Luciano Hortencio
Música e literatura fazem parte do meu dia a dia.
[email protected]

Nerize Paiva passou o Natal no céu!

Nerize Paiva

Nerize Paiva festejou esse Natal no céu. Foi chamada pelo Menino Jesus em 24 de dezembro, uma vez que já havia sofrido muito, tanto de dores físicas, quanto pelo ostracismo a que foi relegada. A cantora pernambucana não fugiu à regra aplicada no Brasil, de se olvidar o artista tão logo deixe de atuar. Já o grande Paulo da Portela preconizava: “O meu nome já caiu no esquecimento. O meu nome não interessa a mais ninguém”.

Sou honesto em afirmar que conheci Nerize Paiva somente através de três interpretações suas (aqui editadas em vídeos) e isso depois que a cantora pernambucana já estava em plena paz. Fui avisado gentilmente pelo pesquisador Bruno Negromonte, de sua partida à véspera do Natal.

Como não havia praticamente nada na internet sobre Nerize Paiva, que, ao cantar frevos, frevos-canções e a alegre música pernambucana, atiçava a moçada da época ao dar estupendas rodadas que lhes mostravam as pernas, consegui, com a ajuda do amigo Bruno Negromonte e Abílio Neto as fotos aqui anexadas. Os fonogramas, consegui através do pesquisador cearense Miguel Ângelo de Azevedo, conhecido nacionalmente como Nirez, que sempre me dá uma mão forte quando solicito um fonograma difícil de ser encontrado.

Na absoluta impossibilidade de apresentar dados biográficos de Nerize Paiva, tomei a liberdade de aqui trazer comentários de pesquisadores e admiradores da cantora pernambucana que teve a honra de ser chamada pelo Menino Jesus para festejar, logo no primeiro dia de sua chegada, o Natal no céu!

“Gostaria de comunicar aos amigos pesquisadores Luciano Hortencio e Samuel Machado Filho (e todos os demais amigos admiradores de nosso cancioneiro popular) o falecimento no último dia 24 da cantora pernambucana Nerize Paiva. Nerize, que morreu em total ostracismo, encontrava-se já há algum tempo hospitalizada no Hospital Naval aqui da cidade do Recife, decorrente de uma série de problemas de saúde. Inclusive, se comunicando nos últimos meses através de gestos e olhares, devido ao agravamento do seu estado de saúde.” (Bruno Negromonte)

“Nerize Paiva causava furor nos auditórios, porque, no auge da música, dava uma rodada que levantava a saia. Os homens e adolescentes (e meninos também, confesso) iam ao delírio. “Assisti diversas vezes Nerize no Pátio do Terço (atual Rua Vidal de Negreiros) no bairro de São José, participar de shows comandado pelo animador Manuel Malta da Rádio Jornal do Commercio. Este programa chamado “A felicidade bate a sua porta” era realizado em cima de caminhões, sob o patrocínio dos Produtos Cristal (Sabão Português). A turma do “gargarejo” ficava olhando para cima para se deleitar com suas belas e grossas pernas. Descanse em Paz, Nerize Paiva!” (Frederico Jimeralto)

https://www.youtube.com/watch?v=GYN9kQLdcwE]

“Meus sentimentos à família da Cantora Nerize Paiva. Como quase sempre, os nossos Artistas findam as suas brilhantes vidas sem ao menos a dignidade de cuidados especiais pelo fato do seus valores serem meramente elogiados quando ainda produzem, e no tocante as finanças, quase que unanimemente, são desrespeitados, salvo poucas exceções. – Só para citar alguns: Maestro Caruaru, Villa-Lobos, Beethoven, Bedřich Smetana, entre muitos outros desafortunados. Viva a Música de Qualidade. Sempre.” (Dadá Malheiros)

“Esta segunda foto é de Nerize Paiva também. Só que de peruca. Ela era negra e tinha o cabelo, como se dizia na época, pixaim. Por isso ela sempre o usou tão curto. Tenho uma foto dela de 2012. Se quiser é só pedir, Luciano.” (Abílio Neto)

 Nerise Paiva se apresentou inúmeras vezes nos programas de auditório da Rádio Difusora de Pesqueira nos anos 50 e 60. Era o tipo de cantora que levantava a plateia pela a animação. Os apresentadores a chamavam (salvo engano) de A BOMBA ATÔMICA DO NORDESTE. Pertenceu durante muito tempo ao cast da Rádio Jornal do Commercio.” (Walter Jorge de Freitas)

[video:https://www.youtube.com/watch?v=MMSlzhnO8O0

 

 

Luciano Hortencio

Música e literatura fazem parte do meu dia a dia.

13 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Até quando o Brasil

    Até quando o Brasil continuará sendo ingrato e estúpido com as grandes celebridades nacionais. Todos os dias vemos pessoas como Nerize Paiva envelhecendo numa enorme pobreza, ou mesmo na miséria, sem que a imprensa cite ao menos o dia de sua morte. Isto é uma das coisas mais feias de nosso povo. 

    Sem sair do tema, ontem a RECORD fez uma retrospectiva das ceelbridades que partiram neste 2014. Fiz questão de ver a relação. Ao final, para meu espanto, nenhuma palavra sobre Ariano Suassuna. Os citados foram importantes para a cultura brasileira, mas nenhum teve o peso de Ariano. Como explicar isso?

    1. Amiga Maria Rodrigues!

      Nossa homenageada faleceu depois de muito sofrimento físico e esquecida pela mídia e por seus antigos fãs. Não morreu em extrema pobreza não, segundo o pesquisador Abílio Neto. 

      Transcrevo aqui o comentário de Abílio Neto, no facebook:  Quero ressaltar que Nerize Paiva morreu no esquecimento artístico, mas não em situação financeira muito ruim. Ela era casada e o marido tinha um bom apartamento no bairro da Imbiribeira. Era lá que os amigos a visitavam quando completava idade nova. No auditório da Rádio Jornal, Nerize causava muito furor era cantando “Sebastiana”, que ficou famosa com Jackson do Pandeiro. Ela levava os homens à loucura. Até o começo da década de oitenta, a Rádio Jornal tinha os rolos de fita com gravações ao vivo de Sivuca, Hermeto, Nerize, Jackson e artistas vindos do sudeste. Depois um gerente comercial profundo amante da cultura, mandou descartar tudo. Foram pro lixo mesmo… Tem um forró que ela deixou gravado no volume I da coletânea “Forró Alagoano”. O amigo Eliezer Setton, grande artista, que se faz presente na coletânea II, talvez conheça alguém que tenha o arquivo em MP3 da participação dela. Isso foi por volta de 1979 ou 1980. Salvo engano meu, Nerize morreu aos 75 anos. Obrigado!

    2. O “esquecimento” da RECORD

      A Maria Rodrigues espantou-se com a ausência do nome de Ariano Suassuna entre as “…celebridades que partiram neste 2014”.  E finaliza perguntando: “Como explicar isso?”

      Aí está! Maria, Ariano carrega o “pecado” de ser nordestino, de não ter nascido no “eixo Rio-São Paulo”, no “Sul maravilha”.

      É triste que seja assim. Mas, lamentavelmente, é a realidade. A “Belindia” existe, sim, e não é só na cabeça de algumas pessoas. Por mais que neguem, há, sim, preconceitos. 

      Imagine só Maria: se “esqueceram” de Ariano Suassuna, que dizer de Nerize Paiva? Ariano esteve em atividade e reconhecido – não tinha como negar, “né”? – nacional e internacionalmente até os últimos dias. O destino de Nerize foi, infelizmente, de outra forma.

       

    1. Agora Nerize Paiva está em paz!

      Amigo João Bosco,

      Nossa homenageada estava, há vários anos, sofrendo de males do corpo, além do sofrimento que deveria sentir por se ver abandonada e esquecida pelos seus antigos fãs.

      Agora tudo passou. Está em paz!

      Feliz Ano Novo pra você e sua família!

      luciano

  2. Eu não virei macaco

     

    “O caos é vizinho de Deus, mas tudo é limpo e arrumado no inferno.”

    [video:http://youtu.be/3TZ0fmoossk width:600 height:450]

    Por Daslan Melo Lima

              “Dizem que em sessenta nego vai virar macaco! / Olham vejam só que grande confusão! ” Assim começava o frevo pernambucano “Operação Macaco” , de Nelson Ferreira e Sebastião Lopes, na interpretação de Nerize Paiva, muito tocado nas rádios durante um carnaval da minha infância alagoana em São José da Laje. Comentava-se que um “profeta” americano teria dito que quando chegasse o ano de 1960 todos os negros virariam macacos. Se fosse hoje, um assunto desse não teria credibilidade alguma na mídia, assim como a música, politicamente incorreta, jamais seria gravada.

       (…)

              Voltando ao frevo “Operação Macaco”, eis a letra completa da música:

    “Dizem que em 60 nego vai virar macaco. / Ora vejam só que grande confusão. / Se for verdade essa Operação Macaco, / penca de banana vai custar um milhão. /// Quem mata um gato tem sete anos de azar. / Tem nego como o diabo fazendo tchuitchui. / Se for verdade o que diz o profeta, / o que seria de Pelé ou do Didi?/ Nego é gente igual a gente, / muito preto existe pra ninguém botar defeito. / Profeta toma jeito, / cuidado com a negrada, / se ela te pega vai dizendo, olha a papada.”

              Os tempos mudaram. Barack Obama é negro e é presidente dos Estados Unidos. Leila Lopes, Miss Angola,  é negra e é Miss Universo.  Não sei até que ponto a cor da minha pele me fez perder algumas oportunidades, mas consegui o meu lugar ao sol. No entanto, o menino que um dia eu fui não esquece das lágrimas que derramava quando certa pessoa  gracejava:  “Lá vem ele ! O  rabo dele já está saindo! Daqui a uns dias,  ele vai virar macaco!” 

                Na semana em que se celebra a consciência negra, o menino que um dia eu fui dar as mãos ao vento, olha para o céu, agradece a DEUS pelos encontros e desencontros da caminhada  e grita em silêncio: Que bom que tudo isso faz parte do passado ! Que bom que eu não virei macaco!

    Fonte: http://passarelacultural.blogspot.com.br/2011_11_01_archive.html

    Compac.	Jô Gomes E Nerize Paiva		01 - Chero De Amor	Mocambo

    Pessoal,

    Eu me recordo da Nerize Paiva, “A Bamba Atômica dos Auditórios” – acho que era o Tavares Maciel que assim dizia.

    Pois bem,  num circo (todo fulêro) em Ribeirão, a Nerize aparece cantando esta música e levantando a saia.

    Ela quase (quaje) acaba com a minha saúde e de tantos outros meninos da época (começo dos anos 60) que mal viam um joelho se deparavam com a “caçola” preta de Nerize.

    Envio-lhes a música agora e um link, com este e  mais outos três baiões para quem quizer baixar, inclusive um inedito de Luiz Gonzaga: Baião no Bráz”
     
    Abraços!

    Eu era garoto e não esqueço dela cantando na rádio.

    Mas o que não esqueço mesmo foi ela cantando no auditório do Ginásio Municipal, em Palmares, ameaçando o tempo todo levantar a saia, enquanto cantava e o auditório em suspense, esperando o “lance”. 

    Ao final, ela deu uma rodada, mostrou as calçolas pretas e aquele par de coxas morenas.

    Foi um delírio!

    R’Minino, eu daria tudo pra ter notícias de Nerize Paiva.

    Isaias Caetano , Rio de Janeiro – PE

    Fonte: http://www.luizberto.com/coluna/correspondencia-recebida/page/128

    1. Nerize Paiva!

       

      Dom JNS!

       

      Quando eu crescer, certamente serei como você! Essa foto, depois de desvirada e recortadinha, nos dá mais uma mostra do trabalho artístico de Neriza. Sabe, meu Guru, Nerize realmente parece ter sido do papoco…

      Uma pequena correção ao texto que trouxeste. Nerize não era tão somente a bamba dos auditórios não. Era conhecida como A BOMBA ATÔMICA DOS AUDITÓRIOS!

      E tome polca!

      1. TFP

         

        Temor do Ceará

        A Nerize veio de pernas prá cima – nem sei se ela tá de saia nesta foto – e você Lucianoim,

        Bom Moço da Tradicional Família Cearense,

        corrigiu a impostura dela.

        Tradição, Família e Putaria não pode!

        Pode?

  3. Luciano, são pequenos gestos

    Luciano, são pequenos gestos como este que acaba por engrandecer o trabalho que você faz em pró da música popular brasileira. Obrigado por eternizar a já saudosa Nerize através do seu canal no youtube e aqui. Um 2015 iluminado! Abraços sonoros!!

    1. Amigo Bruno Negromonte!

      Muito feliz em receber aqui um comentário do amigo e responsável pelo excelente site de pesquisa musical MUSICARIA BRASIL!

      Sou eu quem agradece à sua gentileza de comunicar-me o falecimento de NERIZE PAIVA. Fizemos, ambos, nossa obrigação de não deixar de registrar o trabalho de quem passou a vida se dedicando à música.

      FELIZ ANO NOVO!

  4. Nerize Paiva passou o Natal no céu

    Prezado Luciano:

    Apenas mais um adendo: outra música que Nerize cantava e abalava as estruturas do auditório da JC era “Vai Lavar o Siri”, que foi gravada inicialmente em 1959 pelo cantor pernambucano Barbosa da Silva, co-autor do “Mambo da Cantareira”. Abçs

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador