Fora de Pauta

O espaço para os temas livres e variados.

Luis Nassif

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  1. Serra: “Que meus desejos se realizem”

     

    HISTÓRIAS DE NATAL

    Episódio 1

    Lembrei quando o Papa Bento XVI o conheceu. Bento: “Prazer em conhecê-lo”. Serra: “O prazer é todo seu.”. 

    Episódio 2

    E, no Copacabana Palace, após fazer a ressonancia magnética para diagnosticar o trauma da bolinha de papel na campanha de 2010. Para relaxá-lo, pois sofria dores virtuais muito fortes na cabeça, a campanha do PSDB tinha comprado, com dólares suiços do trensalão, uma morena carioca super-gostosa. O diálogo foi o seguinte: Morena – “Estou à disposição, presidente”, Serra – “Pode ir, prefiro uma pun…inha”, Morena – “Tá bom, deixa que eu toco”, Serra – “Obrigado, mas só eu me dou prazer”.

    Episódio 3

    O Vampiro da Mooca. Alguns vampiros marcaram a história universal. O Conde Drácula e o Vampiro de Dusseldorf são dos mais famosos, retratados em filmes memoráveis. No Brasil temos pelo menos três: Nelsinho – o Vampiro de Curitiba (de Dalton Trevisan), Bento Carneiro – o Vampiro Brasileiro (de Chico Anísio), e Zé, o Vampiro da Mooca. Antigos moradores deste tradicional bairro paulistano, a Mooca, relatam que, na década de 50 do século passado, o jovem Zé Serra, ainda pré-adolescente e após um terrível pesadelo, com uma antevisão apavorante de morcegos búlgaros e lulas marinhas, decidiu que ficaria acordado o resto da vida, e concluiu que isto só seria possível se chupasse o sangue de uma donzela a cada madrugada. No seu batismo de sangue, o imberbe vampiro Zé atacou uma inocente e bela jovem perdida nas sombras da noite da Mooca. Na hora H, ouvindo o grito lancinante da donzela, os dentes do vampiro se projetaram à frente, e em seguida se esticaram, curvando-se erradamente na direção do próprio pescoço. Assim a nossa heroína escapou e o famigerado Vampiro Zé bebeu o próprio sangue. Ao fazê-lo sentiu um infinito auto-prazer e viu ali traçado o seu destino, como o primeiro vampiro auto-suficente da história. Daí em diante, chegando aos dias que correm, e até o final dos tempos, Zé, o Vampiro da Mooca, cumpre a sua inglória e triste sina de cada madrugada: tentar derrotar e matar aqueles terríveis morcegos búlgaros e lulas marinhas, para enfim poder dormir em paz, pela eternidade. Amém.

    1. O Aébrio que se cuide…

      O Aébrio que se cuide, a vingança do vampiro brasileiro ‘sará malígrina!’

      Infelizmente quando se expande o texto não é possível estrelar. O post vale mil estrelas. Ri muito. 

      Um abraço

  2. O desenvolvimento que se sente no ar

    Como as siderúrgicas colocaram Rio de Janeiro e Açailândia, no Maranhão, na mesma luta

    Por Mario Campagnani. Fotos Marcelo Cruz

    Esta matéria faz parte da edição 128 da revista Fórum. Compre aqui.

    São 2 mil quilômetros de distância, mas os moradores dos bairros de Piquiá de Baixo, em Açailândia, Maranhão, e Santa Cruz, no Rio de Janeiro, têm uma proximidade que se sente no ar, que invade casas e pulmões de uma mesma forma. Como estandartes do desenvolvimento, siderúrgicas chegaram. Primeiro em Piquiá, por meio do Projeto Carajás, de exploração de ferro por parte da Vale, a partir de 1982. O convívio de décadas com essa indústria extrativa levou maranhenses a protestar contra a instalação da maior usina da América Latina em sua capital, por meio do movimento “Reage, São Luís”.

    Mais fácil de se transportar do que o minério, o projeto da empresa alemã Thyssen-
    Krupp fez uma viagem e desembarcou em 2005 nas margens da Baía de Sepetiba, em Santa Cruz, onde começou a ser instalado em meio a uma população que não sabia o que aconteceria. Os problemas de saúde e ambientais vieram, assim como o início da resistência, que acabou por unir os moradores das duas localidades, que agora debatem formas de lutar contra essa bandeira de progresso.

    Morador de Piquiá há 43 anos, Antonio Rio, de 63, mostra aos visitantes cariocas como a munha é perigosa. Ao colocar galhos sobre um monte, eles logo pegam fogo

    Eles já se encontraram duas vezes neste ano. A última, em Piquiá de Baixo, de 14 a 17 de agosto, durante a qual houve uma troca de experiências entre os quatro cariocas que compunham a comitiva e os moradores locais, que contaram os problemas que enfrentam com cinco siderúrgicas instaladas a poucos metros de suas casas. A professora Joselma Alves de Oliveira, de 36 anos, se lembra quando um canal de água fervente começou a passar atrás de seu quintal, saída de dentro do sistema de resfriamento de um alto-forno siderúrgico diretamente para o Rio Açailândia, no qual costumava nadar. Com o mesmo cuidado, as empresas jogavam e ainda jogam os restos da queima do carvão vegetal e do processamento do ferro, conhecidos como munha, em terrenos desprotegidos próximos às casas. Os moradores de Santa Cruz visitaram um desses locais e perceberam que a munha, apesar de extremamente quente, não é incandescente, parecendo apenas uma montanha de terra escura, o que faz com que se sinta o perigo apenas ao se chegar muito perto dela.

    “Eu perdi um primo que brincava com meu irmão por aqui. Ele pisou na munha sem perceber. As pernas afundaram. Não resistiu às queimaduras. Nossas vidas foram tomadas por essas empresas, que chegaram depois, poluem nosso ar e ainda nos chamam de invasores”, disse Joselma, se referindo ao pó que sai das chaminés das siderúrgicas 24 horas por dia. Basta uma hora sobre uma mesa para que uma folha de papel esteja coberta por uma poeira grossa.

    Foi a poeira produzida por esse tipo de usina que ligou o alerta de muitos moradores de Santa Cruz sobre os riscos do empreendimento da ThyssenKrupp, a Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA) – sendo que a Vale é detentora de 26,85% da indústria, além de fornecedora de minério. O projeto de implantação foi feito em 2005, e audiências públicas denunciadas como fraudulentas, em 2006. As obras começaram em 2007. Em 2009, é veiculada a informação de que a TKCSA aumentaria em 76% a emissão de dióxido de carbono (CO2) do Rio, emitindo 12 vezes mais do que toda a indústria da cidade. A inauguração ocorreu em 18 de junho de 2010, com a presença do presidente Lula, do governador Sérgio Cabral e do ex-presidente da Vale Roger Agnelli. Em 7 de agosto de 2010, um jornal carioca noticiava: “Pó brilhoso assusta Santa Cruz – Moradores afirmam que vêm tendo problemas de saúde devido à siderúrgica”. As irregularidades são tantas que até hoje a TKCSA não conseguiu a licença de operação. Para não parar sua produção, ela utiliza um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), assinado com o Ministério Público do Estado do Rio.

    Moradora de Santa Cruz, a dona de casa Andréa Rodrigues, de 41 anos, foi a Piquiá de Baixo contar sua história. Ela, que nunca tinha visto alagamentos em sua casa, começou a conviver com eles a partir de 2007, por causa das obras da TKCSA. Com a inauguração da siderúrgica e a chegada da poeira da chaminé – logo batizada de chuva de prata –, a situação piorou.

    As florestas de eucalipto, também chamadas de desertos verdes, tomam conta da paisagem no sul do Maranhão

    “Passamos a viver com chuva de prata na cabeça e água da enchente no pé. Muita gente começou a ficar doente. Poucos resolveram se organizar para lutar, enquanto outros aceitaram a situação ou então deixaram suas casas para trás. Vi gente vendendo casa boa, com dois quartos, piso e parede de azulejo, por R$ 2 mil, pois ninguém quer morar do lado de uma siderúrgica”, disse Andréa aos moradores de Açailândia.

    A poeira produzida na zona oeste do Rio difere da que cai sobre Açailândia, porque a TKCSA pega o minério de ferro e produz placas de aço, em um processo mais complicado do que o das antigas siderúrgicas de Piquiá de Baixo, que apenas fazem o primeiro tratamento do ferro, tendo como resultado o chamado gusa, que é quebradiço e de pouca utilidade direta. Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de 17 de setembro de 2010, mostrou a presença de 24 elementos químicos no ar de Santa Cruz que podem causar problemas diversos, desde reações alérgicas e transtornos cognitivos até câncer. No caso do Maranhão, ainda não há estudos conclusivos sobre o que existe na fumaça expelida pelas chaminés.

    As produções do Rio e do Maranhão podem servir como exemplo da política brasileira de priorizar a fabricação de bens de menor valor agregado. Da TKCSA, as placas vão para usinas do grupo ThyssenKrupp na Europa e nos Estados Unidos, onde são retrabalhadas e vendidas por valores mais altos. O gusa de Açailândia tem um destino parecido, que demonstra bem as contradições dessa cadeia produtiva, segundo o pesquisador da Fiocruz Marcelo Firpo, que analisa os casos dos dois bairros:

    “O ferro-gusa de Piquiá vai diretamente para os Estados Unidos, onde é adicionado ao aço sucateado no processo de reciclagem. Há uma perversidade enorme nesse processo, porque as comunidades ficam com o que os economistas chamam de externalidades negativas, ou seja, tudo aquilo que traz prejuízos, mas não faz parte da cadeia de preços do aço e do ferro. Dessa forma, esses preços acabam sendo extremamente baixos, mas não embutem tudo aquilo de ruim que ocorre com a população e o meio ambiente. Quem é que paga o preço do desmatamento das florestas que serviram como carvão vegetal para alimentar as siderúrgicas? Isso demonstra como esse comércio internacional é, em sua essência, injusto.”

    Os moradores dos dois locais sentem os efeitos na pele e enfrentam dificuldades para responsabilizar as empresas. A Vale, fornecedora do minério de todas as siderúrgicas, não assume sua culpa pelos danos de sua cadeia produtiva. As empresas, por sua vez, usam o dinheiro e a influência para diminuir as queixas. Em Santa Cruz, por exemplo, o jornal de bairro “Alô Comunidade” é bancado pela TKCSA por determinação de um acordo que definiu suas compensações socioambientais. Nesse jornal, a empresa faz propaganda de seus projetos sociais.

    “Até mesmo reforma de igreja é paga com dinheiro da TKCSA. A empresa gasta dinheiro para tentar desmobilizar. Na Rua da Verdade, na Chatuba, havia mais de 80 pessoas reclamando da poluição no São Francisco (canal que deságua na Baía de Sepetiba). Sabe o que aconteceu? A TKCSA foi lá e fez um acordo para pagar a conta de luz de todo mundo”, afirmou o pescador Jaci do Nascimento, de 58 anos, parte da comitiva carioca, cuja viagem foi promovida por três organizações não governamentais: Justiça Global, Justiça nos Trilhos e o Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs).

    A chegada do desenvolvimento

    Açailândia, hoje com 104 mil habitantes, surgiu como um acampamento de homens que, em 1958, chegaram ao sul do Maranhão para construir a BR-010 (Belém–Brasília). Rodovia aberta, alguns ficaram à beira de um riacho, que, por causa da presença de muitos açaizais, acabou sendo batizado como Açailândia. Como é exatamente nesse ponto que estão fixados, os moradores de Piquiá de Baixo afirmam que aquele é o primeiro bairro da cidade, emancipada de Imperatriz em 6 de junho de 1981. Com o fim das obras da estrada, o caminho natural foi a agropecuária, mas logo foi notado que aquela floresta sendo aberta era por si só uma fonte de renda com a venda da madeira. Assim, começou a derrubada de praticamente toda a mata nativa do local – algo comum em todo o estado, que hoje conta com apenas 28,72% de suas florestas, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

    Os anos das madeireiras em Açailândia deixaram marcas na cidade para além dos campos abertos onde hoje vive o maior rebanho bovino do Maranhão. Em Piquiá de Baixo, o principal ponto de resistência dos moradores é a igreja da Comunidade de São José, onde ocorrem suas reuniões e também onde receberam os cariocas de Santa Cruz. Sobre o altar, o sacrário esculpido em madeira nativa mostra um açaizal e uma carvoaria, na qual as hóstias são guardadas. Mantida pelos missionários combonianos (uma ordem da Igreja Católica), a igreja recebeu os visitantes sob seu teto de telhas aparentes.

    Houve uma apresentação do coordenador do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia, Antonio Filho. Ele relata que as madeireiras deram lugar às carvoarias na década de 1980, quando as siderúrgicas instaladas começaram a demandar o carvão vegetal para alimentar seus fornos. Foi então que os moradores da cidade perceberam que a floresta tinha fim, assim como os benefícios que ela trazia, como lembra Antonio Rio, 63 anos, sendo 43 morando em Piquiá de Baixo. “A floresta dava muita coisa para a gente. Não era só açaí, não. Aqui era bom de caçar, de pescar. Hoje, você pode andar por aí durante dias que não vai encontrar nada que vai conseguir comer. Se antes a gente ouvia o barulho da mata, hoje dormimos é com o barulho do trem, que passa dia e noite aqui atrás”, disse Antonio, fazendo referência à Estrada de Ferro Carajás, que sai da mina da Vale no Pará até o porto em São Luís, cortando Açailândia, onde há um posto para descarregar o minério e embarcar o ferro-gusa.

    Com o fim da floresta, um novo tipo de desenvolvimento chegou ao sul do Maranhão para alimentar o fogo das usinas. A plantação de eucaliptos foi adotada em larga escala. Para produzir uma tonelada de ferro-gusa são necessários 875 quilos de carvão vegetal, feito com 1,5 tonelada de eucalipto, o que equivale a dez árvores de sete anos de idade. Para produzir a mesma quantidade usando mata nativa era necessário desmatar 600 metros quadrados. Entretanto, o que poderia ser um benefício inicial foi se mostrando apenas um novo mal. Batizadas de desertos verdes, essas plantações se revelaram agressivas ao que restava de vegetação natural, pois consomem muita água além de empobrecer o solo, que se torna estéril com as seguidas plantações e cortes.

    No caso da TKCSA, o carvão utilizado é o mineral. Há uma grande estrutura para trazer os insumos e despachar o aço, que conta com trens e navios que chegam pelo porto construído na Baía de Sepetiba especialmente para atender a empresa, num processo que vem destruindo o ecossistema local. Toda essa estrutura levou ao assoreamento da baía e dos rios que a alimentam, com a consequente queda da atividade pesqueira. Cerca de 8 mil pescadores artesanais e outros profissionais que viviam dessa economia local viram as redes se esvaziar. Em comparação, a siderúrgica criou 5.5 mil vagas, segundo dados da própria ThyssenKrupp. Nascido de uma família na qual o pai e o avô eram pescadores e seis dos oito irmãos seguiram a mesma profissão, Ivo Soares, de 61 anos, contou em Piquiá que atualmente precisa fazer bicos como eletricista e na construção civil para fechar as contas.

    “É o que ajuda lá em casa. Da pesca não dá mais para viver. A gente pegava, por semana, 2 mil a 3 mil quilos de peixe, usando o curral de pesca, que é nossa especialidade. Hoje, pegamos de 50 a 100 quilos. Praticamente não está nascendo peixe na nossa baía. Ficamos dependentes dos que migram, como a tainha, que vem em maio e junho de Santa Catarina para desovar. Temos que contar com a sorte”, disse Ivo, explicando que os barcos não podem sair da baía, pois não foram feitos para o mar aberto.

    Além dos pescadores, os pequenos agricultores também foram afetados na chegada da TKCSA. Com apenas uma ordem vinda da prefeitura do Rio, aquela área rural virou o Distrito Industrial de Santa Cruz, sem que houvesse qualquer consulta aos moradores. No mesmo terreno da construção da siderúrgica, havia 75 famílias ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Para que as obras fossem iniciadas, elas foram intimidadas e expulsas.

    Lutas iguais, situações diferentes

    A percepção de que suas histórias são parecidas tem ajudado cariocas e açailandenses no desenvolvimento de estratégias. Para os primeiros, é nítido como a resistência de Piquiá de Baixo está bem organizada e conta com a participação ativa de muitos moradores, que já avançaram com suas pautas. No segundo dia de visita, uma quinta-feira, todos foram para a Câmara de Vereadores de Açailândia, onde ocorreu uma audiência pública sobre o reassentamento das 230 famílias de Piquiá de Baixo em um outro terreno na cidade, a alguns quilômetros de distância das siderúrgicas. Os moradores já conseguiram importantes avanços nessa pauta, mas o projeto emperra porque depende de uma negociação de desapropriação entre a prefeitura e o dono do terreno.

    A presença da comitiva carioca, de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz e de promotores do Ministério Público do estado do Maranhão na audiência despertou a curiosidade da imprensa e dos moradores locais, mas não das autoridades. Poucos vereadores apareceram, sendo que não ficaram mais de uma hora. Apesar de convidada, a prefeita Gleide Santos (PMDB) não compareceu. Isso, contudo, não diminuiu a confiança dos açailandenses nem a admiração dos cariocas, especialmente da estudante Aline Marins, de 18 anos. Ela, que acompanha seu pai nas reuniões da resistência à TKCSA, sempre notou como são raros os jovens envolvidos na questão. No Maranhão, teve a oportunidade de ver estudantes se mobilizando de diferentes formas. Chamou sua atenção, por exemplo, uma peça de teatro encenada por eles dentro da igreja de Piquiá, “O Rei testa de ferro”, que conta a história de um déspota distante, que possui o chamado cavalo de 20 patas, uma alusão à Vale e ao seu trem de minério, responsável por dezenas de mortes por atropelamento no Maranhão.

    “Aqui eles conseguiram dinamizar o assunto. Acho que precisamos pensar em outras formas de atuar em Santa Cruz, pois as pessoas precisam se envolver mais. Muitos sabem que a TKCSA está errada, mas não fazem nada. Acho que a maior dificuldade é essa, mostrar que o problema é de todos, seja você afetado diretamente ou não”, disse Aline.

    Os moradores de Piquiá de Baixo contam que também aprenderam com a experiência de Santa Cruz. A professora Edilene Brandão, de 37 anos, explicou que enquanto lutam para conseguir novas casas, e não para retirar as cinco siderúrgicas, os moradores do Rio ainda brigam para remover a TKCSA. E a reivindicação dos cariocas pode se tornar realidade, uma vez que a ThyssenKrupp quer vender a companhia. Para os moradores, a melhor opção é transformar o complexo em uma grande universidade. A empresa, todavia, negocia a venda da TKCSA, junto com outra fábrica no Alabama, Estados Unidos, para a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Como ambas dão prejuízo, a ThyssenKrupp quer investir em produtos com maior margem de lucro, como elevadores e peças para fábricas.

    “Vivemos com esse problema há mais de 20 anos, mas começamos a nos organizar há oito. Eles estão assim há seis, mas lutam desde o começo. Esse momento juntos abre os olhos para mostrar como é importante não demorar muito para agir”, explicou Edilene, nascida em Piquiá, mas moradora de outro bairro, Plano da Serra, porque ela e seus filhos têm problemas respiratórios.

    A despedida oficial foi na nova Piquiá, com cariocas e açailandenses juntos, em círculo, no ponto mais alto do terreno, ainda completamente tomado pelo mato, mas de onde é possível imaginar as praças, a escola e as casas com as famílias. Houve aqueles que nunca acreditaram e quem desistiu no meio do caminho, mas o grupo reafirma sua fé. Fala-se de Deus, mas a crença é nos que lutam ao lado. O terreno como prova de que tem valido a pena. Do alto, também é possível ver no horizonte a fumaça das siderúrgicas subindo aos céus incessantemente.

    http://revistaforum.com.br/blog/2013/12/ok-o-desenvolvimento-que-se-sente-no-ar/

  3. Envelhecimento da população no Brasil:

    Envelhecimento da população no Brasil: os novos velhos

    O Brasil vive um processo de prolongamento da expectativa de vida. De onde sairão os recursos para garantir qualidade de vida aos idosos?

    O ano termina com notícias mais positivas para os idosos brasileiros. Depois de décadas de descaso, omissão e silêncio por parte do Estado, principalmente sobre a população pobre de mais idade, o Estatuto do Idoso, que completou dez anos em 2013, veio dispor na forma da Lei n. 10 741 diversas obrigações e prioridades relacionadas aos cidadãos com mais de 60 anos.

    Lamentável é ver o Estatuto desrespeitado pela própria justiça, há pouco tempo, pelos mesmos funcionários que devem cumpri-la.  Pretensos guardiães da lei, funcionários de serviço público discriminaram e negaram atendimento prioritário devido por motivo de idade, como reza o Estatuto, ao ex-ministro José Dirceu.  A defesa do dirigente petista invocou a Lei 10 741 para que seu cliente fosse (ou não) autorizado, com mais rapidez, a trabalhar fora da penitenciária onde continua indevidamente encerrado em regime fechado. Deve-se levar em conta que esse era um caso de repercussão nacional.

    Por um lado, em casos semelhantes ao de Dirceu, o Estatuto não é reconhecido, recebe tratamento condescendente e até irônico da mídia conservadora, e não é fiscalizado no seu cumprimento; e embora seja objeto de elogio por parte de governos de outros países onde é visto como documento avançado (como o Estatuto das Cidades, que, com frequência é desrespeitado e desacreditado). Por outro, a Lei 10 741 pretende reforçar a rede pública de proteção aos idosos, contabiliza sucesso na execução dos seus direitos culturais e de entretenimento, e relativa efetividade no transporte coletivo (gratuidade) onde ainda é descumprido sem qualquer punição aos infratores, as cooperativas de transportes das grandes cidades.

    Alguns ônibus montados em carrocerias de caminhões ainda hoje circulam, dificultando ou impedindo acesso aos idosos por causa de sua altura. Muitas vezes, esses mais velhos aguardam os motoristas se dignarem a se deterem, nas paradas, para embarcá-los. É uma situação da vida cotidiana que desrespeita a mobilidade dos mais velhos e envergonha uma sociedade que se pretende civilizada.

    Espera-se que o Compromisso para o Envelhecimento Ativo, assinado pela presidenta Dilma Rousseff em setembro passado, seja também mais um dispositivo legal a fortalecer a teia de assistência pública aos maiores de 60 anos, ampliando políticas sociais. Ele procura implantar ambientes favoráveis aos velhos, tenta dinamizar conselhos estaduais e municipais que trabalham sobre o tema e de cujas ações concretas quase não se têm notícia. Como funcionam esses conselhos?

    Os objetivos do Compromisso procuram validar, definitivamente,  direitos dos idosos; apoiar de modo concreto a assistência aos velhos dentro das famílias; garantir um atendimento digno na rede de saúde pública e, na medida do possível, propiciar a autonomia estendida a estes cidadãos, visto que a longevidade é mais acelerada no segmento da população a partir dos 80 anos.

    Um dos pontos contemplados pelo Compromisso é a capacitação,  educação e formação de cuidadores profissionais trabalhando em regime de assistência domiciliar, sistema exemplar na França, o país com a população mais velha do ocidente. Lá, a expectativa de vida para as mulheres se ampliou para 85 anos, segundo o censo de dois anos atrás, e para os homens, 78.

    Com a presença de cuidadores capacitados pelo Estado, a assistência domiciliar aos idosos será menos onerosa, mais humana e confortável na última fase da vida. Deste modo, eles poderão ou não ser encaminhados para as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) que, por sinal, no caso dos abrigos públicos, se encontram superlotadas. Autênticos hotéis cinco estrelas, as clínicas particulares são dispendiosas e destinadas à alta classe média e à chamada velhice dourada.

    Atualmente, no Brasil, há 3548 Instituições de Longa Permanência para Idosos. Delas, 218 são instituições públicas – municipais, estaduais e federais -, com 109 mil leitos dos quais 84 mil estão ocupados.

    Outro aspecto complexo relacionado à expectativa de vida estendida é o cuidado de pais octogenários e nonagenários por parte de filhos também idosos, com mais de 60 anos de idade. Isso ocorre com frequência em milhares de famílias no Japão, país campeão de longevidade mundial, onde a taxa de população mais velha é a maior do planeta: 23% dos japoneses têm mais de 65 anos. Numa população de 120 milhões de habitantes, 18 mil indivíduos são centenários.

     

    A bomba demográfica é outra face do envelhecimento das populações. No oriente, as taxas de nascimento explodem. Exceção de Japão e China – com mudanças este ano na política do filho único para atender e suprir o aumento de mão de obra –, e ao contrário do que ocorre no ocidente envelhecido, no oriente não se conhece a taxa de reposição populacional como neste lado do mundo: cada casal gerando dois filhos para repor a sua existência. No oriente, as populações crescem aceleradamente com objetivo político. Os jovens são uma arma poderosa.

    Populações estagnadas, como ocorre na França e na Itália, apresentam o novo desenho retangular para a antiga pirâmide populacional. Na Alemanha, as projeções apontam o fato de que para cada duas meninas nascidas lá hoje, uma chegará aos cem anos.

    O envelhecimento das populações não é novidade, mas aqui ainda não é uma questão discutida com prioridade pela sociedade cuja cultura predominante é a da busca obsessiva da juventude eterna, a cultura do corpo e da cirurgia plástica. Na França, ano passado, mais de mil artigos e reportagens sobre a velhice foram publicados nos jornais. A mídia conservadora daqui aborda o assunto de modo simplista, infantiliza os velhos e repisa chavões ridículos: nova idade, feliz idade, melhor idade, senhorzinho, senhorinha, tio, tia e por aí vai.

    A questão do envelhecimento do país exige providências inéditas e urgentes. Criar e destinar fontes de grandes volumes de recursos para a proteção desses ‘novos velhos’ brasileiros os quais, com o avanço da tecnologia, ganham mais 20/ 30 anos de vida. A questão central não é o prolongamento da expectativa de vida. É a qualidade da vida nesses 20/30 anos a mais de existência que se tem e o acesso àss novas tecnologias por parte das classes populares. De onde sairão os recursos para garantir qualidade de vida aos idosos? Como encarar o desafio de investir na velhice, mas também, na outra ponta, o necessário para as crianças – os dois segmentos mais vulneráveis de uma população?

    Cirurgias plásticas à parte, não se pode mais ignorar o envelhecimento populacional no Brasil. O país está inserido no processo acelerado do envelhecimento global e este é um item prioritário assim como é o combate à pobreza, à mise%u001ria, à fome e à ignora%u002ncia, o aquecimento global, os eventos climáticos extremos mais amiúdes, e a violência individual e de massa.

    Dez anos atrás, projeções oficiais indicavam uma população de 20 milhões de indivíduos idosos em 2020. Hoje, sete anos antes da data prevista, o país contabiliza perto de 24 milhões de cidadãos com mais de 60 anos. São indivíduos que de algum modo, mesmo modestamente, pouco a pouco estão sendo absorvidos pela onda de inclusão social que varre o país. Os idosos ajudam a movimentar a economia continuando a trabalhar, mesmo os oficialmente aposentados – e até por necessidade financeira. Eles produzem, votam, atuam, influenciam, circulam, viajam, decidem, participam e consomem uma gama cada vez maior de produtos e serviços, o que não ocorria no passado.

    A Tábua de Mortalidade do IBGE deste ano registra aumento de expectativa de vida de 74,6 anos para ambos os sexos. Um acréscimo de cinco meses e 12 dias em relação ao valor estimado para 2011. Para os homens, mais quatro meses e dez dias, passando de 70,6 anos para 71. As mulheres ganharam mais: de 77,7 em 2011 passaram, ano passado, para uma expectativa de 78,3 anos.

    Estamos nos aproximando das taxas europeias de envelhecimento populacional. Com uma diferenc%u027a: o país envelhece antes de se tornar rico. Os países centrais envelheceram depois de conhecerem a prosperidade do estado de bem estar social. Como observou a Ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário Nunes, na sua entrevista a Carta Maior: o processo europeu de transição de uma população jovem que viveu o estouro dos baby boomers do segundo pós-guerra e desembarcou no quadro envelhecido atual levou praticamente um século. Aqui, estamos vivendo a mesma experiência em apenas uma geração.

    http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Direitos-Humanos/Envelhecimento-da-populacao-no-Brasil-os-novos-velhos/5/29869

  4. Por que Juan Delgado é o homem do ano de 2013

    Do Brasil 247

    :

    Nenhuma ideia foi tão poderosa no Brasil em 2013 como o Mais Médicos e seu símbolo é o cubano Juan Delgado; à direita, gostou-se de vaiá-lo e execrá-lo como “escravo”; no ângulo da esquerda, ele provou-se o homem de novo tipo, que anulou e sublinhou com galhardia o preconceito ideológico-racial-profissional; para quem é apenas humanista, o médico que passou a noite de Natal numa aldeia de índios no Maranhão, a mais de 300 km de São Luís, foi o personagem mais emblemático do polarizado 2013

    247 – Juan Delgado, médico, cubano e negro foi escolhido, pelas circunstâncias, como o homem do ano no Brasil em 2013. Não houve eleição, pesquisa ou enquete, assim com a escolha, pela revista Time, do Papa Francisco como Homem do Ano no mundo foi exclusiva de editores – e reconhecida consensualmente como acertada.

    Para destacar o dr. Delgado, o que valeu para 247  foi a reflexão do que ele simbolizou como resumo sem açúcar do que foi batido no liquidificador político, social e econômico do País nos últimos doze meses.

    Entre todas as polêmicas levantadas contra o governo no debate nacional, o Mais Médicos foi a verdadeira mãe de todas as batalhas. Apostou-se, na virada de 2012 para 2013, no apagão de energia. Mas rapidamente esse espirro de desinformação editorializada se dissipou frente a realidade de abastecimento normal. Os fantasmas da inflação e do estouro das contas públicas assombraram apenas as páginas da mídia familiar, não tendo se materializado até agora, vésperas do Natal. No ano que vem, a propaganda a favor dos fantasmas irá continuar.

    Quanto ao Mais Médicos, foi atacado por um setor da sociedade de bastante peso e grande capacidade de articulação. Estudantes de Medicina, médicos e suas entidades uniram-se como nunca se vira, para atacar com todos os argumentos a iniciativa do governo federal, igualmente inédita no País – a de povoar os rincões com baterias de médicos nacionais e estrangeiros encarregados do primeiro combate aos sinais de doença entre a população.

    Como o fantasma que juntaria o apagão, a inflação e o desemprego não se materializou, não se pode elegê-lo “homem do ano”. Até porque, para tanto, teria ele de ser mesmo homem – ou mulher.

    DILMA? – Neste caso, a escolha poderia muito bem recair sobre a presidente Dilma Rousseff, o que não seria nenhuma escolha pelo critério chapa branca.

    Afinal, quem estava com a face na vidraça quando as manifestações de massa de junho tomaram as capitais? Quem estava em Brasília como alvo certo no momento em que houve até mesmo incentivo midiático para um quebra-quebra às instituições? Quem mais pelejou em eventos e entrevistas, dia após dia, para garantir a política econômica, evitar crises institucionais, ora assopradas pelo Supremo ora pelo Congresso, ou pular as cascas de banana jogadas às pencas aos seus pés? Dilma.

    Por muitos motivos, e sobretudo pelos resultados de gestão alcançados num ano tão longo e de difícil travessia – com o saldo espetacular das concessões em infraestrutura, a inflação na meta e o saldo recorde de empregos -, a presidente pode ser vista, no Brasil, como a Mulher do Ano.

    Mas para apontar um primeiro de ranking, vamos de Juan Delgado.

    As circunstâncias, repita-se, escolheram o médico cubano para ser a face mais representativa de 2013 no Brasil.

    Entre os mais de quatro mil médicos estrangeiros que desembarcaram no Brasil para tomar lugar no programa Mais Médicos, perto da metade é formada por cubanos. Desse contingente, principal alvo dos médicos e estudantes descontentes com o programa em razão de sua origem cubana – e cor da pele negra -, Juan Delgado virou destaque. Em Fortaleza, a exemplo de todos os seus colegas que chegavam para a primeira ambientação no País, ele foi recebido por um corredor polonês.

    “Escravo!”, gritava a horda de médicos e estudantes de Medicina do Ceará, numa tentativa de humilhação que ganhou adeptos entre colunistas que se consideram civilizados. Inacreditável. Num primeiro momento, Juan Delgado, cuja foto percorreu o País num recorde de publicações, ouviu o coro contra si ganhar a simpatia de muita gente.

    REVIRAVOLTA – Logo depois, porém, mais gente ainda armou a solidariedade a ele, aos profissionais e ao programa Mais Médicos. Uma a uma, todas as provocações e impasses levantados pelas entidades médicas com a colaboração da mídia familiar caíram em instâncias judiciais. O preconceito das críticas tornou-se claro até mesmo quando escondido pela ideologização do debate. A manifestação de racismo de um punhado de cidadãos do Ceará vestidos de branco foi reproduzida por inúmeros setores, mas suplantada pela reação coletiva de uma sociedade que, goste ou não a elite, acabou com a escravidão em 1888.

    Além das circunstâncias, o dr. Delgado agiu efetivamente como um homem referencial em 2013. Posicionou que jamais sentiu-se escravo por viver no regime socialista de Cuba. Ele deixou claro considerar-se um construtor de um mundo mais fraterno e apoiador de um regime que também tem como marca a solidariedade internacionalista. Relevou as críticas, não devolveu nas mesmas moedas as ofensas que recebeu, mas transformou-as em riqueza para a sua causa. Com uma postura que marcou a diferença, ele confirmou a crença de muitos na evolução da sociedade e deu uma lição de comportamento e correção.

    A noite de Natal, Juan Delgado passará ao lado de seis outros médicos e dos índios da aldeia para a qual ele foi enviado, a 316 quilômetros de São Luís, no Maranhão.

     

  5.  
    Hildegard Angel: “A gente

     

    Hildegard Angel: “A gente nunca perde por ser legítimo, mas quem conta a história são os vencedores, não esqueçam”

     

    26 dez 2013/0 Comentários /Por 

     

    “Essa minha coragem, como alguns denominam, de apoiar José Dirceu, que de fato sequer meu amigo era, e de me aprofundar nos meandros da AP 470, a ponto de concluir que não se trata de ‘mensalão’, conforme a mídia a rotula, mas de ‘mentirão’ – royalties para mim, em pronunciamento na ABI – eu, a tímida, medrosa, reticente ‘Hildezinha’, ousando pronunciamentos na ABI! O que terá dado nela? O que terá se operado em mim?”

    Artigo publicado no site da jornalista

     

    O fascismo se expande hoje nas mídias sociais, forte e feioso como um espinheiro contorcido, que vai se estendendo, engrossando o tronco, ampliando os ramos,  envolvendo incautos, os jovens principalmente, e sufocando os argumentos que surgem,  com seu modo truculento de ser.

    Para isso, utiliza-se de falsas informações, distorções de fatos, episódios, números e estatísticas, da História recente e da remota, sem o menor pudor ou comprometimento com a verdade, a não ser com seu compromisso de dar conta de um Projeto.

    Sim, um Projeto moldado na mesma forma que produziu 1964, que, os minimamente informados sabem, foi fruto de um bem urdido plano, levando uma fatia da população brasileira, a crédula classe média, a um processo de coletiva histeria, de programado pânico, no receio de que o país fosse invadido por malvados de um fictício Exército Vermelho, que lhes tomaria os bens e as casas, mataria suas criancinhas, lhes tiraria a liberdade de ir, vir e até a de escolher.

    Assim, a chamada elite, que na época formava opinião sobre a classe média mais baixa e mantinha um “cabresto de opinião” sobre seus assalariados, foi às ruas com as marchas católicas engrossadas pelos seus serviçais ao lado das bem intencionadas madames.

    Elas mais tarde muito se arrependeram, ao constatar o quanto contribuíram para mergulhar o país nos horrores de maldades medievais.

    Agora, os mesmos coroados, arquitetos de tudo aquilo, voltam a agir da mesma forma e reescrevem aquele conto de horror, fazendo do mocinho bandido e do bandido mocinho, de seu jeito, pois a História, meus amores, é contada pelos vencedores. E eles venceram. Eles sempre vencem.

    Sim, leitores, compreendo quando me chamam de “esquerdista retardatária” ou coisa parecida. Esse meu impulso, certamente tardio, eu até diria sabiamente tardio, preservou-me a vida para hoje falar, quando tantos agora se calam; para agir e atuar pela campanha de Dilma, nos primórdios do primeiro turno, quando todos se escondiam, desviavam os olhos, eram reticentes, não declaravam votos, não atendiam aos telefonemas, não aceitavam convites.

    Essa minha coragem, como alguns denominam, de apoiar José Dirceu, que de fato sequer meu amigo era, e de me aprofundar nos meandros da AP 470, a ponto de concluir que não se trata de “mensalão”, conforme a mídia a rotula, mas de “mentirão – royalties para mim, em pronunciamento na ABI – eu, a tímida, medrosa, reticente “Hildezinha”, ousando pronunciamentos na ABI! O que terá dado nela? O que terá se operado em mim?

    Esse extemporâneo destemor teve uma irrefreável motivação: o medo maior do que o meu medo. Medo da Sombra de 64. Pânico superior àquele que me congelou durante uma década ou mais, que paralisou meu pensamento, bloqueou minha percepção, a inteligência até, cegou qualquer possibilidade de reação, em nome talvez de não deixar sequer uma fresta, passagem mínima de oxigênio que fosse à minha consciência, pois me custaria tal dor na alma, tal desespero, tamanhas infelicidade e noção de impotência absoluta e desesperança ter que perceber a face verdadeira da Humanidade, o rosto real daqueles que aprendi a amar, a confiar, que certamente sucumbiria…

    Não, eu não suportaria respirar o mesmo ar, este ar não poderia invadir os meus pulmões, bombear o meu coração, chegar ao meu cérebro. Eu sucumbiria à dor de constatar que não era nada daquilo que sempre me foi dito pelos meus, minha família, que desde sempre me foi ensinado. O princípio e mandamento de que a gente pode neutralizar o mal com o bem. Eu acreditava tão intensamente e ingenuamente no encanto da bondade, que seguia como se flutuasse sobre a nojeira, sem percebê-la, sem pisar nela, como se pisasse em flores.

    E aí, passadas as tragédias, vividas e sentidas todas elas em nossas carnes, histórias e mentes, porém não esquecidas, viradas as páginas, amenizado o tempo, quando testemunhei o início daquela operação midiática monumental, desproporcional, como se tanques de guerra, uma infantaria inteira, bateria de canhões, frotas aérea e marítima combatessem um único mortal, José Dirceu, tentando destrui-lo, eu percebi esgueirar-se sobre a nossa tão suada democracia a Sombra de 64!

    Era o início do Projeto tramado para desqualificar a luta heroica daqueles jovens martirizados, trucidados e mortos por Eles, o establishment sem nomes e sem rostos, que lastreou a Ditadura, cuja conta os militares pagaram sozinhos. Mas eles não estiveram sozinhos.

    Isso não podia ser, não fazia sentido assistir a esse massacre impassível. Decidi apoiar José Dirceu. Fiz um jantar de apoio a ele em casa, Chamei pessoas importantes, algumas que pouco conhecia. Cientistas políticos, jornalistas de Brasília, homens da esquerda, do centro, petistas, companheiros de Stuart do MR8, religiosos, artistas engajados. Muitos vieram, muitos declinaram. Foi uma reunião importante. A primeira em torno dele, uma das raras. Porém não a única. E disso muito me orgulho.

    Um colunista amigo, muito importante, estupefato talvez com minha “audácia” (ou, quem sabe, penalizado), teve o cuidado de me telefonar na véspera, perguntando-me gentilmente se eu não me incomodava de ele publicar no jornal que eu faria o jantar. “Ao contrário – eu disse – faço questão”.

    Ele sabia que, a partir daquele momento, eu estaria atravessando o meu Rubicão. Teria um preço a pagar por isso.

    Lembrei-me de uma frase de minha mãe: “A gente nunca perde por ser legítima”. Ela se referia à moda que praticava. Adaptei-a à minha vida.

    No início da campanha eleitoral Serra x Dilma, ao ler aqueles sórdidos emails baixaria que invadiam minha caixa, percebi com maior intensidade a Sombra de 64 se adensando sobre nosso país.

    Rapidamente a Sombra ganhou corpo, se alastrou e, com eficiência, ampliou-se nestes anos, alcançando seu auge neste 2013, instaurando no país o clima inquisitorial daquela época passada, com jovens e velhos fundamentalistas assombrando o Facebook e o Twitter. Revivals da TFP, inspirando Ku Klux Klan, macartismo e todas as variações de fanatismo de direita.

    É o Projeto do Mal de 64 de novo ganhando corpo. O mesmo espinheiro das florestas de rainhas más, que enclausuram príncipes, princesas, duendes, robin hoods, elfos e anõezinhos.

    Para alguns, imagens toscas de contos de fadas. Para mim, que vi meu pai americano sustentar orfanato de crianças brasileiras produzindo anõezinhos de Branca de Neve de jardim, e depois uma Bruxa Má, a Ditadura, vir e levar para sempre o nosso príncipe encantado, torturando-o em espinheiros e jamais devolvendo seu corpo esfolado, abandonado em paradeiro não sabido, trata-se de um conto trágico, eternamente real.

    Como disse minha mãe, e escreveu a lápis em carta que entregou a Chico Buarque às vésperas de ser assassinada: “Estejam certos de que não estou vendo fantasmas”.

    Feliz Ano Novo.

    Inclusive para aqueles injustamente enclausurados e cujas penas não estão sendo cumpridas de acordo com as sentenças.

    É o que desejo do fundo de meu coração.

    http://www.zedirceu.com.br/hildegard-angel-a-gente-nunca-perde-por-ser-legitimo-mas-quem-conta-a-historia-sao-os-vencedores-nao-esquecam/

     

  6.  
    NATURE NEWS
     
    Zapping the

     

    NATURE NEWS

     

    Zapping the brain can help to spot-clean nasty memories

     

    (Tradutor automático)

    Memórias desagradáveis ​​Zapping do cérebro pode ajudar a detectar-limpas

     

    Pesquisadores usam terapia de eletrochoque para interromper recall de eventos específicos.

    Helen Shen 

    22 de dezembro de 2013

     

    Características David Lee / Foco / a coleção Kobal

    A capacidade de apagar a memória podem saltar do reino do filme de fantasia (como Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, mostrado aqui ) para a realidade.

    No filme Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças , amantes infelizes sofrem um tratamento experimental cérebro para apagar todas as memórias de cada um de suas mentes. Não existe tal correção para casais da vida real, mas pesquisadores relatam hoje na revista Nature Neuroscienceque uma intervenção médica direcionada ajuda a reduzir memórias negativas específicas em pacientes que estão deprimidas 1 .

    A técnica, chamada eletroconvulsoterapia (ECT) ou terapia de eletrochoque, induz convulsões por passagem de corrente para o cérebro através de eletrodos colocados almofadas no couro cabeludo.Apesar de sua reputação às vezes negativa, a ECT é um tratamento eficaz de último recurso para a depressão grave, e hoje é usado em combinação com anestesia e relaxantes musculares.”Este é um momento, eu diria que a ciência é melhor do que a arte”, diz Karim Nader, neurocientista da Universidade McGill, em Montreal, no Canadá, que não estava envolvido na pesquisa. “É um estudo muito inteligente.”

    Marijn Kroes, neurocientista da Universidade Radboud de Nijmegen, na Holanda, e seus colegas descobriram que cronometrando estrategicamente rajadas ECT, eles poderiam atacar e perturbar memória de um episódio perturbador dos pacientes.

    Uma questão de tempo

    A estratégia se baseia em uma teoria chamada de reconsolidação da memória, que propõe que as memórias são retirados de ‘armazenamento mental “de cada vez que são acessados ​​e” re-escrita “ao longo do tempo de volta para os circuitos do cérebro. Os resultados de estudos em animais e evidências limitadas em seres humanos sugerem que durante a reconsolidação, memórias são vulneráveis ​​a alteração ou mesmo apagamento 2-4 .

    Kroes e sua equipe testaram essa idéia em 42 pacientes que haviam sido prescritos ECT para a depressão clínica grave. Em uma sessão inicial, os pesquisadores mostraram duas perturbando slide-show narrativas: uma retratando um acidente de carro, ea outra uma agressão física.

    Um dia depois, quando recebe um teste de memória de múltipla escolha, os pacientes foram significativamente pior em lembrar detalhes da história reativado, realizando perto de oportunidade.Memória do outro história dos pacientes, no entanto, permaneceu praticamente incólume. Mas quando os pesquisadores administraram o teste de memória 90 minutos após o tratamento, os pacientes não apresentaram diferenças em sua habilidade de recordar as duas histórias. Isto sugere que a terapia bloqueou o processo dependente do tempo de reconsolidação, em vez de causar a perda súbita de memória.A equipe mais tarde levou os pacientes a lembrar apenas uma das histórias por repetir parte do que o slide show. Imediatamente depois, quando a memória reativada é pensado para ser vulnerável, os pacientes receberam terapia de eletrochoque.

    “Isso fornece uma evidência muito forte e convincente que as lembranças no cérebro humano submetido a reconsolidação, e que existe uma janela de oportunidade para tratar más lembranças”, diz Daniela Schiller, um neurocientista do Hospital Mount Sinai, em Nova York, que também estuda reconsolidação da memória.

    Pensando à frente

    Schiller diz que é necessário mais trabalho para estabelecer quanto tempo os efeitos da ECT passado, e se a técnica funciona tão eficazmente em memórias mais antigas ou mais complexas a partir de experiências da vida real, diz Schiller.

    Kroes acrescenta que a ECT não pode ser a melhor opção para a maioria dos pacientes, mas diz que estes resultados podem orientar o desenvolvimento de intervenções menos invasivas que visam memória reconsolidação 5 . Eventualmente, ele diz, a idéia poderia ser estendido para memórias envolvidos no transtorno de estresse pós-traumático, dependência e transtorno obsessivo-compulsivo.

    “A capacidade de alterar permanentemente estes tipos de memórias pode levar a novela, melhores tratamentos”, diz Kroes.

    Natureza doi : 10.1038/nature.2013.14431

    Referências

    Kroes, MCW et al . Natureza Neurosci. avançar publicação on-line,http://nature.com/doifinder/10.1038/nn3609 ( 2013 ).

    Mostrar contexto

    Barak, S. et al . Natureza Neurosci. 16 , 1111 – 1117 ( 2013 ).

    ArtigoPubMedISIChemPortMostrar contexto

    Nader, K. , Schafe, GE & Le Doux, JE Nature 406 , 722 – 726 ( 2000 ).

    ArtigoPubMedISIChemPortMostrar contexto

    Schiller, D. et al . Nature 463 , 49 – 53 ( 2010 ).

    ArtigoPubMedISIChemPortMostrar contexto

    Kindt, M. , Soeter, M. & Vervliet, B. Natureza Neurosci. 12 , 256 – 258 ( 2009 ).

    ArtigoPubMedISIChemPortMostrar contexto

    http://www.nature.com/news/zapping-the-brain-can-help-to-spot-clean-nasty-memories-1.14431

     

  7. Quem pichou a estátua de Drummond é empresário mineiro

    Empresário mineiro é identificado em vídeo de pichação da estátua de Drummond

    Do UOL, no Rio

    A estátua de Drummond amanhece pichada no Rio no Natal

    A estátua de Drummond amanhece pichada no Rio no Natal

    Policiais da DPMA (Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente) identificaram o jovem flagrado por uma câmera de monitoramento da Prefeitura do Rio de Janeiro enquanto pichava a estátua de Carlos Drummond de Andrade que fica na orla de Copacabana, na zona sul da cidade.

    Ele foi identificado como Pablo Lucas Faria e também é suspeito de pichar a estátua de Zózimo Barroso do Amaral, no posto 12, no Leblon, e o monumento de Estácio de Sá, no Parque do Flamengo. Faria é empresário da cidade de Uberaba (MG) e foi identificado após uma pesquisa no sistema da delegacia.

    De acordo com o delegado José Fagundes, as investigações continuam em andamento para localizar o suspeito. Ainda segundo o delegado, a mulher que aparece nas imagens foi identificada como sendo namorada de Faria, e é conhecida como Mel.

    Divulgação/Polícia Civil

    Pablo Lucas Faria é empresário da cidade de Uberaba (MG) e foi identificado após uma pesquisa no sistema da delegacia

    A imagem de Drummond foi pintada com uma tinta branca. A parte mais atingida foi a do rosto do poeta, mas também foram pichados o peito e as pernas da obra, que é um dos principais atrativos turísticos na orla carioca.

    Os óculos do poeta também já foram alvo de vandalismo em oito oportunidades, a última dela em 12 de maio de 2012.  O reparo do acessório custa cerca de R$ 25 mil.

    A estátua, de autoria do artista plástico Leo Santana, foi instalada em outubro de 2002, em comemoração aos 100 anos do nascimento do poeta. Dois dias depois, o monumento amanheceu pichado.

    http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/12/27/empresario-mineiro-e-identificado-em-video-de-pichacao-da-estatua-de-drummond.htm

  8. Vergonha ! E as madames ainda criticam o governo

    As filhas de servidores que ficam solteiras para ter direito a pensão do Estado

    As pensões a filhas solteiras de funcionários públicos consomem por ano R$ 4,35 bilhões do contribuinte – e muitas já se casaram, tiveram filhos, mas ainda recebem os benefícios

    FELICIDADE O casamento de Márcia Brandão Couto. Ela se manteve solteira no civil para seguir recebendo  R$ 43 mil por mês do Estado (Foto: Arq. pessoal)Era um sábado nublado. No dia 10 de novembro de 1990, a dentista Márcia Machado Brandão Couto cobriu-se de véu, grinalda e vestido de noiva branco com mangas bufantes para se unir a João Batista Vasconcelos. A celebração ocorreu na igreja Nossa Senhora do Brasil, no bucólico bairro carioca da Urca. A recepção, num clube próximo dali, reuniu 200 convidados. No ano seguinte, o casal teve seu primeiro filho. O segundo menino nasceu em 1993. Para os convidados do casamento, sua família e a Igreja Católica, Márcia era desde então uma mulher casada. Para o Estado do Rio de Janeiro, não. Até hoje, Márcia Machado Brandão Couto recebe do Estado duas pensões como “filha solteira maior”, no total de R$ 43 mil mensais. Um dos benefícios é pago pela Rioprevidência, o órgão previdenciário fluminense. O outro vem do Fundo Especial do Tribunal de Justiça. A razão dos pagamentos? Márcia é filha do desembargador José Erasmo Couto, que morreu oito anos antes da festa de casamento na Urca.BENEFICIADA A atriz Maitê Proença. Ela nega ter sido casada e recebe R$ 13 mil por mês como  “filha solteira” (Foto: Reginaldo Teixeira/Ed. Globo)http://epoca.globo.com/vida/noticia/2013/11/filhas-de-servidores-que-ficam-solteiras-para-ter-direito-bpensao-do-estadob.html?fb_action_ids=461657277273159&fb_action_types=og.likes&fb_source=other_multiline&action_object_map=%5B1435302370026462%5D&action_type_map=%5B%22og.likes%22%5D&action_ref_map=%5B%5D 

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