Em festa dominada por Lula, Dilma acusa adversários de usar ‘veneno’

    Lançada oficialmente pelo PT como candidata à sucessão presidencial, ex-ministra assume o figurino de herdeira política do atual titular do Planalto, responde a José Serra com discurso em tom agregador e promete ‘continuar o Brasil de Lula’Festa. PT preparou megaespetáculo para Dilma, mas a estrela foi mesmo Lula

BRASÍLIA – Na convenção do PT que oficializou no domingo, 13, sua candidatura ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff prometeu fazer um governo de “união de forças” e vestiu o figurino de herdeira do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no inventário petista. Numa espécie de simbiose com seu padrinho político, ela disse que, eleita, continuará o “Brasil de Lula”, com alma e coração de mulher.

   

“Sei como buscar a união de forças e não a divisão estéril”, afirmou Dilma. “Sei como estimular o debate político sério e não o envenenamento, que não serve a ninguém.” Foi, na prática, um recado ao adversário do PSDB, José Serra, para quem o governo do PT joga “pobres contra ricos” e quer dividir o País.

O PT preparou um megaespetáculo para o lançamento de Dilma, com show de luzes e cores, mas a estrela da festa foi mesmo Lula, de longe o mais aplaudido. Ao lembrar que pela primeira vez seu nome não estará na chapa, desde a redemocratização e em 30 anos do PT, o presidente aproveitou para colar sua imagem à de Dilma.

“Vai haver um vazio na cédula e, para que esse vazio seja preenchido, eu mudei de nome e vou colocar Dilma lá na cédula. Aí as pessoas vão votar”, gritou Lula, sob aplausos da plateia, composta por cerca de 1,8 mil petistas. Ele estreará nos palanques de sua afilhada após voltar da África do Sul, onde assistirá à final da Copa do Mundo, em 11 de julho.

Dilma fez um discurso de 50 minutos, mas não empolgou os militantes. Citou 18 vezes Lula e em outras 22 iniciou a frase com um “Para o Brasil seguir mudando”, nome da coligação que sustenta sua candidatura, formada por sete partidos (PT, PMDB, PSB, PC do B, PDT, PR e PRB). Ex-ministra da Casa Civil, ela prometeu “aprofundar o olhar social”, “governar para todos” e “erradicar a miséria” .

Ao lado do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), candidato a vice em sua chapa, Dilma investiu no discurso agregador, contra a divisão do País, dando estocadas em Serra e na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Embora sem citar o nome dos tucanos, não deixou dúvidas sobre quem falava.

Estorvo e carga. “Historicamente, quase todos os governantes brasileiros governaram para um terço da população. Para muitos deles, o resto era peso, estorvo e carga”, alfinetou a candidata do PT. “Falavam que tinham que arrumar a casa primeiro. Falavam e nunca arrumavam, porque é impossível arrumar uma casa deixando dois terços dos filhos ao relento, à margem do progresso e da civilização.”

Ainda sem entusiasmar a plateia, que soltava tímidos aplausos, Dilma comparou o Brasil de gestões passadas a “uma casa dividida”, marcada pela injustiça e pelo ressentimento. Aliado do PSDB no governo Fernando Henrique, Temer garantiu que o PMDB entrará “com a sua alma” na campanha. “A classe média, convenhamos, foi ao paraíso no governo Lula”, comentou.

A candidata do PT dedicou boa parte do pronunciamento à apresentação de linhas gerais de seu programa de governo, como reforma política e ampliação dos investimentos em educação. “Continuar não é repetir. É avançar”, insistiu.

Sem responder diretamente às críticas do rival, que durante convenção do PSDB, na véspera, disse não ter caído de paraquedas na política, Dilma pregou um “debate de alto nível”. Avisou, porém, que vai confrontar “projetos e programas”. A estratégia do comando petista prevê uma campanha plebiscitária entre Dilma e Serra.

“Vamos esclarecer ao povo que somos diferentes dos outros candidatos. Mas, depois de eleitos, governaremos para todos, como fez Lula, o presidente que mais uniu os brasileiros”, argumentou a ex-ministra.

Mulheres. Decorada com imensos painéis exibindo uma Dilma sorridente, de mãos dadas com Lula, a convenção foi preparada para ser uma “celebração à mulher brasileira”. Várias delas, que se destacaram na arte e na política, em épocas diferentes – como Anita Garibaldi, Chiquinha Gonzaga e Rose Marie Muraro – foram ali homenageadas.

Ao defender um governo de coalizão, Dilma parecia à vontade ao lado dos novos aliados – desafetos do PT num passado não muito distante, como o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). “É mais que simbólico que, nesse momento, o PT e os partidos aliados estejam dizendo: “Chegou a hora de uma mulher comandar o País” “, afirmou a candidata. “Creio que eles têm toda razão. Nós, mulheres, nascemos com o sentimento de cuidar, amparar e proteger.”

Diferentemente de outras convenções do PT, em que o vermelho predominava, o ato de ontem foi marcado pelas cores da Bandeira do Brasil. Muitos estandartes empunhados por militantes eram brancos.

Escaladas pelo marqueteiro João Santana, oito meninas – filhas de funcionários e dirigentes do PT – subiram ao palco, no fim do ato, ostentando a faixa presidencial. A ideia era mostrar que uma mulher pode chegar ao Planalto. Dilma deixou a convenção jogando beijos para a plateia e fazendo um coração no ar.

Redação

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