Resgate de Luciano Hortencio
A MULATA – Mello Moraes Filho – Xisto Bahia
Eu sou mulata vaidosa,
Linda, faceira, mimosa,
Quaes muitas brancas não são!
Tenho requebros mais belos,
Se a noite são meus cabelos,
O dia é meu coração.
Sob a camisa bordada,
Fina, tão alva, arrendada, bis
Treme-me o seio moreno:
É como o jambo cheiroso,
Que pende ao galho frondoso bis
Coberto pelo sereno.
Nos bicos da chinellinha,
Quem voa mais levezinha, bis
Mais levezinha do que eu?
Eu sou mulata tafula,
No samba, rompendo a chula, bis
Jamais ninguém me venceu.
Ao afinar da viola,
Quando estalo a castanhola, bis
Ferve a dança e o desafio.
Peneiro n’um mole anseio,
Vou mansa n’um bamboleio bis
Qual vai a garça no rio.
Aos moços todos esquiva,
Sendo de todos captiva, bis
Demoro os olhares meus ;
Mas, se murmuram : maldita!
Bravo, mulata bonita! bis
Adeus, meu yoyô, adeus.
Minhas yayás da janella
Me atiram cada olhadella, bis
Ai dá-se mortas assim .
E eu sigo mais orgulhosa
Gomo se a cara raivosa bis
Não fosse feita pra mim.
Na fronte ainda que baça,
Me assenta o torço de cassa, bis-
Melhor que croa gentil.
E eu posso dizer ufana, bis
Que, qual mulata bahiana, bis
Outra não ha no Brasil.
Nos meus pulsos delicados
Trago corais engraçados, bis
Contas d’ouro e coralinas.
Prendo meu panno á cintura, bis
Que mais realça á brancura, bis
Das salas de rendas finas.
Se arde um desejo agora,
De meus affectos senhora, bis
Sei encontra-lo no amor.
Minh ‘alma é qual borboleta, bis
Que voa e voa inquieta, bis
Pousando de flor em flor.
Meus brincos de pedraria
Tombam, fazendo harmonia, bis
Com meu cordão reluzente.
Na correntinha de prata, bis
Tem sempre e sempre a mulata, bis
Figuinhas de boa gente.
Eu gosto bem d’esta vida,
Que assim se passa esquecida, bis
De tudo que é triste e vão.
Um dito repenicado,
Um mimo, um riso, um agrado, bis
Captivam meu coração.
Nos presepes da Lapinha,
Só a mulata é rainha, bis
Meiga a mostrar-se de novo.
De minha face ao encanto,
Vai-se o fervor pelo santo, bis
Pra o santo não olha o povo.
Minha existência é de flores,
De sonhos, de luz, de amores, bis
Alegre como um festim.
Escrava, na terra um dono,
Outro no céu sobre um throno, bis
Que é meu Senhor do Bomfim.
Na fronte ainda que baça,
Me assenta o torço de cassa, bis
Melhor que croa gentil.
E eu posso dizer ufana, bis
Que, por mulata bahiana, bis
Outra não ha no Brasil.
Obs: Clara Petraglia interpreta apenas algumas estrofes e não segue a sequencia original.
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.
Nesses tempos em que se discute tanto o politicamente correto
as marchinhas tão inocentes e brejeiras são documentos histórico-sociais de um tempo. Bom.
Abraço.
Di Cavalcanti
[video:https://www.youtube.com/watch?v=HrTyIs4zx2o%5D
Mulata – ano de 1906
[video:https://www.youtube.com/watch?v=j7YFbIFFHeo%5D
Obrigado.