Luciano Hortencio
Música e literatura fazem parte do meu dia a dia.
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Terra da Luz, capital da minha vida!

Procurando fotos antigas para não perder o costume, acabei achando essa interessante matéria sobre nossa Fortaleza e a divido com vocês.

Canções como “Fortaleza Querida” registraram costumes e o vocabulário dos velhos Carnavais de rua

Dos raros registros sobre a cidade que se tem até meados do século XX, as marchinhas de carnaval estão bem representadas. “Fortaleza Querida”, marcha gravada em 1960, com interpretação de Wanda Santos, a “terra da luz” era enaltecida como campeã de Carnavais. “Vem, vem meu amor/ Vamos brincar lá na Praça do Ferreira/ No corso ou onde for/ há sempre animação/ Vamos beber e cair na brincadeira”. Durante a década de 20 e parte dos anos 30, o carnaval de rua da cidade se resumia basicamente ao desfile (corso) citado, que passava pela Praça e ruas próximas.

Em nossa lírica jocosa, tudo virava alvo dos compositores: dos apagões da usina elétrica do Mucuripe às saias levantadas pelo vento na Praça do Ferreira

“Falta de Luz”, marchinha de Irapuan Lima e Mário Filho, também de 1960, se apropria da cidade sob um viés diferente: o da crítica. Fazia pouco e reclamava da usina de energia instalada anos antes no Mucuripe. “Falta de luz é bom pra namorar/ Mas depois disso, nem é bom falar…/ A usina lá do Mucuripe todo mês tem gripe/ não quer mais funcionar”. A usina abastecia bairros como o próprio Mucuripe, Praia de Iracema, Meireles e parte da Aldeota. Foi inaugurada em 1955 para sanar problemas de geração de energia, mas, como se vê, virou chacota carnavalesca pelas recorrentes quedas no fornecimento da época.
A Praça do Ferreira, coração de Fortaleza, ganha, no ano seguinte, uma das canções de maior repercussão na época. O baião que leva seu nome, e que, também, não é de cearense. A música foi composta pelo baiano Gordurinha (Waldeck Arthur de Macedo) e seu parceiro Nelinho, e saiu em disco de 78 rpm, em 1961, pela Continental. Fala do ventinho bom da Praça do Ferreira, que levantava a saia das moças que passavam na chamada “esquina do pecado”. O ventinho maroto corre ainda entre as ruas Guilherme Rocha e Major Facundo.

 

“A cearense quando passa, segura a saia/ pois o vento tá dizendo ‘tomara que caia’/ cinema sem pagar nada/ a rapaziada tá querendo lá no Ceará/ streap tease lá na Praça do Ferreira….”, registra. O “cinema a céu aberto” que movimentava o banco da praça, talvez, faça referência à famosa cena de Marilyn Monroe, gravada anos antes, em 1954, no filme “O Pecado Mora ao Lado”.

Boa parte das canções que traduziam a lírica da Fortaleza antiga está reunida na coletânea “Ceará Terra da Luz”, lançada em 1965 em vinil e remasterizada em 1995 para o formato CD. O disco teve produção de Danúbio Barbosa Lima e Gerardo Barbosa, então proprietário da loja de discos Vox. A edição original marcava o aniversário de 30 anos da Ceará Rádio Clube. Entraram no registro músicas como “Vive seu Mané chorando”, cantada por Evaldo Gouveia, “No Ceará é Assim”, pelos Quatro Ases e Um Coringa, e “Eu vou pro Ceará” (Humberto Teixeira), cantada por Epaminondas Sousa. Detalhe luxuoso: o disco teve capa original assinada por Ademir Martins e texto de apresentação de Rachel de Queiroz. (FM)

Hino de Fortaleza

“Canta o mar nas areias ardentes / Dos teus bravos eternas canções: / Jangadeiros, caboclos valentes, / Dos escravos partindo os grilhões. / Fortaleza! Fortaleza! / Irmã do Sol e do mar, / Fortaleza! Fortaleza! / Sempre havemos de te amar”. Na década de 1990, o Hino de Fortaleza ganhou uma versão no cancioneiro popular, estilizado para o toque do maracatu cearense e cantado por Calé Alencar. Composto no final da década 1950, o poema de exaltação a cidade é de autoria de Gustavo Barroso e a música assinada pelo músico e escritor Antônio Gondim. O Hino teve arranjo original para piano, apresentado pela primeira vez no Theatro José de Alencar, dia 16 de novembro de 1957, dentro das comemorações de centenário do romance “O Guarani”.

http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/o-carnaval-a-praca-e-o-seu-ventinho-maroto-1.793732
 

 

Luciano Hortencio

Música e literatura fazem parte do meu dia a dia.

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  1. reblogando

     

    BODE IOIÔ

    O hollywoodiano bode boêmio de Fortaleza

    Don Luc mandou cortar o saco e arrancar o rabo do apreciador do arriba saia da praça do Ferreira.

    O boêmio juramentado está embalsamado no Museu do Ceará.

    O bode Ioiô viveu na cidade de Fortaleza, capital cearense, na segunda década do século XX e tornou-se um importante personagem cearense.

    O contexto histórico do início de sua vida não colaborava para a notoriedade alcançada.

    Vindo do interior do Ceará, em meio à famosa “Seca do 15”, alcançou a popularidade no ano de 1915, quando seu dono, um retirante, vendeu-o à Rossbach Brazil Company, uma empresa inglesa instalada na Praia de Iracema.

    Passou, então, a ser criado livremente, solto pelas ruas e, em pouco tempo, familiarizou-se com a metrópole e conquistou a simpatia dos habitantes.

    Ioiô frequentava os cafés, bares e restaurante fortalezenses e recebeu tal nome por conta da rota que frequentemente fazia, que parecia um ioiô (subindo e descendo pelas ruas de Fortaleza).

    As leis proibiam a circulação de animais desacompanhados pelas belas ruas da cidade, mas, ainda assim, Ioiô não era perturbado nem pelos fiscais municipais fato devido à conquista da ampla simpatia popular conquistada por ele.

    O sacudo Ioiô perambulava pela cidade acompanhando boêmios e escritores e visitava, diariamente a praça do Ferreira, centro cultural e comercial da época.

    O seu aspecto descuidado e o seu cheiro característico e desagradável não impediam que recebesse o carinho dos fortalezenses, mas o invejoso Dom Luc tinha raiva dele.

    Reza a lenda que Ioiô era uma companhia ativa nas bebedeiras dos boêmios da cidade.

    Fala-se ainda que sua fama era maximizada por ter a atenção despertada pelo efeito que o vento da Praça do Ferreira provocava nos vestidos das moças e nas batinas dos padres, estimulando-o a correr atrás desses dois grupos distintos.

    Ainda como manifestação de profundo amor ao Bode e revolta pelos desmandos e corrupções exercidos pelos políticos da época, em 1922, os eleitores de Fortaleza elegeram o Bode Ioiô para vereador da cidade, inclusive, com a maior votação daquela eleição.

    Não foi empossado (infelizmente), mas a sua eleição foi considerada como uma representativa manifestação de protesto ao poder público e isso fez com que sua fama se expandisse além das fronteiras de Fortaleza, pois, hoje, existe uma réplica de Ioiô no Museu de Hollywood.

    Multidão concentrada na Praça do Ferreira, onde o bode Ioiô, tornando-se um deles, fazia companhia aos beberrões da época, aguardando o desfile de blocos de carnaval

    No decorrer dos anos, a cidade ia se desenvolvendo e o vigor físico do animal, em contrapartida, diminuindo.

    Por esse motivo, tornava-se cada vez menos comum encontrar o Bode Ioiô em meio à boemia, até que, no ano de 1931, ele foi encontrado morto próximo à Praia de Iracema.

    O seu falecimento foi noticiado pelos meios de comunicação e foi muito sentido por grande parte da população fortalezense.

    Logo em seguida, a empresa proprietária de Ioiô, embalsamou o corpo e cedeu ao Museu do Ceará, onde é possível encontrar até hoje a presença desse ilustre personagem, com apenas uma pequena diferença: a ausência do rabo que foi roubado dentro do museu.

    [video:http://youtu.be/SgXgy17Ypok width:600 height:450]

    Inseri nestas saborosas informações, recolhidas do blog PROL L3, outro nobre personagem de lá – o famoso e invejoso Guru do Ceará – que foi foi incluido neste causo com ampla, irrestrita e perniciosa licenciosidade bodética.

    Prendam o invejoso Don Luc, o malfeitor que mandou cortar o saco e arrancar o rabo do pobre bode Ioiô.

    Favor encaminhar informações sobre o paradeiro do assassino bodético ao tele-denúncia do Ceará – FONE 181

              Vém cá, seu guarda,
              Bota na jaula esse moço
              Que está no salão brincando
              Com o rabo do bode no bolso

              Foi ele! Foi ele sim!
              Foi ele quem cortou
              O rabo do bodim!

             DON LUC

             Foi ele!

    1. O Bode Iôiô perambulava desde

      O Bode Iôiô perambulava desde a Praça do Ferreira até o Country Club, na avenida Barão de Studart, para onde subia pela avenida Santos Dumont. Falam que os canadenses frequentadores do Country foram os que botaram a perder o Iôiô, acostumando-o a viver uma vida luxuosa e cheia de regaladas gostosuras que muito mal fizeram a sua saúde. Aliás, retornando depois de muitos anos ao Country, ví que o atual restaurante cometeu o desastre de tirar o retrato da Rainha Elisabeth de cima do palco. O restaurante anterior havia preservado aquele ótimo retrato a óleo de uma muito jovem rainha. Devemos indagar com veemência, onde está o retrato da Rainha que estava no Country Club? Aquilo é patrimônio da cidade!

  2. UMA DÚVIDA

    Grande Hortêncio!

    Me tire uma dúvida: esse camarada que está sentado é o bisavô do Zé Tatá ou do Burra Preta?

    Hehehe…

    Grande abraço!

    1. GRANDE IRAPUAN

      Do inesquecível Show do Mercantil (São José)…

      Reza a lenda, lenda é lenda, que todo ano de eleição o Irapuan se candidatava a deputado estadual e, conhecido como era, saía a arrecadar para a campanha. Não gastava  um só tostão com santinho, cabo-eleitoral, carro de som ou qualquer quantia que estivesse ligado à candidatura. Quando alguém o encontrava durante o período eleitoral recebia a seguinte resposta sobre a quantas andava a eleição: “Da eleição eu não sei, mas a arrecadação vai de vento em popa”. Terminada a campanha ele ia aos Isteites, gastar o dinheiro arrecado (nunca se elegeu, nem era pretensão, claro!)

      1. Peço permissão para retificar

        Peço permissão para retificar um equívoco teu, Nonato Amorim: O “Show do Mercantil”, um programa criado pela extinta TV Ceará-canal 2-para mimetizar o programa do Flávio Cavalcante da TV Tupi-Rio, ambas integrantes da rede dos Diários Associados, sempre foi comandado pelo AUGUSTO BORGES(ainda vivo), e não pelo Irapuam Lima. Este fazia outro programa(que agora esqueço  nome) que emulava o Chacrinha. 

        Bons tempos, aqueles. 

        1. PERDÃO PELO ERRO, CLARO…

          … era o Augusto Borges, SIM, amigo!

          E concordo, nunca fomos um povo carnavalesco. Na minha época tinha um pseudo carnaval de rua na Duque de Caxias, que chamávamos de “corso” (eu acho). Era um treco meio povão em que os homens se vestiam de mulher, mas só gente das classes mais populares frequentavam. Nessa mesma Avenida pontuavam “Ispaia Brasa”, “Unidos do Pajeú”, “Império Ideal” (do saudoso Zé Maria), entre outras, e os Maracatus.

          Quer saber, JB? Povo carnavalesco mesmo, na acepção da palavra, é o PERNAMBUCANO!

          Grande abraço…

          1. Não esquecer a Leopoldina

            Não esquecer a Leopoldina Show, a verde e branco. Todas eram escolas popularíssimas, que contavam com a participação dos moradores do bairro onde estavam instaladas, que era quase que uma obrigação cívica. A pobreza dos trajes e adereços refletia as agruras dos anos magros por que passavam seus sacricados promotores e brincantes.

    1. Caro Luis Armidoro

      A foto colorida, que ilustra o Post, é de 1920.

      A da Coluna da Hora, na Praça do Ferreira é da década de 1960…

      Abraço do luciano

  3. Pena que toda essa

    Pena que toda essa arquitetura linda tenha ido para o beleléu. Do entorno da praça do Ferreira só escaparam o prédio onde funcionou certa época  CEF, a farmácia Pasteur e o hotel Excelsior,  esquina da Guilherme  Rocha com a Major Facundo. 

    Cearense, infelizmente, nunca deu bolas para preservação da memória. Talvez por conta do seu instinto/espírito migrante. 

    Outro detalhe que talvez não mereça acatamento pelo Luciano Hortêncio e o Nonato Amorim: nunca fomos um povo carnavalesco na acepção forte do mesmo. Nosso carnaval sempre se apresentava de maneira peculiar por dois aspectos: 1) Cultural: maracatus e outras exibições egressas da cultura negra;2) Blocos e ranchos onde prevalecia a gaitice e a molecagem típica do cearense. Prevalecia o bom gosto e a sátira inteligente.  Fonte: minha finada mãe.

    Hoje se resume a um desfile voluntarioso, mas pobre em estilo e ornamentação, e os indefectíveis e asquerosos “carnaval de praia” que se resume a uma ruma de bêbados ouvindo música baiana ou similar melando-se uns aos outros. Triste. 

    1. Amigo João Bosco!

      Amigo João Bosco!

       

      O cearense é doido varrido por carnaval! A prova disso é o pré-carnaval que vem acontecendo nos últimos anos, em vários bairros de fortaleza, todos entupidos de foliões de num caber nem um coco a mais.

      Quem não gosta de carnaval ou não investe em carnaval é o poder público. O carnaval cearense tem características próprias sim, não fora isso não seria o nosso carnaval.

      Até o final dos anos 60 o carnaval de rua era excelente e havia carnaval em todas os clubes dançantes, quer os mais sotisticados, quer os mais populares, chamados clubes suburbanos. Nesses últimos era que a coisa pegava fogo mesmo.

      Com o endurecimento da ditadura em 1968, o aninho que não terminou, foram proibidos o corso de carros na Avenida Dom Manuel, o carnaval de rua migrou para a Domingos Olímpio, a Praça do Ferreira estava lamentavelmente descaracterizada pela administração José Walter Cavalcanti, etc. e tal. Tudo isso contribuiu negativamente para o declínio do nosso carnaval. Só que o povo não teve nada com o pato. apenas o pagou!

      Se o cearense não gostasse de carnaval jamais se largaria para Paracuru, Aracati, Camocim e várias e várias cidades interioranas para brincar o carnaval. Porque essa opção? Porque o poder público municipal não prestigia as agremiações e nem promove um carnaval condigno.

      Quero ainda dizer que os carnavais de Olinda e Pernambuco são coalhados de cearenses. Tem mais cearense do que gente por lá.

      Não se faz carnaval sem dinheiro, sem patrocínio. Você sabe muito bem que as agremiações carnavalescas dependem de verbas da Prefeitura, compram fantasias e adereços fiado e, muitíssimas vezes, vão receber o prêmio ou verba a elas destinadas vários meses depois. De quem é a culpa. Do Poder Público Municipal, não tenho disso a menor dúvida.

      Sei que é muito difícil reverter essa situação. Há até uma marchinha carnavalesca do Poty Fontenel e Raimundo Cassundé denominada QUEM É DE BEM FICA, que diz mais ou menos assim, fazendo uma referência ainda ao bairro Benfica: “Não vá embora meu bem, não vá emora. Que é de bem, fica…”

      Não quero comparar o caqrnaval cearense com nenhum outro carnaval. Aliás, o carnaval de rua com Escolas de Samba que imitam o carnaval carioca, a meu ver, não passa de triste simulacro. Claro que podemos ter Escolas de Samba e já as tivemos muito das boas, exemplificando com a Escola de Samba Luis Assunção e a Ispaia Brasa, tendo eu orgulho de haver paerticipado dessa última em 1975 e 1976, anos em que a Escola foi campeã e Bi-Campeã. Acho até que ganhou os títulos , além de outros fatores, pela minha participação como sambista…rsrsrs

      Vai ai a Carteira de sambista.

      Abração do luciano

       

      1. Meu alerta de que certamente

        Meu alerta de que certamente receberia um “não concordo” da tua parte veio bem a calhar para que eu mesmo, como cearense, tivesse a oportunidade de ler uma defesa tão enfática e bem elaborada do carnaval da nossa terra. 

        Muito dos dados e fatos por ti apontados fui testemunha. Sei que hoje permanece a tradição de um pré-carnaval(dito de bairros) vibrante e alegre. Talvez minha análise tenha sido contaminada pela decepção dos últimos anos, a exemplo do simulacro a que te referiste e o esvaziamento dos tradicionais “bailes carnalescos”, cujo ápice sempre foi o “Carnaval da Saudade” do Naútico Atlético Cearense. Para ser honesto, confesso que nunca fui muito fã dessa modalidade de festejo. 

        Influenciou, e continua influenciando esse desânimo, a mimetização principalmente do carnaval baiano e suas músicas “axé”. Aliás, chamar isso de música é força de expressão. 

        Valeu muito os teus esclarecimentos e a tua sempre presente cearensidade aqui neste espaço. O que me deixa deveras orgulhoso.

        Um abraço. 

  4. Como aconteceu com todas as

    Como aconteceu com todas as grandes e médias cidades brasileiras, a belíssima Fortaleza foi destruída pela “arquitetura” norte-americana que ainda vigora nas mentes privilegiadas dos nossos especialistas urbanos. Viva, viva, viva a “elite” brasileira!!!

  5. NESSA PRAÇA O SOL FOI VAIADO

    O dia em que o cearense vaiou o sol

    Há 70 anos, frequentadores da Praça do Ferreira se aglomeravam para vaiar o sol que teimava em aparecer. Registrado por um repórter do O POVO, o episódio daquele 30 de janeiro de 1942 virou um marco da irreverência cearense.

    Era janeiro de 1942. Fortaleza, então com pouco mais de 180 mil habitantes, nem sonhava com os arranha-céus que tomariam seu espaço. Casas de muros baixos e praças arborizadas do Centro da cidade assistiam aos rapazes de paletó flertar as moçoilas de vestidos alinhados. Nos jornais, notícias da Segunda Guerra Mundial ocupavam boa parte das páginas dos folhetins. O que acontecia noutras terras chegava também através do rádio e deixava os moradores sob tensão.

     

    Pela Praça do Ferreira (que já foi Feira-Nova, Pedro II, da Municipalidade e é do Ferreira desde 1871), o assunto da guerra se dividia com o futebol que era anunciado em placas espalhadas pelos quatro cantos, indicando o match da semana. Por ali, os bebuns capengos se esbarravam com os intelectuais e tropeçavam nos saltos finos das moças da sociedade que se esquivavam da ralé circulante. Na praça os bancos ocupados por toda a “estirpe” de gente (intelectuais, políticos, católicos, comunistas, etc), uma Fortaleza inteira se refletia. Foi exatamente nesse “coração da cidade” que se deu o causo que hoje completa 70 anos.

    Uns contam que o tempo apenas estava bonito para chover. Outros dão conta que já chovia forte há dois dias, entrando no terceiro. O Ceará, vindo de uma seca braba, clamava para que o sol desse uma trégua por mais uns dias, mas ele, naquele 30 de janeiro de 1942, teimou em varar as grossas nuvens e apareceu avermelhado no céu.

     

    Passando pelas proximidades da Praça do Ferreira em direção ao setor de redação do O POVO, um repórter “esgueirando-se pelas calçadas molhadas” viu um grupo numeroso de pessoas aglomerado por ali, reparando “o esforço desesperado do sol para aparecer” e registrou os seguintes fatos na edição vespertina daquele mesmo dia. “Olhando para o alto e apontando, começaram uma demonstração estrondosa, vaiando o astro vencido e apagado, naquele momento, num grito uníssono de várias bôcas. Mas afinal o velho Rei das alturas venceu, botando todo corpo vermelho para fora das nuvens e dispersando os vaiadores”.

     

    À época, como tudo o que acontecia na Praça do Ferreira, o ato inesperado foi sabido por boa parte da pequena população fortalezense, mas logo o deu por esquecido. Hoje, o episódio é visto como uma prova que a verve cômica do cearense vem de muito antes de Chico Anysio, Renato Aragão, Tom Cavalcante, Falcão ou Rossicléa. “A molecagem já está bem residente nesta vaia, como já estava na Padaria Espiritual, como estava quando chamavam as moças que namoravam soldados americanos, na época da Segunda Guerra, de garota Coca-Cola. O teatro do Carlos Câmara já traz isso, a música de Ramos Côtoco no início do século 20 também, é algo que vai sendo construído”, aposta o professor e pesquisador Gilmar de Carvalho, que, até uma aluna mostrar-lhe a xérox do O POVO daquele dia, acreditava no fato apenas como uma lenda urbana.

     

    Autor da peça O dia em que vaiaram o sol na Praça do Ferreira, escrita em 1983, Gilmar aponta, no entanto, que a visibilidade hoje dada à vaia é coisa recente. “Em 1976, quando fiz uma pesquisa sobre a molecagem cearense, essa reverência à vaia não era tão forte. Ela foi sendo apropriada pelos humoristas cearenses e o dia em que o sol foi vaiado se torna um momento oficial dessa irreverência do cearense. Acho que de uns 15 anos para cá que tem isso mais forte”.

     

    Ceará fuleiro

    O porquê de um episódio nada mais que curioso ter entrado para a história de Fortaleza e ter feito de uma simples vaia um “patrimônio imaterial” do cearense, ninguém define ao certo. Alguns pesquisadores e memorialistas acreditam que só o fato dele ter acontecido onde aconteceu, já é meio caminho para ganhar a visibilidade que tem hoje. “Aqui o pessoal tem essa mania de vaiar tudo e a Praça do Ferreira sempre foi o ponto principal da canalhice, do Ceará moleque”, pontua o pesquisador Miguel Ângelo (Nirez). “Esses apupos eram naturais a esse pessoal que sentava ali na Praça do Ferreira. O cearense é realmente um povo dado a essa forma de vaiar. Padre Quinderé já dizia que Fortaleza era terra de muro baixo: tudo o que acontecia, era muito divulgado, muito mexericado”, reforça o memorialista Zanilo Almada.

     

    A vaia dada ao sol por “alegres circunstantes”, como define o repórter desconhecido do O POVO (a matéria não está assinada), oficializou o dia 30 de janeiro de 1942 como o marco da irreverência do povo cearense. Característica que para alguns cria um estereótipo nada engraçado. “Eu vejo mais como uma espécie de extravasamento do recalque da vida miserável que leva. O povo não leva nada a sério é porque ele também não é levado a sério”, opina o pesquisador Christiano Câmara.

     

    Para outro tanto, o humor sem estereótipos tem lá a sua graça, sim. O sério professor Gilmar é um dos que se rende à ideia. “Através da irreverência, a gente consegue reagir bem às adversidades. Acho que não prejudica a nossa imagem porque fica sempre como uma coisa leve, o cearense não vira uma usina de humor 24 horas. Funciona muito como um tempero que vai tornar a vida mais interessante. Conseguimos ser pessoas vistas como trabalhadoras e, ao mesmo tempo, que vaiam até o sol”.

    [video:http://www.4shared.com/mp3/t_oQdjAa/300112_NIREZ.html%5D %5Bvideo: 

     

     

      1. Tempo Feliz

        O tempo passou.
        E, como todo mundo,
        o menino maluquinho cresceu.

        Image by Ziraldo.  All rights reserved. Todos os direitos reservados.

        Cresceu
        e virou um cara legal!

        Aliás,
        virou o cara mais legal
        do mundo

        Image by Ziraldo.  All rights reserved. Todos os direitos reservados.

        Mas, um cara legal, mesmo!

        Image by Ziraldo.  All rights reserved. Todos os direitos reservados.

        E foi aí que
        todo mundo descobriu
        que ele
        não tinha sido
        um
        menino
        maluquinho

        ele tinha sido era um menino feliz!

        ziraldojean

        ‘Menino Maluquinho’ e um dos antológicos personagens do antológico Ziraldo.

        mmp1780_comemoracao2

      2. MEU AMIGO JEJÊ!

        Dom Jejê, meu bom amigo!
        Dom JNS é um mala sem alça e sem rodinhas! Para saber a que vídeo ele se referia tive a idéia luminosa, que nem um vagalume, de vir aqui. Adorei esse vídeo e estou sacando que meu amiguim tá se soltando pra carvalho. Isso é muito bom. Desculpe se não achei o vídeo antes… Adoro suas tiradas e continuo esperando uma dica de como enviar o prêmio de cem mangos a que você fez jus. Cobra do teu tio turrão, escorregadio e desaparecedor.

        Abração do luciano

         

        (Comentário postado no youtube!

  6. O Saudoso Bode Bito

     

    Escapou de virar buchada para fazer amigos em Riachão do Dantas

    Informações do blog ‘Trilhas com Poesia’, com Imagens da Internet e a inserção da excelente matéria veiculada pela TV Record

    Antes de chegarmos em Tobias Barreto, passávamos em Riachão do Dantas, município de Sergipe, onde terminaríamos a nossa trilha, em Tanque Novo, povoado de sua periferia.

    Olhando o horizonte com cabeça erguida, lá estava a estátua do filho mais ilustre de Riachão do Dantas, dando as boas-vindas para os visitantes: o famoso bode Bito.

    Bito um dia escapou da panela, por ter a fina qualidade de se socializar com todos; foi assim que conquistou os 20 mil corações da cidade, participando de missas, enterros – o que ele preferia -, velórios, procissões e até dos desfiles comemorativos de 7 de Setembro, dia de nossa Independência – um bicho humano.

    Sentava nos bancos das praças e até parecia conversar com as pessoas; têm-se notícias que até lhe pediam opiniões. Não podia ouvir os sinos da igreja de Nossa Senhora do Amparo, que já lhe subia as escadarias, para ver o que estaria a acontecer.

    [video:http://youtu.be/d6yJI5tNDv8 width:600 height:450]

    http://trilhascompoesia.blogspot.com.br/2010/03/trilha-tobias-barreto-riachao-do-dantas.html

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