Luciano Hortencio
Música e literatura fazem parte do meu dia a dia.
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O Capim Limão de Raul Misturada & Bruno Moritz

Ganhei do amigo Manuel Jimenz esse CAPIM LIMÃO, fruto do esforço conjunto dos artistas pernambucano Raul Misturada e do catarinense Bruno Moritz. Desse excelente disco fiz uma saborosa limonada e, como não poderia deixar de ser, um reconfortante chá de capim limão que divido com todo mundo. Divido-o, porém, em doses homeopáticas, a fim de que todos tenham a curiosidade de ouvi-lo por inteiro e comprem o disco. Afinal, esse foi lançado em 2012, é de excelente qualidade e os artistas são jovens e merecem ser prestigiados.

 

Na opinião do Veim do Ceará, quem não for como Dom JNS, que só gosta de chá de capim canela, deve adquirir esse belo trabalho, não só por sua excelência artística, porém também por ser curativo, debelando dores incontáveis. Enumeramos somente algumas: Dor de cotovelo, espinhela caída, panarício inflamado, dor nas cadeiras, dor de corno, dor no grugumi, dor nas bitacas, dor de solidão, dor de preguiça e todas as dores possíveis e imagináveis.

FUI!

 

 

 

Luciano Hortencio

Música e literatura fazem parte do meu dia a dia.

20 Comentários

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  1. Sogrão Querido

     

    Senta e analisa esta imensa tristeza de um JéCocker mineiro

    Empedernido parceiro, pesquisador musical, causídico e escribalista temporâo.

    Estamos, aquí nas Gerais, felizes por você ter recuperado a sua plena saúde nasal.

    Para não sofreres o mesmo perrengue, atrevo-me a deixar uma providencial receitinha procê, Meu Véi.

    Prestenção e anotaí direitinho, para não sofrer outra vez: quem tem rinite alérgica nunca deve lutar capoeira.

    Se jogue e seja feliz, sem moderação: se você imagina que eu seja bom partido, então m’imagina inteiro, uai!

    Você, grande catedrático dos trocadilhos infames e machistas, sublimes expressões da cultura popular, que foram castradas pelo represamento politicamente correto – isso dá processo, hein! – e por quem continua supunhetando que é possível ficar de bem com o mundo inteiro, durante o tempo inteiro, acha que pode passar a perna no seu Parça, assim, sem mais e nem menos?

    Mestre, não vou enviar discos ou pendrives de gravações novas ou antigas, mas, por favor, não esqueça de inserir, no seu canal, um vídeo no Mortimídia do Dia do LNO, para tentar aliviar a Tristeza deste Jeca Mineiro, que trupica mas num cai, diante das adversidades.

    O motivo, Parceirinho, é que o meu gato morreu em miados do ano passado.

    Sim – pode acreditar –  o Joe, infelizmente, Cocker, mas Eu ainda não…

    Tô aí nas quebradas, Chefia!

    Ainda…

  2. Todo ano, todo ano….

    Sogrão ? Eita, Luciano, cê arrumou uma…  🙂  E esse tal de capim-canela ? Dom Jones sempre peremptorio ao afirmar ser mais chegado em cravo e canela do que capim limão, né merrmo?!

    Amigo Luciano, estou a volta com a familia, a brasileirada que chegou e a festa do curumim ficou completa. Espero que tenha tido bom natal, em paz, e que o réveillon seja alegre, com muita musica!!!

    Gostei desse Capim limão. Deu vontade de uma boa xicara 😉

    Abraços.

     

    1. Makaxeira Mixturada

       

      No ano novo, desejo que você sonhe, à reveria, com macaxeiras brutais.

      [video:http://youtu.be/-KjMoxq6saM width:600 height:450]

      Veja os significados dos sonhos recorrentes:

      . A mandioca, no sonho, simboliza vida e fartura e, inclusive, que você gostaria de voltar ou conhecer as suas raízes.

      . Comer mandioca ou seus derivados durante o sonho significa que você passará por um período de mudanças e será para melhor.

      . Plantar mandioca durante o sonho indica que colherá os frutos de sua perseverança e trabalho árduo.

      . Arrancar mandioca indica abundância e estabilidade financeira.

      Tá excrito: http://www.livrodosonho.com/significado-dos-sonhos-sonhar-com-mandioca-7789.htm

      Maria Luisa, você conhece outras interpretações dos sonhos espúrios com macaxeira?

  3. Canto de um povo De um lugar

     

    “Todo dia o sol levanta
    E a gente canta
    Ao sol de todo dia

    Fim da tarde a terra cora
    E a gente chora
    Porque finda a tarde

    Quando a noite a lua mansa
    E a gente dança
    Venerando a noite

    Madrugada, céu de estrelas
    E a gente dorme
    sonhando com elas.”

    1. limonada

       

      A fala brasileira é mutante e díspare, cada região tem sua peculiaridade. Como romper regras da língua sem cair no vale-tudo?

      Se não houver norma não há como transgredir. A língua tem variantes, mas temos de ensinar a escrever o padrão. Quem transgride tem nome ou peito que o faça e arque com as conseqüências. Mas insisto que a escrita é apenas o registro da língua falada. De Machado de Assis pra cá, tudo mudou. A língua alemã fez reforma ortográfica há 50 anos, correta. Aqui, na minha geração, já foram três reformas do gênero, uma mais maluca que a outra. Botaram acento em “boemia”, escreveram “xeque” quando toda língua busca lembrar o árabe shaik, insistiram que o certo é “veado” quando o Brasil inteiro pronuncia “viado”. Chamar viado de “veado” é coisa de viado. Quando chegaram a tais conclusões? Essas coisas são idiotas e cabe a você aceitar ou não. Veja o caso da crase. A crase, na prática, não existe no português do Brasil. Já vi tábuas de mármore com crase errada. Se todo mundo erra, a crase é quem está errada. Se vamos atribuir crase ao masculino “dar àquele”, por que não fazer o mesmo com “dar àlguém”? Não podemos.

      O estrangeirismo empobrece a língua portuguesa?

      De maneira nenhuma. Antigamente, tivemos palavras como porta-seios, uma coisa muito feia, que felizmente foi substituída pelo galicismo “sutiã”. Toda língua é invadida e, como mulher, fecundada. De vez em quando a nossa leva na bunda, mas nada que, lavada, não fique novinha. Houve tempo em que o galicismo era uma aberração. Não se podia escrever “amante”, mas “amásia”. Era assustador. Uma vez, era menino, escrevi um conto em que um cara sai pela rua gritando: “Assassinato! Assassinato!” Quiseram que eu colocasse, por respeito à língua, “assassínio”, pra evitar o “galicismo”… Quem sai à rua gritando “Assassínio!” é bicha.

      O suco de limão (art lábio limão) por Chuchy5

      Cumandante, se for prá nóis morrê de batida, que seja de limão, uai!

  4. Seu Alves

    O SAPATEIRO POETA DO PAPICU

    A versão cearense do poeta Gentileza

    Angélica Goiana | 07/05/2013

    “Essa história é complicada, não tive nenhuma comunicação. Me senti violado, desconsiderado, tá certo que eu não sou nada na vida, mas eles não podiam ter feito isso”. É assim que Honorato Alves Pereira, 73 , mais conhecido como “seu Alves” inicia e descreve a própria história: a do sapateiro-poeta do Papicu, bairro localizado na zona-leste da capital cearense.

    Seu Alves, ao lado da placa de madeira com seu nome, na entrada de sua oficina em Fortaleza

    Há 23 anos ele trabalha como sapateiro em um dos pontos mais movimentados da cidade de Fortaleza, no horário de oito da manhã até às quatro da tarde, exercido religiosamente de segunda a sábado, embaixo de um puxadinho feito de madeira construído por ele mesmo. É nesse local que seu Alves tirou o ‘sustento’ para criar uma família numerosa.

    “Filhos eu sei que são dez, agora os netos ainda não consegui contar direito, só os bisnetos, sei que são cinco”, contabiliza o homem que também foi carpinteiro e eletricista.

    O sapateiro-carpinteiro há doze anos virou também escritor, quando resolveu utilizar o muro de um terreno localizado na Avenida Engenheiro Santana Junior para escrever mensagens que exaltam o amor e a família.

    “Eu tenho isso aqui como um livro, eu coloquei isso para orientar as pessoas, as famílias estão se desfazendo.” Muitas mensagens escritas são em homenagem à mãe de seu Alves. “Não gosto muito de falar sobre a minha mãe, mas me lembro que ela sempre dizia: – meu filho, eu não tenho estudo, se eu pudesse, eu te dava. Cheguei a pedir esmolas com ela”, confessa entre lágrimas.

    O sapateiro não sabe quantas mensagens escreveu, mas sabe que algumas conseguiram alcançar o objetivo. “Teve gente que veio aqui só me dizer que um dia foi tocado pelas minhas mensagens.”

    A fama do sapateiro-escritor ultrapassou os limites da cidade, “vários estudantes e jornalistas de outros lugares vieram só ver minhas mensagens, teve gente da Itália, da França e do Paraguai. Eu tenho tudo guardado, todas as reportagens, tá tudo plastificado lá na parede da minha casa. Eu sou o Gentileza-cearense”, sorri enquanto se autointitula.

    O sapateiro faz referência ao Profeta Gentileza, andarilho das ruas do Rio de Janeiro, que na década de 80 pintou 56 pilastras do Viaduto do Caju, numa extensão de aproximadamente 1,5km. As mensagens do profeta eram inscritas em verde e amarelo e mencionavam frases de gentileza. Uma das mais conhecidas é “gentileza gera gentileza”.

    Mesmo sendo reconhecido como um personagem importante, seu Alves não conseguiu a conservação das mensagens, pois elas foram escritas em muro de uma propriedade particular. No local foi construído um supermercado de uma grande rede internacional. Com a construção do prédio, quase toda a extensão do muro foi pintada, apagando uma boa parte das mensagens.

    “Eles estão apagando mensagens que podiam modificar as pessoas, me senti como se eu tivesse feito algo de muito ruim. Quando vi quase não acreditei, passei muitos dias sem vontade de comer, fiquei muito triste”, desabafa o sapateiro-escritor.

    O muro-livro é também local de trabalho, e muitos dos clientes de seu Alves estão espalhados pelas adjacências. O sapateiro afirma que muitos deles estão contrariados, “todos dizem que isso é uma crueldade”.

    Paulo Gusmão, 45, que é engenheiro de pesca e passa pela avenida quase todos os dias, desabafa: “a gente vai sentir falta”. A indignação vai além. Marcos Pedrosa, 34, comerciante, ressalta que “não faz sentido a retirada de todas as mensagens”. “Com isso uma parte do Papicu vai morrer”, reforça.

    Seu Alves já é um personagem conhecido de todo o bairro e porque não dizer de toda cidade? Muitas pessoas passam pela Avenida Engenheiro Santana Junior diariamente e utilizam o muro até como referência de localização, como no caso do estudante Leandro Porto, 23, que está há pouco tempo em Fortaleza e utilizava o muro como referência. “Quando passei e não vi as mensagens, pensei que não estava perto do terminal, quase passei do ponto de descida”.

    Além do muro, seu Alves também utilizou uma parte da calçada do terreno como painel, onde escreveu mensagens nas cores azul e vermelho.

    Os sapatos que seu Alves arruma, m ganha pão com o qual já criou dez filhos, que ele tenha contado

    Mesmo na pressa diária, alguns pedestres mais atentos param para ver palavras que falam de amor e felicidade. Palavras que desejam o fim das guerras com uma vontade infinita de que todos sejam felizes.

    ANGÉLICA GOIANA é jornalista | http://clichetes.com.br/o-sapateiro-poeta-do-papicu/

    1. Meu idolatrado Guru! Salve! Salve!

      Consta no ” AGORA EU DIGO COMO DIZ O DITO”:

       

      Capa:

      Idealização: Luciano Hortencio

      Fotografia e Arte: Robson Parreira (Formato A3 Criação e Marketing)

      (As fotos foram tiradas do muro de um terreno situado no cruzamento das ruas Engenheiro Santana Júnior e Cila Ribeiro, em Fortaleza – Ceará, onde o Sapateiro HONORATO ALVES PEREIRA ali expressou sua alma através dos DITOS DO  POVO).

       

      Havia prometido ao Seu Alves uma cópia do livro, porém como não o publiquei a não ser na internet, me esqueci por completo de fazê-lo. Com tua maravilhosa lembrança, fui procurar e achei um “boneco”, que irei presentear ao autor das frases e ditos que serviram de capa ao livro de ditados que o Veim do Ceará passou quase 50 anos colecionando…

      1. Seu Alves

         

        SEU ALVES, sapateiro cearense, teve suas letras digitalizadas.

        A fonte tem duas variações: nas teclas de caixas ­altas, aparecem os caracteres mais recorrentes e nas caixas ­baixas, os caracteres especiais.

        Traz o rico universo popular brasileiro para a linguagem digital através da reprodução da sinuosidade dos caracteres originais, pintados pelo Sapateiro nos muros do Papicu.

        A fonte captura as imperfeições e a rapidez da escrita informal. A variação dos traços e os borrões casuais caracterizam a fonte. Há variações de espessura e inclinação: a harmonia vem da desordem.

        Através da análise de anatomia do tipo, vi o que era mais recorrente em cada caractere e selecionei os que mais se assemelhavam e encaixavam como tipo principal.

        A) Fotografia original do muro de Seu Alves > B) Recorte de cada caractere a partir das imagens originais. > C) Redução a imagem do caractere para 1 cor: preto sobre fundo branco. > D) Vetor de cada um dos caracteres com a ferramenta rastreio de bitmaps. > E) Importa-se cada um dos caracteres como arquivo vetorial separado para um software de criação e manipulação de fonte digital.  

        A inusitada inversão de um caractere internacional “Ø” transforma-se no “Q” da fonte Seu Alves. A cauda invade e atravessa o interior do caractere. Um dos caracteres muito reconhecíveis dentro da fonte digital.

        A direção curva tem significados associados à abrangência e à calidez. A mensagem ” TI AMO MÃE” aqui aparece protegida, bem guardada e bem cuidada através dessa direção. Assim como as palavras “Deus” e “sANTO”: “Deus” se apresenta nesta forma bem velado, como o próprio sapateiro afirma “ele está sempe reservado”. “Santo”, através da direção curvelínea do “S” se afirma como algo sagrado.

        A direção curva tem significados associados à abrangência e à calidez. A mensagem ” TI AMO MÃE” aqui aparece protegida, bem guardada e bem cuidada através dessa direção. Assim como as palavras “Deus” e “sANTO”: “Deus” se apresenta nesta forma bem velado, como o próprio sapateiro afirma “ele está sempe reservado”. “Santo”, através da direção curvelínea do “S” se afirma como algo sagrado.

        [video:http://youtu.be/tMtH1osXDc4 width:600 height:450]

        [video:http://youtu.be/aXTSvO4W_u8 width:600 height:450]

        [video:http://youtu.be/1x2Z59ivPPQ width:600 height:450]

        FONTE: https://www.behance.net/gallery/15482545/Seu-Alves

  5. Seu Alves ‘passou o pavil’

     

    “Música que esculhamba mulher eu não gosto não… dô valô a música que baba mulher.”

    “A letra é uma comunicação oculta sabe. O caba pode ser calado, falar nada, mas escrevendo ele diz o que quer.”

      

    Alves, o ‘Destaque Cultural’, no pandeiro

    Bote o burro pra andar

    Honorato Alves Pereira nasceu 1930 em Tauá (349 km de Fortaleza), mas ainda nos braços da dona Maria chegou em Flecherinha, onde passou infância. Menino aperriado, com 12 já tava em Fortaleza, no ofício de engraxar sapato. Aperriado é pouco, dizem por aqui que essas pessoas têm um frivião no cú, e é bem capaz dele aos 76 anos se espalhar numa risada quando ouvir isso. Com 20 e poucos, tava no Rio de Janeiro, trabalhando no Aeroporto Santos Dumont, pra mais na frente tá carregando peso na tal da Brasília de Kubitschek, o JK. Goiânia, Anápolis, Fortaleza – só de passagem! – sobe! que o pau de arara tá saindo, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia, Minas, construção civil, ajudante de topógrafo, na roça plantando feijão, arroz, milho… Pra depois voltar fastiado, porque “quem anda só no mundo não tem valor.”

    “Ei menino. Leva esse bilhete na casa do Zé Pereira que na volta eu te dou um pedaço de rapadura e uma mão chêa de farinha…”

    Honorato era menino véi, coisa de 8, 9 anos. Saiu rodando Flecherinha na cata do destinatário. “Né aqui não viu… É bem ali”. E tome Honorato a andar debaixo do sol quente, o suor descendo e da pueira da piçarra subindo, indo e voltando feito besta, “ta bem pertim…”, e mais um apontava tangendo Honorato.

    Na porta da casa de uma senhora de idade é que o bilhete chega ao dono: “Meu filho, vá simbora pra casa que aqui tá escrito: ‘bote esse burro pra andar’.”

    Saudade da mãe, 1962

    Ali sentado na calçada, passando cola no solado, costurando bico, remendando uma sandália, pitando outra, Seu Alves, o sapateiro, conta os anos que se passaram. Toim, filho mais novo e herdeiro do ofício do pai, avisa: “rapaz, você vai dormir, acordar, e ele ainda ta falando.” Deboche de filho. De história em história, virou reportagem, dessas de televisão, jornal, rádio, até a tv a cabo, mas essa ele não assistiu, “é tv de gente rica”. Mas não foi o navio clandestino que fez ele virar reportagem. O navio que pegou pro Rio, onde escapou fedendo de uma baldeação. “Num sabe o que é? Era quando os homi iam checar de um por um quem tava clandestino no navio.” Pois nessa, ficou na terra mesmo, nem tentou subir de novo. Ouviu das margens de Recife o navio apitando rumo a capital do Brasil daqueles tempos.

    Não foi o navio, nem foi o pandeiro tocado nos forrós ou as tantas mulheres em que ele “passou o pavil”. O que fez Seu Alves, o sapateiro, reportagem, foi a arrumação de sair pintando a calçada do seu ponto, ali na beirada da Av. Engenheiro Santana Junior, perto do Terminal de ônibus do Papicu. É “Feliz Natal!”, “Feliz Ano Novo”, declaração de amor: “ti-amo mãe”, poesia: “Este… domingo é meu: ti-amo”, pregação: “A porta que Deus abre ninguém fecha”. “Seu Alves, amigo do pobre, conhecido do rico”. Mas quando a Cherokee pára do lado ele sabe, o preço vai ser maior um pouquinho.

    Explica o ocorrido. Fala que quando chegou naquele ponto, há 12 anos, não tinha cliente, ai foi começando a pintar, colocar uns banquinhos, plantou essa castanhola onde estamos sob a sombra, ai foi indo… Começou a chegar cliente, mais um aqui, outro aculá. O certo é que o homem é notícia e não pára de chegar gente de pé ou no carro que encostar rapidinho pra deixar o serviço. Veio a prefeitura também, pra botar pra fora que não é coisa de se admitir a privatização de uma calçada pública!, mas um vereador que passava por lá, na intenção de recauchutar o calçado, resolveu os problemas.

    Traga o pandeiro

    Magnaldo, que tá aprendendo a transformar sapato velho em novo, corre na casa do seu Alves, ali pertinho, na Travessa Paredes, pra buscar o instrumento. Mal chega a morena com o cabresto da sandalha rebentado, ele já vai se aprumando, mete a mão no pandeiro, galanteador, malaca… Canta Morena Dengosa de Roberto da Silva.

    [video:http://youtu.be/rOG21tha4k8 width:600 height:450]

    Quando começa a cantar, ele encarrilha uma, duas, três músicas. Alegre, canta pra quem passa indiferente na avenida. Sem problemas, o que vale é ele o pandeiro… a morena… quando tá triste é isso que faz pra consolar.

    De mulher e música ele entende, pelo menos é o que diz. É bruto, “minhas mulher é tipo táxi, eu pego e mando sair fora”. Mas na verdade é muito é mole: “música que esculhamba mulher eu não gosto não, dô valô a música que baba mulher”. Sem falar nos 19 anos e 10 filhos que ele passou rodando no táxi da dona Francisca Ferreira Alves, mãe do Toim. Pra ficar com a comparação dele.

    O burro rodou anos

    Aprendeu a ler e escrever ainda no Rio, na sua passagem por lá. O bilhete? Na época, um envelope pelo correio com um tanto de C$ cruzeiros pra mãe. “A letra é uma comunicação oculta sabe. O caba pode ser calado, falar nada, mas escrevendo ele diz o que quer”. Não fale muito não seu Alves, que é capaz de um dia o senhor encontrar um rapaz bem parecido, de paletó e sapato impecável, querendo carregar o senhor pra ir dar palestra de marketing pelo mundo. Olha que o senhor já tem 76, não ta mais em tempo ficar com essas putarias.

    Fonte: http://grupotrema.blogspot.com.br/2006/03/seu-alves-o-sapateiro.html

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