A armadilha da popularidade do governo Dilma

Coluna Econômica

Há uma boa e uma má notícia em relação à estabilidade política do país.

A boa notícia são os índices de aprovação da presidente Dilma Rousseff, inéditos na moderna história política do país.

Mantidos nesse nível – e sem a presença de José Serra na corrida eleitoral – provavelmente não se repetirá o vale-tudo de 2010, o maior festival de mentiras, baixarias e irresponsabilidade institucional da história política do país.

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A má notícia são também os índices de aprovação de Dilma.

Certamente reforçarão o sentimento de onipotência do governo, a fé cega de que está fazendo tudo corretamente, a autossuficiência cada vez maior e a falta de visão prospectiva para identificar fontes futuras de problemas.

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É necessário livrar-se da armadilha da popularidade.

Nos quatro primeiros anos de seu governo, sem problemas maiores pela frente – a ponto de conseguir a reeleição facilmente -, FHC enterrou o segundo mandato e liquidou para sempre com os sonhos de perpetuidade do PSDB.

Sua arma era a ausência total de iniciativas. A de Dilma é o excesso de ativismo. Em comum a falta de uma visão estratégica de longo prazo e a crença de que basta resolver pontualmente problemas de curto prazo para se construir o médio prazo.

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Nesses dois anos, a Fazenda limitou-se a ligar o automático e a trabalhar exclusivamente com bondades para os diversos setores da economia, sem apresentar uma visão de conjunto, uma estratégia de médio prazo.

Matou dois anos de crescimento com as medidas prudenciais de 2011. Até hoje não apresentou um estudo consistente garantindo a sustentabilidade da Previdência com esse festival de isenções. Além de ter caído na armadilha das isenções de IPI para setores selecionados – se tira IPI pressiona a inflação e compromete o crescimento.

Fechou os olhos para a deterioração das contas externas e para a necessidade de reformas institucionais.

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A gestão Antônio Palocci pecava pela absoluta incapacidade de romper as amarras do orçamento para investimento público. Mas cuidava de reformas institucionais que lograram resultados – como o conjunto de reformas conduzidas por Marcos Lisboa que destravaram o crédito imobiliário.

O governo Lula conseguiu desenvolver políticas inovadoras abrindo-se para as sugestões externas. Foi assim com Minha Casa, Minha Vida, com o crédito consignado. Em todos esses momentos, havia a abertura para as sugestões de fora e uma cabeça organizada – da Ministra Chefe da Casa Civil Dilma Rousseff – consolidando as sugestões e transformando-as em planos de ação.

Até isso se perdeu.

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Os problemas enfrentados para destravar o investimento são a comprovação de que uma boa ideia (concessões tendo como foco a queda das tarifas) não avança se não vier respaldada em uma estratégia eficaz – só possível de montar por quem está aberto aos inputs externos.

Dilma tem o fogo sagrado de quem quer melhorar o país. Tem coragem e popularidade.

Precisa temperar com um pouco de humildade e visão estratégica.

A melhor coisa que poderia acontecer para seu governo seria alguma liderança da oposição levar as eleições para o segundo turno.

As críticas destrutivas

Contribui para a autossuficiência do governo Dilma a perda de legitimidade das críticas midiáticas. As críticas consistentes acabam encobertas pelas críticas levianas, pela briga com os fatos, como mostram o alarmismo com o “apagão” elétrico que não houve e o terrorismo em relação à inflação que está sobcontrole. Hoje em dia, as críticas consistentes se perdem em meio à falta de critérios.

A muleta das reservas cambiais

A constituição de reservas cambiais robustas foi boa por reduzir o risco de novas crises cambiais. E foi péssima ao permitir o acomodamento em relação ao câmbio. Não fosse esse colchão ilusório – já que para cada dólar de reserva existem investidores que poderão sair quando quiserem – há muito o Banco Central teria acordado para a deterioração das contas externas. Ganha-se um ou dois anos para se empurrar a questão com a barriga.

Luis Nassif

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