A comparação da produtividade de professores nos EUA e aqui

Por Rogério Maestri

Comentário ao post “As diferenças do ensino superior entre Brasil e EUA

Caros Senhores.

Há uma série de erros na comparação entre a produtividade de professores norte-americanos e brasileiros, procurarei relatá-las algumas para termos um padrão de comparação melhor.

Primeiro, querer comparar professores de universidades brasileiras como o MIT, Havard, CalTech, Yale e outras, é uma verdadeira desproporção. Enquanto estas universidades foram fundadas em 1861, 1636, 1891, 1701 respectivamente, nossas melhores universidades, USP, UNICAMP, UFRGS e outras foram fundadas como universidade em 1934, 1966, 1947 (como URGS), ou seja, quando nasciam nossas universidades as grandes universidades norte-americanas já eram centros de pesquisa de excelência.

Segundo ponto, pesquisa nas universidades brasileiras começaram na década de 70, enquanto nas universidades norte-americanas desde o início do século o governo norte-americano jogava rios de dinheiro nesta atividade por interesse estratégico. Chamo a atenção que independente de partido no poder, republicanos ou democratas, JAMAIS o governo norte-americano deixou a atividade de pesquisa ao sabor do mercado. Até hoje o grande investidor em pesquisas nos Estados Unidos é o governo federal e os governos estaduais.

Se falarmos de programas de pós-graduação a diferença fica ainda mais gritante, no início do século XX, todas as grandes universidades norte-americanas tinham cursos de pós-graduação formando doutores nas áreas TÉCNICAS, isto no Brasil começa com mais de cinquenta a setenta e cinco anos de atraso.

Agora vamos à comparação mais surpreendente, recursos para a pesquisa. Enquanto nos Estados Unidos, já no século XIX, tanto o governo como beneméritos aportavam dinheiro para a pesquisa, este começou a conta gotas nas décadas de 70 e 80, para só nos últimos dez anos começarmos a receber recursos mais significativos (para não ser injusto com presidentes de governos anteriores, os aportes mais significativos de recursos para a pesquisa começaram em 1999 com a criação dos fundos setoriais). Capes, CNPq e Fundações Estaduais aportavam recursos, principalmente para bolsas de pesquisa de professores, mas instalações de porte só começaram com os fundos setoriais. E o importante, enquanto um capitalista americano quando morre doa dinheiro ou bibliotecas a universidades norte-americanas, os nossos capitalistas brasileiros enquanto muito vivos querem saber o que podem retirar das nossas universidades!

Podemos dizer que a Universidade Brasileira tem de setenta e cinco a cem anos de atraso histórico em relação a grandes centros de pesquisa mundiais, e que devido a esta falta de história, penam em achar o seu caminho.

Há um fator importante que todos esquecem, países como os europeus e o próprio Estados Unidos, levam extremamente a sério a criação de tecnologia para o seu desenvolvimento, por exemplo, as verbas para uma das agências de pesquisa dos Estados Unidos, a National Science Foudation solicitadas para o orçamento de 2013 são de US$7.373.000.000,00 (7,373 bilhões de dólares). Este é o CNPq deles, os orçamentos de pesquisa para as forças armadas e outros ministérios ultrapassa em muito todo este orçamento.

Bem quanto a questão de publicações fica bem claro porque é mais fácil publicar nos Estados Unidos do que no Brasil, mas se fosse só isto era pouco.

Sou coordenador de um núcleo de pesquisa em que estava engajado neste núcleo um professor que havia ficado numa das Top-tens norte-americanas trabalhando no desenvolvimento de um acelerador de partículas, ele chamou a atenção que uma grande diferença que havia entre as universidades norte-americanas e as brasileiras, era que aqui os professores tem que fazer o projeto, orçar o projeto, contratar as pessoas para construir instalações físicas, fiscalizar a construção das instalações físicas, preencher toda a burocracia e ainda se preocupar com coisas nada técnicas como responder na Justiça do Trabalho por contratações erradas que os mesmos por sua ignorância fazem. Por outro lado, nos Estados Unidos o professor é responsável pelo projeto de pesquisa e por seu orçamento, daí por diante a universidade toma conta do resto.

Quanto ao número de horas de aula, aí comentários que pessoas que nada entendem sobre educação, dizem idiotices que é de dar gosto. Excetuando os professores contratados somente para dar aulas, os professores seniores tanto nos Estados Unidos como na Europa, dão aproximadamente 10% a 20% das aulas do que qualquer professor regido pela Lei de Diretrizes e Bases na Educação (Lei Lei nº 9.394, de 1996) obriga (Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior, o professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas semanais de aulas.). Ou seja, enquanto professores seniores nos Estados Unidos ou na Europa dão de 40 horas de aula por ANO, no Brasil o MÍNIMO previsto por lei é de 180 aulas ano ou 240 aulas conforme o tamanho do semestre na instituição (mais outras atividades. É claro!). Para exemplificar no meu caso pessoal a média dos últimos anos tem variado entre 432 horas aula a 504 horas aula).

Em resumo, a produtividade média de um professor universitário brasileiro em relação aos seus congêneres internacionais, computado não só o aspecto de publicações científicas, mas sim a todas as atividades que um professor de nossas universidades tem que fazer, é MAIOR. Se fossemos contar somente as publicações, realmente é muito baixa, entretanto se na Universidade Brasileira, os professores dedicassem seu tempo somente para a pesquisa e dessem somente a quantidade de aulas que são dadas em outras universidades no mundo, talvez a nossa produção intelectual atingisse níveis mais próximos aos níveis internacionais, entretanto a universidade deixaria de funcionar e os alunos de graduação não teriam mais professores.

Professor Rogério Maestri

Professor do ensino superior desde 1978.

(Ainda não aposentado!)

Luis Nassif

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