Luciano Hortencio
Música e literatura fazem parte do meu dia a dia.
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Relembrando Paulo Diniz

Presto, com muita honra, homenagem ao artista Paulo Diniz, nordestino, nascido na cidade de Pesqueira, no Estado de Pernambuco, com fortes ligações com o Ceará.

Junto aqui os dados artísticos de Paulo Diniz, constantes no Dicionário Cravo Albin de Música Popular Brasileira

Iniciou a carreira artística trabalhando como crooner e baterista de cabarés. Ainda no Recife, atuou como ator e locutor na Rádio Jornal do Comércio.

Em fins da década de 1950, mudou para o Ceará a fim de trabalhar como ator.

Em 1964, transferiu-se para o Rio de Janeiro. Começou a trabalhar como locutor na Rádio Tupi em substituição ao radialista Paulo Porto. Durante algum tempo, foi locutor esportivo. Nesse período, enveredou pela Jovem Guarda, cantando iê-iê-iê.

Em 1966, gravou pela Copacabana seu primeiro disco, interpretando “O chorão”, de Edson Mello e Luís Keller.

Em 1967, foi morar no Solar da Fossa, onde conviveu com Paulinho da Viola, Caetano Veloso e outros artistas. No mesmo ano lançou o LP “Brasil, brasa, brasileiro”, pela Copacabana. Em 1970, lançou o LP “Quero voltar para a Bahia”, pela Odeon, onde se destacam “Um chop pra distrair” e a música título, ambas de sua parceriacom Odibar.

No ano seguinte, gravou pela mesma gravadora “Paulo Diniz”, no qual fez sucesso com “O meu amor chorou”, de Luiz Marçal Neto e “Pingos de amor”, em parceria com Odibar, um de seus maiores sucessos e que recebeu inúmeras regravações. Gravou, também no mesmo ano, “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.

Em 1974, fez sucesso com a gravação de “E agora José”, poema de Carlos Drummond de Andrade musicado por ele.

Em 1976, fez sucesso com “Vou me embora pra Pasárgada”, poema de Manuel Bandeira que ele musicou. Em 1978 lançou o LP “É marca ferrada”, onde fizeram sucesso as composições “Me leva morena”, parceria com Marconi Norato e Juhareiz Correya e “Severina cooper (It’S not mole não)”, de Accioly Neto.

Em 1984, lançou “Canção do exílio”. Ao longo de sua carreira, musicou diversos poemas de consagrados poetas brasileiros, entre os quais Augusto dos Anjos, “Versos íntimos”, e Gregório de Mattos, com “Definição do amor”.

Suas composições foram gravadas por diversos intérpretes, entre os quais Fagner, com “Quero voltar pra Bahia”, Simone, que gravou “Chega”, Emílio Santiago, com “Um chope pra distrair”, Clara Nunes, com “Canseira”, Elizeth Cardoso, com “Símbolo de paz”.

Sua composição “Pingos de amor” conheceu diversas regravações, entre as quais as de Kid Abelha, Neguinho da Beija-Flor, Ricardo Chaves, Sula Miranda, Fernando Mendes e Araketu.

Em 2002, teve relançados os LPs “Brasa, Brasil, braseiro” e “Quero voltar pra Bahia” em CD na série “Dois em um”.

https://www.youtube.com/watch?v=mYI_8hhuXWc]

 

 

[video:https://www.youtube.com/watch?v=m9Pk4UcFnHw

Luciano Hortencio

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35 Comentários

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    1. Dom JNS, I e ÚNICO!

      A idéia desse post recebi de ti. Lembras quando disseste que queria ser cantor quando criança, porém lembraste do que aconteceu com o Paulo Diniz?

      Fui ver que só tinha um vídeo com ele, embora possua vários fonogramas… Procurei na internet pra saber o que havia acontecido com ele, porém não achei nada… A não ser o desprezo e esquecimento da dona mídia, com letras minúsculas mesmo…

      A Canção do Exílio vai especialmente para o MMM (Meu maior mentor)!

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=LKJ7lxaUaao%5D

    1. Lado a lado

      Amiga Laura,

      Fizeste-me lembrar d euma música que começa assim:

      “Lado a lado meu amor, mas tão distantes… Indiferença entre nós…”

      Vou já garimpar, ora se vou!

      Abração do luciano

       

      1. Lado a Lado

        Grande conterrâneo Luciano

         

        Lado a Lado foi sucesso lá pelos idos da década de 60 e inicio da 70, com o cantor Carlos Alberto. Dor de cotovelo, mas dor de cotovelo gostosa. Era fanzão…

      2. Lado a Lado

        Grande conterrâneo Luciano

         

        Lado a Lado foi sucesso lá pelos idos da década de 60 e inicio da 70, com o cantor Carlos Alberto. Dor de cotovelo, mas dor de cotovelo gostosa. Era fanzão…

    2. O meu amor chorou

       

      “Antigamente a minha vida/ Era de bar em bar/ Pelas ruas da cidade”

      “A lua quando sai/ Saudade vem e a gente vai/ E fica pela rua até o amanhecer”

      A deusa morena, o menino maluquinho, a vovó dele e outros familiares foram prá Bahia, na semana passada.

      Ao retornar, na manhã desta terça-feira, foi visitar a minha mãe que estava internada, após cair e bater a cabeça na alvenaria revestida por cerâmica da própria casa.

      Mais tarde, saímos do hospital para almoçar no tradicional restaurante, que fica plantado na foz de um rio, localizado em outra cidade, quando ela revelou que não conseguiu se conter e chorou à beira do mar.

      Contou que passava na mesma região de praias e falésias, que visitamos no passado, quando não conseguiu reprimir as lágrimas. Disse que ficou com muita saudade e, para ninguém notar, buscou refúgio atrás dos óculos escuros.

      “Te prometo um dia, meu amor/ Mudar de vida pra te consolar”

      “E pra fazer seu gosto, embora morra de desgosto, trocarei tudo o que tenho procê não chorar”

      [video:http://youtu.be/cdbOBqMwVfE width:600 height:450]

      Abro a minhas asas, respiro a inebriante brisa do mar e rumino, cá com os meus botões:

      “Malandro é o pato, que nasce com os dedos colados para não colocar aliança”

      http://www.words4it.com/dap_photos40/words4it_frick_1805_1300.jpg

      Um beijo pra pesquisadora Laura musical de mão cheia.

      Imagens da Internet

      1. E agora, para onde?

        Ai ai ai. Sorte dos patos, amigo JNS, que não caem nessa armadilha. Engraçado que quando ouvi o nome Paulo Diniz, pensei que a melhor canção que talvez o definisse fosse “O meu amor chorou”. Pelo que diz acima, talvez seja isso mesmo.

        PS: La em cima daquele morro, passa boi, passa boiada…. Pela manhã passa Maria Luisa toda apressada em seu Louboutin… Fantasias com sapatos, principalmente esses de revestimento vermelho?  

        1. Foram me chamar

           

          Uma ex-namorada, atleta da CBAt, estudando na UFMG, quando ficava amoitada na minha casa, pisava sobre as minhas costas, quando eu mentia dizendo que elas estavam doloridas.

          Na verdade não era mentira; vá entender…

          Por usar tênis, para a corrida com obstáculos e saltos à distância, eu só permitia que ela pisasse devagarinho com os pezinhos descalços – matando o Véi.

          Se a bem-aventurada, de corpo durinho, ussasse uma das jóias do mágico Cristian Louboutin (acima), eu ainda guardaria, orgulhosamente, as marcas daquela pisante paixão prá provar, pra quem ainda não sabe, que uma “mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor”.

          [video:http://youtu.be/TmNmfTkAzAs width:600 height:450]

          Prá encerrar, fica o dito pelo não dito, mas, prestenção: é “pra pisar neste chão devagarinho”.

          Uai!

    1. Ao Ivo Miter

      Talvez por causa da composição com o nome da cidade piauiense, caro amigo. Em realidade, Paulo Diniz é mesmo de Pesqueira, Pernambuco.

      Obrigado por comentar!

      luciano

  1. “Tudo é coco!”

     

    E jogaram o sapo n’água

    “É tão gostoso morá lá na roça/ Numa palhoça perto da beira do rio”

    “Quando a chuva cai e o sapo fica contente/ Que até alegra a gente com o seu desafio”

    [video:http://youtu.be/MpbMiyP_Zfc width:600 height:450]

    “Eu que adoro as mulheres/ Vou dar minha opinião/ Lampião podia pagar/ Pelo que fez no Sertão/ Junto com seus companheiros/ E Maria Bonita não.”

    “Não, não, não/ Mulher não nasceu pra sofrer/ Não, não, não, não/ E não devia morrer.”

    “Malandro é o sapo que casa e leva a perereca pra morar no brejo”

    A pintura é Cristiane Campos

  2. como é o nome daquela música?

    eu tinha um LP dele, mas procurei agora e não achei, como é o nome daquela música que tem uma parte que diz: dá um pouco de pirlimpimpim….

    1. Obrigado, Jair!

      música como antídoto

      1 de Dezembro de 2012| Posted by Revista Aurora in perfil18 commentsHome/perfil/ música como antídoto

      A rigor, Paulo Diniz está com 72 anos, mas prefere aumentar a própria idade. Para todos os efeitos, diz que tem 73. Com o mês de janeiro batendo à porta, juntamente com o seu aniversário, antecipou o que considera inevitável. “Gosto de prosseguir como o tempo. Tenho uma certa preocupação de estar dentro dele. Em qualquer situação, sempre quis estar inserido no contexto”. Mas o contexto atual é de contratempo, o que talvez explique a mania de envelhecimento voluntário de um dos cantores e compositores mais populares do país.

      Autor de canções simples e certeiras, assobiadas até hoje como hinos de casais ensopados de pingos de amor ou de amigos num chope distraído de mesa de bar, o pernambucano de Pesqueira, que até hoje diz pagar caro por uma “acusação” de baianismo artístico, vive num exílio domiciliar no Recife. Depois de alguns meses de conversas via telefone, duas tentativas frustradas de entrevistas pré-agendadas, ele finalmente abriu a porta de casa para a Aurora na tarde de uma terça-feira de outubro.

      Uma cadeira de rodas comprada há quatro anos e um balão de oxigênio encostados no canto da sala do apartamento de três quartos, próximo à pracinha de Boa Viagem, sobressaem-se na decoração módica. Bem mais que objetos desconexos, os aparelhos expulsam qualquer dúvida sobre tamanha dificuldade de acesso a um artista que, segundo suas próprias palavras, virou “arquivo”.

      Zanzando de um lado pra outro do corredor, um enfermeiro ajuda o dono do imóvel a sentar-se no quarto reversível, transformado em espaço de convivência, onde, em mais um dia de calor, Paulo aparece de jaqueta e boné claros. Está sorridente, emocionado e fisicamente disposto. Uma combinação cada vez mais rara, que ele aproveita para abrir mão de uma rotina radicalmente caseira. É quando se dá ao direito de quebrar os protocolos e, eventualmente, subir num palco, onde só chega na penumbra e não deixa que o anunciem antes de ser acomodado numa cadeira especial, mais alta. A seu pedido, os holofotes só são acionados nos primeiros acordes, e o show, seja ele qual for, já começa em harmonia com alguém que fez da música um anteparo de todas as quedas.

      Paulo Diniz na sala de casa, onde passa a maior parte do tempo.PREVIOUSNEXT12345

       

      A voz inconfundível de final pigarreado continua bem preservada, mesmo não atingindo os mesmos tons estridentes do início da carreira, quando vendeu quase 1 milhão de discos na década de 1970 com Quero voltar para a Bahia, seu principal hit. Um sucesso estrondoso que o projetou ao mainstream da MPB e, ao mesmo tempo, o colocou em descrédito junto a uma brigada cultural pernambucana, que viu na música uma inconcebível ode azeitada com dendê ao estado “rival”. “Essa música criou muito ciúme. Foi muito aceita, muito cantada. Mas ainda hoje eu pago esse tributo por conta de uns intelectuais daqui”.

      Numa homenagem a Wanderléa, eterna musa da Jovem Guarda, promovida por um famoso programa de auditório que prefere não citar, ele ganhou um batismo que consolidou de vez a fama de baiano com DNA paraguaio. O apresentador perguntou se a cantora sentia muita falta do “compositor baiano” Paulo Diniz. “Eu estava lá nos bastidores, me preparando para entrar. Mas fiquei quieto. Bahia é um som muito bom. Bahiiiiiiaaaaaa (falando de forma cantada). Pernambuco é difícil”, simplificou.

      Resolveu assumir em verso e sem medo todas as suas paixões, inclusive pelos lugares onde nunca morou. As homenagens musicais sem fronteiras nunca foram bem digeridas na cidade onde nasceu. Diz ter sido alvo de olhares enviesados dos conterrâneos, num ressentimento local que não tinha rosto nem porta-voz. “Digo numa música que ‘Vim de Piripiri’ (município do Piauí) e não sou de lá. Fui lá duas vezes”. Em Capim da Lagoa, extraiu um trecho de um folclore de Pesqueira e o colocou no refrão, o que não foi suficiente para selar as pazes com um passado árido do Agreste.

      A mãe era costureira e o pai, gerente de padaria. Foi engraxate, ajudante de mecânico e carregador de compras na feira até arrumar um emprego como locutor do Serviço de Alto-falante de Pesqueira (SAP). Aos 16 anos, partiu para o Recife sem qualquer referência, dormindo em pensões, emprestando a voz para vender tecidos no comércio ou cumprindo bicos na Rádio Jornal como locutor em horários ingratos, rejeitados pelas estrelas da casa.

      Quatro anos depois, rumou num ônibus para uma temporada inicialmente difícil no Rio de Janeiro. Em meio a alguns perrengues financeiros, conseguiu integrar o time de locutores da Rádio Globo, onde o interesse pela música prevaleceu, a ponto de Paulo gravar, em 1966, o seu primeiro álbum compacto: O chorão. A levada iê-iê-iê ingênua, pontuada por um gritinho gutural, caiu no gosto do carioca e estourou nas rádios.

      Jovem, solteiro e endinheirado com o primeiro single, comprou um Karmann Guia — um dos carrões da época — e dirigiu rumo ao bairro de Botafogo com uma mala cheia de roupas comportadas e um violão no banco de trás, estacionando na rua do casarão Solar da Fossa. Decidiu morar no mal falado imóvel transformado em pensão, onde já residiam vários artistas, intelectuais e toda a fauna do desbunde do Rio. Mergulhou de cabeça numa atmosfera hippie, com liberdade a perder de vista em plena ditadura militar. Vendeu o carrão, deixou o cabelo black power, mas manteve o violão debaixo do braço.

      Era vizinho e amigo do poeta Paulo Leminski, de quem ganhou o verso “Tire o arco-íris da sua moringa” (para muitos, uma das primeiras referências à maconha na música nacional, que passou em branco pela censura). Foi confidente da atriz Darlene Glória, que também morava no solar e namorava o bandido mais famoso do Rio à época, Mariel Mariscott. Cansou de topar com Tim Maia nos corredores do templo udigrudi carioca. “Todos vivíamos em paz. Não importava nada: pele, orientação sexual. Eu ia na casa de um vizinho, tomava uma cerveja, comia um tira-gosto, dava uma bola (risos). Era muito comum na época e eu estava sempre em falta. Tinha de ir na casa de alguém”.

      Toninho Vaz, jornalista curitibano radicado no Rio, autor do livro Solar da Fossa – Um território de liberdade (editora Casa da Palavra), explica que a transformação pessoal do pernambucano ao longo de sua estadia no casarão foi uma das mais emblemáticas. “Entre todos os artistas que moraram lá, ele certamente foi um dos mais importantes. Representava como poucos aquele ambiente livre, sem amarras, sempre com o violão pra cima e pra baixo”.

      Paulo lidou com o sucesso com a “precariedade de quem tinha pouco tempo de casa”. Torrou todo o dinheiro do primeiro disco e virou hippie. “Usava umas calças desbotadas ou rasgadas, uma bota, com aquelas camisas malhadas que eu mesmo fazia. Quando eu passava na rua, ninguém me via. As pessoas cegavam”, conta.

      A sensação de desprezo o perturbou até bolar um verso, inserido depois no recheio do carro-chefe Quero voltar pra Bahia: “Eu tenho andado tão só. Quem me olha nem me vê”, anotou. Inspirado no jornal O Pasquim, lançou o disco em 1970, voltando para a pista da música brasileira quatro anos depois de O chorão, e inaugurando a sua década de ouro. Em pleno estouro, levou as primeiras bordoadas do status quo da cultura nacional, como a do ator Grande Otelo, que lhe direcionou uma reprimenda: “Você que fez essa música Quero voltar pra Bahia? Pois não deveria. Quem deveria ter feito era Caetano Veloso”. Paulo não engoliu a crítica e devolveu sem elevar o tom: “Mas ele não fez. Eu cheguei antes”. Em tempo: demolido em 1971, o Solar da Fossa cedeu lugar a um shopping center. O pernambucano foi um dos últimos a deixar o local.

      Na década de 1970, no auge da carreira, com o inseparável violãoPREVIOUSNEXT1234

      pingos de realidade

      A retomada da carreira veio a reboque de uma ruptura no modo de construir as canções. Influenciado pela música negra norte-americana, sobretudo o soul, e tratorando ritmos nordestinos no bolo — sem, é claro, desgrudar do violão —, uniu simplicidade e balanço. Aos poucos, cavou um atalho até o coração dos fãs com músicas cantadas em coro até hoje, a exemplo de Um chopp pra distrair, com sua narrativa boêmia e apaixonada com vista para o mar de Copacabana.
      Musicou obras literárias, com destaque para Itinerário de Pasárgada, de Manuel Bandeira, e a acachapante José, adaptada de poema de Carlos Drummond de Andrade, que elogiou a ousadia e confessou ser difícil lembrar dos próprios versos sem cantarolar a música.

      “Eu cantava E Agora, José? aos 6 anos, sem nem saber o que significavam palavras como utopia e teogonia”, diz o cantor Zeca Baleiro, fã e amigo. A fase próspera coincidiu com o primeiro casamento de Paulo, que durou três anos, quando teve a primeira filha, Naidê. Acalentando a primogênita durante o sono, teve a ideia de um arranjo que resultou na não menos famosa Pingos de amor.

      Rodou o Brasil, tocou em picos extremos do país, cantou para fãs até em aldeias indígenas no Norte. Com o parceiro Juarez Correia, percorreu, a pé, uma longa travessia até Juazeiro do Norte, no Ceará, dormindo ao relento. A viagem resultou no disco Estradas, mas àquela altura já estava claro que a engrenagem da indústria cultural não permitiria tamanho lastro de liberdade. “Foi difícil lidar com o sucesso estrondoso, com as solicitações, os interesses, os interesseiros, os novos amigos”.

      Surge a década de 1980 e, com ela, outros engradados caem no gosto musical do país, sobretudo o rock nacional encorpado pela febre eletrônica da new wave. As baladas da MPB soavam caquéticas, e não demorou para o músico cair na teia impiedosa do ostracismo. Paulo André Pires, produtor cultural e idealizador do festival Abril Pro Rock, situa a encruzilhada que se desenhava. “Talvez Paulo não tenha o respeito da crítica musical como um Tom Zé ou um Jards Macalé por ter feito um trabalho mais comercial. Depois do sucesso de Pingos de amor, muita gente relacionava a música dele com o brega romântico de barzinho. Ao mesmo tempo, os mais jovens conhecem as músicas dele, mas não sabem quem ele é”. Zeca Baleiro completa o raciocínio: “O sucesso massivo é, às vezes, muito nocivo pro artista. Chamar Diniz de brega é um disparate”.

      De mãos dadas com o vácuo de suas canções nas rádios, o cantor dava início a um declínio financeiro motivado por um reconhecido desprendimento material. Característica agravada, segundo pessoas próximas, por um relaxamento agudo na gestão da carreira. “No auge, ele não ligava muito pra dinheiro. Chegava a recusar shows para ficar tocando violão em casa”, diz um amigo, em reserva.

      Paulo Diniz confirma a relação ambígua com cifras e cachês, mas diz que não recusava apresentações: “Essa sua fonte está furada”. Ao mesmo tempo em que dá de ombros para caminhos do passado, abre uma janela para refletir sobre conquistas e fracassos. “Sucesso é uma coisa engraçada. Para alguns, pode ter uma intensidade suficiente. E pra outros, não, tem que ser permanente. O cara fica numa ansiedade tremenda. Eu não tenho esse sofrimento. Não me programei pra fazer sucesso. Sucesso foi o caminho que eu tive pra ganhar minha sobrevivência”.

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      coletânea de agoras

      Dos dois melhores amigos de Paulo, só entrevistamos um: a mulher Iluminata Rangel, com quem está casado há 33 anos. “O outro é o meu violão. Só”. Filha de usineiro e criada num ambiente tradicional, mas com fortes vínculos culturais, Iluminata, uma assistente social e professora universitária de 61 anos, era viúva quando conheceu Paulo. “Às vezes eu fico sem saber se o que eu sinto por ele é amor ou é admiração. Se bem que admiração leva ao amor”, ponderou Iluminata, que foi determinante na mudança definitiva do marido para o Recife. A reconciliação com Pernambuco só veio em 1995, quando ele deixou o Rio depois de várias idas e vindas. “Eu já estava numa fase meio decadente, entrando no arquivo”.

      Um declínio pontuado por misteriosas dores no corpo e dificuldades cada vez maiores de locomoção. Passou a usar muletas e se sustentar durante anos em incertezas, até receber a notícia de que sofria de Radiculo Polineurite, uma inflamação na medula, “que demorou muito tempo para ser diagnosticada”.

      O “muito tempo” foi, na verdade, quase uma década de hiato sem identificação precisa da doença, que só foi apontada de forma definitiva com a ajuda de um médico norte-americano. “Voltei ao Recife basicamente por conta disso. O Rio é uma cidade que eu amo, amo mesmo, mas precisa de muita juventude. Aí comecei a fraquejar”. O diagnóstico inicial impreciso e o posterior tratamento acarretaram uma deficiência renal capaz de lhe render dias ou até semanas de indisposição.

      Com a reserva financeira da época de vacas gordas, comprou à vista o apartamento em Boa Viagem, onde dorme praticamente sozinho, contando com a assistência noturna de um cuidador de plantão — benefício que só garantiu depois de entrar na Justiça contra o plano de saúde. “Eu e minha mulher moramos juntos de uma maneira relativa. É muito difícil morar junto, sobretudo se você tiver uma mulher inteligente, ativa, ligada. Nos juntamos e nos equilibramos do nosso jeito. Deu certo”.

      O cotidiano entre paredes costuma ser preenchido por atividades obrigatórias, como as sessões de fisioterapia por conta da perda no movimento das pernas. “Nesse meu processo aqui em casa eu estou interno. Eu sou internado de um hospital. Não tenho muito interesse de ficar divulgando doença porque é uma coisa decadente. Mas uma decadência natural, sei lá… Não me estimula. Mas não tenho muita cara de chegar e bancar o natural demais. Estou o mais arrumado possível pra te receber”.

      O violão, religião que cultiva diariamente com afinco, continua inseparável. Cansado de empresários, produz os próprios shows quando pode e costuma ensaiar num cômodo da própria casa. Parece resignado com a escassez das apresentações, que agora acontecem ao sabor da sua saúde. “Estou selecionando mais os shows. É difícil você dizer que não vai pra um show porque está doente. Eu acho que, às vezes, estou rendendo pouco pros caras, dada a minha situação”.

      Uma de suas últimas aparições aconteceu no final de agosto, numa boate em Boa Viagem, quando entrou no palco como sempre faz: às escuras. Em 50 minutos, a apresentação, com ingressos a R$ 60, soou como uma reprodução ao vivo de suas coletâneas de maiores sucessos. Dissecou todos eles, para deleite de um grupo de 70 pessoas espalhadas em não mais que uma dezena de mesas, um delas ocupadas por parentes, enfermeiros e amigos.

      Cantado em coro do início ao fim, o repertório começou com Quero voltar pra Bahia, o hit controverso escolhido para o bis do final. Um fã aproveita uma pausa para pedir O chorão, o primeiro sucesso que lhe rendeu um Karmann Guia. O cantor pede desculpas e nega o pedido quase se justificando: “Aí complicou. O tempo passou. Minha voz não alcança mais esse tom. Se fosse em outra época…”, devolve, falando do refrão onde reproduzia um choro cômico e tagarela de um adulto.

      Paulo concluiu um disco inédito, gravado em casa com a ajuda de um dos seus músicos, mas “perdeu o tesão” em lançá-lo. “Minha grande inspiração era o convívio, o dia a dia, o papo, o botequim. Essa falta desse exercício me deixou quieto para compor. Hoje estou plantado aqui”, diz, sem soar autopiedoso.

      As parcerias com outros compositores também se perderam em idiossincrasias que faz questão de admitir. “Eu não tenho turma nenhuma. Estou solitário. Os meus critérios de composição talvez sejam muito rígidos. Se for pra fazer qualquer coisa… Qualquer coisa é igual a nada. Aí eu fico chato. Não concluo (a parceria)”, diz, negando ter personalidade truncada. “Sou relativamente difícil, ou melhor: sou relativamente fácil. Sou tão fácil que misturo as bolas”.

      A sensação de ser visto por fãs numa cadeira de rodas é algo que Paulo tangencia ao tentar explicar, “talvez porque não tenha absorvido muito bem”. É nessas horas que prefere se projetar em outro plano, no panteão revigorado dos artistas. “Quando estou cantando eu fico com outra cara. É um pouco de vaidade, de querer estar mais bonito do que eu não sou. Não sou fatalista. Quero aproveitar o que eu tenho. A existência é limitada. Tem ponto. Pode ser agora. Tenho 73 anos. Estou realizado. A vida só é boa no tempo que ela é boa. O bom é agora, sem pensar no final”.

      Com eficiência e a suavidade de uma nota bem executada, Iluminata, mulher e melhor amiga, prefere decifrar o companheiro de três décadas em sintonia com a sua velha mania de “estar inserido no contexto”: “Os artistas têm um mundo interior muito grande. A arte cresce, a música preenche. Ele tem muito disso. A música é tudo. O tempo mudou, a vida mudou, a idade mudou. A essência é que continua”.

      André Duarte (texto)
      Helder Tavares (fotos)

  3. Aquela voz…

    Paulo Diniz ficou encantado nos anos 70. Prisioneiro também? Tocava nos barzinhos e nos saraus e acampamentos da tchurma. E quando ouvia sua musica, vinha aquele sentimento nostalgico de que havia algo melhor em algum lugar. Mas onde? Um chopp pra distrair….

  4. Quando era garoto, para

    Quando era garoto, para sacanear os meninos mais bobos da rua eu cantava o chorão, eh,eh,eh… os meninos ficavam muito envocados comigo.

    Mas como eu era considerado o Fernandinho Beira Mar da época ninguém me encarava.

     

     

  5. carcará

    No alto daquele morro 
    Passa boi, passa boiada 
    Também passa Lulu do Manguezal
    Distribuindo pérola cantada
    Pra quem descobe o seu canal

    [video:http://youtu.be/o5IRtzctCWE width:600 height:450]

    No alto daquele morro 
    Passa boi, passa boiada 
    Também passa Lulu legal
    Oferecendo alegria musicada
    Pra quem futuca o seu canal

    [video:http://youtu.be/Lw93c544oZk width:600 height:450]

    “Isso aqui tá muito bom/ Isso aqui tá bom demais/ Quem ta fora quer entrar/ Mas quem tá dentro não sai”

     

  6. Com o Luciano a gente tem de

    Com o Luciano a gente tem de se manter alerta o tempo inteiro; senão, passa batido. Já ia me passando nessa aqui, tá vendo? Mais essa garimpagem fantástica. 

    Sobre o Paulo Diniz sorte a nossa e da MPB que o tivemos.

  7. curti muito e agora josé com

    curti muito e agora josé com o paulo diniz….

    marcante como estes post aí….essa turma da area cultural é boa demais.

    parabéns…

  8. Frutos Estranhos

     

    A metáfora macabra para um século de linchamento de negros americanos

    “Strange fruit”, considerada a primeira canção de protesto explícito contra o racismo e o linchamento de negros no Sul dos Estados Unidos, é um poema metafórico que ilustra o modo como os negros eram mortos e exibidos ao público: pendurados em galhos de árvores, como “frutos estranhos”.

    Em uma cena se repete, invariavelmente, nas noites nova-iorquinas de 1939, os garçons interrompem o atendimento, a clientela silencia e um breu retumbante toma a sala do Café Society, um bar construído no porão da Sheridan Square, no Greenwich Village. No escuro infinito, um ínfimo rasgo de luz focaliza o rosto de Billie Holiday. Um piano chama e “Strange fruit” brota. Em apenas três minutos a escuridão da noite torna a invadir o café. É o tempo necessário para que ela entoe seu número final. Billie deixa o palco. Sem despedida, bis, nada. Apenas escuro e silêncio. Até que uma mão se junta a outra, e uma ovação inunda a sala. Mas não há volta. A diva não reaparece.

    
Billie Holiday interpretava o poema metafórico sobre o linchamento de negros com um único foco de luz sobre o seu rosto
Foto: Divulgação

    O jornalista americano David Margolick comenta:

    — “Essa única canção contém toda a história dos direitos civis nos Estados Unidos. É um lembrete da capacidade única que a música tem de capturar a condição humana (…) Os negros não queriam ouvir uma música sobre aquilo, assim como a maioria dos brancos (…) Em sua tristeza e tragédia, Billie Holiday passou a encarná-la.”

    “Árvores do Sul dão uma fruta estranha/ Folha ou raiz em sangue se banha/ Corpo negro balançando, lento/ Fruta pendendo de um galho ao vento/

    Cena pastoril do Sul celebrado/ A boca torta e o olho inchado/ Cheiro de magnólia chega e passa/ De repente o odor de carne em brasa/

    Eis uma fruta para que o vento sugue,/ Pra que um corvo puxe, pra que a chuva enrugue,/ Pra que o sol resseque, pra que o chão degluta,/ Eis uma estranha e amarga fruta”

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    Diana Ross , Dee Dee Bridgewater , Beth & Joe , Annie Lennox , India Arie , Shakura S’Aida , Katey Sagal

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