 (dedicado à Bessie Smith) 

        Em 1938, John Hammond coroava a primeira década de sua carreira, reunindo pela primeiríssima vez um elenco exclusivamente de negros, que se apresentaria no Carnegie Hall cantando blues e gospel, formado por artistas como o bluesman Big Bill Bronzy, que tomou um ônibus de sua casa em Arkansas para estar no concerto, e o gaitista Sonny Terry; de Nova Orleans, o legendário Sidney Bechet no sax soprano; no piano Albert Ammons, um dos mestres do boogie woogie; Count Basie e sua Orquestra, e Sister Rosetta Tharpe cantando hinos gospel e spirituals.

        Sister Rosetta Tharpe no vocal e guitarra & Albert Ammons no piano em From Spirituals to Swing, no Concerto do Carnegie Hall, 1938 

        [video:https://www.youtube.com/watch?v=kcpgTzDpW-Q align:center]

        Do 
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        1. Obrigada

          Lendo e ouvindo toda essa beleza. Ja tive o prazer de ouvir o blues da Nova Orléans e que musicos, caro  Botelho. Daqueles que tocam com o corpo todo, a cabeça e os olhos fechados. Uma performance delirante.

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