Da elegância cruel das palavras

 

Não se esperava de alguém com Bresser-Pereira que saísse batendo as portas.

Mas sem dúvida é necessário ler as críticas, quase um acerto de contas em sua “carta de despedida” do PSDB publicada hoje na Folha de São Paulo.

 

Ao melhor estilo das despedidas suaves está lá a velha milonga “mudei eu, mudou você ou mudamos nós?”

 

“Nesses últimos dez anos, eu mudei, e o partido político que eu ajudei a criar, o PSDB, também mudou. A mudança foi tão grande que chegou a hora de dizer adeus a esse partido, e, mais amplamente, à política partidária.”

 

Não nos enganemos, há queixas

 

“Em 1993, tentei, em conjunto com Oded Grajew, uma aproximação entre o PSDB e o PT, mas não havia espaço nos dois partidos para isso. Em 2002, em associação com Yoshiaki Nakano, fizemos uma proposta de política de crescimento com estabilidade

para o PSDB, mas ela não chegou a ser discutida.”

 

e desilusão.

 

“Na medida em que as mudanças ocorriam em direções opostas, eu me distanciava cada vez mais do PSDB. Por isso, decidi desligar-me dele.”

 

E há acertos de contas. O primeiro com Serra:

 

“Ainda nestas últimas eleições votei em José Serra nos dois turnos.”

 

Porque Serra era o melhor para o país, o mais preparado? Não. Por que, então?

 

“Quis, assim, honrar compromissos antigos com ele e com Fernando Henrique”

 

E o que dizer da qualificação dada a Fernando Henrique?

 

“um notável homem público e um amigo”

 

Um elogio, não. Um outro acerto de contas, colocando-o no seu devido lugar e estatura política.

 

Mas, quem Bresser-Pereira realmente reverencia?

 

“a memória de dois estadistas do partido: Mario Covas e Franco Montoro.”

 

A FHC, Bresser reservou a amizade e a notabilidade. Afinal a quem Bresser-Pereira não chamaria de notável e amigo?

 

Por fim, um recado para quem interessar possa:

“A partir daqui, fico livre de compromissos partidários, como é mais adequado para alguém como eu, que decidiu não mais exercer cargos públicos, mas ser um intelectual público independente, identificado, na medida do meu possível, com o Brasil e com seu povo”.

Sem dúvida, uma despedida requer sempre uma boa dose de elegância e , as vezes, alguma crueldade e, nesses quesitos, Bresser- Pereira se demonstrou um craque.

Luis Nassif

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