A guerra do Jabuti

Correção

Alertado por leitores, fui conferir os regulamentos do Prêmio Jabuti. Lá está claro que concorrem ao Prêmio principal os três finalistas em cada categoria de ficção e não ficção:

V – Dos Prêmios Livro do Ano

1. Os associados da CBL, SNEL, ANL e ABDL, como representantes do mercado, e os jurados das etapas anteriores votarão no Livro do Ano, nos gêneros:
• Ficção (Romance, Contos e Crônicas, Poesia, Infantil e Juvenil) e
• Não-Ficção (Teoria / Crítica Literária; Reportagem; Ciências Exatas, Tecnologia e Informática; Economia, Administração e Negócios; Direito; Biografia; Ciências Naturais e da Saúde; Ciências Humanas; Didático e Paradidático; Educação, Psicologia e Psicanálise; Arquitetura e Urbanismo, Fotografia, Comunicação e Artes).

(…)

3. Para a escolha dos vencedores do Prêmio Livro do Ano, será enviada, pelo correio, aos profissionais da classe e aos jurados, uma Cédula de Votação contendo os nomes dos 3 (três) finalistas em cada categoria (conforme o item 1).

Leiam o comentário abaixo com a retificação antecipadamente colocada.

Comentário

Guerra complicada, esta que se instaurou em torno do Prêmio Jabuti. O prêmio prevê votação especializada por categoria e votação direta, entre os associados da Câmara Brasileira do Livro. O vencedor da eleição direta terá que ser obrigatoriamente um dos vencedores de qualquer categoria.

Chico Buarque venceu na eleição direta; mas foi o segundo na categoria Romance. As regras acabaram mudando e ele foi premiado.

Duas observações.

Primeiro, em relação à cobertura virulenta do portal da Veja, contra Chico e em favor da Record. É jogo de interesse no meio.

Na grande barafunda que se instalou na velha mídia – depois do pacto espúrio de 2005 entre Veja, Folha, Globo e Estadão -, montou-se um esquema para lançamento de livros dos jornalistas e parajornalistas do grupo.

Foi um episódio vergonhoso, parte do qual narro no capítulo “Os mais vendidos”, da série “O caso de Veja”.

Julgando-se donos absolutos da opinião pública, vários desses jornalistas – Mário Sabino, da Veja, Ali Kamel e Merval Pereira, do Globo, o segundo time Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi, da Veja – passaram a lançar livros com esquemas milionários de divulgação por parte das editoras, tendo como garantia a ampla cobertura que os quatro grupos dariam ao lançamento. Com exceção de Kamel, todos os lançamentos foram feitos pela Record.

Criou-se uma cumplicidade entre Record e Veja que provocou reclamações das demais editoras. Principalmente depois que se constatou que a revista manipulou a lista dos mais vendidos para beneficiar Mário Sabino, seu diretor. Veja  oferecia ampla divulgação aos livros da Record; em contrapartida, a Record bancava investimentos pesados na promoção dos livros da turma.

O caso Sabino foi exemplar. Houve até campanhas de outdoor de rua  para promover o seu livro  que não vendeu mais do que 4 mil exemplares. No caso de Reinaldo, lançamento por todo o país, campanhas de outodoors em ônibus, promoção em lugares especiais de livrarias.

E o esquema era o mesmo. Saía o livro, em seguida resenhas na Veja, Folha, Estadão e Globo, entrevista nos programa do Jô e do Edney Silvestre (aliás, belo jornalista) na Globonews, onde os neointelectuais pontificavam sobre tudo e sobre todos os temas. Lembro-me de um embaraçado Silvestre ouvindo seu entrevistado despejar análises de botequim depreciativas contra Carlos Drummond de Andrade.

Feito esse longo parêntesis, segue-se a constatação de que a reclamação de Sérgio Machado procede.

Não há comparação entre o livreiro Luiz Schwacz e Sérgio Machado. Scwarcz é  livreiro; Machado,  vendedor de livros. Mas, ao mudar as regras do Jabuti, José Luiz Goldfarb pisou na bola.

Quando concorri ao Jabuti em 2002, pelas informações que me passaram fui dos mais votados pelos membros da ABL, mas como não venci na categoria Contos-Crônica (fui finalista e o vencedor foi Rubem Fonseca),  os votos foram desconsiderados. Quem levou o prêmio foi o excelente Arthur Netrovsky, também da Folha na época, com um livro infantil. Sem reclamação, pois as regras eram aquelas.

Ao mudar as regras e envolver um ícone como Chico Buarque nesse rolo, Goldfarb prestou um desserviço ao Jabuti e ao próprio Chico.

Por Gilberto Cruvinel

Nassif, bom dia,

Há uma polêmica em curso no meio editorial sobre critérios dos prêmios literários no Brasil, mais especificamente sobre os critérios do Prêmio Jabuti. Como se sabe, o romance “Leite Derramado” do Chico Buarque, Cia das Letras, ficou em segundo lugar na categoria romance, mas, levou o prêmio de livro do ano, superando o primeiro lugar, “Se Eu Fechar os Olhos Agora” de Edney Silvestre, Editora Record. Na quinta feira dia 11/11, o presidente do Grupo Editorial Record, Sergio Machado enviou carta à diretora da CBL, Rosely Boschini, e ao curador do Prêmio Jabuti, José Luiz Goldfarb, comunicando que o grupo não mais inscreverá obras de seus autores no prêmio. Motivo: discordância dos critérios de premiação.

De um lado o Editor da Record acusa o prêmio Jabuti de ter se tornado um “concurso de beleza”. Hoje no caderno literário da Folha, o Editor da Cia das Letras, Luiz Schwarcz responde:

“As declarações de que o Prêmio Jabuti assemelha-se a um “concurso de beleza”, ou tem motivações políticas, desviam a discussão do foco literário e cultural, e reproduzem, na área editorial, o baixo e ofensivo nível do debate político-eleitoral no Brasil. “

A entrevista da Folha, semana passada, com Sérgio Machado, faz questão de ressaltar o tamanho do Grupo Editorial Record: o maior do país, rotativa Cameron que acaba de chegar da Europa (máquina é capaz de imprimir, cortar, colar a capa e refilar as laterais de 6 mil exemplares por hora), 11 selos editados pela casa, 10 milhões de exemplares vendidos, muitos deles pelas mãos de distribuidoras de cosméticos Avon, parceria que é a menina dos olhos da editora.

A resposta de Luiz Schwarcz hoje finaliza assim: “A editora Record tem direito de se orgulhar e se apresentar como o maior grupo editorial do país, mas a literatura nunca foi e nunca será o campo do “você sabe com quem está falando?”, mas, sim, o lugar do “ouve só o que eu tenho para te dizer”. 

Nassif, senti vergonha alheia pelo Sérgio Machado. Se eu fosse editor de livros eu rezaria todo dia a Deus para nunca na vida ter que ouvir uma resposta como essa.

Antes de introduzir as duas matérias, uma observação importante: a polêmica em nenhum momento questionou a qualidade literária de nenhum dos dois romances, “Leite Derramado” e “Se Eu Fechar os Olhos Agora”.

Abaixo as duas matérias, com Sérgio Machado e com Luiz Schwarcz.

Folha Ilustríssima – 13/11/2010 – 20h45

“Jabuti é concurso de beleza”, diz editor da Record

PAULO WERNECK
EDITOR DA ILUSTRÍSSIMA

Na quinta-feira (11), o presidente do Grupo Editorial Record, Sérgio Machado, enviou à diretora da CBL, Rosely Boschini, e ao curador do Prêmio Jabuti, José Luiz Goldfarb, carta datada de 9/11, anunciando que em 2011 não inscreverá seus livros no prêmio.

O motivo: sua discordância com os critérios da disputa, que permite que o segundo ou o terceiro colocados nas principais categorias vençam os prêmios de livro do ano de ficção e não ficção, superando os primeiros colocados em cada categoria.

continua aqui:

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/830386-jabuti-e-concurso-de-beleza-diz-editor-da-record.shtml

Quem garfou Edney Silvestre?

Ou como se discute um prêmio literário no Brasil

RESUMO
Para o editor da Companhia das Letras, a polêmica sobre a premiação a Chico Buarque no Jabuti 2010 se assemelha à recente disputa eleitoral; o rompimento da editora Record com o prêmio denota autoritarismo e tira o debate do âmbito literário e cultural, numa tentativa de desqualificar o júri, composto por membros do setor editorial.

LUIZ SCHWARCZ

NA SEMANA PASSADA, o mercado editorial brasileiro foi brindado com uma nota do Grupo Record comunicando sua retirada das próximas edições do Prêmio Jabuti. O comunicado foi seguido de ampla cobertura no site da revista “Veja”, especialmente no blog de Reinaldo Azevedo, autor publicado pela Record. 
Em entrevista à Ilustríssima, publicada no domingo passado, o presidente do grupo, Sérgio Machado, e a editora Luciana Villas Boas fazem coro com Azevedo, tentando desqualificar o escritor Chico Buarque, para assim contestar sua premiação, além de sugerir favorecimento ao autor e à editora por motivos políticos de diversas naturezas. Para terminar, o editor carioca subscreveu e transmitiu um abaixo-assinado, divulgado no blog de Azevedo, pedindo que Chico Buarque devolvesse o prêmio.

continua aqui:

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrissima/il2111201004.htm

 

 

 

Luis Nassif

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