Às vésperas dos balanços de Wall Street

Por Assis Ribeiro

Do The Wall Street Journal

O que se espera dos balanços de Wall Street: franqueza

FRANCESCO GUERRERA

Esta é a mensagem que investidores de pequeno e grande porte estão enviando aos bancos de Wall Street às vésperas da temporada de divulgação de balancetes do terceiro trimestre. Começando na quinta-feira, quando o J.P. Morgan Chase dá o pontapé inicial, os bancos americanos vão estar sob pressão para desfazer a sensação de estarmos assistindo a uma reprise de outra crise financeira.

Com os microfones na mesa, as planilhas dos analistas bem abertas e os dedos dos repórteres aguardando sobre os teclados, pessoas como James Dimon, do J.P. Morgan; Lloyd Blankfein, do Goldman Sachs Group Inc.; e James Gorman, do Morgan Stanley, terão que nos persuadir a acreditar que — sim, você adivinhou — desta vez é diferente de 2008.

Mas aqui está o problema: simplesmente afirmar isso, que parece ter sido a maneira preferida dos titãs de Wall Street para lidar com a questão até agora, não vai resolver. Os investidores querem ver para crer e precisam de fatos e de números.

Não dá para pôr a culpa no mercado por exigir provas da saúde dos bancos. Ações do setor financeiro americano são as de pior desempenho no índice de 500 ações da Standard & Poor’s este ano, mesmo depois da alta das ações dos bancos vista na segunda-feira.

Os motivos são conhecidos: uma dose dupla de turbulência bancária/soberana na Europa e uma economia americana anêmica. E entretanto a resposta às preocupações dos investidores que vem dos altos escalões de Wall Street não tem sido de impressionar, especialmente em relação à Europa.

Os argumentos usados pelos chefões do setor financeiro podem ser resumidos assim: “Não tem nada para ver aqui” e “confie em mim, eu sou presidente de um banco de Wall Street”.

Não é de surpreender que nenhuma das duas respostas tenha tranquilizado o investidor. Considere a primeira linha de defesa. As firmas de Wall Street vêm rechaçando os questionamentos do investidor sobre a exposição dos bancos americanos aos países europeus em dificuldades (Grécia, Irlanda, Itália, Portugal e Espanha) com palavras como “nominal”, “administrável” ou “bem protegida”.

Esses argumentos são, na melhor das hipóteses, simplórios, porque se referem a exposições “líquidas” — a diferença entre ganhos e perdas depois que todas as negociações de derivativos forem concluídas.

Infelizmente, a exposição líquida é um conceito teórico, algo como o ideal platônico do balanço de um banco, baseado na premissa de que numa crise todos os contratos de derivativos que os bancos americanos têm com contrapartes serão honrados ao mesmo tempo.

Essa é uma premissa e tanto. “Usar exposição líquida pressupõe alta qualidade das garantias e que os investimentos usados como proteção funcionam no pior cenário, nenhum dos quais é garantido”, escreveu o analista Richard Ramsden, do Goldman Sachs, numa nota para clientes na semana passada.

Aliás, quando a Lehman Brothers Holdings quebrou em 2008, foi a ineficácia do mercado de derivativos que exacerbou os tremores subsequentes da falência.

Ramsden estima que grandes bancos americanos podem estar expostos a US$ 641 bilhões em países do grupo GIIPS, se todos os derivativos, garantias e compromissos forem levados em consideração. Isso é bem mais do que os mais ou menos US$ 150 bilhões em exposição que Wall Street gosta de mencionar.

Essa diferença de aproximadamente meio trilhão de dólares é a matéria-prima dos pesadelos de investidores. A menos, é claro, que os bancos preencham a lacuna entre fato e medo com uma descrição detalhada do que está dentro desses portfólios de derivativos, o quanto pode realmente dar errado caso a Grécia e outros países declarem moratória e até que ponto as garantias e outras proteções são eficientes.

Quando perguntei a executivos de vários bancos por que não são mais abertos em relação a isso, eles mencionaram a complexidade inerente de suas negociações com derivativos e o temor de que rivais possam roubar seus segredos — dois motivos que podem ser válidos em circunstâncias normais, mas que viram insignificantes no ambiente atual.

A transparência maior geralmente é usada pelos bancos para tranquilizar os investidores. Durante a última crise, os grupos financeiros produziram descrições sem maquiagem de seus investimentos em títulos lastreados por créditos imobiliários, quando investidores clamavam para entender até que ponto seus balanços tinham se intoxicado.

Minhas fontes dizem que alguns bancos vão fornecer mais detalhes sobre sua exposição europeia com os balancetes trimestrais. Quando o fizerem, deviam também inundar os investidores com detalhes sobre sua situação em termos de funding, sua dependência do dinheiro especulativo de fundos de hedge e seus planos de emissão de ações e títulos de dívida (e talvez explicar por que agora é uma boa ideia usar o dinheiro que têm para fazer recompra de ações).

O problema enfrentado pelos altos executivos de Wall Street é que, depois dos eventos turbulentos de três anos atrás, eles simplesmente não podem mais pedir que a comunidade financeira os deixe em paz para lidar com a situação. O trem da confiança partiu da estação em setembro de 2008 e não vai voltar tão cedo.

Depois de terem sido pouco transparentes a respeito de coisas que vão de obrigação garantidas (“collaterized debt obligations”, ou CDOs) a subsidiárias fora de balanço e títulos com juros fixados em leilão, os bancos americanos não podem esperar que os investidores recebam suas declarações tranquilizadoras pelo valor de face.

“A melhor surpresa é não haver surpresa”, diz Charles M. Elson, diretor do Centro John L. Weinberg para Governança Corporativa da Universidade de Delaware. “Não é que os investidores têm uma tonelada de confiança na diretoria e revelar tudo pudesse levá-los a perder a fé nessa diretoria. Eles já perderam a fé.”

É hora de os presidentes dos bancos levantarem o véu que cobre suas finanças. A menos que Wall Street fale, os temores crescentes dos investidores vão tomar conta da conversa.

Fonte: WSJ

Luis Nassif

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