Economistas revisam expectativas de crescimento para 2013

Do iG

Depois de erros na previsão do PIB, economistas revisam números para 2013

Com viés pessimista, mercado esperava crescimento menor para a economia no segundo trimestre; agora, casas de análise se recolhem para revisão de projeções

Bárbara Ladeia – iG São Paulo | 03/09/2013 06:00:00

Este final de semana foi especialmente reflexivo para analistas financeiros. Após quatro sucessivas revisões – para baixo – nas expectativas de crescimento da economia nacional, esta segunda-feira (2) amanheceu sob a luz de um certo otimismo. Há uma semana, as instituições financeiras consultadas pelo Boletim Focus, do Banco Central, apostavam em um crescimento econômico de 2,2% em 2013 – hoje a média esperada é de um crescimento de 2,32%.

A divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, na última sexta-feira (30), serviu para mostrar – mais uma vez – quão frequente é o descompasso entre as previsões de economistas e o ritmo da economia. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB do Pais cresceu 1,5% no segundo trimestre.

Bancos, consultorias e corretoras previam números muito mais tímidos. É o caso da Tendências, que esperava 0,7% de crescimento. A economista da consultoria, Alessandra Ribeiro, lembra que o PIB do agronegócio foi sua principal surpresa. “São números muito difíceis de monitorar, então o PIB agro sempre nos surpreende, tanto para cima quanto para baixo”, diz.

Em sua revisão de projeções, o ajuste anual foi para cima – ela agora espera 2,4% de crescimento em 2013, 0,3 ponto percentual a mais. Para 2014, Alessandra passou suas projeções de 2% para 2,1%, já impactados pela parada típica dos anos eleitorais. “Algumas concessões, por exemplo, devem sair, mesmo diante de uma suspensão temporária das decisões pesadas de investimentos.” A economista vai na contramão do Focus – que trouxe uma revisão para baixo de 2,4% para 2,3% na previsão de crescimento.

A Austin Rating também fez uma previsão mais conservadora para o segundo trimestre: crescimento de 0,8%. Embora tenha ficado muito abaixo dos 1,5% registrados, Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, afirma que a instituição estava entre os mais otimistas. Estava, porque agora fizeram novo ajuste – e para baixo. Ele explica que o segundo trimestre foi “anabolizado” por uma ação direta do governo, com desonerações e subsídios de crédito. “Agora sem esses elementos vamos ver uma economia mais fraca”, diz.

Na Gradual Investimentos, por exemplo, a perspectiva para o segundo trimestre era de um tímido crescimento de 0,7%. André Perfeito, economista-chefe da instituição, foi um dos que revisou suas perspectivas para 2013, de 2,1% para 2,7% de crescimento para o ano.

Perfeito explica que as previsões anteriores, feitas em junho, vieram contaminadas com diversas notícias desfavoráveis. “A elevação da Selic [taxa básica de juros] foi mais forte que imaginávamos, anunciaram o começo da retirada dos estímulos nos Estados Unidos, a S&P [agência de avaliação de risco Standard & Poor’s] revisou as perspectivas para a dívida brasileira e ainda tivemos inflação fora do centro da meta e as maiores manifestações desde a república”, diz. “Isso foi o que sustentou o pessimismo anterior.”

Agora o cenário é outro. Para Perfeito, as preocupações que não deixaram o pessimismo sair de cena não deverão se repetir. “As manifestações já perderam força, o anuncio da retirada dos estímulos já veio e um outro corte da S&P já não será o primeiro, então outras notícias como essa não terão o mesmo impacto.”

Esse erro de cálculo fez com que a agenda dos economistas-chefe ficasse mais atribulada que o de costume nesta segunda-feira (2). Consultadas pela reportagem, instituições como o Banco Itaú e a Quest Investimentos preferiram nem mencionar as análises anteriores antes rever suas projeções.

Imprecisão

O pessimismo que assolava o mercado em meados de junho parece estar dando lugar a um novo cenário. Otto Nogami, gestor de fundos de investimento e professor do Insper, lembra que a elaboração das perspectivas econômicas pode ser bastante imprecisa, dada a alta interferência da “componente psicológica” na elaboração das análises. Manifestações de cunho político, subida dos juros e corte de rating pela S&P, por exemplo, podem ter criado “uma preocupação muito mais incisiva que a necessária”, na opinião do professor. “As equipes são muito quantitativas e pouco qualitativas na análise que fazem. Essa é a grande armadilha da economia”, explica.

Um dos elementos que não foram levados em conta, na leitura de Nogami, foi a dimensão do impacto da safra recorde de grãos do primeiro semestre. De olho na indústria, analistas não se atentaram que os principais resultados da grande safra deveriam gerar impacto ainda no primeiro semestre. Esse foi a leitura de Flávio Combat, economista-chefe da Concórdia, que acertou qual seria o crescimento do PIB do segundo trimestre.

Além da safra de grãos, resceu também a atividade econômica no setor de serviços, o que não deveria ser surpreendente, ao menos segundo Nogami. “Não dá para mensurar exatamente o impacto desses, mas eventos como a Copa das Confederações e a visita do Papa Francisco movimentam o setor de serviços em diversos níveis”, afirma Nogami.

Luis Nassif

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