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  1. Se tivesse tido competência o golpista teria sido piloto

    domingo, 8 de novembro de 2015

    As viagens de Huck e Civita no AeroAécio

    Por Altamiro Borges
     A Folha deste domingo (8) publicou uma reportagem bombástica sobre o cambaleante e desesperado presidente do PSDB. “Aécio emprestou aviões de Minas a políticos e celebridades”, registra na parte inferior da sua capa – que geralmente não é exposta nas mais de 40 mil bancas de jornais pelo país. A denúncia até poderia ser estampada numa manchete garrafal, mas ai já seria pedir muito para a tucana famiglia Frias. De qualquer forma, a matéria é explosiva. Comprova que Aécio Neves, ainda quando era governador de Minas Gerais, utilizou aeronaves do Estado para transportar várias celebridades – como o ator global Luciano Huck, o ex-diretor executivo da TV Globo, o poderoso Boni, o falecido dono da decadente Abril, Roberto Civita, e até o mafioso Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF. Vale conferir a íntegra da reportagem, assinada pelos jornalistas Ranier Bragon e Aguirre Talento: ***** Aécio Neves cedeu avião de Minas a políticos e celebridades Registros do Gabinete Militar de Minas Gerais mostram que durante o governo do tucano Aécio Neves (2003-2010) aeronaves do Estado foram cedidas para deslocamentos de políticos, celebridades, empresários e outras pessoas de fora da administração pública a pedido do então governador mineiro.
    Essas viagens não encontram amparo explícito na legislação que desde 2005 regula o uso das aeronaves oficiais do Estado, um decreto e uma resolução assinados pelo próprio Aécio.

    O tucano afirma, por meio de sua assessoria, que a legislação estabelece apenas diretrizes, que os voos foram regulares e atenderam a interesses do Estado.

    Por meio da Lei de Acesso à Informação, a Folha obteve do governo de Minas, comandado hoje pelo petista Fernando Pimentel, adversário político de Aécio, a relação dos 1.423 voos entre janeiro de 2003 e março de 2010 em que o nome do tucano figura como solicitante.

    Desses, em 198 voos não houve a presença nem de Aécio nem de agentes públicos autorizados pela legislação a usar essas aeronaves, como secretários de Estado, vice-governador e o presidente da Assembleia Legislativa.

    Dois desses voos solicitados por Aécio foram usados em 2004 – um ano antes da edição do decreto e da resolução – pelo apresentador da Rede Globo Luciano Huck, amigo do tucano, para se deslocar de Belo Horizonte ao interior de Minas. Um desses voos também teve a presença da dupla Sandy e Júnior, que na ocasião gravava em Minas um novo quadro para o “Caldeirão do Huck”, o “Quebrando a Rotina”.

    Outros integrantes e ex-integrantes da Globo usaram jatos e turboélices do Estado – os atores José Wilker (que morreu em 2014) e Milton Gonçalves, em 2008, além do ex-executivo da rede José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, em 2003.O programa mostrava os três percorrendo a Estrada Real de Minas Gerais. “O trio visitou locais históricos como os municípios de Ouro Preto e Santa Bárbara. Eles conheceram também paisagens exuberantes, como o Parque Natural do Caraça, e proporcionaram ao público cenas inusitadas como Sandy lavando louça e Junior montando em um jumento”, diz o texto de descrição do quadro no site oficial do “Caldeirão”.

    Dias antes de deixar o governo, em março de 2010, Aécio também cedeu o helicóptero para que o então presidente do grupo Abril, Roberto Civita (morto em 2013) e sua mulher, Maria Antônia, visitassem o Instituto Inhotim, museu de arte contemporânea do empresário Bernardo Paz em Brumadinho (53 km de Belo Horizonte).

    O ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) Ricardo Teixeira também aparece nos registros como tendo usado por três vezes o helicóptero, em deslocamentos dentro de Belo Horizonte, e em outras três vezes um dos jatos para viagens de BH a São Paulo e ao Rio, entre 2006 e 2009.

    A reportagem obteve também os dados dos voos dos governos Anastasia (2010-2014), afilhado político de Aécio, e Pimentel (2015). As viagens em que Aécio não figura como passageiro listam trechos para fora de Minas Gerais que têm ainda como passageiros vários políticos – com ou sem mandato – tucanos, de partidos aliados e até alguns adversários, outras autoridades federais dos Três Poderes e comitivas de jornalistas – a Folha esteve em um desses voos para acompanhar uma agenda de Aécio em Lavras.

    No caso de Anastasia, há ao menos 60 voos sem a presença de autoridades estaduais. Há deslocamentos para o próprio Aécio, para políticos, magistrados estaduais, ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e novamente para Ricardo Teixeira.

    Sobre os voos de Pimentel, nos seus primeiros nove meses de gestão um voo foi cedido para uma autoridade fora da administração, segundo os registros enviados pelo governo mineiro: um deslocamento do presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, e de sua mulher, Yara, de Belo Horizonte a São Paulo, em março deste ano.

    Na comparação, foram em média 2,3 voos mensais durante o governo Aécio, 1,3 voo na gestão Anastasia e 0,1 de Pimentel.

    Em setembro, a Folha mostrou que Aécio usou jatos oficiais do Estado para ir de Belo Horizonte ao Rio de Janeiro em 124 ocasiões durante a sua gestão em Minas.

    A legislação mineira que disciplina o uso das aeronaves oficiais se resume ao decreto 44.028 e à resolução 3, ambos de 2005. O decreto define que “a utilização das aeronaves oficiais será feita, exclusivamente, no âmbito da administração pública estadual (…) para desempenho de atividades próprias dos serviços públicos.”

    A resolução, que regulamenta o decreto, estabelece que as aeronaves “destinam-se ao transporte do governador, vice-governador, secretários de Estado, ao presidente da Assembleia Legislativa e outras autoridades públicas ou agentes públicos, quando integrantes de comitivas dos titulares dos cargos”.

    OUTRO LADO

    A assessoria de imprensa de Aécio Neves afirmou que “todos os voos foram regulares, dentro das normas legais e atenderam a interesses da administração do Estado.”

    Apesar de a legislação definir que duas das aeronaves se destinam aos deslocamentos do governador, elas não se limitam “ao seu uso pessoal exclusivo, compreendendo, portanto, o atendimento de demandas e necessidades do chefe do Executivo”, diz a nota enviada pelo tucano.

    A assessoria afirma que Aécio determinou que todos registros de voos trouxessem os nomes dos passageiros, assegurando transparência.

    Sobre a cessão do helicóptero para a gravação do “Quebrando a Rotina”, a assessoria diz que o Estado ofereceu apoio de infraestrutura “para uma grande ação de divulgação turística, no caso, a divulgação de um roteiro turístico, a Estrada Real”.

    Da mesma forma, segue a nota, o transporte de Civita “atendeu o objetivo de divulgar o Museu de Arte Contemporânea apresentando-o a um dos maiores empresários de comunicação do país”. A assessoria enviou uma reportagem sobre o museu publicada posteriormente na revista “Veja”.

    Em relação à concessão de um jato para levar o empresário José Bonifácio Oliveira Sobrinho de BH ao Rio, a assessoria diz que o governo solicitou a colaboração do ex-executivo da Globo na definição de diretrizes para a TV Minas. Sobre o transporte dos atores Milton Gonçalves e José Wilker entre BH e o Rio, a razão seria a participação em ato contra a corrupção apoiado pelo governo de Minas.

    Sobre as viagens do ex-presidente da CBF, a afirmação é a de que elas se deram “em atendimento a agendas com o governador à época da candidatura do Brasil para sediar os jogos da Copa de 2014″.

    A Comunicação da Globo enviou dados sobre a logística bancada pela emissora para o “Quebrando a Rotina”, entre elas passagens aéreas e aluguel de helicópteros particulares. O uso da aeronave oficial oficial faria parte de um acordo de “facilidades de produção”.

    Também via Comunicação da Globo, o ator Milton Gonçalves afirmou não se lembrar da viagem. “Não uso nada que não seja legal e que todos possam saber. Se isso de fato ocorreu, basta comprovarem e me dizerem quanto foi o voo que eu pago”, disse o ator.

    A assessoria dos cantores Sandy e Júnior disse que como os dois foram convidados pelo programa, a logística coube ao “Caldeirão”.

    Boni afirmou que a pedido do governo estadual fez uma análise da TV Minas. “Não cobrei pela visita e nem pela minha opinião, por considerar uma contribuição à TV pública. Fui do Rio a BH pagando minha passagem. Na volta aceitei uma carona com o governador, que já vinha para o Rio”, afirmou. O registro do governo mineiro, porém, indica que o empresário foi o único passageiro.

    A assessoria do agora senador Antônio Anastasia (PSDB-MG) afirmou que os deslocamentos foram de autoridades que participaram de eventos ou reuniões no Estado e que as viagens cumpriram o disposto na legislação.

    A assessoria de Fernando Pimentel disse que Lewandowski cumpriu agenda oficial em Belo Horizonte, tendo recebido o Colar do Mérito Judiciário Militar.

    O presidente do STF e a Abril não se pronunciaram. A Folha não conseguiu falar com Ricardo Teixeira.

    *****

    As viagens do cambaleante Aécio Neves ainda vão abalar a sua carreira. O playboy mineiro-carioca parece adorar aventuras no espaço. Tanto que os internautas até já criaram uma marca para a sua futura empresa: ‘AeroAécio’. Ainda quando era governador, ele utilizou dinheiro dos contribuintes mineiros para construir um aeroporto particular na fazenda do seu tio-avô, em Cláudio. Também neste período, registra a Folha deste domingo, “Aécio usou jatos oficiais do Estado para ir de Belo Horizonte ao Rio de Janeiro em 124 ocasiões”. Já como senador da República, ele fez outras dezenas de viagens aéreas para a cidade maravilhosa – também com recursos públicos.  Por motivos óbvios, a TV Globo – agraciada com tantas viagens para suas estrelas e executivos e por tantas outras benesses ainda desconhecidas – não deverá tratar deste assunto com destaque no Jornal Nacional. A emissora também evitou falar sobre o helicóptero do compadre de Aécio Neves, senador Zezé Perrella, flagrado com 445 quilos de cocaína no final de 2013. Da mesma forma, a revista Veja não estampará uma capa com a denúncia. Seria uma baita ingratidão dos filhos de Roberto Civita!  *****

     

  2. Outra morte, um tanto suspeita :

    Na manhã do dia 29 de setembro de 1978, o Papa João Paulo I foi encontrado morto em sua cama, apenas 33 dias após assumir o papado. Um ataque cardíaco foi apontado como a causa oficial da morte, mas não houve autópsia. Parece estranho? Após um escândalo que expôs a ligação da máfia italiana com o Banco do Vaticano, foi levantada a hipótese de que o presidente do banco, o padre Paul Marcinkus, poderia estar envolvido na morte de João Paulo I. Sem perder tempo, Marcinkus fugiu para os Estados Unidos, pediu imunidade diplomática e ficou por lá. O mais inquietante é que mesmo com a sua conexão com a Máfia, com a possível morte do Papa e após ter causado um rombo no Banco do Vaticano, ele nunca foi indiciado. Sua frase mais conhecida? “A Igreja não funciona apenas de ‘Ave Marias’”.

    http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI291922-17770,00-CINCO+SEGREDOS+DO+VATICANO+REVELADOS.html 

  3. Aécio Neves é o novo Galeão Cumbica

    Galeão Cumbica

    (Rony Cócegas)

    Rony Cócegas

    O personagem Galeão Cumbica ficou famoso ao imitar choro de bebê e mostrar a língua quando suas respostas estavam erradas: “Aí eu choro”, dizia ele. Rony Cócegas criou o personagem em 1990 para a Escolinha do Professor Raimundo. Ele atendia sempre ao chamado do professor com um avião de brinquedo na mão e o bordão “no ar”.

    OBS:  Aécio Neves é um bebê chorão (não se conformou ainda com a derrota para Dilma), e quando governador emprestou o avião do governo de Minas a torto e a direito. E quem pagou por essa bandalheira generalizada? O contribuinte mineiro, claro. 

     

      
        

     

  4. Caetano Veloso: relato da viagem a Israel

    “Gosto de Israel fisicamente. Tel Aviv é um lugar meu, de que tenho saudade, quase como tenho da Bahia. Mas acho que nunca mais voltarei lá.”

    Gosto de Caetano, das coisas que escreve, do estilo barroco. Achei o relato honesto.

    http://www.brasil247.com/pt/247/cultura/204239/Caetano-diz-que-n%C3%A3o-voltar%C3%A1-mais-a-Israel.htm

    Caetano diz que não voltará mais a Israel

    O músico Caetano Veloso divultou texto sobre sua recente passagem por Israel, duramente criticada por outros artistas e intelectuais, e diz que não pretende mais voltar ao País. Confira:

    Chegar a Tel Aviv vindo da Europa é como voltar ao Brasil. A cidade tem o aspecto de uma das nossas capitais nordestinas, e o seu povo, o ar altivamente desencanado do carioca.

    Desde a primeira vez que fui a Israel, o contraste da capital do país com as cidades europeias, expresso na arquitetura moderna indefinida e no jeito sensual de seus habitantes, me conquistou. Senti imediata familiaridade com a cidade praieira e ensolarada no verão mediterrâneo. Essa identificação me deixava totalmente vulnerável à força histórica que a cada passo eu era convidado a encarar. A consciência de que estávamos na Terra Santa, as marcas da fundação do país depois da Segunda Guerra Mundial, as experiências socialistas dos kibutzim, o renascimento do hebraico falado, a tensão da ameaça permanente de ataques de homens-bomba.

    Voltei a Israel umas poucas vezes, com um intervalo muito maior entre a penúltima e essa de agora do que entre as anteriores. A primeira foi nos anos 1980. Nessa última, senti diferença desde a saída da França: nada das revistas minuciosas nem da separação em salas especiais dos passageiros que iam para lá. E, no aeroporto Ben Gurion, nem de longe houve a acolhida nervosa das primeiras visitas. Tel Aviv nos recebeu sem caras desconfiadas e, já nas ruas, sem os outrora indefectíveis (e, apesar de tudo, charmosos) soldados, dos dois sexos, cuidando de cada esquina. Essa ausência de sinais de defesa crispada fazia a cidade parecer-se mais com uma Fortaleza habitada por cariocas do que parecera anos antes. A sensação de estar “em casa” foi mais forte e comovente do que nunca.

    Era difícil reconhecer que essa paz refletia o maior poder adquirido pelo Estado de Israel, sua certeza de que a cúpula de proteção construída por sua defesa está firme. Será, como diz Marcelo Yuka, a paz que não quero?

    Essa pergunta não surgia facilmente em minha cabeça na noite de minha chegada. No dia seguinte, no entanto, ela não me abandonava. Acordei o mais cedo que pude para não me atrasar para o encontro com um grupo de israelenses críticos da política oficial, o Breaking the Silence, que me fora indicado por Jorge Drexler quando da apresentação do show com Gil em Madri. Drexler ouviu quão interessado eu estava em ver o que se passa na Cisjordânia e, filho de pai judeu, não só me deu dicas como prometeu pôr-me em contato com membros do movimento.

    Dessa conversa em Madri surgiu o plano de uma visita guiada a partes da Cisjordânia onde se pudesse sentir o peso da ocupação israelense. Contei a Gil e ele disse que queria ir junto. Fomos todos, nós dois e as duas equipes de produção. Na van espaçosa, conduzida por um palestino, íamos nós mais o jornalista argentino Quique Kierszenbaum e Yehuda Shaul, o guia.

    Yehuda falava com muita clareza, num inglês fluente de israelense filho de pais anglófonos. Disse ter crescido numa família conservadora. Fora soldado do Exército de Israel, um veterano da ocupação de territórios palestinos. Depois de vivenciar muitas situações de opressão, segregação e cotidianas monstruosidades, não pôde mais seguir vivendo sem denunciá-las e sem se opor publicamente a elas. Juntou-se a alguns colegas e com eles iniciou o movimento de permanente protesto. Ele chamou a atenção para o quipá que usa, disse-se judeu religioso e, à medida que a van começava a varar desertos, narrou atrocidades e explicou a situação geográfica e histórica da violência de seu país contra as populações da margem ocidental do rio Jordão.

    Respondendo a uma pergunta de um dos nossos sobre como via a reação anti-Israel de outros grupos de muçulmanos, além da resistência palestina, Yehuda disse que continua disposto a matar e morrer por sua pátria, sempre que esta seja ameaçada por fanáticos que não admitam sua existência, mas que não aceita a ocupação de territórios palestinos porque ela “não é kosher”. Comparou a ocupação a um câncer que matará o Estado de Israel se não for extirpado a tempo.

    Alguns apoiadores do BDS, movimento internacional de boicote a Israel, tinham nos procurado, a Gil e a mim, na tentativa de dissuadir-nos de ir a Tel Aviv. Pelo que ouvi da boca de Yehuda –e de Nasser, o palestino de Susiya que por ele nos foi apresentado– todas as queixas dos participantes do BDS são fundadas. O que os radicais desse movimento dizem sobre o Breaking the Silence é que este, embora crítico do governo de Israel, permanece sionista. O que Yehuda diz é que os do BDS, embora protestem contra o que ele próprio odeia, têm como pano de fundo a erradicação do Estado de Israel. O único comunicado que Gil e eu recebemos que sugere tal coisa foi o do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos. Eis uma amostra do tom do documento: “Nossa luta é por justiça, liberdade e igualdade. Nosso sindicato se soma ao movimento BDS por entender que esta é uma importante ferramenta pelo fim do Estado de Israel”. Izhar Patkin, um artista plástico israelense, me disse, em Tel Aviv, que acha boa a existência de qualquer um desses movimentos: eles fazem o barulho que a questão merece, gritam para o mundo o que ele já ouvia nos discursos de Yeshayahu Leibowitz há muitos anos.

    COLETIVA

    Antes de sairmos do Brasil, fui procurado por um cidadão israelense de origem brasileira, chamado Davi Windholz. Ele lera anúncio de nossa ida a Tel Aviv em minha página do Facebook e procurou entrar em contato via e-mail. Dirige uma escola para crianças palestinas e judias, posiciona-se à esquerda do establishment político, e queria marcar um encontro nosso com estudantes e grupos dissonantes da política oficial do país. Depois que já estávamos na Europa –na verdade já às vésperas de ir para Israel– chegou-nos um e-mail do promotor local propondo que déssemos uma entrevista coletiva à imprensa na Fundação Shimon Peres.

    Eu, já interessado nas propostas de Drexler e de Windholz, não estava inclinado a aceitar o que o promotor propunha. Consultei Windholz por e-mail. Ele respondeu que Peres “é mainstream”. E concluiu: “Certamente tentarão usar vocês a favor de Israel, mas vocês saberão driblá-los”.

    No entanto Gil, que, quando era ministro da Cultura, já tinha tido um encontro marcado com Peres que não se concretizou, decidiu-se pela aceitação da coletiva no prédio da fundação do ex-premiê, ex-ministro da Defesa e prêmio Nobel. Peres tinha sido o companheiro de Yitzhak Rabin (1922-95) nas mais avançadas tentativas de negociação com os palestinos, interrompidas pelo assassinato de Rabin por um jovem israelense fanático. Combinamos, então, que uma reunião com Windholz se seguiria à coletiva com Peres.

    Mas a ida à Cisjordânia precedeu tudo isso. Na coletiva, a única pergunta realmente pertinente nos foi feita pelo jornalista brasileiro Rodrigo Alvarez, correspondente local da TV Globo. A ele pude responder que tinha ido a Susiya, levado por um ex-soldado do Exército israelense, e que isso tinha me abalado. A menção a Susiya (que estava nas manchetes dos jornais de todo o mundo por estar sofrendo agressões do Exército israelense, o que gerou comentário pouco amigável a Israel feito por um membro do Departamento de Estado americano) provocou um silêncio incômodo na sala.

    O fato é que me senti triste nesses momentos na Fundação Shimon Peres. Saímos dali e fomos para a sala de recepções do hotel onde estávamos hospedados e lá encontramos Davi Windholz com sua turma de críticos das políticas israelenses. Lá estavam um grupo de mulheres judias e árabes que jejuariam por 50 dias em protesto contra os ataques a Gaza, que em julho faziam um ano; o músico David Broza; e uma plateia de pessoas (sobretudo jovens) que aplaudiram fortemente ao apenas ouvirem a palavra Susiya –o que contrastava com o silêncio incômodo dos presentes à coletiva na Casa Shimon Peres. E ovacionaram as palavras “parem a ocupação, parem a segregação, parem a opressão”, que finalizaram minha narrativa da ida à Cisjordânia.

    CARTAS

    Desde as cartas que nos enviaram Roger Waters e Desmond Tutu –e as visitas de dois jovens brasileiros também ligados ao BDS– comecei a procurar mais e mais coisas para ler sobre a questão israelo-palestina. Eu estava ainda fazendo apresentações do show “Abraçaço” e precisava usar o tempo restante em ensaios com Gil que permitissem a criação de um espetáculo minimamente profissional. Mas achava tempo para ler e ver vídeos. Com a carta de Windholz, redobrei as pesquisas.

    Ao voltar ao Brasil, recebi e-mails com atualizações do Breaking the Silence. Numa das mensagens estava anexado um vídeo em que Nasser, o palestino com quem conversamos em Susiya, era surrado com pedaços de pau por jovens israelenses moradores de um assentamento.

    É uma imagem brutal. Soldados do Exército de Israel assistem à cena impassíveis. Agora que uma terceira intifada se esboça –e que Netanyahu se vê isolado não só pela oposição mas também por correligionários que o acusam de não conseguir proteger Israel– constato, de longe, que a paz que eu julgava ver dentro de Tel Aviv –e que começava a pensar ser a paz que eu não quero– era, como no entanto eu sabia o tempo todo, frágil, superficial e ilusória.

    GAROTOS

    Antes da viagem, eu tinha dito a Pedro Charbel e a Iara Haazs, os jovens do BDS com quem conversamos, que eu tinha sempre gostado tanto de Israel que me sentia como um israelense que se opõe às políticas de Estado do seu país. Iara é, ela mesma, israelense (judia brasileira criada em Israel), mas mesmo ela não se sentia à vontade com essa minha colocação. São garotos militantes, o que pode dar em formas altivas de intolerância.

    Um amigo deles, Gabriel, estava em Susiya no dia em que fomos lá. Esquivo e de olhar inquisidor, exibia silenciosa impaciência com a sutileza de nossa situação de visitantes: eles nos queriam na luta clara dos que boicotam Israel e deploravam qualquer nuança, qualquer sugestão de complexidade. Eu quero a paz que se mostra desde sempre impossível. Mas agora eu a quero sentindo-me muito mais próximo dos palestinos do que jamais me imaginei –e muito mais longe de Israel do que suporia meu coração há apenas pouco mais de um ano. E quero que Gabriel, Iara e Pedro saibam disso.

    Ao sair do Brasil, escrevi e-mail a Hany Abu-Assad, o grande cineasta palestino que nos deu “Paradise Now”, avisando da nossa ida e contando sobre a pressão que sofremos por parte do BDS. Ele respondeu que ficaria contente de poder nos ver: o tempo que passou no Rio lhe parecera um dos melhores de sua vida. Mas que preferiria que atendêssemos às exigências do BDS: “São meus amigos”, ele disse. No entanto afirmou que, se fôssemos assim mesmo, ele iria assistir ao show. Quando afinal fomos, ele mandou e-mail dizendo que já não poderia comparecer: estaria na Europa finalizando um novo filme. É um homem que, quando, em Salvador, lhe perguntei se era religioso, respondeu: “Nunca fui, não tenho fé, mas hoje me considero religioso muçulmano por razões políticas”.

    Antes de entrar no palco em Tel Aviv, pensei em dedicar o show a Hany. Pensei também em reiterar a homenagem à memória de Franklin Dario, o judeu pernambucano que compôs “Ana Vai Embora”. Mas no palco, ao lado de Gil, diante da imensa plateia, decidi que deixaria o show falar por si mesmo. Na van em que fomos a Susiya, eu tinha perguntado a Yehuda o que ele acharia se eu gritasse “Break the Silence” durante o show. Ele ficou mudo por uns momentos e finalmente respondeu: “Não sei. Pode ser interessante; eu gostaria de saber como o público reagiria”. Na hora, fazendo grande esforço interno, optei por total silêncio político.

    SEGREGAÇÃO

    A lembrança da canção do Rappa veio habitada por cenas da segregação informal (e não poucas vezes formalizada “ad hoc”) que se exerce no Brasil. Quem estava vendo aquele acampamento palestino com bandeiras elevando-se acima das moradias provisórias era um grupo de brasileiros, capaz de achar a cena parecida com um assentamento do MST.

    Três filhas de Nasser, duas ainda crianças, uma na puberdade (o que a levava a ter de usar véu) brincavam ao redor. Eu precisava ir ao banheiro e perguntei a Paulinha Lavigne o que fazer. Ela já estava muito mais enturmada com as meninas do que me seria possível calcular. Sem que houvesse nenhuma língua em que pudessem se comunicar com as palestinazinhas, as mulheres do nosso grupo já tinham conseguido dialogar com elas, que eram bonitas e sorridentes. Fui orientado a um banheiro isolado no relento. Gabriel, o jovem ligado ao BDS, contribuiu na indicação do caminho até lá.

    Nasser tinha saído de carro para resolver alguma coisa não longe dali e, ao voltar, reuniu-se conosco sob uma tenda. Narrou as cenas de destruição de habitações pelo Exército de Israel e explicou os casuísmos legais usados pelo Poder Judiciário para a continuidade da violência da ocupação.

    As favelas brasileiras ocupadas me vinham à mente. Eu não queria fazer um reducionismo político e usar um esquema único para avaliar questões brasileiras à luz da situação palestina, mas as imagens de fracassos pontuais das UPPs no Rio (não apenas o caso Amarildo) vinham à cabeça. Nós, os visitantes, não éramos estranhos às desumanidades que testemunhávamos no Oriente Médio. Era impossível não fazer paralelo com situações que vivemos no Brasil.

    LOUCURA

    Na internet vi discurso de um filho de general judeu, herói da Guerra dos Seis Dias, cheio da mais violenta oposição não só à política israelense mas à própria existência de Israel, fundando sua argumentação não naquela guerra mas na Nakba, a catástrofe que foi, para os árabes da Palestina, a fundação do Estado judeu. Vi uma mulher que dizia que não é razoável trocar paz por terra: troca-se paz por paz, ela repetia, querendo dizer um não às teses de acabar com a ocupação e os assentamentos. Vi muita loucura de ambos os lados.

    Vi um desenho animado que expressava a proposta de dois Estados num único território (“2 States, 1 Homeland”), em que se sugere que toda a extensão que vai do Jordão ao Mediterrâneo seja compartilhada por árabes e judeus igualmente, cada grupo com seu governo. Há muitos israelenses conservadores dizendo que isso significaria afogar a população judia na imensa multidão árabe. Mesmo assim, é essa hipótese que Davi Windholz anuncia vir defender em palestras aqui no Brasil.

    Mas o mestre que falou em judeo-nazismo, Yeshayahu Leibowitz (1903-94), um cientista que era também religioso, ao bradar contra o ministro da Suprema Corte israelense que tinha tornado legal a tortura de indivíduos árabes para fazê-los falar e, assim, manter Israel protegido, me impressionou mais do que todos.

    Leibowitz não apenas foi um religioso que defendeu a separação entre religião e Estado e se antecipou aos inimigos de Israel ao detectar aspectos nazistas na política do país mas também, mantendo-se sionista, opôs-se violentamente à Guerra dos Seis Dias e, mais ainda, à invasão do Líbano. Foi também pioneiro em fazer o paralelo Israel/África do Sul. Eu teria dedicado nosso show à sua memória.

    Gosto de Israel fisicamente. Tel Aviv é um lugar meu, de que tenho saudade, quase como tenho da Bahia. Mas acho que nunca mais voltarei lá.

  5. Violência

    A violência, os analistas e os ideólogos

    Para os chamados conservadores brasileiros em geral a regra para a segurança pública é: bandido bom é bandido morto! Defendem execuções sumárias e todos os assim assassinados são considerados automaticamente facínoras. O raciocínio homicida considera a morte pelas balas da polícia prova irrefutável da culpa da vítima. Afinal os seus filhos dificilmente serão parados numa quebrada qualquer, diferente do “elemento” da periferia. Na prática o sacolé de cocaína do primeiro terá tratamento diferenciado da pedra de crack do outro.

    Os progressistas pensam diferente. Todas as causas da violência são externas ao indivíduo. Para se tornar criminoso primeiro é preciso ser vítima da sociedade desigual e cruel. A não ser que a verdadeira vítima pertença a um dos grupos eleitos, somente assim existe a possibilidade da maldade humana se manifestar. Embora por influências externas.

    Hoje a FLACSO pública um estudo sobre os homicídios cometidos contra mulheres. As causas: racismo e machismo. O Brasil então deve ser o único país onde ambas práticas aumentaram simultaneamente nas últimas décadas. Afinal em qualquer momento do passado morriam menos mulheres vitimadas pela violência, como também menos negros, brancos, gays, etc. Nos últimos quinze anos os números de assassinatos explodiram no Brasil. Principalmente nas regiões norte e nordeste, onde a proporção de negros na população é maior que no resto do país.

    Em 1980 o índice de mulheres assassinadas era a metade do atual. Tirando a subcultura funkeira desconheço outros grupos que continuam reduzindo publicamente a mulher à condição de objeto. Porém neste eles não tocam. O Brasil hoje é mais ou menos machista que no passado? E racista? Acredito que em ambos os casos a reposta seja não, mesmo com a possibilidade atual dos boçais despejarem nas redes sociais os seus preconceitos.

    Mata-se por relacionamento desfeito, mas também devido ao som alto numa festa, um arranhão no carro, um esbarrão num show ou por qualquer outro motivo fútil. Os relacionamentos e as interações sociais na nossa cultura pautam-se cada vez mais pela violência.

    O governo do PT, como o do PSDB antes, guia-se pelo “progressismo” no combate ao crime. Enquanto isto os índices aumentam. Levaram o Brasil ao primeiro lugar mundial em assassinatos, campeão do mundo em mortes violentas. A oposição chamada de direita não tem propostas concretas e os seus líderes apelam para o discurso populista. Seja com a aprovação da pena de morte, com a ilusão do porte de armas e também abrir as porteiras para a violência policial. Possuir uma arma na residência pode evitar que um assaltante a invada, portar uma na rua nada resolve. Faltará tempo e prática para qualquer tentativa de reação bem sucedida.

    Abordar a segurança pública ao lado da saúde como os maiores problemas enfrentados hoje pela população deveria ser a principal preocupação tanto do governo quanto da oposição. Aqui mata-se mais que na guerra civil síria, as doenças da pobreza seguem impávidas e o atendimento hospitalar em coma. Porém enquanto um balança o outro pensa apenas em tomar o seu lugar e continuar nada fazendo. Não podemos esquecer também da imprensa, afinal num país onde mais de 60.000 pessoas são assassinadas anualmente a sua grande preocupação é a interpretação das práticas corruptas que aportaram aqui com Cabral. Enquanto isto o povo morre e o que vê o cidadão comum são autoridades não se importando com o seu destino.

  6. Tirar Zé Eduardo do PT

    Que fazer?

    Tirar Zé Eduardo do PT.

     

     

    Como fazer o enfrentamento da crise política, tendo o inarredável sentimento de que temos um Brutus na retaguarda a apalpar-nos as costas?

     

    Política é feita com gestos, simbolismos e o ministro da justiça hoje representa a inércia, a paralisia do governo e do Partido dos Trabalhadores para fazer frente a crise política que nos assoma.  A sua permanência a frente da pasta desencoraja toda a militância a ir para luta e ajudar o governo a superar a crise política, que é condição para se superar a crise econômica.

     

    Sua assustadora inação deixa a todos perplexos e atemorizados. Sua “entrevista preventiva” a uma revista semanal afirmando que “A lei é para todos” é de um cinismo poucas vezes vista na história política do partido, faltou completar, se bem que desnecessário, que “A lei é para todos os petistas”, pois na prática é o que se tem visto durante toda a sua gestão a frente do ministério.

     

    A Presidenta, por sua vez, declarou mais de uma vez, que não transige com o malfeito, donde se conclui que ela está de pleno acordo com o trabalho de desmoralização e desmonte do seu governo e do partido patrocinado pelo seu ministro, pois, se o que vem produzindo não é o que se pode chamar de malfeito, nada mais que se faça nesse país pode, pela sua visão, receber essa alcunha.

     

    O Ministério da Justiça é um ministério estratégico politicamente e deveria, pela quadra em que vivemos ser o mais atuante, junto com a Casa Civil. Seu titular, diante dos fatos escabrosos que sua polícia vem cometendo deveria atuar diuturnamente para impedir a mesma de se transformar num antro, num covil de conspiradores contra o governo. Cabeças da alta direção da corporação já teriam rolado há muito tempo por muito menos do que fizeram e fazem os seus membros, e no entanto, o ministro parece habitar um mundo, uma dimensão transcendental.

     

    Porem o ministro é dela, ela o nomeou, é um problema, e que problema, dela. O que não dá para aceitar bovinamente é que o PT continue a chancelar as suas ações, ou melhor, inações.

     

    Para alem de ser ministro, é um militante do partido e enquanto tal o PT deveria convocar, isso mesmo, convocar o cidadão petista para prestar esclarecimento sobre a sua duvidosa conduta a frente da pasta.

     

    Se a direção do PT não se pronuncia, cabe a sua militância fazer um levante, tuitaço, abaixo assinado, pela saída desse militante do partido; que continue no governo, mas agora sem o apoio do partido e de sua militância. A idéia de ter no interior do mesmo um novo Cabo Anselmo é algo que me dá arrepios.

     

     

  7. Cadeia para apologistas de golpe militar

    Do Blog Conexão Brasília – André Gonçalves

     

     

    Lei prevê até 4 anos de cadeia para quem faz propaganda de golpe militar

     

    Muitos comentários no post Não existe “ditabranda” nem “ditacurta”. Defender intervenção militar é crime colocaram dúvidas sobre o alcance da legislação brasileira contra aqueles que defendem o golpe militar.

    O blog consultou uma das maiores autoridades do país sobre Direito Penal, o advogado René Ariel Dotti, para esmiuçar a questão.

    “Quem defende golpe ignora a experiência trágica da ditadura militar”, diz o professor Dotti. “Se hoje vivemos uma crise de lideranças políticas, continua sendo grande parte em função daquelas que foram ceifadas pelo regime de exceção.”

    Segundo ele três dispositivos abrangem essa questão no país. Eles são autoexplicativos. Só não entende quem não quer.

    O primeiro é a Constituição Federal:

    Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

    XLIV – constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

    O segundo é a Lei de Segurança Nacional (7.170/1983):

    Art. 22 – [É considerado crime] Fazer, em público, propaganda:
    I – de processos violentos ou ilegais para alteração da ordem política ou social;
    II – de discriminação racial, de luta pela violência entre as classes sociais, de perseguição religiosa;
    III – de guerra;
    IV – de qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
    Pena: detenção, de 1 a 4 anos.
    § 1º – A pena é aumentada de um terço quando a propaganda for feita em local de trabalho ou por meio de rádio ou televisão.
    § 2º – Sujeita-se à mesma pena quem distribui ou redistribui.

    Art. 23 – Incitar:
    I – à subversão da ordem política ou social;
    II – à animosidade entre as Forças Armadas ou entre estas e as classes sociais ou as instituições civis;
    III – à luta com violência entre as classes sociais;
    IV – à prática de qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
    Pena: reclusão, de 1 a 4 anos.

    O terceiro é o Código Penal (Decreto-Lei 2.848/1940):

    Incitação ao crime
    Art. 286 – Incitar, publicamente, a prática de crime:
    Pena – detenção, de três a seis meses, ou multa.
    Apologia de crime ou criminoso
    Art. 287 – Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime:
    Pena – detenção, de três a seis meses, ou multa.

    ***

  8. Levy, ou Stiglitz?

    segunda-feira, 9 de novembro de 2015

    Um Nobel se levanta contra ajuste de Levy – via blog do Miro

     

     

    Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

     

    A partir das 23 horas de amanhã, no programa Espaço Público, na TV Brasil, você poderá assistir a uma entrevista de uma hora do economista Joseph Stiglitz.

    Prêmio Nobel de Economia em 2001, chefe da Assessoria Econômica da Casa Branca durante o primeiro mandato de Bill Clinton na Casa Branca, na década de 1990, Stiglitz dedicou a vida a demonstrar cientificamente as falhas estruturais (o nome técnico é “ assimetrias”) da chamada economia de mercado. É um adversário competente dos ajustes estruturais e das políticas de austeridade que têm contribuído para reduzir conquistas históricas dos trabalhadores em anos recentes e se revelam um entrave à recuperação crescimento e à criação de empregos.

    Criador da tese de que vivemos num mundo onde 99% trabalham para satisfazer 1%, que animou vários protestos de rua dos últimos anos, é um dos mais aplicados estudiosos a lembrar a importância da igualdade entre cidadãos – não apenas como princípio político natural das democracias, mas como condição para o bom funcionamento da economia.

    Você acertou se já percebeu que o professor tem críticas duras à política econômica conduzida por Dilma Rousseff e Joaquim Levy. Na entrevista, que fiz em parceria com Florestan Fernandes Junior, Stiglitz faz isso com a autoridade de quem foi um aliado importante da orientação assumida pela economia brasileira na fase anterior a 2015. Elogia os programas de distribuição de renda e incentivo ao crescimento mantidos e até ampliados depois do colapso de 2008/2009.

    Com um pragmatismo coerente e honesto, o professor defende a intervenção do Estado na economia, lembrando sua importância decisiva no financiamento de investimentos de longo prazo que sustentam o crescimento e os grandes avanços científicos e tecnológicos de nosso tempo, inclusive nos Estados Unidos.

    Teve a mesma postura quando pedi sua opinião sobre o BNDES, o banco de desenvolvimento brasileiro que é alvo de admiração permanente em muitos centros acadêmicos fora do país, e vítima de suspeitas permanentes lançadas por um espírito reacionário que se disfarça pelas máscaras do moralismo barato.

    O professor, que conhece bem o assunto, chegou a fazer uma ironia bem colocada com a tese de que o BNDES subsidia empresas supostamente amigas do governo. Mostrou que na vida real o subsídio não se encontra nas taxas de juro oferecidas pelo banco a quem faz investimentos – em linha com o mercado internacional, um pouco para cima, um pouco para baixo – mas vem das taxas de juros definidas pelo Banco Central, matematicamente as mais altas planeta. Deixou claro que ali sim se pode falar em favor amigo, que abrem rombos bilionários nas contas do Estado, sugerindo que é estranho que esse tipo de ajuda não seja questionado. Curto, direto, impossível de responder.

    Perguntado sobre regras do imposto de renda brasileiro que garantem isenção total à minoria de milionários-felizardos que não entregam um centavo sequer de seus lucros e dividendos ao Estado, deixando a carga dos impostos aos pobres e a classe média, reagiu com respostas indignadas.

    Numa conjuntura onde a política brasileira encontra-se contaminada pelo ódio, Stiglitz comenta uma das ideias de O Preço da Desigualdade, um de seus livros mais importantes. Ele está convencido de que um dos traços do mundo contemporâneo é a falta de sentimento de culpa por parte de elites e explica por que.

    Abandonando regras de convívio e mesmo solidariedade que permitiram a construção de sociedades desiguais mas equilibrados ao longo do século XX, esses cidadãos tornaram-se capazes de tomar medidas que podem beneficiar exclusivamente seus próprios interesses, mas comprometem o futuro da maioria dos contemporâneos, por várias gerações. O resultado é a criação de um mundo de sobrevivência difícil pela falta de valores comuns, onde a deslealdade e a falta de transparência são uma regra constante.

    É um raciocínio muito apropriado para se refletir sobre o Brasil de 2015. Vivemos um momento no qual vontade de destruir um adversário político que produziu inegáveis melhorias na condição da vida da maioria da população transformou-se numa campanha permanente contra o principal elemento de coesão da sociedade brasileira, o regime democrático. Sem culpa.

    Deu para entender?

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