A crise dos combustíveis

Coluna Econômica

A crise atual dos combustíveis é especificamente uma crise do álcool.

Ainda nos anos 90 esse mercado foi desregulamentado, inclusive com o fim dos subsídios. Os preços do açúcar e do etanol ficaram ao sabor das variações de mercado.

Criou-se um impasse na área de combustíveis.

A área plantada de cana chega a 7 milhões de hectares, 2% da área agricultável. Cultiva-se cana no Sudeste, Centro-Oeste, Sul e Nordeste, permitindo duas safras por ano: no centro-sul, início em abril e duração média de 210 dias; no norte-nordeste.

No Centro-Sul a safra inicia em abril tem duração média de 210 dias. No Norte-Nordeste a safra inicia em setembro. Portanto, durante todo o ano o Brasil produz açúcar e etanol para os mercados interno e externo.

A rigor, um bom processo de estocagem evitaria as oscilações nas entressafras. A Petrobras cumpria essa função. Acabou repassando para as distribuidoras. A Unica – associação que congrega os produtores de açúcar e álcool – comprometeu-se a regular a oferta através de contratos futuros de venda.

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Nada disso ocorreu. Quando sobreveio o aumento nas cotações internacionais de açúcar, veio a crise.

Nos últimos 12 meses, o etanol hidratado teve aumento de 75% em reais e de 95% em dólares; nos últimos 24 meses, os aumentos foram respectivamente de 117% e 201% (segundo levantamentos da Esalq). No caso do álcool anidro os aumentos foram de respectivamente 193% em reais e 226% em dólares nos últimos 12 meses. Em relação aos preços de exportação do açúcar, as cotações são similares às do ano passado (-8% em reais e -1% em dólares), mas ainda assim excepcionalmente elevadas – em relação a dois anos atrás, 31% em reais em relação e 69% em dólares.

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Há duas etapas na produção de etanol: do produtor até a distribuidora; da distribuidora até o posto de gasolina. A ANP (Agência Nacional do Petróleo) regula apenas da distribuidora em diante.

O nó reside aí. Com o avanço dos carros flex fluel, o álcool passou a interferir em toda a cadeia de consumo de gasolina.

Nos postos coexistem a gasolina tipo A (sem mistura), a tipo C (misturado ao álcool anidro) e o álcool hidratado. Nas usinas, existe a relação de preços entre o açúcar e o álcool: em cima da mesma cana, o usineiro pode determinar o percentual que irá para a fabricação de açúcar e de álcool.

Quando ocorre um choque de preços – por exemplo, o choque internacional de cotações do açúcar, há um curto-circuito em toda a cadeia de combustíveis. Os usineiros reduzem a produção de álcool para ganhar com o açúcar.

Ocorre uma diminuição no consumo de álcool hidratado. Os consumidores correm, então, para a gasolina. Mas o aumento do preço do álcool contamina o preço da gasolina tipo C, já que na composição final, 26% correspondem à gasolina, 38% aos impostos e 23% ao álcool anidro. O dono do posto deixa de comprar, então, a gasolina tipo C, que passa a faltar.

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Já é a terceira crise em poucos anos. É possível que os preços refluam com a entrada da safra. Mas provavelmente a posição final do governo será ou taxar as exportações de açúcar ou colocar a ANP para regular a fase de produção de etanol.

Luis Nassif

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