Câmbio, a mais importante variável macroeconômica

Por Eduardo Giuliani

A taxa de câmbio é a variável macroeconômica individualmente mais importante na definição do crescimento econômico e da melhoria da qualidade de vida da população brasileira. Nos últimos anos temos vivenciado uma grande discussão sobre guerra cambial. O tema é complexo, extremamente importante para o nosso futuro, contudo temos tido uma atitude demasiadamente passiva e míope: apagando um foguinho em uma árvore (inflação) enquanto a floresta inteira está pegando fogo (nossa qualidade de vida e emprego no médio e longo prazos).

A taxa de câmbio define o custo médio em US$ de nosso valor agregado (trabalho) e, conseqüentemente, a demanda por este trabalho. Esta demanda é composta pela demanda externa (exportações) e interna (consumo brasileiro).

A taxa de crescimento da economia de um país é determinada diretamente pelo tamanho desta demanda (interna + externa). A economia cresce porque os empresários fazem investimentos para atender esta demanda. Demanda primeiro, investimento e produção depois. Como em todo plano de negócios.

Os setores nos quais trabalharemos também são definidos por esta demanda. Uma taxa de câmbio desvalorizada permite ao empresário brasileiro competir mesmo em setores onde não tenhamos inicialmente uma boa produtividade. Contudo com um custo baixo (definido pelo câmbio) podemos compensar a baixa produtividade e ter uma operação lucrativa que justifique o investimento. A geração do lucro permite investimentos adicionais que vão elevando gradualmente a produtividade.

Desta forma a taxa de câmbio define como evoluiremos a qualidade de vida de nosso país: o quanto melhoraremos por ano (taxa de crescimento) e em que setores trabalharemos.

Nossa taxa de câmbio atual coloca o real no patamar histórico mais alto dos últimos 30 anos. A estabilidade econômica, a maciça entrada de capital para investimento (p.ex. petróleo, infra-­‐estrutura, juros de curto prazo etc,) e a fortaleza de algumas de nossas commodities (p.ex. minério, soja, carne, petróleo) está criando esta situação de equilíbrio de mercado, ou seja, equilíbrio de fluxos financeiros, que torna a nossa indústria pouquíssimo competitiva. Doença holandesa. Estamos em um ponto que nem o etanol da cana está conseguindo competir com o etanol do milho americano, apesar de todas as nossas vantagens climáticas e tecnológicas.

Quando a taxa de câmbio é livre (flutuante), deixada para ser definida pelo mercado, ela encontra um ponto de equilíbrio dependendo do fluxo de capital (exportações, importações, investimentos estrangeiros, taxa de juros etc.). Acreditar que este ponto de equilíbrio representa a melhor taxa para a economia do país é o mesmo que acreditar que devemos deixar o futuro do mundo nas mãos de Deus, sem ter que trabalhar e construir o futuro que queremos.

A maior evidência recente do sucesso de taxa de câmbio bem gerenciada é a economia chinesa: cresce na média 9% ao ano desde 1978 (32 anos). Este milagre chinês não é nenhum milagre, trata-­‐se do resultado de um câmbio equivalente a mais de R$5,00 por dólar. No início a China produzia commodities minerais, bonecas de plástico vagabundas, com esta evolução e aprendizado hoje já produz quase todos os itens tecnológicos que mais consumimos em nosso dia a dia. O chinês que há 30 anos produzia bonecas, hoje tem os filhos produzindo eletrônicos, automóveis, robôs etc. Nós, por outro lado, continuamos um país de commodities (agrícolas, minerais e industriais), e pouquíssimos produtos sofisticados. Nossa indústria que tinha atingido um razoável patamar de emprego até a década de 80, com a valorização da década de 90 começou a reduzir o emprego e sua sofisticação média. Temos nossas exceções (p.ex. Embraer), mas precisamos fazer das exceções a regra. Sem câmbio competitivo isto matematicamente nunca ocorrerá.

Nosso banco central olha para a inflação como a variável mais importante da economia. Inflação é uma mera medida da variação dos preços para equilibrar oferta com demanda. Faz parte do sistema econômico. O desequilíbrio entre demanda e oferta é o que impulsiona o crescimento econômico. Quando a demanda é maior do que a oferta, os preços sobem e atraem investimento para aumentar a oferta. Se os preços não subirem, o interesse em investimento cai. O melhor remédio para combater a inflação no médio e longo prazos é o aumento da competição através de estímulo ao investimento com juros baixos. Nosso governo faz o contrário, combate a inflação desestimulando a demanda, com o aumento dos juros que também fortalece a pior de nossas mazelas: a concentração de renda. Estamos brincando de jogo da velha contra os azes do xadrez. É este o futuro que queremos para os nossos filhos? Eduardo Giuliani 

Luis Nassif

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