Comentando o discurso de Aécio – 5

(Atualizado às 12h)

Por Renato Janine Ribeiro

Concordo muito com meu colega JV. Mas o que vejo: por um lado, Aécio com toda a simpatia mas sem que se saiba realmente a que vem e veio. Estive em Minas esta semana e, embora ela seja muito popular em seu Estado, é impressionante o silêncio que se abate sobre a oposição local, mal mencionada lá, embora exista. Acho que vc, Nassif, aludia a isso quando citou a irmã dele, Andrea Neves, como um problema para que a inegável simpatia de Aécio tenha bases reais e não essencialmente midiáticas. Mas, em suma, é um personagem em busca de roteiro.

Serra, por sua vez, foi durante muitos anos a grande esperança do que poderíamos chamar as partes mais avançadas do PSDB. Como parlamentar, constituinte e ministro da Saúde, sempre teve um balanço bom (me parece; e vc mesmo fala de suas esperanças nele). Não o vi, porém, como um grande gestor na prefeitura nem no Estado, das vezes portanto em que foi eleito para chefiar um poder executivo. Mesmo assim, em que pese seu estilo de mando, que nem os tucanos apreciam em sua maior parte, parece ter um roteiro mais denso do que o de Aécio. 

DoquDo que sinto realmente falta: que a via sustentável, que a essa altura representaria um avanço sensível, não tenha emplacado. Os 20% de votos dados a Marina eram bem mais do que os minguados votos que Lula e o PT tiveram no começo de sua longa trajetória. Depois da estabilidade da moeda e da redefinição do papel do Estado, com FHC, e do engajamento decidido do poder público nas questões sociais, com Lula, poderíamos partir para um “pós-desenvolvimentismo”, que teria além disso a virtude de contar no governo com gente oriunda tanto do PT quanto do PSDB (acho que esses dois partidos deveriam parar de se matar um ao outro, afinal são os melhores dos nossos partidões). Mas parece que o adágio grego – “os deuses enlouquecem aqueles a quem querem perder” – se aplica como uma luva à liderança do Partido Verde, que está matando suas oportunidades de crescer com Marina, Guilherme e muitos outros, para se manter como um partido sem futuro. Nisso, eu prefiro a propaganda do PSB, que pelo menos tem a franqueza de dizer que, sim, apoia Dilma na União e Alckmin em São Paulo, porque ambos, afirma, são bons. 

Enfim, que Aécio ou outro líder do PSDB defina projetos, ideias, propostas; que a presidente continue na sua linha, que me parece boa; que alguma força política cresça, para assumir a bandeira do pós-progresso, do desenvolvimento sustentável. E que, discutindo aqui e alhures, contribuamos para melhorar nosso quadro político, tirando-o do maniqueísmo tolo e estéril.

Por Jotavê

Pois é, Renato. O problema da Marina é o problema de qualquer “partido verde” em qualquer lugar do mundo. Todo o discurso político fica articulado em torno de um tópico específico (o ambiental), o que rouba visibilidade das demais propostas, muitas vezes interessantíssimas. Esse tipo de partido costuma produzir excelentes ministros, mas tem uma dificuldade congênita de vocalizar propostas mais abrangentes, que esbocem um projeto para o país. O problema não é que essas propostas não existam. Podem até existir. Mas não se fixam ao candidato, não encontram nele um veículo adequado de comunicação com a sociedade. 

O lado bom (excelente) da história é que a bandeira verde dá acesso a esquemas modestos de financiamento, que não implicam compromisso com maracutaias futuras. No caso de Marina, a Natura, que ganhou com a campanha uma visibilidade que nenhuma agência de publicidade seria capaz de lhe dar. Entusiastas individuais em número não desprezível também contribuem. E ONGs. Desconfio que muitas ONGs entraram na parada, fazendo a ponte para organizações internacionais, proibidas de contribuir diretamente. Questão de conferir. Seja como for, seria o menor dos males. Melhor isso do que Marcos Valério, né? Nem se compara.

Quanto ao Aécio, ele jamais será o nome de um ideário. Ele é e sempre será o nome de uma costura política, que varia conforme o caso, e é absolutamente onívora. Um Tancredo mulherengo e aggiornato – Aécio é isso. Inútil esperar que seja o formulador do novo, como FHC e Lula foram, cada um a seu modo. É um centro de atração, e não uma força propulsora. Em determinadas situações, pode ser uma peça fundamental para um avanço – o papel de Tancredo na transição é prova disso. No mais das vezes, será uma força conservadora, capaz de fazer o país engolir sorrindo por mais cinco anos suas próprias barbaridades.

abs

Luis Nassif

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